Eu e Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 34
Capítulo XXXIV - Uma nova Delly?


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo está recheado de revelações. Muitas perguntas serão respondidas. É um capítulo um pouco triste, mas fundamental para entender o Peeta e o Gale. Aviso importante: a fic está entrando em sua reta final, apenas mais quatro capítulos, que já estou escrevendo. Para mim é super difícil encerrar esta história, já que gosto tanto de escreve-la, mas é preciso...



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Peeta acende as luzes revelando um quarto cheio de quadros. Estes estão espalhados por todos os lugares. Há alguns cavaletes com telas ainda em branco, outros com desenhos incompletos. Há também tintas e pincéis espalhados por todo o local.

As pinturas são lindas. Reconheço em um dos quadros Delly, em outro, a mãe de Peeta. Porém, a figura que mais se repete nos quadros é a minha. Em uma das telas, estou dormindo. Deve ser o quadro que ele fez naquela noite, em que dormi em seu quarto, quando me disse que precisava de um modelo para o trabalho de artes.

Olho espantada para Peeta, não sei o que isso significa. Estou confusa.

– Peeta? – digo, tentando entender tudo isto.

– Katniss, nunca mostrei a ninguém este quarto. Queria que você fosse a primeira a vê-lo.

Percorro meus olhos mais uma vez pelo quarto, tentando assimilar o que tenho diante de meus olhos.

– Katniss quero te mostrar esta tela – diz se aproximando de um dos quadros, que está no centro do quarto, em um cavalete.

Na tela há um piano e uma pequena borboleta que toca suavemente em uma das teclas do piano, fazendo que a tecla se mova. Olho para Peeta, interrogativa.

– Katniss, é assim que me sinto em relação a você.

– O quê?

– Eu te amo, Katniss – seus penetrantes olhos azuis olham em meus olhos.

Aos escutar estas palavras, meu coração fica acelerado. Não sei o que fazer. Peeta me ama? Mas, como? Eu escutei direito? Estou em choque.

– Katniss, eu sempre me senti como um piano trancado em uma casa em que ninguém pode entrar. E fui eu mesmo que me tranquei, não permitindo que ninguém jamais chegasse perto o suficiente de mim... Até que você entrou, como esta pequena borboleta, conseguindo o que ninguém mais fazia, tocar o piano.

– Peeta... – falo, sem entender nada.

– Por favor, Katniss, me ouça, é a única coisa que te peço, não fuja... – fala, me olhando.

Seu olhar é sincero. Sua voz está carregada de emoção, mas seu tom é calmo.

– Katniss, eu sempre soube que não poderia deixar você entrar, e juro que tentei e como tentei. Mas, você foi se apoderando cada vez mais de meu coração até eu perceber que estava irremediavelmente amando você...

– Eu não entendo, Peeta. Se você me ama, então... por que você me atormentou tanto?

– Katniss, lembra qual era o livro que você estava lendo quando te vi pela primeira vez? – Peeta se senta no chão, encostando sua cabeça na parede.

Puxo em minha memória, a primeira vez que vi Peeta. Lembro que foi em um restaurante. Eu estava com minha mãe, que iria me apresentar ao seu namorado. Lia um livro, quando vi um garoto loiro (lindo, nunca havia visto antes alguém tão belo), que me olhou com cara de poucos amigos. Minha mãe sorriu para o homem que estava acompanhando o garoto. Os dois vieram se sentar na mesa em que minha mãe e eu estávamos. Compreendi que aquele garoto era o filho do namorado da minha mãe. O garoto me olhava furioso. Foi a partir daquele momento que compreendi que Peeta e eu nos odiaríamos. No entanto, eu não me lembro do livro...

– Não me lembro – falo.

– Era Alice no país das maravilhas... – me olha – Este era o livro predileto de Delly – acrescenta depois de uma pausa.

– Mas o que isso tem a ver com o fato de você me odiar?

–Eu te odiei a partir daquele momento – olho para Peeta, interrogativa – Te odiei porque você se parecia extremamente com Delly, você vivia com um livro na mão assim como ela. E eu odiava o fato de você me recordar Delly.

Estou cada vez mais confusa. Por que Peeta me odiava tanto assim?

– Mas... Sei que foi Delly que fez com que você ficasse bem, depois que sua mãe morreu, então por que você me odiava por recordar sua amiga?

Peeta me olha, com seus olhos cheios de dor. São os mesmos olhos que vi naquela noite do jantar de Chaff. Ele suspira, parece hesitante em me falar. Seus olhos se desviam de mim.

– Minha mãe morreu por minha culpa...

– O quê? – digo, confusa.

