Eu ainda te mato, Peeta Mellark! Aqui estou eu, em plena tarde de sábado, escrevendo um ensaio sobre a fragmentação da identidade do sujeito na sociedade contemporânea de mais de 50 páginas. E de quem é a culpa disso? Peeta, lógico. O favor que Peeta se referia era escrever este ensaio, que precisa ser entregue na segunda-feira. Era isto, ou Peeta daria um jeito para que minha mãe me levasse em uma daquelas festas, que detesto. Acredite, ele já fez isso antes, ainda não me esqueci do episódio do natal. Além disso, não quero dever nenhum favor para Peeta, por isso quero terminar esse ensaio o mais rápido possível.

Finalmente estou terminando. Se eu ficar mais uma noite sem dormir e ver mais uma xícara de café na minha frente, juro que estrangulo Peeta com minhas próprias mãos.

Ainda não voltei para meu quarto. Minha mãe está ocupada demais com o programa de Prim, para se preocupar com a reforma da casa. Ela fez certo sucesso com seu almoço, e agora está aproveitando todas as oportunidades para aparecer. No entanto, quem ganhou o troféu de popularidade foi Peeta, ao acordar diante das câmeras. Todos ficaram loucos por Peeta, que até recebeu convites para estrelar seu próprio programa de TV! Isso já é demais para mim, quem recebe um convite para estrelar um programa de TV, só porque apareceu uma única vez diante das câmeras? Na internet, Peeta Mellark se tornou um dos nomes mais procurados. Porém, incrivelmente, Peeta está se negando a fazer mais aparições no programa de Prim, para desespero da nação. Acho que ele está dando uma de super estrela. Isso é uma bela de uma estratégia, quer chamar mais atenção bancando o senhor não quero aparecer.

Imprimo as folhas e me dirijo ao quarto de Peeta. Preciso entregar este ensaio. A porta está aberta. Chamo por ele, porém, não me responde. Resolvo deixar em cima de sua escrivaninha. Coloco os papéis sobre um livro.

– Espero que isso seja meu ensaio – diz Peeta atrás de mim.

Me volto e... Peeta está apenas usando uma minúscula toalha, ele acaba de sair do banho, céus... seu corpo parece ter saído da mão de um hábil escultor...

– Katniss, você não acha que eu já não tenho meninas suficientes babando em cima de mim, para você se juntar a lista?

– O quê? Eu não estava... – sinto meu rosto ficar mais vermelho do que o batom da Glimmer em dias de festa – Eu só estava deixando o ensaio – volto meu rosto para a escrivaninha.

– Sei... vou fingir que você não estava olhando para mim...

– E como eu não estaria olhando, se você está... nestes... trajes – gaguejo.

– Pode falar, Katniss, sei que sou irresistível.

Que convencido! Só porque você tem este corpo, este rosto, estes cabelos, estes olhos... Isso não dá direito a você ser tão convencido assim!

– Peeta, existem muitos outros caras que são bem mais bonitos que você! – tento rir, mas minha risada se transforma em uma risada nervosa.

Ter uma conversa com Peeta, com este vestindo apenas uma toalha, não é a situação mais confortável do mundo.

– Tipo quem?

Olho para Peeta, enquanto ele enxuga seus cabelos com uma toalha.

– Tipo... – droga, não consigo pensar em ninguém, até mesmo os astros da TV em comparação a Peeta não me parecem tão bonitos.

Ele ri diante de minha incapacidade de nomear alguém mais bonito que ele.

– Tipo Gale – engole essa Peeta!

– Gale não vale, Catnip – por que ele tem que me chamar desta maneira?

– E por que não vale?

– Nós dois sabemos muito bem o motivo, não é mesmo, Catnip?

Não respondo a sua provocação.

– Aqui está seu trabalho... – digo tentando sair do quarto. Quero terminar com isso o mais rápido possível.

– Espera, Katniss. Preciso que você faça outra coisa.

O que, mais outra? Espero que não seja mais um ensaio de mais de 50 páginas desta vez falando sobre a guerra fria.

– O que é desta vez? Eu já fiz o ensaio, já paguei o favor. Estamos quites!

– Prometo que esse é o último! – me olha.

Olho incrédula para ele.

– Eu juro, não vou te pedir mais nada! Você irá estar livre de mim...

– Mesmo?

Peeta assente.

– O que você quer?

– Preciso de um modelo para meu trabalho de artes.

– Por que você não pede para uma daquelas garotas que sempre estão correndo atrás de você? Aposto que elas adorariam essa ideia.

– Eu até pediria, mas... eu preciso de nota e você sabe o que aconteceria se eu pintasse uma daquelas garotas – é claro que sei, você acabaria tirando um belo zero. – Desta vez preciso de alguém que não me mantenha ocupado com outras coisas.

– Está bem – resmungo – Mas você vai ter que se vestir.

Peeta ri, e eu fico com minha cara em brasa.

– Ok, Katniss.

Me viro, pois Peeta resolveu se vestir aqui mesmo. Como ele faz isso? Será que ele não percebe a situação embaraçosa em que nós estamos? Ou melhor, em que ele me colocou. É muito normal ter um garoto se troncando em suas costas. Só de pensar meu rosto fica vermelho.

– Pode se virar, Katniss.

Ele está vestindo apenas uma calça preta.

– Eu falei que você tinha que se vestir!

– Que isso, Katniss? Hoje, está um calor horrível.

Olho para ele, zangada.

– É só você ligar o ar condicionado, engraçadinho.

– Não precisa ficar assim, Katniss! Eu coloco uma camiseta, satisfeita? – diz enquanto veste uma camiseta preta de uma banda qualquer.

Ele realmente gosta de se divertir as minhas custas.

Peeta pega um quadro, pincéis e tintas e pede para que eu me deite em sua cama. Nunca pensei que me deitaria na cama de Peeta! Sinto o cheiro de sua colônia, na cama. Parece até que eu estou abraçando Peeta.

Nunca tinha visto Peeta tão concentrado em algo. Seu rosto está sério. Ele me olha, desvio meu olhar, não quero que Peeta me pegue olhando para ele.

– Pode fechar os olhos se quiser, Katniss.

– É claro, que vou fechar meus olhos. Afinal quem quer ficar olhando para você, Peeta?

Estou tão cansada de esses últimos dias, com todas essas noites perdidas escrevendo o ensaio para Peeta, que acabo adormecendo sem perceber.