You Found Me escrita por liljer


Capítulo 1
You Found Me




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— Para Miwa Ogasawara Mazur,

minha amada Bolinho de Arroz.

Feliz aniversário.



“Se duas pessoas estão destinadas à ficarem juntas, eventualmente, elas encontram o caminho de volta.”

Chuck Bass —




Quando eu era mais nova, eu assisti ao meu pai ir embora, deixando minha mãe de lado por alguma outra mulher que ele conhecera na rua. Naquela época, eu não entendi quando assisti minha mãe chorar noite após noite, encolhida sob os lençóis, na sua cama, sem nenhuma vontade de viver.

Ninguém havia tomado conta de mim naquela época. Eu havia o feito por nós duas, nos cuidando. Éramos nós contra o mundo. Um mundo muito cruel, foi o que eu vim a aprender anos depois. Eu havia me dedicado aos estudos de forma a qual eu fizesse minha mãe se orgulhar de mim. Na tentativa de fazê-la sorrir novamente, verdadeiramente, como há muito tempo ela não o fazia.

Num domingo, à tarde, enquanto almoçávamos, a campanhia tocou, e minha mãe foi atender. Foi quando demos de cara com o meu pai, o homem que a fizera tanto sofrer. Mamãe o abraçou e pediu para que ele voltasse para casa. Mas ele a ignorou. Indo até o quarto e pegando algumas coisas — as últimas que haviam sobrado de lembranças dele.

Anos depois, eu ainda encontrava minha mãe chorando pelos cantos, e com um entendimento maior, eu notei o que aquilo significava. Ou pelo menos, a metade. Eu nunca havia amado ninguém, além de um garoto da minha sala na oitava série. Mas aquilo não era amor. Nunca foi e nunca seria. E após anos, enquanto eu encarava aqueles olhos azuis marcantes e profundos, eu enfim entendi. Amar nem sempre é ser correspondido ou ter um final feliz.


[...]


Eu deixei os livros sobre a cama, assim, podendo ter mais tempo para arrumar minhas roupas no guarda roupa. Era um novo ano, uh? Universidade, planos para futuramente me tornar uma verdadeira Bióloga. Eu estava feliz. Por Deus... Eu estava saltitando por todos os cantos com a intensidade da felicidade que esvaia de mim.

Eu havia saído de Claymont, no estado de Delaware, no Condado de New Castle, uma cidade de tempo variável, onde às vezes, fazia-se de um à vinte e quatro graus no verão. E eu estava feliz de sair de lá, apesar de não haver muita diferença. Pensilvânia não ficava tão longe assim, e fazia tanto frio, ou até mais do Claymont.

Minha mãe havia conseguido um emprego em Pensilvânia, fazendo assim, nos mudarmos. Mais uma vez. Mas não era tão ruim, afinal... Pensilvânia tinha uma excelente universidade. Eu não podia pagar, claro... Mas eu tinha uma boa bolsa, conseguida pela diretora do meu antigo colégio, o Claymont Hight School, a Sra. Kirova havia feito um bom trabalho à favor da minha mãe, que costumava atender o seu filho — que antes de mamãe mencioná-lo, para mim, era inexistente — quando sua pneumonia atacou. Ele havia morrido aos dezesseis anos, mas mesmo assim, Kirova havia nos ajudado.

– Hey! – alguém chamou de trás de mim. Eu me virei para ver uma garota de cabelos cacheados, castanhos escuros que batia em meados de suas costas. Ela tinha um sorriso nos lábios e belos olhos castanhos, no tom de seus cabelos. A garota se aproximou, parecendo um pouco acanhada, enquanto dava uma boa olhada no meu quarto, que por sinal, era apenas meu. Minha antiga desconhecida colega de quarto havia ido embora da Universidade, mas... Não havia fechado sua matricula, sendo assim, eu ainda mantinha o quarto, como se nós duas usássemos. A garota me estendeu uma mão, e eu a peguei, em um gesto educado. – Sou Meredith Jones.

Eu sorri educadamente. – Rose Hathaway.

Uma série de conversas agradáveis, tais como de onde havíamos vindo, sobre a Universidade e tudo mais, se seguiu. Ela era agradável. Ao menos, isso. Eu tinha receio de encontrar muitas pessoas que acreditavam que o dinheiro podia tudo naquele lugar.

– Uh. Vai haver uma festa mais tarde. Dos veteranos para os calouros. Reconhecimento de território – ela revirou os olhos e balançou suas mãos no ar, em desdém. – Seria uma boa se você aparecesse... Conhecesse o restante do pessoal. Você sabe...

– Sei. – concordei, com um sorriso gentil. – Eu não sei exatamente se poderei ir, mas... Eu vou tentar. Eu ainda estou me acostumando com tudo por aqui, mas assim que eu terminar de me instalar, e se eu conseguir terminar a tempo, eu vou.

O sorriso de Meredith aumentou potencialmente. Eu não queria dar falsas esperanças a ela, mas eu conseguia entendê-la. Em seguida, Meredith saiu, ainda sorrindo. Eu suspirei, enquanto voltava minha atenção para as roupas que eu ainda tinha de arrumar nas gavetas e guarda-roupa.

Mais tarde, enquanto eu tomava banho, me peguei questionando a mim mesma se realmente seria uma boa ideia ir até a festa. Não era, era?! Talvez eu precisasse me divertir um pouco. Saborear de álcool — não, deduzi. Eu poderia me divertir, mas... Sem álcool. Com isso, eu terminei meu banho e vesti um par de shorts jeans, um top de alças e uma camisa flanelas por cima, prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo no alto da cabeça.

Eu saí, me questionando novamente se era uma boa ideia perambular por aí.

Aglomerado de estudantes bêbados. Essa era a definição. Outra vez, me questionei se aquilo era uma boa ideia.

Eu encontrei Meredith. Ela estava com um grupinho de outras adolescentes. Me saldou animada.

– Eu achei que você não viria! – ela gritou no meu ouvido, devido à música alta de alguma banda que parecia novidade no momento, mas que eu desconhecia.

– É. Eu também cogitei não vir. Mas... Você sabe... – apontei para o redor, sorrindo sugestivamente. – Adolescentes bêbados e querendo transar, me parece uma boa distração.

Meredith me encarou por alguns instantes, piscando rápido, parecendo não ter entendido a piada. E bem... Ela não o havia.

– Oh. Ok. – ela franziu o cenho. – Você quer um drink?! Um amigo meu... O Bob – ela indicou para um cara ao nosso lado, que tinha uma garrafa de vodka em mãos. Eu sorri para ele, balançando a mão em reconhecimento. – Fez esses drinks! E... Por Deus! Está maravilhoso! Você precisa provar!

Bob prontamente trouxe um copo de papel, cheio de um líquido vermelho. Eu me perguntei se não tinha drogas ali dentro. Eu peguei o copo, fingindo dar uma pequena bebericada — como se para provar. Em seguida, fiz um sinal positivo com o polegar, como se me agradasse. Bob, o garoto de cabelos ruivos e cacheados sorriu satisfeito consigo mesmo.

– Você sabe onde é o banheiro? – perguntei a Meredith, que ria com alguma coisa que um cara atrás dela — que na realidade mais se esfregava nela do que qualquer outra coisa — dizia.

– Lá encima. O daqui de baixo fecharam... Há um casal lá dentro há algumas horas. – ela disse, com um sorriso. Eu o retribui, me encaminhando apressadamente até as escadas e as subindo. Havia pessoas se agarrando até sobre os móveis daquela casa. Eu me senti assustada, quando um cara piscou para mim sugestivamente, enquanto masturbava uma garota. Revirando os olhos, eu bati na porta do banheiro, mas podia-se escutar os gritos de algumas pessoas ali dentro.

