Estou com fome. Já disse que sou uma péssima cozinheira? Acho que se uma pessoa faminta tivesse que comer minha comida, ela iria preferir ficar com fome. O jeito é pegar algumas coisas já prontas, porém, só encontro umas bolachas, algumas frutas e um suco que parece estar há dias na geladeira. Como algumas bolachas e uma maça, porém ainda continuo com fome. Não tem como comer o resto da pizza que sobrou da reunião de ontem, pois estão em um estado nada apetitoso.

Será que Peeta já está melhor? Vou até meu quarto. Peeta ainda continua dormindo. Coloco minha mão em seu rosto, sua temperatura parece normal.

– Katniss? – diz abrindo os olhos e me olhando.

– Desculpa, não queria te acordar – retiro minha mão de seu rosto imediatamente ao perceber que eu havia a deixado lá.

– Tudo bem. Que horas são? – fala, sentando-se na cama.

– São cinco horas da tarde.

– Já?!

– Você está bem?

– Sim, estou melhor...

– Está com fome?

– Um pouco.

– Tem algumas bolachas que eu encontrei, e um pouco de fruta, quer que eu traga para você?

– Não tem outra coisa? Eu realmente estou com fome...

Olho para ele, um pouco perdida, a onde vou encontrar comida essas horas?

– Deixa que eu cozinho, Katniss...

Olho para ele surpresa.

– Não se preocupe, Katniss, eu fiz algumas aulas de culinária no verão passado, quando Prim insistiu em me levar para a França, e a única coisa que tinha para fazer lá eram aulas de culinária.

Peeta fazendo aulas de culinária, na França? Sei lá, isto é uma coisa que não consigo imaginar.

– Você fez aula de culinária? – digo tentando contem o riso. A última pessoa no mundo que imagino na cozinha é Peeta, acho que até o sem cérebro do Cato, eu consigo imaginar na cozinha, menos Peeta.

– O que foi? Não tinha nada para fazer, a não ser ficar no hotel, e lá eles ofereciam aulas de culinária para os hóspedes. Sabe, não é nada bom ficar em um quarto trancado, absolutamente sozinho.

Peeta, sozinho? Nunca imaginei esta sua faceta. Sempre o vejo rodeado por garotas e por seus amigos.

– Vou te mostrar como sei cozinhar.

Peeta salta da cama, em poucos minutos está na cozinha com um avental. Ele pega várias coisas na geladeira e põe sobre o balcão da cozinha. Me sento perto do balcão e o observo. Peeta cozinhando é um espetáculo que não quero perder. Quero ser testemunha, no caso de ele ser processado por envenenamento.

Agora terei um motivo para infernizar Peeta, quem mandou bancar o senhor sou tão perfeito que até sei cozinhar. No entanto, dentro de alguns minutos começo a sentir um cheiro bom... muito bom. Devo estar mesmo com fome, para achar que a comida de Peeta cheira bem.

Quem visse Peeta cozinhando acharia que ele é um verdadeiro chef, pois está tão concentrado cozinhando, que até parece ter se esquecido de minha presença.

Esqueço meus olhos em Peeta. Lembro da noite de ontem, de seus beijos, de seus braços, de seu calor que me aqueceu de noite na cama... Ainda bem que Peeta estava muito bêbado para lembrar-se de qualquer coisa, não estava?

– Katniss – levo um susto ao ver ele me chamando – Por que você não para de me olhar?

Como ele sabe que eu estou olhando para ele? Aliás, ele está de costa para mim!

– Quem disse que estou te olhando? Estou apenas impressionada que alguém como você saiba cozinhar!

– E o que há de errado comigo? – pergunta ainda sem voltar-se para mim.

– Ah, você é... – droga! Não encontro palavras para descrever Peeta.

– O que eu sou? – vira-se para mim me encarrando.

– Você é alguém... – por que não consigo dizer que ele é um idiota prepotente? Por que parece que se eu disser isso a ele agora irei... estragar este momento? E por que não quero estragar este momento? No que estou pensando?

Peeta ainda continua me olhando, com seus belos olhos azuis que me interrogam em busca de uma resposta. Seus olhos não me olham ironicamente, nem parecem estar querendo me provocar, seus olhos me estão olhando sinceramente? Agora, definitivamente, fui longe demais, preciso fazer algo para que este momento passe.

– Você é Peeta, o príncipe de Panem, o cara que todas as garotas querem pegar, e que todos os garotos invejam.

– Nem todas as garotas querem me pegar – diz quase murmurando, me passando um prato de comida – Mas o que isso tem a ver com o fato de eu cozinhar? – fala desta vez em tom alto de uma maneira divertida, olhando para mim.

