Ainda tentando entender a relação entre seu filho e a roqueira, Alice abriu a porta, distraída.

-Lia? – perguntou surpresa.

-Oi, Alice, tudo bom?

-Eu que te pergunto! – Alice respondeu direcionando os olhos para a barriga da loira.

-Ah, é... Bem, graças ao seu filho. – Lia desviou o olhar, constrangida. – É... Será que eu posso falar com o Dinho? – perguntou ainda mais sem graça.

-Desde que não arrumem outra burrada... Já basta a confusão que vocês arrumaram hoje!

-Desculpa, foi mal...

Alice reparou na expressão culpada de Lia. Por mais que a garota não tivesse a melhor fama, Dinho tampouco era santo. Talvez pudesse relevar.

-Entra, vai, eu vou ali chamar. – caminhou até a porta do quarto do filho. – Dinho! Visita pra você!

Alice voltou para sua mesa de trabalho e Dinho apareceu na sala, surpreendendo-se ao ver a roqueira.

-Lia?? – Esperava Juliana, Orelha, mas não ela...

-A gente precisa conversar, Dinho, e é sério.

Dinho estava cada vez mais confuso.

-Fala aí!

-É... Será que a gente tem como conversar lá fora? – Lia parecia levemente angustiada.

-Não vai dar, Lia, o Dinho tá de castigo. Aliás, você também tá de castigo, não tá?

-É, eu... Eu tô, tipo, mais ou menos. – Tentou enrolar.

-Bom, você se machucou feio e talvez isso seja castigo suficiente pra você aprender, mas Dinho, não vai dar pra você sair, não. Se quiser conversar, vai ter que ser por aqui mesmo.

-Por mim, tudo bem... Fala aí, Lia, que que cê manda? – Por que ela fazia isso? Por que tão próxima, por que tão séria? Tentava esquecê-la e Lia apenas complicava as coisas.

Lia ficou constrangida com o pedido, mas estava prestes a falar quando Alice interrompeu.

-Bom, gente, claro que não vai dar pra vocês conversarem aqui, né, tô cheia de trabalho! Vai... Vai lá pro quarto, vai, vai conversar lá!

Lia e Dinho foram para o quarto do garoto enquanto Alice observava. Lembrava-se de ver os dois se implicando com freqüência e a última coisa que esperava era ver a garota em sua casa querendo conversar com seu filho. Ela parecia séria e preocupada e Dinho, surpreso. Tão surpreso quanto a mãe, talvez.

-x-

Dinho conduziu Lia até sua cama.

-Eu tô bem, Dinho, não precisa, valeu.

-Você tem certeza? – perguntou preocupado.

-Relaxa... E a conversa vai ser rápida.

-Tá, mas antes... – Dinho se aproximou da garota, segurando sua cintura. – Você tá bem, mesmo?

-Bem eu só vou ficar quando me acertar com a Ju, né... – Lia se rendeu e sentou na cama de Dinho.  – Olha, Dinho, foi por isso que eu vim. Eu preciso que você volte com a Juliana.

-Que? – Dinho não sabia se ria ou se achava ofensivo Lia se meter em sua vida daquela maneira.

-É, a Ju... Ela não vai acreditar em mim enquanto vocês não estiverem bem, entende?

-Que tipo de amizade é essa, Lia?

-Dinho, entende uma coisa: pra ela, é como se a gente tivesse saído juntos, que foi o que pareceu, que a gente tava junto e...

-Mas não rolou nada!

-Tenta explicar pra ela, então! A mim ela não ouve!

-x-

Alice não entendia ainda o que os dois faziam trancados juntos no colégio e preferia não saber. Talvez fosse pior. Nesse caso, seria mesmo uma boa idéia “conversarem” no quarto? E se Dinho estivesse traindo a namorada com a roqueira? Não conhecia Lia tão bem, mas sabia que Juliana era a melhor escolha. Não era complicada, nem perturbada como a encrenqueira que estava em seu apartamento. E que, pelo barulho, já brigava com seu filho novamente.

-É, Dinho, sei lá, insiste, mostra que você tá afim! – Alice ouviu a voz de Lia, que parecia urgente. – Sei lá, dá o seu jeito, entendeu?

Por um momento pareceram baixar o tom de voz e a mãe do garoto não conseguia ouvi-los. Logo voltou a escutá-los.

-Agora, você vir na minha casa, me dizer o que eu tenho ou não tenho que fazer, isso não!

-Mas é óbvio que você quer! Você tem que querer, Dinho!

-Agora você que vai decidir se eu quero ou não quero voltar com a Juliana?

-Você gosta dela e ela gosta de você!

E novamente pareceram se acalmar.

-Eu e você nunca vai rolar nada entre a gente... de novo!

Como assim de novo? Não podia ter ouvido direito, podia? Lia e Dinho? Juntos?

-...Você é um grosso, sabia?

-E você é um poço de delicadeza!

-...Vim aqui pra tentar te ajudar, garoto!

-Eu não quero a sua ajuda e eu não preciso da sua ajuda, tá bom? Você entendeu ou quer que eu desenhe?

Novamente não ouviu mais nada. Alguns segundos depois, Lia saiu do quarto, furiosa. Ao tentar sair do apartamento, no entanto, abriu a porta tão bruscamente que gemeu e parou.

-Lia?! – Alice se levantou e foi em direção à garota. – Tudo bem?

Dinho, ouvindo a exclamação da mãe, correu para a sala.

-Lia? O que aconteceu? – Encostou a mão levemente sobre a blusa da roqueira. – Calma, relaxa.

Alice observou a interação, ainda tentando entender o que se passava entre os dois.

-Vem, senta aqui. Será que tá sangrando de novo? – Dinho conduzia Lia até o sofá.

-Dinho, é sério, eu tô bem! – A roqueira tentava se desvencilhar. – Eu fiz um movimento brusco, só isso! Eu... Eu vou pra casa, licença. – Olhou em direção a Alice e fez menção de se despedir, mas Adriano a puxou pelo braço.

-Lia, fica. Por favor? – Olharam-se fixamente. Alice percebeu o clima entre os dois, quebrado pela correção de seu filho. – Quer dizer, você não pode sair assim, né? Vai que piora?

-Vai piorar se eu ficar aqui e a Juliana vier falar com você!

-A Ju está brigada com os dois, por que viria?

-Você entendeu. Se ela aparecer, por favor, colabora! – Lia encerrou o assunto visivelmente impaciente e saiu porta afora antes que o garoto pudesse pará-la novamente.