– Mas que merda eu ainda to fazendo aqui?! – resmunguei, me encaminhando pelo corredor, encontrando uma janela aberta. Uma abertura boa o suficiente para eu passar por ela e me sentar no telhado de madeira ali fora. E eu o fiz. Encarando as árvores mais a frente. A lua brilhava em uma forma estranha acima. Teria sido romântico, se eu tivesse alguém. Suspirei.

Eu me sentia deslocada. A ponto de desistir daquilo. A saudade de casa era chata. Principalmente, da minha mãe. Não éramos merecedoras do prêmio “mãe e filha do ano”, mas eu ainda sentia falta dela. Como o inferno.

– A universidade não é como nos filmes – uma voz soou. Eu senti meu coração pular pela boca, com o susto, quase me fazendo escorregar do telhado. Eu me virei para ver um garoto sentado um pouco mais atrás de mim, ele segurava um copo de papel vermelho, como o meu. Eu me perguntei há quanto tempo ele estava ali.

– De forma alguma. – concordei. Ele levantou seu copo de papel, em cumprimento.

– Eu sou Christian.

– Rose.

– Prazer em conhecê-la. – sorriu, levantando-se e se arrastando até junto a mim, na borda do telhado. – Porque veio?

– Nada melhor para ser feito. – dei de ombros, bebericando pela primeira vez do meu copo e me arrependendo em seguida, cuspindo o líquido de volta no copo e fazendo uma careta. Diabos! Eu tinha certeza que gasolina tinha um gosto melhor do que aquilo. Christian sorriu.

– As pessoas aqui não entendem que uma festa não precisa de todos os alunos. – ele comentou. – Exceto quando querem se enturmar. Se tornando populares entre os idiotas.

– Uh. E você quer?

– Talvez... Eu teria trazido vodka. Não teria cerveja. Sem falar que seria uma festa na qual as garotas só viriam de biquine. – ele sorriu.

– Hey. Você chegou atrasado. Na vodka, quero dizer. – apontei meu copo para ele. Ele fingiu uma careta de decepção ao sentir o cheiro daquilo. – Eu tenho certeza que muitas garotas vão tirar a roupa com isso.

– Eu adoraria presenciar isso. Mas provavelmente, elas estarão cobertas de vomito. – ele comentou, fazendo uma careta. Eu ri. Christian me observou por um longo instante, então, algum clima desconfortável soou entre nós. Eu sorri para ele, quando joguei meu óleo para naves espaciais fora, me perguntando se não deveria ir embora.

– Bem – ele virou o copo de uma só vez. – Eu tenho que ir. Mas... Foi bom conhecer você, Rose.

– Igualmente.

Então, com um sorriso torto, ele partiu. Pulando a janela, de volta para todo o forno infernal que era o calor humano.


[...]


Eu acordei na manhã seguinte, me sentindo um caco.

Eu não havia ficado muito tempo na festa noite passada após Christian ir embora, mas também... Eu não havia conseguido escapar de levar Meredith para seu dormitório, após o Bob tentar agarrá-la em uma das mesas de jogos da casa.

Ela parecia querer se esconder do mundo após isso, o que eu entendia completamente. Eu só não queria sofrer junto a ela por isso. Nos encontramos na porta da sala de aula — a qual, estudávamos juntas. Ela se sentou no canto mais afastado, após as muitas mesas e degraus. Eu juntei meu material, — o que vinha a ser uma caneta e um caderno para anotações — me preparando para a aula. E enquanto eu anotava sobre a matéria, eu senti alguém se sentar ao meu lado.

– Hey. Pode me emprestar uma caneta? – a pessoa perguntou, e eu me virei para ver Christian. Ele sorria de forma contente, e eu retribuí, da mesma forma.

– Hey! – Exclamei.

– Eu espero que não esteja isolada novamente. – comentou ele, se aproximando da minha mesa, apoiando seu braço. Eu sorri ainda mais. – Sabe... O primeiro dia é sempre importante para se misturar.

– Acredito... – assenti, ainda sorrindo. – Você está tentando fazer isso, uh?

Christian gargalhou, o que me fez corar. Eu havia dito algo idiota? Provavelmente.

– Não. Eu não gosto de me misturar. Daqui a alguns anos, eu não vou nem mais me lembrar de boa parte das pessoas daqui, e provavelmente, os que eu vou me lembrar, irei rir deles. – comentou.

– Whoa! – exclamei. – Você é muito legal após uma noite de bebedeira e tudo mais.

– Eu sei. – ele enrugou o nariz, fazendo-o me lembrar dum felino. Eu apenas senti um pequeno e estúpido, devo admitir, sorriso nascer. O som da voz do professor me puxou dos meus devaneios.

– Eu espero que estejam ao lado de alguém que goste! Porque, até o final desse semestre, vão ser eles os seus parceiros! – a voz grave soou, nos viramos, encarando o homem, e de repente, eu me senti corada demais para dizer qualquer coisa.

– Eu espero que você goste de mim como parceiro, Rose. – ele sussurrou, sua respiração próxima à minha orelha, sua voz rouca. Eu senti meu coração acelerar, assim como corar ainda mais. E com isso, tentamos nos concentrar no restante da aula.

Eu senti um pedaço de papel ser empurrado em minha direção, enquanto eu copiava o assunto chato do quadro. Eu o peguei, cuidadosamente, lendo-o:

“Você fica corada com tudo. O problema é que fica realmente bonita assim.”

Eu senti meu rosto arder do profundo vermelho. Assim como a leve risada ao meu lado, Christian tinha seus braços cruzados sobre a mesa de madeira, seu queixo apoiado sobre o antebraço. Ele virou um pouco o rosto, me encarando com um sorriso torto.

“Você deveria parar com isso...” escrevi, entregando à ele em seguida. Ele sorriu, de forma larga.

“Eu não gosto de assistir aula. São chatas e dá vontade de dormir. Você quer sair dessa?”

– Não! – exclamei de forma baixa, preocupada demais. – Você é louco? Se eles nos pegarem do lado de fora e...

– Não estamos no colegial, Rose. – sussurrou. – Pessoas matam aula aqui, como em qualquer lugar.

– Não significa que devemos. – repreendi, lançando um olhar ao professor, que continuava conversando sobre o assunto, sem nos notar. Graças aos Céus. – E eu não faço mais essas coisas. Eu preciso me formar e...

– Eu entendi. – ele sorriu. Parecia compreender. O que me fez agradecer internamente. Ele voltou sua atenção à aula, e eu fiz o mesmo, ainda que me sentisse culpada.

“Você está chateado comigo?” escrevi e empurrei o papel em sua direção. Eu podia ver a risada engasgada ali, um sorriso bobo nos lábios, ele virou em minha direção. Após alguns instantes, ele empurrou em minha direção:

“Nem que eu quisesse”

Eu sorri.


[...]


– Os meus pais faleceram quando eu tinha nove anos – continuou, enquanto nos sentávamos debaixo de um carvalho, nos mal alimentando de batata frita. A minha mãe provavelmente me diria que eu era louca em fazer isso. Mas bem... Eu estava criando novos hábitos. – Minha tia, Tasha, quem me criou. Foi basicamente o único exemplo de família que eu tive. Como uma mãe.

– Eu entendo. – eu mordi uma batatinha. – Sempre foi minha mãe e eu contra o mundo. Quando meu pai desapareceu por aí... Só sobrou ela para cobrir todos os danos feitos pelo mundo.