– Eu tinha sete anos quando ela morreu, mas ainda recordo de tudo... como se fosse ontem. Naquele dia eu estava feliz porque minha mãe tinha me levado no parque. Minha mãe era uma pessoa muito especial, Katniss. Ela amava os livros, sempre me dava um de presente, por isso tenho meu quarto cheio de livros... Eu também amo os livros – diz, me olhando, lançando um doce sorriso.

Realmente, não sabia que Peeta ama os livros, pensava que... já não importa mais o que eu pensava.

– Naquele dia, comprei uma bola de recordação do parque. Estava tão feliz que comecei a brincar com a bola lá mesmo. Minha mãe...

Percebo que a voz de Peeta está embargada. Olho para seus olhos, estão cheios de lágrimas. Uma lágrima começa a escorrer por sua face. Meu coração começa a doer ao ver Peeta neste estado. Ele está sentado no chão perto de um dos quadros. Me aproximo e lanço meus braços sobre ele. Peeta inclina sua cabeça e a deixa sobre meu ombro.

– Minha mãe não queria que eu brincasse com a bola lá, pois era perigoso. Mas eu insisti... A bola escapou de minha mão e foi parar na rua. Corri para alcançar, sem olhar para os lados e quando dei por mim, vinha um carro em minha direção... Fechei meus olhos e esperei... Mas nada aconteceu. Quando abri meus olhos minha mãe estava em minha frente caída na rua... – faz uma pausa – Morta.

Acaricio os cabelos de Peeta. Sei que ele está sofrendo. Uma dor que tão terrível que eu nem sei como é. Uma dor que desconheço. E eu não posso fazer nada para ajuda-lo.

– Fiquei arrasado, a culpa me perseguia noite e dia. Era apenas um corpo sem alma. Foi Delly, o raio de luz, que invadiu minha escuridão e me trouxe de volta a vida. Ela foi a única que conseguiu ir a onde ninguém mais conseguiu...

– Peeta... – sussurro.

– Eu, Delly e Gale éramos inseparáveis... Delly era meu raio de luz. Quando eu tinha onze anos, um dia, Delly me pediu para ensiná-la a nadar. Neste dia estava ocupado com algo, que nem lembro mais. Só sei que me recusei a ensiná-la a nadar naquele dia, acabamos brigando. Lembro que o telefone tocou várias vezes naquele dia, era Delly. Mas, eu não quis atender, queria que Delly não me atormentasse mais com esta história... Só sei que no final do dia, alguém veio até minha casa me contar que haviam achado Delly... morta na piscina de sua casa...

Peeta e eu ficamos em silêncio. Não sei o que dizer, sei que ele está sofrendo terrivelmente ao relembrar de tudo isto. As lágrimas não param de escorrer de seus belos olhos azuis. Peeta pega minha mão, que está em sua cabeça, e a segura, levando a seus lábios. Ele beija minha mão demoradamente.

Não sei o que devo fazer para aliviar sua dor. Ele é como um animal ferido. Aproximo meus lábios dos de Peeta, e deposito em seus lábios um beijo. Nos beijamos demoradamente. É um beijo doce, diferente de todos os beijos que já demos. Separamos nossos lábios e nos olhamos.

– Katniss...

– Peeta...

– Me escute, ainda tenho outras coisas para te falar.

Peeta se inclina novamente sobre meu ombro, enquanto retém minha mão na sua, segura como um pássaro em seu ninho.

– Eu te odiava porque você me lembrava o quanto eu sou culpado pela morte de Delly. Quando ela morreu, eu queria esquecer de tudo, de toda a minha culpa, de toda minha dor, por isso eu mudei completamente. Mas, quando eu te vi pela primeira vez com aquele livro, você me lembrou imediatamente de Delly e toda a minha dor voltou, toda a minha culpa, que eu tinha conseguido esconder até aquele momento. Por isso, eu queria te atormentar, te fazer sofrer...

Peeta me olha.

– Me desculpa, Katniss, por todo o sofrimento que te causei... Fui egoísta, só pensei em minha dor, e não vi o quanto você sofria. Se eu soubesse quanta dor isso te causaria...

– Peeta... – não sei o que falar, só consigo murmurar seu nome.

– Meu coração estava fechado. Eu tinha prometido que ninguém ia entrar nele. Minha mãe, Delly... Eu as amava tanto e elas morreram...

– Peeta, não foi sua culpa! Você era apenas uma criança...

– É o que tenho dito a mim mesmo ao longo destes anos... – Peeta faz uma pequena pausa, sinto ele apertar ainda mais minha mão – Mas, aos poucos eu descobri que você era o oposto de Delly, que não existia nada de Delly em você.

– Então, porque você continuou me atormentando? – digo, um pouco surpresa pela revelação.

