Equilíbrio escrita por NocturnalVacancy


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Fanfic feita em um único dia para um concurso do qual nem lembrava mais. O texto não foi betado, o final foi feito às pressas, porém os erros já foram corrigidos.



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Suigetsu amava a noite.

 

Não, ele não a amava realmente. Justo seria dizer que ele merecia a noite, pois Suigetsu era uma dessas criaturas medonhas que se esgueiram pelas sombras de becos escuros, o tipo de criatura da qual sequer temos a certeza de serem humanos, e com quem não queremos encontrar ao voltar para casa tarde da noite. A noite era tudo o que ele merecia e, devido a isso, agarrava-se a ela como uma criança às saias de sua mãe, amaldiçoando os adoradores do sol com todas as forças de seu coração negro.

 

Moegi amava o dia.

 

Não, ela não o amava realmente. Ela não amava o dia pois sequer tinha uma ínfima noção da dádiva que recebera. Ela era apenas mais uma criança adorável entre tantas que vemos por aí, mas igualmente dotada da luz que somente a infância pode nos oferecer. E, cega pela ignorância de sua inocência, jamais percebera a regalia que lhe fora destinada, o quão privilegiados eram aqueles que andavam sob o sol sem terem consciência das trevas que dominam o coração de certos homens.

 

Suigetsu era um desses homens.

 

Seu interior enchia-se de inveja corrosiva enquanto caminhava de volta ao cubículo que chamava de lar após algum serviço sujo, passando em frente da mesma escola como um ritual infernal ao qual precisava executar todas as malditas manhãs. Não conhecia o nome de qualquer uma daquelas crianças, porém não podia evitar odiá-las. Odiava os sorrisos, as brincadeiras, a inocência. Odiava o fato daqueles pequenos seres imundos crescerem alheios ao mal que circunda as ruas quando ele próprio, ainda em idade precoce, precisou sujar as mãos de sangue.

 

Moegi também era uma dessas crianças.

 

Qualquer um, ao ver aquele olhar bestial, não hesitaria em atravessar a rua, pressentindo o perigo através do instinto mais primitivo do ser humano. Moegi, por outro lado, ainda sob o véu da ingenuidade, apenas via um onii-chan de cabelo prateado andando mal-humorado do outro lado da rua. Por vezes cogitara ir entregar-lhe algum doce, pois sua mãe sempre lhe entregava um quando se sentia triste ou nervosa. Felizmente, em todas as vezes, a mão firme da professora estava lá para impedir-lhe de cruzar a linha da calçada.

 

Uma linha fina demais.

 

Suigetsu era uma criatura da escuridão, e como toda criatura da escuridão, ele almejava pelo dia. E Moegi, sendo uma adoradora da luz, sentia-se infindavelmente atraída pela noite, embora sequer tivesse consciência desse fato. Dois mundos que coexistiam em um equilíbrio perfeito, porém delicado. E poderia ter continuado assim por um longo tempo... Até aquele fatídico dia de chuva.

 

Um dia escuro demais.

 

Suigetsu estava especialmente irritado naquele fim de tarde. O céu desabava sobre sua cabeça e, mesmo com o guarda-chuva, era difícil se proteger da tempestade. Suas roupas pesavam pelo peso da água e, ainda assim, ele continuava caminhando. Nenhuma criatura em sã consciência sairia de casa em um dia como aquele, mas Suigetsu não podia se dar ao luxo de terminar a sua tarde sem uma carteira de cigarros para alimentar seu vício. O único ponto positivo em sua jornada era a total ausência de pessoas ao redor, especialmente das crianças que tanto odiava.

 

Todas, exceto uma.

 

Moegi estava especialmente angustiada naquele fim de tarde. O céu desabava sobre sua cabeça e, mesmo sob o teto do ponto de ônibus, era difícil defender-se do forte vento que teimava em bater contra seu rosto. O tecido do casaco já não era o suficiente para proteger-lhe do frio, ainda que tenha perdido o ônibus apenas para continuar na escola a procurá-lo. Talvez pudesse retornar sozinha, mas não se atrevia a sair de seu refúgio sem algo para ampará-la. Tudo que podia fazer era esperar alguém vir buscá-la.

 

Esse alguém não tardou a chegar.

 

Ela ainda estava lá. Suigetsu avistara a garota quando fora comprar os cigarros e agora, já com o pacote em mãos, retornava para casa. Durante todo esse tempo ela não se movera um centímetro e, a contragosto, Suigetsu aproximara-se e estendera o guarda-chuva para a criança a sua frente, usando o próprio corpo para ampará-la do vento. Apenas um troca de palavras e Moegi segurava fortemente a mão do onii-chan que a levaria para casa. Caminhando ao seu lado, Suigetsu ostentava um sorriso sórdido. Bastaria um mirar mais atencioso para perceber as intenções sujas por trás daquele gesto de caridade, contudo, não havia ninguém naquele momento para impedi-los de cruzar a linha, e Moegi ainda era doce demais para entender por si própria.

 

Aquele era o momento de ensiná-la, e Suigetsu cuidaria disto pessoalmente.

  

Equilíbrio
05/04/2013
by Kelen Yoru


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