Christian pós o braço no meu ombro, me puxando para mais perto. Eu não consegui não colocar minha cabeça contra seu ombro, aspirando o cheiro levemente amadeirado.

– Quando eu me formar, eu vou embora. Vou viajar pelo mundo, Rose... E quando esse dia chegar... Bem, eu não me importaria de lembrar-me de você. Talvez, seja a única pessoa que eu vou lembrar em toda essa merda. – ele disse, acariciando meu cabelo suavemente.

– Você mal me conhece – comentei. Christian riu, fazendo um som agradável ecoar pelo seu corpo.

– Mas parece que conheço há mais tempo do que qualquer pessoa – disse. Eu suspirei, me sentindo perdida, me levantei, limpando os fundos dos meus jeans. Ele me encarou, os fios bagunçados dos seus cabelos sobre seu rosto confuso.

– É melhor irmos – eu disse. – Não é uma boa ideia ficarmos por aqui.

Ele concordou, levantando-se e catando os sacos de papel pardo, onde mantínhamos nossas batatas. Ele me estendeu uma mão, e eu a peguei, enquanto caminhávamos para o alojamento. Nós adentramos ao prédio, seguindo até a ala onde dividiam os quartos em alojamentos femininos e masculinos. Christian apertou minha mão, enquanto eu sentia a minha suar.

– Eu acho uma boa ideia nós sermos amigos. – ele comentou, com um sorrisinho debochado.

– Porque? – perguntei, não conseguindo evitar o sorriso.

– Porque... – ele se aproximou, sua voz não passando de um sussurro. Eu senti meu peito aquecer, enquanto eu dava um leve passo para trás, atingindo à parede. Um sorriso preguiçosamente torto em seus lábios, centímetros aos meus. – Eu posso fazer isso... Sem levar um tapa na cara...

– Isso o que? – balbuciei, minha voz muitíssimo pouco saiu. E então, Christian estalou um leve beijo sobre meus lábios. Eu senti todo o meu corpo arder, mas dessa vez, de vergonha. Quando ele se afastou, praticamente correu até seu alojamento, com um sorriso divertido no rosto. Eu permaneci ali, por um longo instante, me perguntando o que diabos havia acontecido. Até que eu me dei conta de que era perda de tempo permanecer ali parada, eu fui para o meu quarto.


[...]


Christian e eu havíamos nos aproximado mais do que talvez fosse permitido, naquelas últimas semanas. Os planejamentos vagos de viagens se tornaram mais frequentes. Eu só não sabia se era uma coisa boa ou ruim.

– Talvez você possa passar o natal comigo e minha família – ele disse, certa vez, enquanto voltávamos da biblioteca. Ele levava nossas mochilas e os milhares de livros que conseguimos — graças ao meu “status nerd” conseguido de forma que eu não compreendia bem porque, com a bibliotecária. Nós paramos, de frente à porta do meu dormitório. Era domingo à noite e não tínhamos “vigias” pelo prédio. Já que boa parte dos alunos estava voltando com suas famílias ou dormindo, ou até mesmo farreando.

– Você já está me convidando para o natal? – fingi incredulidade, pondo a mão sobre o peito. Seu sorriso aumentou.

– Porque não? – ele brincou, pondo uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha, seu sorriso permaneceu ali, de forma fofa.

– Porque... Você sabe. Sua tia provavelmente iria achar que temos alguma coisa, e seria estranho, sabe?

– Sei. – concordou ele. – Eu só quero que você aceite. Vai ser divertido... Não vamos ficar numa sala na biblioteca jogando vídeo game.

– Eu prometo pensar. Talvez eu passe com a minha mãe. Como todo ano...

– Você pode levá-la. – disse prontamente. Eu gargalhei.

– Você é persistente, Chris... – eu sussurrei.

– Eu sei... – ele sussurrou de volta, se aproximando. Seus olhos para baixo, em direção à minha boca, assim como — involuntariamente, ou talvez, não —, os meus na sua. Christian se aproximou ainda mais, seus dedos que outrora estiveram no meu ombro, subiram levemente, pela minha nuca, fazendo os pelos se eriçarem. E antes que eu pudesse me ver em qualquer outra situação, ele estava me beijando. Seus lábios quentes, e avermelhados. Outra vez, sem que nem ao menos eu pudesse lidar, eu o beijei de volta, com tamanha vontade e força, percebendo então o quão eu queria aquilo. Beijá-lo.

Meus braços estavam enlaçados em sua nuca, suas mãos em minha cintura, nossos corpos pressionados um contra o outro, encostados na parede ao lado da minha porta. Aquela foi a primeira vez na qual eu beijei alguém que eu parecia gostar.


[...]




De bruços, de caras contra os livros, nós estávamos na biblioteca, estudando para as malditas provas antes dos feriados. Eu me sentia exausta, enquanto Christian apenas lia o livro, parecendo frustrado demais.

– Hey, Rose! – alguém chamou, eu levantei meus olhos para ver Jesse Zeklos, acenando afobado. Eu apenas me permiti acenar, ainda que parecesse igualmente ao dele. Jesse estava interessado. O que era estúpido da parte dele, afinal, não era dele quem eu gostava. Ele passou por nós, ainda com um sorriso arrogante. Eu voltei minha atenção para o livro ao qual eu lia.

Alguns minutos depois, tudo o que eu notei, na minha visão periférica, foi Christian fechando o livro, parecendo irritado. Eu olhei para ele, esperando que dissesse algo.

– Eu não gosto disso... – comentou.

– Eu também não – sorri, me sentindo cansada dos livros. – Mas eu não quero levar bomba, você sabe...

– Não é disso que eu estou falando, Rose. – ele resmungou, irritado. – É sobre você e Jesse. Ele não é um bom cara. Eu não quero você com ele.

Eu pisquei algumas vezes, estática demais para dizer o que quer que fosse. Eu consegui abrir a boca, após um longo instante, sentindo a raiva subir profundamente.

– Hey, o que você quer dizer com isso?! Eu não gosto dele, eu... – eu parei. Diabos! O que eu estava realmente fazendo? Não era de Jesse quem eu gostava. Não era obvio? Irritada demais para discutir sem ao menos começar a chorar na frente de Christian, eu me levantei, juntando os livros e os enfiando na minha mochila.

– Rose! Espere! – ele chamou, percebendo que eu iria embora. – Me desculpe... Eu... Eu fui estúpido. Me perdoe.

– Não diga coisas idiotas, Chris. – eu estava ofendida, e de alguma forma, eu fazia questão que ele visse isso. Ele sorriu para mim, daquela forma fofa que ele fazia, fazendo meu coração quase explodir no peito. Eu voltei a deitar ao seu lado, no chão, chegando mais perto dele e dando um longo beijo em sua bochecha. Tempo demais lá. Eu quase podia imaginar que seria fácil, ir para um pouco mais ao lado e beijá-lo. E com essa ideia, minhas bochechas começaram a ruborizar.

Afastei-me, voltando toda minha atenção aos livros. Fingindo que nada tinha me afetado.


[...]


Novembro. Não passava mais de vinte e cinco. Pouquíssimos dias para a Ação de Graças. Alunos partiam para casa, Christian e eu estávamos em seu quarto. Assistindo TV. A ideia de assistirmos filmes de terror era realmente boa. Afinal, à cada toque, ainda que inocente de Christian em mim, fazia meu coração disparar, resultando que eu poderia alegar ser culpa do filme — uma desculpa perfeita.

Seus braços estavam ao meu redor, e por Deus... Aquilo era maravilhoso.

– Eu vou sentir falta de você – ele murmurou, de repente, apertando seus braços ao meu redor.

