Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 27
Confiança


Notas iniciais do capítulo

ENFIM! Semana de provas, mas lá vai mais uma atualização! Espero que gostem. Em breve, muito breve, a suspensão acaba.



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Viu suas bocas estarem a centímetros de distância em uma tentativa de imobilização mal executada e Lia, em seguida, se afastar. Estava com a face rosada e com algum sinal de raiva. Dinho permanecia sentado no raso. Álvaro Gabriel, como legítimo adolescente com os hormônios a mil, logo entendeu a situação.

–Lia! – Dinho correu até a loira tão logo se recuperou. – Lia, foi mal, isso não devia ter acontecido. – Argumentou ao alcançá-la no chuveiro da praia.

–Foi péssimo, Adriano. Como você tem coragem de me dizer que é tudo coisa da minha cabeça, que eu estou exagerando, quando minutos depois isso acontece? – Lia protestou ainda sem jeito pela situação.

Dinho passou a mão pelos cachos. Sabia que tinha estragado tudo. Um silêncio tomou conta dos dois, que temiam se encarar. Com a cabeça baixa, Adriano mudou o foco da conversa.

–Você tá bem? – Perguntou indicando os ferimentos.

–Eu... – Lia levantou a blusa, lembrando-se também de que estava vestida e sem biquíni por baixo. – Tá doendo um pouco, mas acho que tá tudo bem, sim. Deve ter sido o sal.

Adriano ligou o chuveiro, pedindo silenciosamente que a loira não fosse embora. Abraçou-a por trás, para mantê-la sob a água corrente, massageando o local dos ferimentos delicadamente. Seu rosto encontrou o de Lia, apoiado na maçã de sua face. Respiravam em ritmo estável. A marrentinha se acalmava de pequenos picos de dor amenizados pela água doce.

– Tá melhorando? - Adriano questionou.

– Aos poucos... Valeu.

Dinho sorriu. Seguia enlaçado em Lia, calculando cada movimento para que a roqueira não mudasse de ideia e fugisse.

– Você acha que eu levo jeito? Os meus pais vivem me criticando por não ter decidido o que fazer quando me formar... - Passava a mão cuidadosamente pelos cortes da loira, tentando tirar o que restava de sal.

Por um momento, Lia parou onde estava. Um aventureiro como Adriano, que nunca se apegava, cogitando ser médico... Lembrava-lhe demais de uma certa mulher. A tal mulher seria sua mãe, Raquel.

– Se você não quiser ter uma família, talvez funcione. - A roqueira retrucou asperamente.

Dinho percebeu a mudança brusca e se calou. Focou nos ferimentos da garota. Por algum motivo que não entendia, sentiu um certo vazio ao ouvir de Lia sobre não ter uma família no futuro. Cuidando-lhe, naquele momento, não conseguia imaginar um futuro sozinho. Não sabendo o que perderia.

– A sua mãe não sabe o que está perdendo. - Falou sem pensar. - Digo, eu gosto da minha família, por mais que eles me irritem um pouco, ou talvez muito às vezes. Eu nunca abandonaria a minha mãe, o meu pai, ou o Tico.

– Nunca é bastante tempo. - Lia respondeu fria, desprendendo-se dos braços de Adriano. Ao fazê-lo, sentiu um leve vazio, logo ignorado.

– Ei. - Chamou com a voz baixa. Lia voltou-se para o garoto. - Você não lavou todo sal. - Ao completar a frase, Dinho lançou-lhe um sorriso maroto

– Tá vendo por que a Ju não pode nem sonhar em nos ver juntos? - Lia concluiu com um sorriso fraco.

A roqueira, embora não quisesse admitir, estava se sentindo bem com Dinho. A tarde na praia acabou sendo a diversão ideal para esquecer seus problemas, e talvez Adriano se revelasse um bom amigo. Cuidava de Lia com zelo e carinho e era extremamente atencioso com sua situação. Seu sorriso era diferente com Dinho. Se entendiam. Começava a se perguntar por quê fugia tanto do garoto, quando o sorriso sugestivo de Adriano recordou-lhe o motivo. Não conseguia passar alguns minutos com Adriano sem que esse a cantasse, sem que sugerisse algo que não poderia acontecer. Sem que a lembrasse do motivo que a fez se afastar no ano anterior. Não confiava no lado pegador do aventureiro. Estar com Dinho, ainda que como amigos, era constantemente apresentar perigo ao namoro de sua melhor amiga. Por mais que passar a tarde se divertindo com Dinho e Orelha a fizesse se sentir bem, não podia arriscar uma amizade. Principalmente com Orelha por perto. E estava certa.

– Por que eu não posso nem sonhar em ver vocês juntos? - Juliana questionou, para a surpresa de Dinho e para o desespero de Lia.

–x-

Mais um dia de aula sem sua melhor amiga para distraí-la durante as intermináveis aulas do Ensino Médio. Juliana não aguentava mais a suspensão de Lia. E de Dinho. Ambos suspensos, depois de estarem trancados sozinhos e juntos em uma sala de robótica, à noite, no colégio. Ju confiava na roqueira, era sua irmã, mas uma inconveniente vozinha em sua consciência a lembrava constantemente do perigo evidente. Lia e Dinho já haviam ficado e não era novidade para ninguém que não era impossível que algo rolasse de novo. Viviam se implicando, sempre os dois, em disputas que só eles entendiam. Fosse uma briga, fosse uma mera troca de palavras, Juliana se sentia deslocada quando estava com os dois. Ninguém os compreendia, ninguém entendia tão bem aqueles dois como eles mesmos. Lia e Dinho aproveitavam a sintonia para se implicar tão bem que riam ao proferir as palavras, como se tivessem nascido para se enfrentar. Eles não se cumprimentavam, nem se ofereciam ajuda com os deveres de matemática, discutiam. O "oi, tudo bem?" virava "e aí, marrentinha? Te derrubaram da cama?" e o "tudo, e você?" virava "vê se me erra, garoto.". Era um jogo do qual apenas Lia e Dinho participavam. E porque calcavam sua relação em implicâncias como rotina, nunca sabia se estavam brigados ou não, se se odiavam ou não.

