O show seguiu normalmente e Nando Rocha tocava com a banda no palco enquanto Dinho dançava com Ju e Lia. A it-girl não era tão amiga de solos de guitarra quanto a loira, que estava empolgadíssima ao som do que mais amava. Dinho via seus olhos brilharem e o sorriso iluminar o rosto de sua marrentinha, que parecia se sentir livre como nunca. Como sempre, Lia o hipnotizava. A roqueira aproximou-se mais dele, fazendo caretas e brincando. Dinho apenas a observava, sorrindo. Ju percebeu o clima e se fez notar, transformando a dupla em trio novamente, ao separar os dois em alguns metros. O garoto estranhou sua tristeza pelo afastamento, que durou alguns segundos, mas o bastante para que Dinho se culpasse por não tirar a roqueira da cabeça. Voltou sua atenção para Ju, para as duas, mas sempre tentando olhar menos para a marrenta que para a outra.

Gritavam ao som do solo de guitarra quando Nando Rocha se jogou do palco, esperando ser segurado pela platéia e aterrissou no chão. Todos correram para a volta do músico. Nando urrava de dor e Marcela tentava acalmá-lo. Lia se aproximou de Marcela, Nando e Morgana para oferecer a ajuda do pai médico. Nisso, passou pela frente de Dinho, parando ao seu lado. O garoto instintivamente levou a mão ao braço da roqueira, afastando logo em seguida. Observava-a enquanto falava em busca de algum sinal de ela ter percebido, sem sucesso. Voltou sua atenção para a situação de Nando, observando atentamente a ex-ficante ligar para o pai. Lia não era sempre tão receptiva e o garoto parecia querer aproveitar cada segundo daquela noite em que a roqueira não tentava afastá-lo.

–x-

Lia e Ju continuavam em prática com o plano de juntar o aventureiro e a it-girl. Dinho ficou surpreso ao saber que Juliana estava lendo um livro sobre viagens e estava cada vez mais interessado na garota. Como quase sempre que parecia estar perto de esquecer a dona de seus pensamentos, no entanto, a roqueira voltaria a perturbá-lo. Assim que Robson apareceu com uma cama elástica na quadra, Lia foi a primeira a correr em direção ao aparelho. O aventureiro a seguiu, ficando ao seu lado, até ser acompanhado pelos amigos. Ex-ginasta, a roqueira foi a primeira a exibir suas habilidades e Dinho estava no camarote. Assistiu boquiaberto às cambalhotas e acrobacias de Lia, entorpecido por seu corpo, por sua desenvoltura, por ser... Lia. Se Orelha tivesse prestado atenção, aconselharia que o amigo limpasse a baba, mas, para a sorte de Dinho, todos estavam tão impressionados com as habilidades da roqueira quanto ele. Como uma criança em um circo, Adriano batia palmas e sorria, sem tirar os olhos da garota mais incrível que conhecia. Naquele momento não se importara com deixar escapar seus sentimentos. Todos estavam encantados, Dinho passaria despercebido. Todos aplaudiam, mas foi de Adriano que Lia se aproximou para descer. Orgulhoso de si e dela, ajudou-a a descer da cama elástica, segurando-a em seus braços. Lia tropeçou, caindo ainda mais próxima de Dinho. Seus olhares estavam fixos um no outro.

–É... Você foi demais, Lia, parabéns.

–É, eu sei... Eu sou melhor que você em tantas coisas, né? Vai lá, Dinho, quero rir da sua cara de camarote.

Sorriram um para o outro em tom de desafio. Dinho logo se apresentou para pular. Lia ria ao ver o jeito desajeitado de Dinho cair, após algumas acrobacias no ar. Assim que desceu – pelo lado oposto a onde Lia estava, para não ter que encarar seu deboche -, Adriano se preparou para o rebote e se aproximou novamente de Lia.

–Vai ter volta, hein!

–Você nunca vai me superar, admite isso, garoto!

Riram juntos, com o clima de sintonia padrão dos dois. Foram interrompidos por Orelha, que havia pulado após o pegador.

–Aí, Lia, mandou bem! Quer passar lá em casa pra me ensinar uns truques?

–Orelha!! – Lia fingia indignação, rindo do nerd.

Dinho voltou sua atenção para a cama elástica, tentando ignorar o comentário do amigo. Era a vez de Ju pular e o garoto estava encantado também, ainda que não tanto quanto por Lia. Juliana se revelava uma caixa de surpresas e Adriano sabia que deveria investir. Para sua sorte, ficou no grupo de Ju para um projeto de robótica, sem a presença de Lia para atormentá-lo até em trabalho para a escola. Com a desculpa do projeto, poderia se aproximar da it-girl sem que certos sentimentos por uma certa roqueira viessem à tona.

Estava certo. A tarde com Ju só serviu para reafirmar que a garota valia a pena, que realmente poderia funcionar. Falaram sobre sua viagem quase o tempo todo. Dinho sentia-se intensamente atraído pela idéia de finalmente ter alguém com quer partilhar seus sonhos e Juliana parecia combinar tanto com ele... Estava na hora de partilhar mais um segredo seu, ainda que não tão secreto. Levou a it-girl para o telhado, seu esconderijo, seu refúgio. Estava tudo perfeito, até que Ju não deixou o garoto beijá-la. Para sua decepção, a romântica queria algo sério. Em todo seu encantamento, Adriano havia deixado escapar o pensamento de que talvez tivesse que se doar mais do que gostaria para poder estar com alguém que se encaixasse tão perfeitamente com ele.

Não sabia o que fazer. Jamais pensara em namorar com ela, queria apenas esquecer Lia e estar com alguém que combinasse com ele, que não o rejeitasse ou o fizesse sofrer como sua marrentinha fizera. Passou a aula inteira observando Juliana, no dia seguinte, e pensando no que fazer. Até Fera o aconselhou. Talvez fosse hora. Assim que acabou a aula, correu até Ju.

–Ju! Ju, espera!

–Nossa, como esse cara é previsível... – Lia havia acertado em cheio. A negação de Juliana aproximaria Dinho como um ímã. A roqueira o conhecia como ninguém e sabia que rejeição era o que Dinho mais temia.

Lia se afastou dos dois. Não queria ver a cena. Não poderia.

Dinho pediu Ju em namoro, para sua própria surpresa. Passaram o dia juntos, na praia, namorando e se divertindo. Talvez estar em uma relação séria não fosse tão ruim quanto o pegador imaginava...