– Nem eu mesmo sei... hábito, acho... Às vezes se costuma odiar tanto alguém que se odeia por hábito... Mas, Gale – ele me olha hesitante – Ele gostava de você porque você se parecia com Delly.

– Como? – digo, retirando minha mão da mão de Peeta e me levantando do chão.

– Katniss, quando Gale te viu pela primeira vez, o que você estava fazendo? – fala Peeta, que continua sentado no chão.

– Correndo atrás de você, porque tinha pegado meu livro... – faço uma pausa me lembrando do momento – Alice no país das maravilhas – murmuro.

– Exatamente, Alice no país das maravilhas. Quando vi Gale te olhando percebi imediatamente que ele tinha encontrado em você uma nova Delly, como eu havia encontrado. Mas, Gale é diferente de mim, ele quer recordar Delly, enquanto eu quero esquecer.

Sim, isso parece loucura, mas o que Peeta diz, tem sentido. Diversas vezes, Gale disse que eu me parecia com Delly.

– Também percebi que você estava apaixonada por ele... – Peeta está me olhando de maneira pensativa – Quando notei isto, sabia que teria que fazer de tudo para que vocês não ficassem juntos...

– Peeta, quer dizer que fez tudo isto para me separar de Gale?

Peeta se levanta e vem até mim.

– Katniss, sei que é difícil, mas, por favor, me escuta!

Me viro de costas para Peeta. Estou tão confusa. São muitas coisas para eu assimilar...

– Katniss, por favor – diz ele, me abraçando por trás – Eu estava disposto a fazer de tudo para separar você de Gale. Ele adorava Delly... Gale sofreu muito com a morte de Delly... Gale nunca teve sua família por perto em sua infância. Seus pais moravam na Suíça, seus irmãos eram pequenos demais. Para Gale, Delly era uma das únicas pessoas, que traziam um pouco de luz para sua solitária vida. Quando percebi que ele encontrou em você uma nova Delly fiquei preocupado. Mas, pensei que isso passaria com o tempo, porém, não passou. Gale via em você, cada dia mais, uma nova Delly.

Peeta tem a cabeça apoiada levemente sobre minha cabeça.

– Se ele descobrisse que você é totalmente oposta a Delly, ele ficaria arrasado. Eu não podia permitir isso, não podia permitir que meu melhor amigo ficasse com o coração cheio de dor, novamente. Por isso, decidi fazer de tudo para afastar vocês, antes que fosse tarde. Atormentei você, o máximo que pude...

Saio dos braços de Peeta.

– Katniss, me perdoe... – vou até a porta e começo a abrir – Katniss, enquanto tentava afastar você de Gale, sem perceber, acabei me apaixonando por você... Katniss... – fala, suplicante – Quando fui para Paris, eu estava confuso não sabia o que fazer. Percebi que meus sentimentos por você eram mais fortes do que eu pensava. Sabe, Katniss, tentei resistir a este amor o máximo que pude. Você não faz ideia do quanto eu sofri tentando retirar você de mim. Você me tocou de tal maneira, que não consigo mais fingir que não te amo. Ir para Paris foi minha última tentativa de tentar tirar você de meu coração.

– Eu não sei, Peeta... estou confusa... – digo, me voltando para ele.

– Katniss, eu te amo. Só quero ver você feliz e se fosse com qualquer outro garoto eu entenderia, mas com Gale... Eu não quero ver você sofrer e nem ele. Se vocês ficarem juntos... serão atormentados pela lembrança eterna de Delly, e quando ele perceber que você não é ela, Gale e você serão infelizes. Vocês terão o coração quebrado, ele porque você não é ela, e você porque ele ama a imagem de Delly que ele vê em você, e não você. Katniss, você não precisa aceitar meu amor. Entendo isso, e não vou te atormentar para que você o aceite. Meu amor por você continuará escondido em meu coração. Mas, por favor, não faça isso com você, não faça isso com Gale...

Peeta me diz estas palavras com os olhos suplicantes. Estou confusa, perdida... Vou andando para meu quarto lentamente, enquanto as palavras que Peeta me disse ressoam em meus ouvidos. O que devo fazer agora? Peeta me ama... Mas eu o que sinto por Peeta? O que sinto por Gale? O que Gale sente exatamente por mim? Aquele beijo que ele me deu? Gale realmente só me ama porque vê Delly em mim?

Desabo em cima da cama, sem retirar o vestido, nem minha maquiagem, ou desfazer meu cabelo... Sinto apenas uma enorme confusão dentro de mim. Sou um completo caos, esperando ser ordenado.


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Notas finais do capítulo

O que acharam das revelações? Triste a história do Peeta, não? E agora com a revelação de que o Peeta ama a Katniss, e o Gale vê em Katniss, Delly, como vocês acham que ficará daqui para frente?