– Eu também vou sentir – concordei, me afastando dos seus braços e me apoiando sobre os meus próprios braços, para fitá-lo. Eu senti meu coração quase explodir, enquanto seus olhos pálidos me fitavam de volta, com aquele brilho. Eu me perguntava como Christian não havia percebido a verdade?! Que depois de todo aquele tempo eu praticamente o amava? Como não havia percebido as indiretas, os olhares que eu lançava... Desde o dia após o beijo na porta do meu quarto, meses atrás. Era impossível alguém ser tão cego à esse ponto. Eu me inclinei sobre ele, assistindo-o cerrar os olhos, e entreabrir os lábios, prontos para que eu os beijasse. E eu o fiz.

Foi calmo, doce. Seus lábios se movendo sob os meus, levemente. Nossas bocas se abrindo para a passagem das línguas. A forma como ele segurou meus ombros, ou colocou meu cabelo para trás, acariciando meu rosto. Eu me senti flutuar, como quando a gente passa todo o dia na água e quando saímos, sentimos como se estivéssemos flutuando, ainda. Uma sensação tão perfeita.

Foi quando ele nos inverteu de posição, me deixando debaixo dele. Uma mão apertando levemente minha coxa e a outra, sob minha camiseta, espalmando minha barriga. O seu toque formigando em minha pele.

Perdida na neblina de desejo, eu levantei sua camisa, e ele a tirou prontamente, me deixando tocar seu peito quente, seu coração golpeando tão forte contra. Os músculos rígidos, a pele quente e macia. Eu senti seus dedos sobre meu seio, enquanto sua boca começava a deslizar — como fogo — pelo meu pescoço, me fazendo soltar um leve suspiro excitado.

Exatamente quando senti sua mão em minha coxa deslizar para cima, pela parte interna da mesma, por debaixo dos shorts de pijama, eu me dei conta do que ele estava fazendo. Ou bem, à ponto de fazer. E bem... Eu nunca havia feito aquilo. E de alguma forma... Eu sentia, dentro de mim, que não estava pronta para fazê-lo.

– Christian... – eu sussurrei, não precisando de muita coisa à mais. Ele parou, instantaneamente, me encarando com os olhos escuros, respiração pesada. Eu apenas balancei a cabeça, negativamente. Ele saiu de cima de mim, com um suspiro pesado, e voltou a se deitar em seu travesseiro, me puxando contra seu peito.

Eu podia sentir, ainda que ele estivesse fazendo o máximo para eu não perceber, de pernas curvadas, joelhos para cima, travesseiro sobre a barriga, que ele havia reagido àquilo, de forma como qualquer homem iria. A diferença era que eu sabia que ele compreendia.


[...]


Eu havia passado o dia de Ação De Graças com a minha mãe, resultando que eu não passaria o natal em casa, com ela, já que a mesma teria de trabalhar no hospital, à noite. E ainda que relutante, após a última vez na qual Christian e eu estivemos próximos, eu tentei ao máximo soar normal. Mas quando ele me encontrou, na saída da universidade, não houve sequer qualquer sinal de que éramos amigos. Pelo contrário, ele me beijou assim que me viu, de forma apaixonada.

A pior parte, talvez fosse que eu o correspondi à altura. Mesmo que ele não estivesse apaixonado, eu estava, e talvez, por nós dois.


[...]


Christian levou nossas malas para dentro da casa, alegando não precisar de ajuda. Ainda que talvez precisasse. Assim que as colocou no chão, próximo ao corredor, voltou-se para sua tia, Natasha Ozera. Ela era como ele, cabelos escuros, olhos azuis pálidos, diferenciando-se por uma cicatriz na bochecha à cima, pela lateral do rosto, na qual, Christian havia me contado certa vez, ter sido causada pelo acidente de carro que matou seus pais, quando criança. Ela o abraçou com força, como uma mãe ao ver o filho após muitos anos. E em seguida, me abraçou.

– Oh, Rose! É tão bom enfim conhecer você. Christian não parou de falar em você os últimos dias que esteve em casa. – ela comentou, ainda me abraçando. Christian corou levemente, enquanto pegava de volta as malas do chão.

– Você não precisa contar isso a ela, na minha frente, tia. – ele resmungou, fazendo a mim e Tasha rirem.

– Oh, por favor... Acomode-se. – disse Tasha. – Eu não pude preparar um quarto para você, já que uma prima nossa e seu marido virão para essa ceia, mas como você e Christian namoram, não vejo problema de dormirem juntos.

Eu vacilei. Ainda que eu sabia que ele não me faria nada, eu não conseguia conciliar aquilo... Eu não sabia o que eu poderia fazer, também. Mas eu sorri, ao perceber a expressão duvidosa de Tasha, mostrando satisfação.

– Mostre o quarto a ela, querido. – ela ordenou à Christian, que assentiu, seguindo pelo corredor.

– Por aqui, Rose. – ele disse, por cima do ombro, eu o segui. Pela casa, eu pude notar os quadros de fotos pendurados nas paredes verde cinza. Christian pequeno, outras pessoas que acreditei serem seus pais, e mais outras. Chegamos ao final do corredor, entrando através de uma porta branca. Dentro, havia o quarto de paredes azuis, repletas de réplicas de carrinhos de corrida. Christian sorriu para mim. – Nada mal, uh?

– Nada que eu já não esperasse de você. – eu sorri, zombando.

– Há, há! – ele ironizou, deixando as malas no chão e se aproximando, me abraçando por trás, enquanto eu lia os títulos dos livros sobre as prateleiras ali. Seus dedos afastaram o cabelo do meu ombro, colocando a massa castanha do outro lado, ele depositou os lábios ali, pequenos beijos quentes, dentes arranhando. Fazendo a pele se arrepiar.

– Christian... – sussurrei, de olhos fechados. Mesmo que eu não quisesse, eu sempre acabaria me lembrando de como havia sido a última vez na qual estivermos sozinhos.

– Eu sei... – ele sussurrou, sua voz carregada, enquanto ele tirava minha jaqueta, beijando mais do meu ombro, e em seguida, abaixava a alça fina da minha blusa. Eu senti minha cabeça inclinada para o lado, dando mais espaço para ele beijar a pele exposta. Suas mãos apertaram minha cintura firmemente, me fazendo soltar um suspiro alto.

Seus lábios subiram do meu pescoço até minha mandíbula, beijando por onde passava. Ao chegar ao meu ouvido, ele parou.

– Eu acho que amo você, Rose... – sussurrou, fazendo meus joelhos quase cederem. Eu senti meus olhos arderem. Diabos... Uma das maiores realizações para uma garota é que o cara que ela ama, diga isso... Que a ama também. E escutar aquilo fez como quase eu ter um ataque cardíaco, meu estômago afundando. Qualquer coisa que eu pudesse descrever... Mas nenhuma delas chegaria perto do sentimento que me invadiu naquele instante.

– Eu também amo você, Christian... Muito. – sussurrei de volta, sentindo suas mãos se apertarem ainda mais na minha cintura, me virando de frente para ele.

Havia tanta seriedade em seu rosto que por um momento, pensei se tratar de outra pessoa. Ele abaixou um pouco o rosto, encontrando nossas bocas, em um beijo doce e ao mesmo tempo, ardente. Suas mãos na minha cintura penetraram por baixo do tecido da mesma, acariciando a pele quente da minha cintura, que parecia aquecer ainda mais à medida na qual ele me puxava contra si.

– Oh-oh! Me desculpem! – nós escutamos, nos afastando instantaneamente, devido ao susto. Tasha estava de pé, na porta, levemente corada. Ela sorriu para nós, ainda que sem jeito. Eu senti meu rosto queimar. – O jantar já está pronto... Eu vim chamá-los... Eu sinto muito.

