A Garota Da Cafeteria escrita por Teegan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estava com essa historia na cabeça a algum tempo. Espero que gostem. Agradeço desde de já... (=



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Um príncipe. Um cavalo branco. Um final com “e viveram felizes para sempre”. O sonho da maioria das meninas que eu conheço. Que desejam com toda a força que possuem em seus interiores, uma vida igual aquela das princesas encantadas. Mas esse não é o meu sonho, pelo menos não mais. Tudo mudou naquelas férias de fim de ano.

                As aulas já tinham acabado e com elas o ensino médio e a minha fase de criança. Havia prestado vestibular, mas sem grandes esperanças de ser aprovada. Mas não estava desanimada, tentaria com todas as minhas forças nesse ano que estava pra se inicia. Prometi pra mim mesma que mudaria a minha vida de maneira a torna-la mais leve e independente. Em outras palavras, a eminencia da minha maior idade estava me fazendo querer sair de casa pra seguir a minha própria vida. Sem pais, sem irmãos mais novos, sem as velhas coisas de criança que me prendiam ao meu antigo estado de princesinha indefesa da família. Eu estava crescendo, estava quase fora do casulo e estava ansiosa pra que essa metamorfose a qual estive esperando por dezessete anos da minha vida, finalmente se completasse.

                Como de costume, depois de um dia estressante de férias ajudando a minha mãe a cuidar dos gêmeos, - o Guga e a Mia, que são muitos fofos, mas dão uma canseira que não é brincadeira- liguei pro Gabriel.

                - Oi amor.

                - E aí, Carol beleza?

                - Beleza. Tá fazendo o que?

                Barulho de tiros e gritos.

                - Gabriel?

                - Oi Carol.

                - Tá fazendo o que?

                - Jogando CS, com os brother.

                - Ah... Quer sair pra dar uma volta ou cinema, sei lá?

                - Desculpa Cah, eu to cansadão e...

                Mais tiros.

                - Porra Gabriel, eu to falando com você! – gritei.

                - Eu sei, também to falando com você lindinha.

                - Não esta! Da pra parar de jogar e me dar atenção por um segundo?

                - Eu estou de dando atenção, mas é que...

- Na boa, tchau! – desliguei.

                Confesso que fiquei igual uma boba olhando para o celular esperando ele ligar de voltar todo amoroso, pedindo desculpas e dizendo que chegaria à minha casa em meia hora pra a gente sair, mas isso não aconteceu.

                Eu e o Gabriel namorávamos a quase seis meses, tempo suficiente pra saber onde era o meu lugar em comparação ao X-Box e o computador dele. Podia dizer com certeza que eu só tinha um namorado nos quinze minutos de intervalo no colégio e no fim da aula antes do ônibus dele passar. Era pouco pra mim, queria ele mais presente, mais próximo.

                Como os gêmeos estavam dormindo, eu estava liberada pra curtir as minhas tão esperadas férias. Que irônico, curti-las no meu quarto, olhando pro celular esperando o Gabriel ligar. Resolvi ir pegar meu notebook pra distrair um pouco no facebook, como sempre ele estava cheio de solicitações de jogos. Na boa, isso me irrita, eu recuso uma vez e a pessoa manda de novo. Apesar do estresse com as solicitações de jogos, um post me chamou a atenção, nele estava escrito: “Mude de vida, comece saindo do seu mundo!”. Não sei o que aconteceu depois que li, quando me dei conta, estava fechando a porta do apartamento e indo pra algum lugar ‘mudar de vida’.

                Peguei o primeiro ônibus que passou, nem lembro qual era, mas apesar disso o percurso até certo ponto não me era estranho. Segui nele, até chegar ao terminal. Desci, caminhei um pouco, vi a hora, eram quase sete da noite, ainda tinha algum tempo, eu tinha permissão de ficar na fora de casa até às dez. Antigamente era só até as nove e meia, essa meia hora foi conquistada com muito dialogo.

                Cheguei até uma cafeteria. Não gosto muito de café, mas o cheiro estava tão bom que me bateu uma vontade de tomar. Entrei e sentei em uma das mesinhas próximas a uma grande janela de vidro no lado esquerdo. Em pouco tempo um cara estranho veio me atender. Pedi um cappuccino médio e alguma coisa pra acompanhar. Confesso que fiquei impressionada com o formato do bigode do cara, um tanto quanto antiquado. Não sou muito observadora, mas realmente não tinha como não ver aquela onda de cabelo perto da boca dele.

