Lia havia decidido ajudar a amiga com Dinho. Queria vê-la feliz e o garoto dificilmente ia querer algo sério, então não seria por muito tempo. Foi assim quando encontraram Tico. Lia estava lá quando o irmão de Adriano chegou, mas saiu antes que o aventureiro chegasse, para que Juliana ficasse com os créditos. Aparentemente surtiu efeito, Ju lhe contou mais tarde que Dinho a chamara de especial. A roqueira estranhou, mas, pela primeira vez, ficou extremamente feliz pela amiga por ter conseguido a atenção do pegador. Estava apoiando a it-girl completamente quando a melhor amiga confidenciou a Lia o sonho do garoto de viajar o mundo e de repente algo na roqueira despertou.

-Ah é? – E lá estava o interesse adormecido da rebelde pelo garoto. Por um momento, esqueceu sua fachada e seus olhos brilharam, enquanto sua mente anotava mais uma qualidade do aventureiro, mais uma coisa em comum entre os dois. Talvez Lia não fosse tão maluca por gostar dele, Dinho era surpreendente. Mas tinha que focar em Ju. Seu tempo com Adriano havia passado e não valia a pena insistir naquele imbecil. Resolveu usar suas próprias semelhanças com Dinho como vantagem. Ninguém melhor que ela para saber como chamar a atenção do garoto, ninguém melhor que a filha de uma médica sem fronteiras para ajudar Juliana a conquistar Dinho através de seus sonhos de viajante.

Não demorou um dia e a teoria de Lia se confirmou. O pai de Morgana faria um show e ela e Dinho eram os mais animados com a idéia. Como boa amiga que era, não perderia a oportunidade de incluir Juliana e aproximá-la de seu ex-ficante. Estava tudo dando certo, esperava na entrada da casa de shows com sua melhor amiga e mais uma galera do colégio e já tinha combinado com Ju como ela poderia fazer Dinho se interessar. Eles poderiam ficar aquela noite e fim. A roqueira havia esquecido apenas um detalhe: como Adriano era especialista em atrapalhar seus planos. Por que ele tinha que provocá-la daquele jeito?

-Que isso, hein? Mó produção! Sério, cês tão lindas.

E Lia sorria, desconsertada como apenas Adriano a deixava.

- Nada, super básico!

A voz de Juliana despertou a garota, que voltou sua atenção para Orelha, que agora falava.

-Olha, eu queria dizer que hoje eu to livre, hein. Se por acaso uma de vocês, ou até mesmo duas, ou até mesmo quatro, né, tiverem a fim, eu to na pista, tá?

Depois dos foras de Ju, Rita, Morgana e até mesmo de Rafa, foi a vez de Lia se pronunciar. Por que ela falou indo em direção a Dinho e parando ao lado dele, nem ela mesma saberia dizer. Ele ficou surpreso, mas sorriu discretamente.

-Olha, meninas, se um dia vocês me verem atracada com esse cara, separa que é briga, viu?

Dinho riu da garota. “Você dizia o mesmo de mim... Agora fiquei com ciúmes!”. Não se pronunciou.

-Elas me amam, cara, fazer o que?

-Haha, to vendo, to vendo, Orelha!

Aproximou-se mais um pouco de Lia, seu perfume o desnorteando.

-Morg, vamos entrar logo? Já deve estar enchendo.

Pareceu despertar.

-Ah é, boa!

Chegou a quase segurar a mão de Lia, mas desistiu por precaução. A roqueira era impulsiva e surpreendente, melhor não arriscar. E se arriscasse? E se tivesse segurado sua mão e a garota baixasse aguarda? Talvez ficassem novamente, ao som de Strike e Nando Rocha... A imaginação de Adriano foi interrompida pela voz do segurança não autorizando a entrada dos menores de idade, que por acaso eram quase todos. Por sorte, Marcela, a nova professora de educação física, chegava para salvar os alunos. Preocupado se o segurança enfim liberaria a entrada, o garoto, sem perceber, estava com a mão no ombro de Lia, trazendo-a para si. Ela não parecia se importar, também nervosa. Encaixavam perfeitamente até naquele momento. A atenção de todos voltava-se para o homem que os tentara barrar e ninguém perceberia a aproximação dos dois. No conforto da negligência, Dinho se permitiu segurar o ombro de Lia por mais alguns segundos. Assim que o segurança negou a entrada outra vez, Adriano pôde se separar da garota. Afastou-se como pôde, indo falar com Gil.

Enfim foi permitida a entrada dos alunos, para a alegria geral. Entraram cantando, comemorando o feito de Marcela. Dinho e Lia logo voltaram sua atenção para o palco, empolgados com a banda da qual tanto gostavam. Fera se aproximou deles e de Ju.

-Caraca, moleque, ta muito maneiro isso aqui!

-E tá bombando de gatinha, mané!

Lia assim que ouviu teve que retrucar.

-E de gatinho também, né, Ju?

Não deixaria quieto. Jamais deixava Adriano sem uma resposta. Seu orgulho falou mais alto, mas tinha na amizade com Juliana um escudo, uma desculpa. Para qualquer um por perto, a roqueira defendera a amiga e não ela mesma.

-É... Gente, sabia que no Egito gato é sagrado?

Lia tampouco contava com a naturalidade da melhor amiga. Péssimo timing. Sentiu-se culpada ao encarar o olhar confuso de Dinho. Seu plano estava dando errado não por ter sido má idéia, mas talvez por ser a pessoa errada. Tentou ignorar o pensamento, enquanto se afastava com Ju. Não demorou muito para que o passado a reencontrasse. Na música seguinte, logo uma lenta, Adriano estava ao seu lado novamente. Inconscientemente sorria para ele, que sorria de volta, na sincronia típica dos dois. Dinho tentava focar em Juliana, mas sua atenção sempre voltava para Lia, era como um ímã. Tentou puxar assunto com Ju para ignorar a presença da garota que tanto atormentava seus sonhos, mas a it-girl não era Lia Martins. Não entendeu nada quando Juliana começou a falar de Grécia. Olhou para a roqueira e Lia estava com a mesma expressão que ele, sem entender nada. A garota se aproximou da melhor amiga para criticar a atitude e Adriano voltou a prestar atenção no show. Infelizmente, até a música lhe lembrava a roqueira.

Pois o vento que te leva um dia pode te trazer pra perto

Por que logo nessa parte voltou a prestar atenção? Deixou-se levar. Talvez a música estivesse certa...

Não vou viver sem te ver sorrir

Eu vou te encontrar, te roubar pra mim

Tão longe de você sei que nada vai fluir

Hoje eu vou te encontrar te roubar pra mim

Pois o que há pra viver iremos permitir