– Tudo bem, tia. Já estamos indo. – Christian disse, passando a mão pelo cabelo bagunçado, envergonhado, também. Assim que Tasha desapareceu pelo corredor, ele se voltou para mim. – Eu deveria ter fechado a porta...

– É – concordei, sorrindo. – Vamos... É natal.

Christian se aproximou, segurando meus ombros e estalando um beijo longo na minha testa.

– Que seja o primeiro de muitos com você.


[...]




– Então... Ele trouxe o gato para dentro de casa! Vocês acreditam nisso?! – Tasha contava, tão divertida e submersa na história de como Christian havia levado seu primeiro animal para casa. Estávamos todos reunidos na sala, sentados em sofás, após a ceia. – O bichano estava doente... Morreu algum tempo depois. Mas... Acho que foi intenso. Tanto que ele chorou por dias.

– Você se lembra disso – resmungou Christian, tomando um gole do seu vinho.

– Como não lembrar?! Você era uma criança tão agradável. Você precisava ver, Rose. Antes dos pelos começarem a nascer, ele era a coisa mais linda do mundo. – comentou Daiane. Uma prima, cerca dos trinta anos de idade, ela tinha — tal como qualquer Ozera — cabelos negros e olhos azuis pálidos. Linda, e estava esperando seu primeiro filho, junto ao seu marido, Harold. Todos riram, exceto Christian, que parecia extremamente envergonhado. Eu apertei sua mão, levemente, sobre a almofada, fazendo-o olhar para mim, daquela forma interrogativa. Não era preciso que disséssemos muito.

– Sabe, Rose... Você é a primeira namorada que Christian traz em casa. Eu estou realmente feliz que você tenha vindo. – Tasha disse, de forma calorosa, como sempre fazia.

– Na verdade, ela estava com medo do Christian não ter nenhuma namorada por toda a vida. Exceto uma... A... – Harold estalou os dedos, divertido. – Eu não me lembro do nome dela...

– É porque eu não disse. – Christian retrucou, repleto de sarcasmo. Harold riu, junto com Tasha e Daiane.

– Bem, eu acho melhor irmos dormir. Eu estou cansada demais... – Tasha anunciou. – Foi um longo dia, e maravilhoso... Tenho que dizer. Rose, foi incrível conhecer você.

Ela me abraçou, de forma carinhosa. Eu sorri, dizendo que havia sido igualmente maravilhoso para mim. Nós nos levantamos, caminhando até o corredor, junto com os outros. Assim que alcançamos o quarto, após Christian tomar banho, me entregou uma toalha branca, e eu me encaminhei até o banheiro, em seu quarto. Tão silenciosos.

Lavando o cabelo, sentindo a água quente relaxar meus músculos, eu desliguei a mesma, vestindo um par de shorts de algodão, e uma blusa de alcinhas, velha demais para que eu pudesse enxergar a estampa na mesma. Eu deixei meu cabelo solto, para que assim, pudesse secar sozinho, e caminhei para o quarto. Ele estava deitado, com as mãos sob a cabeça, encarando o teto branco. Eu me estiquei, até seu lado e deitei.

– Espero que não se importe de ser chutado a noite toda... – brinquei.

– Já trouxe proteção. – disse ele, no mesmo tom divertido, mostrando um travesseiro sobre sua barriga. Eu sorri, me aconchegando ainda mais ali, em pleno silêncio. Parecia que toda a noite queria fazer barulho, devido ao silêncio ali.

– A minha tia gostou muito de você – Christian sussurrou, numa voz rouca, após algum longo silêncio.

– Eu também gostei dela. Ela parece ser uma pessoa ótima... – eu disse, numa voz também rouca. Eu senti os dedos quentes dele passearem pelo meu ombro, até meu braço. Eu congelei, sentindo meu coração começar a formigar. Então, eu senti seus lábios ali, arrastando-se em uma caricia lenta, doce. Os lábios subiram um pouco mais, até minha garganta, sua respiração pesada, sua mão espalmada sobre a lateral do meu quadril. Eu me virei, sentindo a vontade terrivelmente esmagadora de beijá-lo, e eu o fiz.

Meus dedos presos em seus cabelos, puxando-os levemente. Sua mão apertando minha cintura, e a outra, minha coxa. Seus dedos subindo levemente, pelo interior da minha coxa, até a lateral do short. Seus lábios desceram até meu pescoço, indo até o colo, quentes, formigando. Suas mãos foram até as alças da minha blusa, abaixando-as de vez. Eu fechei os olhos, quando senti seus lábios roçarem contra o meu seio, sentindo a pele se arrepiar e sua língua úmida e quente se arrastar pela parte sensível, meus dedos presos aos seus cabelos, puxando os fios. Eu me senti flutuar ainda mais. Pressionando seu corpo contra o meu, eu me dei conta do quão próximos estávamos, de como as coisas provavelmente acabariam de outra forma. Foi quando Christian se afastou, me fazendo abrir os olhos, confusa.

– Me desculpe... Eu não deveria ter feito isso. – ele caminhou até a porta, colocando a cabeça contra a mesma. Foi quando me dei conta, ao examiná-lo... Ao ver o quão alterado ele estava, ele queria, senão, muito.

Eu me levantei, tomando o tipo de atitude e decisão que provavelmente me arrependeria. Ou não.

– Eu quero... Eu estou pronta – as palavras saíram, de forma simples, assustadoramente calmas e certas. Eu havia assistido milhares de filmes, lido milhares de livros e escutado milhares de histórias sobre o primeiro amor. Nele, você encontrava a confiança, planejava seu futuro, estaria pra sempre em você, de uma forma ou de outra. Aquele sentimento duraria para todo o sempre. E eu queria. Eu queria Christian comigo, para sempre. Ainda que não durasse. Ainda que um de nós descobrisse o mundo lá fora, e partisse à procura de algo melhor para si. Ainda que tudo não passasse de lembranças e canções tristes e fotografias. Durariam.

Ele parou à alguns centímetros de mim, respirando pesado.

– Rose, eu... – ele caminhou novamente para longe, encarando a janela do quarto. Uma fraca chuva caia do lado de fora. Eu me aproximei dele, abraçando-o por trás, minhas mãos deslizando por seu peito nu, ele as segurou.

– Eu quero que seja você. – sussurrei.

– Você tem certeza disso? – ele murmurou, virando-se para mim. Eu sorri, assentindo. Então, ele me beijou, caminhando para frente, me levando consigo. Quando parou, derrubou alguma coisa, que percebi serem livros, no chão. E me segurando pela cintura, me sentou na cômoda ali. Sua boca passou para meu pescoço, beijando-o. E à medida na qual nos aprofundávamos no toque um do outro, eu percebi que era ele. Christian, sem sombras de dúvidas, seria o meu primeiro e último.


[...]

A pior parte de tudo é você perceber que as coisas mudam. As pessoas mudam...

Naquela primavera, após o nosso primeiro ano juntos, as brigas se tornaram constantes. Começando por coisas bobas como falta de tempo, conversas com outras garotas e outros caras. Ainda que acabássemos na cama, parecia não ser o suficiente.

Os planos de passarmos mais natais juntos foram se dissipando à medida que o tempo passava. Eu o amava, e sempre deixava claro aquilo. Mas, às vezes, não era o suficiente. Foi no verão que chegamos à uma conclusão realmente ruim à respeito de nós dois.

Eu estava catando meus livros pelo canto do quarto, quando Christian entrou, sem bater na porta. Sua expressão não era das melhores, e eu podia dizer que vinha algo realmente ruim com isso.