– Sei lá, é que você cozinhando para mim é um pouco surreal.

Peeta ri de meu comentário.

– Então, está na hora de você provar meus dotes culinários!

Olho para o prato de comida que Peeta havia me passado antes, é um prato simples de arroz e bife acebolado. Devo admitir que o cheiro e o aspecto estão ótimos. Mas não vá contando vantagem Peeta, isso não significa que o gosto esteja bom. Levo uma garfada de comida à boca, já escolhendo as palavras para expressa meu desagrado. Mastigo a comida e... está divino, nunca provei algo tão delicioso assim antes. Droga! Não posso negar que a comida está perfeita.

– Então? – pergunta Peeta me olhando.

Olho para Peeta, jamais vou admitir que está maravilhoso. Peeta, você não terá este triunfo. Até vejo ele se gabando pelos restos dos seus dias que fez a melhor comida que eu já provei.

– Está regular... – falo tentando não demostrar o quanto eu gostei.

– Regular? Não é o que seu rosto me diz! Ele me diz que você adorou a comida.

– Para de ser convencido, Peeta, não é para tanto, e a comida está apenas regular.

– Sei... Vou fingir que não vi seus olhinhos brilharem quando provou minha comida! – sorri.

Minha única reação é bufar. Droga, por que Peeta consegue saber o que estou sentindo?

Peeta pega um prato de comida para ele e senta-se em minha frente no balcão. Embora estejamos em silêncio, não é um silêncio constrangedor, é um silêncio agradável, de certa maneira confortável. Geralmente, os silêncios para mim são sempre constrangedores, porém, agora não sinto isso, gosto de estar em silêncio.

– Quer mais? – diz Peeta ao perceber que meu prato está vazio.

– Não, obrigada – Até que eu queria mais (a comida está realmente deliciosa) porém, me recuso a aceitar mais da comida de Peeta, isto o deixaria ainda mais convencido.

Pego meu prato e levo até a pia e começo a lavar as louças que Peeta sujou ao preparar o jantar, já que ele fez o jantar tenho que lavar a louça.

Peeta se aproxima da pia e pega um guardanapo e começa a secar a louça que já lavei. Peeta realmente está me surpreendendo hoje. O olho surpresa.

– O que foi?

– Nada – melhor mudar de assunto – Peeta, o que faremos com a garrafa de vinho quebrada? Se Haymitch descobrir... Nem quero pensar!

– Sim, isto é um problema... – Peeta fica sério, parece estar tentando encontrar uma solução para nosso problema – Katniss... – me volto para ele – Vi o estrago no tapete persa da sua mãe...

– Sim, eu tentei consertar, mais ainda assim... – me lembro do estado do tapete, minha mãe terá um ataque se ver aquilo.

– Amanhã, eu mando para uma loja que trabalha com consertos de tapetes... – ele ainda continua me olhando – Desculpa por ontem... – diz um pouco encabulado.

O que foi que eu perdi aqui? Peeta bateu com a cabeça na piscina?

– Estava bêbado e... – o olho, quem é você e que fez com Peeta Mellark? – Passei um pouco... dos limites...

Será que Peeta se lembra do beijo na piscina? Estou perdida, se ele lembrar deste fato. Não posso esquecer que eu permiti que ele me beijasse. Ele estava bêbado, mas eu estava sóbria... quer dizer, os beijos de Peeta me embriagaram... Foco, Katniss, deixe de pensar nisto de uma vez por todas!

– Não me lembro de muita coisa de ontem... nem sei como fui parar naquela piscina... e depois no seu quarto... Desculpa por isso, não queria... te dar trabalho... – diz Peeta com uma voz que me soa arrependida.

Será que os maias estavam certos e o fim dos tempos está chegando? Peeta me pedindo desculpas?! Cadê as câmeras? Só posso estar em um daqueles programas de pegadinhas que passa na tv. Pelo menos, ele não se lembra do beijo...

Peeta ainda continua me olhando. Estou mesmo atordoada com tudo isto. Nunca pensei em ver o senhor arrogante em pessoa me pedir desculpas. Juro, que meus neurônios vão começar a fritar a qualquer momento!

– E também pela bagunça... por você ter limpado tudo sozinha... me desculpa.

– Peeta Mellark, tem certeza que você está bem? – digo após um momento, quando finalmente consigo voltar um pouco de meu choque, não é todo dia que se tem um Peeta arrependido e te pedindo desculpas.

Peeta apenas me sorri como resposta e volta a enxugar a louça. Lavamos a louça silenciosamente. Agora preciso me focar em nosso grande problema. Entretanto, não consigo pensar em nada, todas as ideias me parecem malucas demais.