                Não havia quase ninguém na cafeteria, estava tudo calmo, só se ouvia uma musica antiga de fundo, daquela onde ninguém canta só se ouve o som dos instrumentos e acompanhando a musica o barulho da máquina moendo os grãos de café. Estava finalmente começando a relaxar. Aquele era um programa fora dos meus de costume. Relaxar pra mim se resumia a estar com as minhas amigas falando mal de garotas que tínhamos como inimigas.

                Comecei a olhar os detalhes antigos da cafeteria. Eu gosto de coisas antigas, elas me chamam bastante atenção. De repente escuto um discursão no balcão.

                - Você não faz nada direito, menina! – gritou o cara com o bigode estranho. A menina com quem ele gritava, nada fazia além de olha-lo com uma expressão de indiferença.

                - Mas alguns deslizes como esse e você será demitida, sua idiota. E como castigo, você fechará a cafeteria hoje e estará aqui mais cedo para abri-la. E aí de você se faltar algum dinheiro no caixa. – disse ele, retirando o avental e saindo da loja. Novamente a menina nada disse.

                Eu fiquei espantada com a grosseria do cara de bigode estranho, não sei o que a menina havia feito, mas não justificava falar com ela daquela forma. Eu me revolto profundamente com homens que maltratam mulheres, mesmo que esses maus-tratos sejam apenas verbais.

                O cara que estava em uma das mesas lá do fundo saiu e só ficou eu de cliente na cafeteria. Poucos minutos depois a menina veio deixar o meu cappuccino e uma fatia de bolo de chocolate. Ela estava mexendo a boca como se estivesse cantado.

                - Você esta bem? – eu perguntei.

                Ela me olhou. – Você disse alguma coisa? – tirou um dos fones de ouvido.

                - Perguntei se você esta bem.

                - Ah, estou sim. E porque não estaria? – ela perguntou.

                - Depois da grosseria do cara de bigode estranho, eu não ficaria.

                - Na verdade eu nem escutei o que ele disse. – disse ela rindo. – O lado bom de ter o cabelo grande e poder esconder os fones de ouvido. – ela prendia o cabelo com um coque, mas deixava duas mexas decaírem sobre as orelhas, escondendo os fones de ouvido e também os fios eram de silicone e quase transparentes. Bem engenhoso!

                - Nunca te vi aqui, nova na vizinhança? – ela perguntou.

                - Não, estou só mudando de vida. – eu ri.

                - Não entendi.

                - Não era pra entender mesmo. Digamos que eu peguei um ônibus randomicamente e vim parar aqui.

                - Legal. Mas que ônibus você pegou?

                - Não sei, não deu pra ver. Eu só entrei nele e aqui estou.

                - Ah, entendi. Mas sabe voltar pra casa, não é?- ela falou.

                Só me dei conta de que estava perdida depois da pergunta.

                - Droga! Acho que não. – comecei a entrar em desespero.

                 Ela sentou na outra cadeira da mesa. – Calma! – disse ela rindo.

                - De que você esta rindo? Não vejo nada engraçado aqui!

                - Ué, não é engraçado o fato de você ter se perdido de proposito, e só ter se dado conta agora?

                - Não, não é. – tirei o dinheiro da minha mochila e deixei na mesa e levantei da mesa.

                - Onde vai? Você nem sabe onde você está!

                - Eu me viro, não se preocupe! – eu disse.

                - Deixa de ser cabeça dura garota. Volta aqui, eu vou fechar a cafeteria e te ajudo a voltar pra casa.

                 - Muito obrigada, mas não precisa! – saí da cafeteria e caminhei.

                Na boa, se tem uma coisa que me irrita mais que tudo é que fiquem rindo de mim, mesmo que eu tenha dado todos os motivos pra isso. Eu sei que eu tenho que controlar isso, mas não seria naquele dia. Andei até uma rua estranha e fedida, toda suja e escura. Olhei a hora no meu celular, eram 8:53, comecei a me desesperar mais. Onde que eu estava com a cabeça? Devia ter ficado no meu quarto fazendo nada, com certeza eu estaria melhor.

                - Ei, garota estressada! Espera! – alguém gritou.

                Olhei para trás.

                - Ah, é você. – era a menina da cafeteria.

                - Você só pode esta ficando maluca de sair sozinha em um bairro que nem conhece! – disse ela ofegante.

                - O que tem de errado com você? Porque esta respirando assim?