– O que foi? – perguntei, deixando meus livros de lado, sobre a cômoda, junto à minha cama. Ele se sentou na ponta cama.

– Rose... Eu preciso te contar uma coisa. – ele disse, de forma quase que silenciosa. E pelo o que eu conhecia dele, coisa boa não viria. – Minha tia... Ela vai se mudar. Para a Grécia. E... Ela quer que eu vá com ela.

Eu estaquei, sentindo meu coração perder algumas batidas. Aquilo estava realmente acontecendo? Eu abri a boca, procurando pelas palavras certas para dizer. Tudo o que eu consegui dizer foi:

– E você?! Quer ir com ela? – em algum momento das nossas vidas, nós havíamos tocado no assunto de casamento — o que era cedo demais para nós dois, mas... De repente, a ideia não parecia tão ruim, se isso me fizesse ficar com Christian para o resto da vida. Ele não olhou nos meus olhos, embora olhasse para meu rosto. Eu não precisava de muitas respostas... Eu as tinha. E tinha a principal. – Quando vocês partem?

– Você poderia vir conosco. Você sabe... Terminarmos a faculdade lá, juntos. Poderíamos nos casar depois... Morarmos num apartamento no centro. Eu não me importo desde que você vá.

– Eu não posso... – murmurei, sentindo o nó no estômago, a vontade incessante de chorar. – Eu tenho uma família aqui. Eu tenho minha mãe, eu não a deixarei sozinha. Eu não vou abandonar ela. Ela é tudo o que eu tenho.

– Você tem a mim, Rose. – ele disse, sua voz fria. Levantando-se, ele caminhou até a porta, mas antes de partir, olhou para mim, enquanto eu me abraçava, tentando não começar a soluçar ali mesmo. – Eu amo você...

– Às vezes o amor não é o bastante. – eu disse, me sentindo uma vaca por tê-lo dito. – Não podemos simplesmente namorar cada um de um lado do mundo. É insatisfatório, e só trará dor... Você sabe disso... Não é o bastante, Christian.

Ele apenas acenou, de forma curta e parecia dolorosa. Não só para ele... Christian partiu, fechando a porta atrás de si. Eu não me permiti ter tempo para qualquer outra coisa que não fosse chorar.


[...]



Eu podia escutar o som de conversa vindo de dentro da casa da fazenda que pertencera aos pais de Lissa antes da morte deles. Ela apertou o braço ao redor dos meus ombros, me puxando para mais perto dela.

– Para onde você está me levando? – perguntei, extremamente curiosa.

– Eu quero que conheça uma pessoa. – ela disse, totalmente animada. Eu revirei os olhos, imaginando se seria algum tipo de piada. O último cara que Lissa havia tentado me apresentar havia fugido de mim.

– Não me arranje mais psicopatas, por favor. – eu disse, diplomaticamente. Ela gargalhou, como se fosse uma piada, o que, definitivamente, não foi. Eu lancei meu melhor olhar, aquele que avisava a ela que não se tratava de uma piada, mas ela ignorou.

Nós adentramos no amplo hall. Estava repleto de pessoas que eu não conhecia, o que inicialmente me deixou abalada, mas demonstrando o melhor possível, eu adentrei, com um sorriso nos lábios, marchando logo atrás de Lissa. Ela conversava alguma coisa com uma mulher, que parecia ser da família dela — pouco me importava.

Um garçom passou por mim, foi quando eu me virei para pegar alguma bebida alcoólica, que eu estaquei, quase derrubando o copo. Lá, parado, conversando com algumas pessoas estava ele. Vestido com um suéter verde escuro — quase preto e jeans.

Como se tivesse percebido que eu o observava, seus olhos azuis pálidos se voltaram para mim, fazendo-o congelar. Um sorriso que outrora estivera em seus lábios, desapareceu, à medida em que ele muito provavelmente, percebia que realmente se tratava de mim.

Christian Ozera cruzou o grupo de pessoas, com seu champanhe em mãos. Ele sorriu, de forma divertida.

– Ora, ora... Quem eu vejo. Eu achei que você estivesse morando no Alasca, junto às baleias. – ele brincou, parecendo totalmente natural. Como se fossemos velhos amigos. E bem... Éramos. Ou costumávamos ser. Eu bebi um longo gole do meu drinque, pensando na minha próxima tirada.

– Oh, sinto muito, mas... Eu não ando podendo atender o pessoal da sua família. Você sabe como é... Ética profissional e essas coisas. Mas eu conheço um ótimo zoofilista. Se quiser, lhe passo o número depois. – dei uma piscadela, assistindo o sorriso dele apenas aumentar. Eu relaxei, ainda que a guarda não tivesse abaixado. – O que faz aqui? Achei que tivesse se perdido na Grécia.

– E me perdi... – ele sorriu. – Mas... Você sabe como essas coisas são. Eu tinha que voltar uma hora. Ainda mais, agora, que a minha tia casou.

– Casou?! Isso é fantástico! – sorri animadamente.

– Sim. – concordou. – O problema foi ela me explorar quando o assunto era desejos de grávidas.

– Whoa! Compreendo. Eu também teria fugido. – nós dois rimos por alguns instantes, até que tudo pareceu desaparecer. Diabos... Porque agora? Logo agora?! Christian entreabriu os lábios para dizer alguma coisa, mas fomos interrompidos antes.

– Rose! – alguém chamou, eu virei o rosto para ver Lissa se aproximando. E a cena à seguir foi como chutar meu estômago. Como milhares de socos no mesmo. E talvez, ter apanhando não doesse tanto ou trouxesse esse desconforto. Lissa abraçou Christian e se esticou, nas pontas dos pés, ela o beijou. Não um daqueles beijos de envergonhar quem assistia, ou fazer desejar dizer para procurarem um quarto, mas... Bem, foi o bastante para me deixar desconfortável. – Vocês já se conhecem?

Christian se virou para mim, não havia qualquer sinal de brincadeira, ou divertimento. Ele estava tão sério como todas as vezes que admitia que me amava. O que parecia ter sido há muito mais tempo atrás do que realmente era.

– Na verdade... Sim. – eu sorri, de forma simples. – Nós estudamos juntos, anos atrás.

– Oh! Isso é ótimo! Eu fiquei com receio de você não gostar dele. E bem... Vocês se conhecem e se gostam! – pela primeira vez em muitos anos, desde que conheci Lissa, no ano ao qual comecei a estagiar, sua felicidade me pareceu desagradável demais. Ela me pareceu desagradável.

– Bem, eu estou feliz por vocês dois estarem saindo e tal. – eu disse, de alguma forma, tentando tirar de mim — ainda que acreditasse na não existência de tal sentimento — toda a felicidade desejável para ambos. Eu ainda sonhava com dias aos quais Christian se veria sem os testículos ou algo do tipo... E agora, esse tipo de pensamento me pareceu infantil demais. Eu tomei de uma só vez o restante do drinque no meu copo. – Bem, eu preciso de outro drinque. Mais forte.

– Oh, claro... – Lissa disse, após me examinar por alguns instantes. Apressadamente, eu fugi por dentre as pessoas ali.

– Oh, puta merda... – murmurei ao alcançar o bar, pedindo ao bartender alguma coisa forte o bastante. Ele me entregou vodka com alguma coisa. Talvez eu precisasse ser levada carregada para casa.

As horas passaram e meus pés começaram a doer, minha maquiagem a borrar e meu humor virar um puro saco de sarcasmo e piadas sujas e negras. Talvez eu tivesse bebido mais do que o devido. A pior parte era perceber que Lissa se casaria com Christian e blá, blá, blá. Revirei os olhos, enquanto agarrava minha bolsa e ia pela porta. Mas antes que eu pudesse realmente sair, alguém segurou meu braço. Pronta para dizer alguma coisa ofensiva, eu vi Lissa, com uma expressão não muito boa.

