O som do despertador me acorda. Ainda estou com a roupa de ontem. Minha única reação ao chegar em casa foi me jogar na cama e dormir. Sinto minha cabeça girar e girar. Agora entendo as dores de cabeça de Prim. Me arrasto até o banheiro, me enfiando debaixo da água. As lembranças da noite de ontem vêm em minha mente. O que foi que eu fiz? Ainda sinto os lábios de Peeta sobre os meus e suas mãos sobre o meu corpo. Agora que recuperei meu juízo, vejo o tamanho da besteira que fiz. Quero que um buraco se abra em minha frente para eu pular nele e nunca mais aparecer diante de Peeta.

É obvio que estava bêbada e perdi o controle de meu juízo. Eu nunca beijaria Peeta em sã consciência. Mas... por que ele retribuiu o beijo?

Eu até entendo que ele roubou meu primeiro beijo porque queria me irritar, o que conseguiu. Porém, quando eu me atirei sobre ele, Peeta poderia muito bem ter me evitado, pois não tinha sentido nenhum corresponder ao meu beijo.

Não quero olhar para Peeta antes de encontrar uma resposta para minha pergunta. Aliás, não quero olhar para Peeta nunca mais se possível, não depois da noite de ontem.

Me visto rapidamente, pego minha mochila. Saio quase correndo de casa, nem tomo café da manhã. Logo Peeta irá acordar, tenho que ser rápida, se não quero vê-lo. Para minha sorte, encontro o motorista. Peço a ele que me leve até o colégio.

Passo o dia todo preocupada em evitar me encontrar com Peeta. Passo o intervalo no banheiro, saio mais cedo da aula, alegando que tenho uma consulta marcada com um médico, e passo o restante do dia em uma livraria, pois sei que Peeta não faz a mínima ideia de sua existência.

Embora eu consiga evitar ver Peeta, não consigo sumir com ele da minha mente. Depois de muito pensar no motivo que fez Peeta retribuir ao beijo, chego a algumas conclusões:

1. Nunca vi Peeta recusar uma garota.

2. Peeta adora ter meninas se atirando sobre ele.

3. Peeta é um galinha.

4. Para Peeta qualquer garota serve (apesar de quase todas as garotas de Panem não saberem disso)

5. Eu sou uma garota.

A conclusão é que Peeta correspondeu ao meu beijo porque sou uma garota e ele não perderia essa oportunidade, mesmo esta garota sendo eu. Só pode ser isso não há outra explicação. Além disso, para Peeta um beijo não significa absolutamente nada, pois ele vive beijando por aí.

E a razão que me fez beijar Peeta, lógico que foi a bebida, e os acontecimentos que havia presenciado. Eu apenas queria esquecer tudo, e encontrei nos lábios de Peeta um meio para isso. Além disso, claramente, havia perdido meu juízo.

Já são quase dez horas da noite, preciso voltar para casa. A livraria está preste a fechar. Procuro por um táxi, já que dispensei o motorista, pois não queria que Peeta soubesse minha localização.

Penso durante todo o trajeto – que é curtíssimo – como devo evitar a Peeta durante os próximos dias. Melhor ainda, não o ver até minha ida para a faculdade. Acho que consigo viver assim até a faculdade, não? Esse é um bom plano, nunca mais ver Peeta.

Com todo o cuidado subo até meu quarto, fazendo o mínimo de barulho possível. Não senti tanta falta das habilidades de uma bailarina quanto agora, deveria ter seguido o conselho de minha mãe e ter me matriculado nas aulas de ballet.

Estou fazendo um bom trabalho, até agora não me encontrei com ele. Chego na parte mais difícil passar pela porta de seu quarto. Nunca fiquei com tanta raiva por minha mãe ter me colocado no quarto em frente ao de Peeta. Mas no que eu estou pensando, Peeta deve estar em algum lugar com seus amiguinhos ou se atracando com alguma garota. Não há nada com que se preocupar, Katniss!

– Katniss – quase tenho um ataque do coração ao ouvir sua voz atrás de mim. Fico congelada com sua voz, não ouso me mover. Respiro fundo, não tenho alternativa a não ser me virar.

– O que é, Peeta? – tento usar o meu tom mais normal possível. Vamos fingir que nada aconteceu aqui, certo? Ele está me olhando com uma expressão interrogativa.

– Johanna não para de ligar atrás de você, algo sobre um trabalho – droga, me esqueci completamente do seminário – Onde você estava?

– Estava... na livraria – tenho que sair daqui, essa situação é muito constrangedora – Obrigada, por me avisar, vou ligar para Johanna – digo enquanto me viro e começo a andar.

– Katniss – me viro automaticamente – Ontem você não parecia tão apressada assim, enquanto enfiava sua língua na minha boca.

O que eu faço? O que eu faço? Procuro o pé de cebolinha mais próximo e me enforco?

– Peeta... – começo a gaguejar – Sobre ontem... eu... estava... bêbada... muito bêbada, não lembro muita coisa... acho que não lembro de nada...

– E você quer que eu acredite nisso? – ri – Você me pareceu bem sóbria quando me agarrou no carro e enviou sua boca na minha.

Peeta falando dessa maneira me faz parecer uma pervertida, e ele a pobre vítima indefesa. Não sei como responder a isso.

– Ah... Peeta, você sabe eu estava bêbada...

Ele está me olhando, não consigo decifrar seus pensamentos. Acho que ele me considera a garota mais estranha que existe. E eu não sou a garota mais estranha que existe, quem iria beijar seu maior inimigo daquela maneira?

– Katniss, eu sei que todas as garotas adoram se atirar em cima de mim – convencido como sempre – Mas aquilo foi um pouco extremo, não acha? Sabe quase fiquei sem parte de meus cabelos – agora ele está falando de um jeito malicioso – Da próxima vez que não resistir e quiser me agarrar, seja um pouco mais suave. E por favor, nada de ficar me batendo, se você gosta dessas coisas temos que conversar sobre isso antes, não quero ficar com meu rosto inchado no outro dia. Você poderia ter me avisado deste seu gosto peculiar. Sempre gosto de saber do que as garotas gostam – ele abre a porta do seu quarto e entra.

O que foi isso? Essa foi a conversa mais sem noção que tive com Peeta em toda a minha vida. Agora eu sou uma pervertida! E com gostos peculiares! A onde está aquele pé de cebolinha? Preciso me enforcar.