Lia e Dinho não eram Lia e Dinho sem suas implicâncias e, na aula de Mocotó, não deu outra. A roqueira jogou tinta no garoto, que jogou de volta e estava instaurada a guerra de tinta. Uma guerra de tinta normal para os outros alunos, não para eles. Os dois também jogavam tinta nos outros adolescentes, mas focavam um no outro. Divertiam-se em sua briguinha particular quando começou a chover. Mocotó, desesperado, gritou para que voltassem ao colégio e assim o fizeram os alunos. A marrentinha e o pegador, é claro, chegariam por último. Sua briga pessoal tomou parte por todo caminho em direção ao Quadrante. Se empurravam, se sujavam, Lia escorregava na chuva, Dinho a segurava... A sincronia de sempre, faça chuva ou faça sol, brigas ou beijos. Ao se aproximarem da quadra, fizeram uma rápida aposta de quem chegaria primeiro, só com os olhares, como já era típico deles. Adriano disparou na frente, mas a roqueira não deixaria por menos. Avançou no garoto para derrubá-lo antes da “linha de chegada”. O que não esperavam era a cena que resultou: Lia e Dinho atirados no meio do ginásio, caídos juntos, ela com a mão sobre o braço do garoto e Ju enciumada. A roqueira olhou cautelosamente para a amiga, sentindo-se culpada, assim como Adriano. A força magnética que os atraíra tantas vezes fazia efeito novamente e as respirações em harmonia de Lia e Dinho os impediam de se levantar, enquanto ouviam a voz de Mocotó pedindo calma. Mal sabia ele o quão certo estava em tentar acalmar a situação...

Após um tempo se olhando, Lia e Dinho conseguiram se levantar diante da reprovação do diretor Mathias, que acabara de chegar à quadra. Enquanto Mocotó se explicava, os ex-ficantes observavam, imóveis e tensos, as reações dos colegas e, principalmente, a de Juliana. Para a sorte da guitarrista, a it-girl não tocou no assunto pelo resto do dia.No entanto, Ju não pensava em outra pessoa que não fosse Dinho, o que preocupava a marrentinha. Mais ainda quando a melhor amiga levou mais um toco do garoto. Por idéia de Fatinha, organizariam uma festa na casa de Juliana para tentar aproximá-los de uma vez, para pavor de Lia. Ainda não estava acostumada com a idéia de ver o ex-ficante com outra, muito menos com sua melhor amiga.

Ao chegar, Dinho ficou hipnotizado pela produção de Ju. Mais uma vez, confirmou que não poderia ter escolhido maneira melhor de esquecer Lia. Talvez funcionasse, Juliana realmente estava conseguindo chamar sua atenção vez ou outra. E cada vez que achava que estava começando a gostar de Ju, ela aparecia.

Fatinha tentava incentivar Ju a ficar com Dinho e Lia fingia que não era com ela.

-Me diz, que Mané recusaria um beijo de uma gata numa social?

Lia revirou os olhos. Mais mané que o Dinho? Bom, pelo menos não teria que ver o seu mané preferido beijando outra, por mais que não quisesse admitir para si mesma que se importava.

-Você não vai falar nada?

Juliana atrapalhou sua linha de raciocínio e briga interna, ao que Lia quase engasgou, mas conseguiu responder a tempo.

-Eu? –negou com a cabeça - Já vi esse filme... Vou pegar outro cinema, ta?

Afastou-se assim que pôde, tentando fugir da situação. Não queria ter de apoiar Ju com Dinho, nem ter de vê-los juntos, muito menos opinar sobre como ficar com o garoto... Por mais que tivesse certa experiência no assunto.

A festa seguiu e Dinho alternava olhares entre Ju e Lia. De vez em quando notava que a roqueira retribuía olhares, não tanto quanto Juliana, mas retribuía. Momentos como esses confundiam Adriano, que nunca tinha certeza se a marrentinha retribuía também o que sentia, além dos olhares. O mais seguro seria mesmo Ju. E voltava sua atenção para a it-girl. Para a surpresa dos três, quem realmente ficou com o garoto ao final da festa foi Fatinha. Para decepção de Ju, para pavor de Lia. Se podia piorar? A noite provou-se ainda pior quando Lia teve de consolar a amiga quando, secretamente, estava tão triste quanto ela. Dinho, por sua vez, após levar um toco de Fatinha na saída da festa, pouco se importou. Foi com Lia que sonhou aquela noite. Ela o beijava como a periguete havia feito, após uma cena de ciúmes por ver os dois. Dormiu especialmente bem.

Na segunda-feira, Lia não conseguia olhar na cara da garota. Estava duplamente ferida: por Ju e por Dinho. Quando encontrou a periguete no banheiro, Lia quase se jogou para cima da loira, sendo contida por Ju. Irritando mais ainda a roqueira, Fatinha atacou o ponto fraco da garota: seus sentimentos por Dinho. Preocupou-se. Como Fatinha poderia saber? Logo uma segunda voz na cabeça da garota cogitou que a funkeira estivesse blefando, o que era o óbvio. A periguete gostava de provocar, era o que melhor fazia. Sempre desconfiou das briguinhas dos dois, não deveria ser motivo para preocupação. Ju jamais a levaria a sério.

Dinho chegou ao colégio e avistou uma multidão em frente ao banheiro. Ao ser noticiado de que Lia, Ju e Fatinha brigavam por sua causa, seu coração parou. Estaria a Lia...? Foi quando sua razão tomou conta dos pensamentos. Estava defendendo a amiga, nada mais. Entre outras qualidades e alguns defeitos que mais o instigavam quanto a ela, Lia era uma ótima amiga, sempre foi. Era natural que estivesse defendendo Ju. Quisera ele que fosse mais...