– Hey! O que está havendo com você? – exigiu. Eu revirei os olhos, claramente irritada.

– Estou querendo ir para casa... Mas você não está permitindo. Por favor, Lis... Me solte. – eu disse, de forma fria. Ela me soltou, enquanto eu ajustava meu vestido, puxando-o para baixo, para me cobrir melhor.

– Você não gosta dele, não é? – ela murmurou, parecendo triste. Eu reprimi a vontade de revirar os olhos, e comecei a me sentir culpada. Maldição.

– Não... Bem... Vocês formam um belo casal. Eu só estou cansada e tudo mais. Eu tenho que acordar cedo amanhã, e estou quase bêbada. Então, eu quero ir para casa. – eu disse.

– Bem, eu levo você. – se ofereceu. E eu, definitivamente, não queria passar mais tempo com Lissa. Eu não estava em estado para isso.

– Sua casa, seus convidados. Eu vou ficar bem. – eu a tranquilizei, sem muito sucesso.

– Então, espere aqui. Eu vou arranjar alguém para te levar. – ela disse, eu assenti, me encostando contra a parede. Dentro de alguns minutos, ela surgiu, dessa vez, com Christian ao seu lado. Ele pegou deu um leve beijo na testa dela, e me segurando pelo braço, me arrastou para fora.

– O que diabos você... – comecei, mas desisti logo em seguida. Sua expressão não era das melhores. Nós entramos no carro, em silêncio. Ele deu a partida, e quando parecemos estar à alguns bons quilômetros de distância, eu quebrei o gelo. – Você não precisava me levar para casa.

– Você está bêbada. – ele disse, como se fosse algo obvio demais. Eu revirei os olhos.

– E daí? Como se fosse a primeira vez na qual eu fico bêbada e vou para casa dirigindo – Christian me olhou, pelo canto dos olhos azuis.

– O que houve com você? Não parece nem um pouco com a Rose que eu conheci anos atrás. – ele disse, de forma dura.

– Bem, eu acho que você chegou tarde demais, mas ela morreu. Há muito tempo. – sorri, repleta de puro e venenoso sarcasmo. – E sem contar que isso não é exatamente da sua conta.

– Lissa é. – ele disse, de forma fria.

– Então dê meia volta! Eu não preciso de sua carona ou o que quer que seja. – eu disse alto demais. Christian virou seu rosto totalmente para mim. Ele apertou o volante em sua mão, estacionando o carro na beira da estrada. Virou-se totalmente para mim.

– O que merda você está fazendo? O que há de errado com você?! – exigiu.

– Nada. Agora, eu quero ir para casa... Continue o percurso! – eu disse, indiferente.

– Pare de agir assim, você parece uma idiota. – ele disse, e ouch! Doeu. Eu não precisei de muito mais, tirei meu cinto de segurança e saí do carro, caminhando para longe. – O que está fazendo? – gritou ele, logo atrás de mim.

– Indo para casa! – eu disse, de forma óbvia, me virando para ele e tirando meus sapatos. Meus pés pareciam que iam explodir à qualquer momento. – Eu não preciso que ninguém grite comigo! Muito menos, você.

– Eu não sabia que você e Lissa eram amigas! – ele disse, alto o suficiente para eu escutar.

– E isso importa? Olha, Christian... Realmente? Estou pouco me fodendo para isso. – virei para ele, apontando um dedo indicador, a outra mão ainda segurando os sapatos. – Agora, você veio de onde quer que tenha vindo gritar comigo me chamar de idiota! Eu não me importo com quem você é! Ou o que significou. Você age como se fossemos amigos!

– Costumávamos ser! – exclamou.

– Sim. Costumávamos. No passado. Hoje, somos dois estranhos. E talvez essa seja a parte ruim. Você era melhor quando não passava de uma lembrança boa da melhor parte da minha vida. Apenas. Você simplesmente me encontra e acha que somos melhores amigos ou seja lá o que seja. Eu espero que não aja com Lissa como agiu comigo.

– Você não quis ir comigo! – criticou.

– Eu tinha uma mãe aqui! – eu bati o dedo em seu peito, me odiando por não poder furá-lo com o mesmo. – Ela precisava de mim! Muito mais do que você precisou. Fomos egoístas em pensar que poderíamos ter funcionado! Não funcionamos!

Christian respirou fundo, soltando o ar lentamente. Havia anoitecido, e à medida que a raiva começava a passar, eu percebia que estava realmente frio.

– Isso não é sobre nós, ok? É sobre ela. – continuei. – Vocês vão casar... Ela passou dois meses me enchendo sobre como iria casar com o cara perfeito. Do quão ela te amava. Em como você era o primeiro cara que ela realmente amava. O que eu poderia ter dito?! Você acha que ela vai se sentir bem em saber das merdas que aconteceram com a gente?

– Eu a amo, Rose. Eu amo Lissa. – ele disse, de forma tão cruelmente veemente que doeu. Me fazendo notar o quão idiota eu estava sendo. Eu ri sem humor, passando a mão pelo cabelo e bagunçando-o ainda mais. – Eu estou disposto a fazer meu melhor para ela ser feliz. Não é pelo fato de nos encontrarmos novamente... Não é sobre como o mundo é cruel e fez vocês duas serem melhores amigas. De nos reencontrarmos logo agora. Porque, por Deus... Se fosse há três meses, eu sei que eu não estaria aqui, pronto para me casar com ela, e sim, com você.

A ideia de tudo acontecer por um motivo doía. Muito. A ideia de que provavelmente, eu visitaria Lissa nos próximos anos, e encontraria com Christian, rindo e sendo um bom marido e bom pai, também doía. As coisas poderiam ser diferentes... Mas não foram.

– Vamos. Eu preciso ir para casa. – eu murmurei, voltando para o carro. Ele me seguiu, entrando no lado do motorista e voltando a dirigir. Eu sabia que poderia começar uma conversa saudável sobre como foram os últimos anos fora, para ele. Mas a quantidade absurda de pensamentos em mim, apenas não me permitia...

Depois de longos minutos, eu anunciei que ele poderia parar o carro, e ele o fez. Eu saí, sendo seguida por ele.

– Eu não vou cair ou desmaiar. – eu resmunguei, subindo os degraus para o prédio de pedras. Christian sorriu, entregando meu casaco. Eu o peguei, apertando-o no braço direito, com a mão esquerda.

– Você vai ficar bem? – ele perguntou. Eu assenti, puxando de dentro da minha bolsa as chaves do portão. Eu destranquei o mesmo, me perguntando qual seria a próxima vez na qual eu o veria. Talvez nunca, talvez, no casamento de Lissa. Suspirei. – Rose?

Prontamente, virei minha cabeça, ele estava com a porta do carro aberta, pronto para entrar. Me olhando, ele sorriu de forma triste e torta. Desistindo de entrar no carro, Christian subiu as escadas, duas em duas, e me puxou contra seu peito. Me abraçando apertadamente. Eu apenas me permiti inalar seu cheiro, o cheiro que eu havia dormido noite após noite imaginando — tão vivo na minha mente.

Eu senti sua mão sob meu queixo, e antes que pudesse protestar — não que eu quisesse — seu rosto desceu um pouco, encontrando o meu. Seus lábios quentes contra os meus. Se aprofundaram num beijo ousado por longos instantes. O tipo de instante que fez todos os pensamentos de como eu o queria comigo por muito e muito tempo voltasse à invadir minha mente. Assim como a sensação egoísta de mandar o mundo todo à merda para que eu pudesse tê-lo comigo novamente. Mas então, de repente, ele se afastou.