A incerteza era o grande medo de Juliana. Sabia que estavam suspensos ao mesmo tempo, e a lógica, sabendo que aparentemente não se bicavam, seria esperar que passassem o tempo livre de formas opostas para não se encontrarem. No entanto, Lia e Dinho haviam invadido o colégio juntos, quando pensava que se detestavam. Haviam dormido abraçados, e acreditava que tivessem nojo um do outro. Tinha que encarar diariamente os comentários por todo o colégio acerca do flagra nos dois e as diversas interpretações. Fatinha era quem especulava com maior animação, repetindo pelos corredores que sempre soubera, que estava na cara. Tentava pensar no que Lia lhe diria, no que combinaram ao semi fazerem as pazes. Tinha que confiar na garota. E então a voz inconveniente voltava a incomodá-la e não tinha certeza de mais nada.

Tensa com suas suspeitas e com medo de descontar na amiga caso a visse, dirigiu-se à praia. Precisava espairecer. Talvez a brisa levasse embora suas preocupações. Talvez as ondas levassem seus questionamentos. Talvez a areia em seus pés a trouxesse à realidade. O que viu, porém, foi o oposto do que esperava: Lia e Dinho juntos sob a ducha, abraçados, envolvidos no que parecia ser uma conversa profunda. Viu-os se afastar por um momento, com Lia bruscamente se desvencilhando dos braços de Dinho, típico deles. E então Dinho sorriu. Não era um sorriso que costumasse receber, ainda que fosse ou tivesse sido a namorada. Era um sorriso exclusivo de Lia, que sempre incomodara Juliana. Lia recebia um sorriso especial de Adriano, e, por isso, a it-girl sabia que algo devia temer. Aproximou-se sem perceber, o bastante para escutar as últimas palavras de Lia.

– Tá vendo por que a Ju não pode nem sonhar em nos ver juntos? - Lia concluiu com um sorriso fraco.

Parou por um momento. Juntos em que sentido? Juntos-juntos ou juntos-no mesmo lugar? Juliana estava mais confusa que nunca. Percebendo que estava próxima o bastante para que logo a notassem, manteve a pose.

– Por que eu não posso nem sonhar em ver vocês juntos? - Juliana questionou, para a surpresa de Dinho e para o desespero de Lia.

– Porque... É... - Lia sabia a resposta, sabia por quê havia dito o que dissera, mas a cobrança de Juliana e a surpresa e o pavor de vê-la ali atrapalhavam qualquer pensamento lógico.

– Porque você pode interpretar errado, que nem a Lia acabou de fazer. - Dinho respondeu. Sorriu por um instante, e Juliana tentou ignorar o fato de ser o "sorriso da Lia". - Calma, marrentinha, eu só tô preocupado com você. Eu não ia aprontar nada, só ia te ajudar a tirar essa sujeirinha daqui, ó. - Completou esfregando rapidamente a mão contra o abdôme da roqueira. Tentou ignorar o quanto gostava de sentir a pele de Lia sob seus dedos.

Percebendo o olhar da it-girl, Lia abaixou a blusa, que amarrara à altura do sutiã para que Dinho cuidasse de seus cortes. E a simples definição do que estavam fazendo soava errado. Tentou se explicar. Precisava se explicar.

– Ju, olha, não é o que você tá pensando. Eu e o Dinho nos encontramos por acaso fugindo do castigo, e os nossos pais tavam chegando bem na hora... A gente teve que correr pra qualquer lugar e acabou aqui, com o Orelha. E sal faz os cortes doerem, sabe, então o Dinho me obrigou a ficar embaixo desse chuveiro até sair todo o sal.

– E você sabe como é a Lia, né, eu tive que agarrá-la à força! - Dinho riu.

–E eu tava meio tonta pela dor e acabei ficando. Foi só isso. - Lia concluiu, inocente.

–Eu... Vocês têm que concordar que é difícil de acreditar, né? Primeiro vocês invadem o colégio juntos, passam a noite dormindo abraçados, trancados em uma sala, e agora eu encontro os dois abraçados assim? Vocês acham que eu sou idiota? - Ju questionou. - E não precisa responder! - Juliana concluiu, voltando as costas para os dois, prestes a se retirar.

– Ju! Por favor! Tá vendo? Por isso você não podia nos ver assim, já ia concluir tudo errado! Cara, a gente passou a tarde como amigos! Se tivesse rolado algo a mais, o Orelha estaria parando de nos filmar e te mostrando!

Desconsertado, Álvaro Gabriel levou a mão à cabeça. Não tinha filmado a briga no mar. Voltou o foco para a briga que acontecia naquele momento. Por sorte, havia chegado tão logo avistara Juliana os observando.


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Notas finais do capítulo

Últimos momentos do período de suspensão no próximo capítulo, espero que não tenha ficado muito parado. Bjs e até os comentários ;)