                - Nada, eu só corri pra ver se te alcançava, antes que alguém te assaltasse. – disse ela rindo novamente.

                - Na boa, qual a graça de alguém me assalta? – perguntei com um visível tom de irritação.

                - Nossa! Você é sempre tão estresse com quem tenta te ajudar?

                - Não só com quem ri de mim.

                - Eu não estou rindo de você. Eu estou rindo da situação. Entendeu?

                - Ok!

                - Vai acalmar e deixar eu te ajudar?

                Olhei a hora novamente, eram 9:02.

                - Sim mais só porque eu tenho que esta em casa em menos de uma hora.

                Caminhamos um pouco mais e chegamos a uma praça, sentamos em um banco e próximo a ele tinha uma placa indicando que ali era um ponto de ônibus.

                - Aqui é o ponto de ônibus mais próximo, mas preciso saber onde você mora pra saber que ônibus pegar. – ela falou.

                - Moro em um condômino, perto do Teatro Brasiles. – expliquei.

                - Hum... Teatro Brasiles...

                - O que foi? Não conhece?

                - Conheço sim. Você deve ser rica, hein? – ela riu ironicamente.

                - Ava! Rica? Não mesmo.

                Ficamos em silencio.

                - E a proposito, eu me chamo Carol. – me apresentei.

                - Beatrice, mas todo mundo me chama de Bia.

                - Bonito.

                - O que?

                - Seu nome.

                - Não mesmo. Minha mãe que gosta dessas coisas estrangeiras, conheceu uma gringa com esse nome e bem, aqui estou eu...

                - Ah, eu gostei... Beatrice!

                - Acho que aquele foi o ônibus que você pegou. – disse ela apontado pra um ônibus que vinha lá no fundo da avenida.

                - Acho que sim, ele passa mesmo próximo a Teatro. – disse eu aliviada.

                - Então, acho que aqui nos despedimos, garota estresse. – falou rindo.

                - É acho que sim. – também ri.

                - Não vai estressar por eu ter rido?

                - Não, mas não acostuma.

                Fiz sinal com a mão pro ônibus parar.

                - Como posso agradecer pela ajuda? – eu perguntei.

                Ela abriu os braços, como se dissesse não saber.

                - Tem face? – entrei no ônibus.              

                Olhei pela janela e ela fez sinal que sim com a cabeça.

                - Beatrice Queiroz. – ela acenou.

                O ônibus começou a andar. Olhei novamente a hora 9:37. A pressão só aumentava, mas o que importava era chegar. Quando finalmente consegui eram 10:15. Mas apesar dos 15 minutos de atraso, minha mãe não falou nada.

                -Ufa! Escapei... – disse baixinho e entrei no meu quarto.

                Deitei na minha cama exausta, peguei o celular e liguei pro Gabriel. Chamou até cair na caixa de mensagem. Tentei novamente...

                - E ae Carol? – ele atendeu.

                - Aff... achei que não iria anteder de novo. – falei.

                - Foi mal gata, não tinha ouvido o celular tocar.

                - Ta fazendo o que?

                - Jogando Perfect World e você?

                - Tentando ganhar um pouco de atenção do meu namorado.

                - Legal...

                - Legal?

                - Sim... Droga! – ele gritou.

                - O que foi?

                - Um Boss..

                - Que?

                - Coisa do jogo.

                Não falei mais nada, pra ver se ele falaria. Resumindo fiquei quase cinco minutos em silencio ouvindo apenas o barulho das teclas do computador dele.

                - Gabriel.

                - Oi, Carol.

                - Você ainda gosta de mim?

                - Sim, claro.

                - Não parece...

                - Mas eu gosto.

                - Eu também gosto de você, mas... – não completei.

                - Mas o que?

                - Mas acho que não da mais pra mim.

                - Você esta terminando comigo, é isso?

                - Acho que sim. – respondi, quase chorando.

                - Tudo bem.

                - Tudo bem?

                - Sim, se é isso que você quer, de boa por mim.

                - De boa, Gabriel? – desliguei.

                Como alguém que diz que gosta de mim, pode ser tão frio e indiferente? Será que todos os garotos são assim ou eu escolhi o mais babaca pra me apaixonar? Que se dane... Eu estava realmente disposta a mudar de vida e crescer.

                Deitei na minha cama, chorei e desejei que algo muito bom acontecesse comigo nessa minha nova fase. Mal sabia eu o que o destino me reservava... 


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