– Eu amei você. – ele sussurrou de repente, eu não consegui não sorrir, ainda que de forma amarga, afinal... No fundo, eu sabia que era verdade. – Se eu pudesse voltar no tempo, eu não teria partido. Não se isso fosse a prova de que perderia você. Eu senti tanto a sua falta que qualquer coisa que eu pudesse construir não conseguiria suprimir aquela mágoa. Eu senti tanta falta de você. Mas eu sinto muito por ter superado. – Eu não sei... Talvez eu ainda a ame.

– Eu também... Cinco anos é tempo o bastante para superar alguém. – eu sussurrei de volta. E bem, ainda que fizesse cinco anos, eu ainda estava à caminho de superá-lo. Um doloroso, eu tinha que dizer. – Eu acho melhor você ir embora...

Ele assentiu, se afastando, eu mordi o lábio, como se qualquer dor que viesse não fosse o bastante. Então, havia aquele vazio novamente. Ele desceu as escadas, abriu a porta do carro, e antes de entrar, virou seu rosto para mim.

– Boa noite, Rose. – desejou. Eu sorri, eu não precisei responder. Todas as coisas que eu poderia ter dito se esvaíram da minha mente.



[...]



Eu odiava festas de casamento, concluí. Eu também odiava os bêbados que costumavam dar encima de você, acreditando que talvez conseguissem levar você para a cama no final da noite e fazer a festa.

Eu me livrei do quarto ou quinto — eu definitivamente, já havia perdido a conta —, enquanto eu bebia minha sétima taça de champanhe.

O frustrante era que casamentos costumam ter um poder terrível sobre você quando se está encalhada. E eu tinha que admitir que eu estava. Assim como também, havia opções ali.

– Oh, Deus... – alguém se aproximou, um homem maior do que eu, com corte costado estilo militar, e grandes olhos azuis piscina me encarou, ele poderia ser considerado um dos caras que poderia ser aproveitado, exceto que ele parecia chato. Muito chato. – Você não aceita outro drink? Podemos conversar... Chegar à um acordo bom.

– Não. – eu disse curtamente.

– Hey, espere... – ele exclamou, agarrando meu braço. E, woah! Ele havia me tocado. Eu lancei um olhar frio para a sua mão em meu braço e em seguida para seu rosto. – Só um drink. Aposto que está solteira.

– Nem que eu estivesse desesperada – cuspi. Eu tinha que admitir que estava bem próxima a isso, mas jamais admitiria à ele.

– Ah, fala sério... – ele revirou os olhos, com um sorriso. Alguém estava levando aquilo na brincadeira.

– E eu estou. Você sabe que se continuar insistindo, eu vou chamar a polícia, uh? – eu me afastei, pensando na próxima coisa que eu diria caso ele aparecesse. Eu tinha que admitir que a insistência era boa, pelo menos, para me distrair. E, Deus... Quem sabe o que eu poderia fazer com ele depois? Ele, definitivamente, não era de se jogar fora. Notando que meu champanhe havia acabado, eu caminhei até ao bar, pensando em algo mais forte.

Eu não estava tão acostumada à beber, mas, às vezes, isso pedia completamente, principalmente, em casamentos. Suspirei.

– Você está bebendo demais... – oh, puta merda! Eu definitivamente iria chamar a polícia.

– Eu vou chamar a polícia! Eu falei sério... – eu me virei, pronta para acertar um soco na cara dele ou o que quer que fosse. Mas eu parei no meio do caminho, congelando ao vê-lo. – Oh, puta merda...

– Sempre expressiva. – Christian revirou os olhos, fazendo um som de tsc, tsc com a boca, um sorriso torto no rosto. Seus olhos foram para a minha mão. – E sempre bêbada. Como da última vez.

Eu abri a boca, pronta para mandá-lo para o inferno beijar Satã, até que algo me atingiu.

– Onde está Lissa? – eu procurei ao redor, como se ela pudesse surgir de repente, rodopiando e querendo matar-nos. Quando eu o fitei, seus olhos provaram algo amargo. Não havia muito bom humor como antes neles.

– Caribe com o novo namorado dela. – Woah! Eu estaquei, sentindo meus pés se afundarem no chão. Eu pisquei algumas vezes, aturdida. – É. Nós não estamos mais juntos. Não desde alguns meses depois do nosso casamento, aquele ao qual, você nem sequer apareceu.

– Desculpa. Eu estive coisas para resolver aquele dia. – eu pisquei, me afundando na cadeira ali. Christian fez o mesmo na cadeira ao lado. – Bem, então... Como isso aconteceu? Vocês eram tipo... Perfeitos juntos.

– Ela descobriu coisas do meu passado... – a expressão sugestiva dele mostrava claramente sobre que tipo de “passado” ele estava dizendo. E bem... Era uma boa coisa continuar com minha cabeça no pescoço, afinal.

– Eu sinto muito. – eu disse, bebendo do meu Martini. – Vocês deveriam dar certo.

– Mas não demos – ele deu de ombros, pedindo um uísque em seguida. – A vida segue em frente.

Eu assenti, me sentindo pela primeira vez em muito tempo, tímida. – Como foram as coisas para você? Casou? Essas coisas? – ele perguntou, parecendo pouco interessado, só como quem quer manter uma conversa. Eu compreendia.

– Yeah. Sim... Eu casei. Tive uma filha. Meu marido me abandonou pela vendedora da Sexy Shop próxima a minha antiga casa. – eu contei, dando de ombros. Seus olhos se alargaram, em surpresa e descrença.

– Eu não... Não soube sobre ter casado e filhos... – ele disse, cuidadosamente. Eu gargalhei.

– Se eu tivesse uma filha, eu não estaria aqui. – revirei os olhos. Bem, tudo o que eu pude ver foi a falta de qualquer coisa engraçada na expressão de Christian.

– Bem... Você parece estar tão ferrada quanto eu. Que tal dançarmos? – ele perguntou, se levantando e me oferecendo uma mão. Sem muito mais, eu a apanhei, seguindo-o até a pista de danças. Os noivos havia ido. Meredith e Ralph estavam se divertindo mais afastadamente, enquanto curtiam aquilo tudo. Eu me peguei sorrindo enquanto eu os assistia dançar. – É uma ótima sensação. Dançar, quero dizer. Não casamento. – ele disse, com um sorriso cheio.

Revirando os olhos, eu apoiei meus braços sobre seus ombros, enquanto sentia suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto. Nós nos movemos em silêncio, enquanto a música lenta e doce soava no salão.

– Você me encontrou... – comentei. Ele sorriu.

– Yeah. Foi difícil... Mas aconteceu. – seu sorriso ainda continuava em seu rosto bonito, e eu me perguntei se eu deveria me afastar agora ou me lamentar mais tarde. Eu não tive tempo. Ainda ao som leve, eu vi seu rosto se abaixar um pouco, para que logo me alcançasse. Alcançasse minha boca.

Seus lábios pareciam formigar, como toda vez que aquilo acontecia. Eu me perguntei se tudo não era coisa da minha mente. Mas não houve muito mais para me questionar. Ele puxou meu corpo mais contra si, enquanto nos afundávamos naquele beijo. Famintos.

E então, nos afastamos.

Eu respirei com dificuldade, me sentindo tonta de repente.

– Eu não moro muito longe... – sussurrei, e diabos. O que diabos eu estava dizendo, mesmo?! Ele sorriu, me beijando novamente.

– Vamos.


[...]


Eu puxei o lençol para mais perto, estava frio. Bastante frio. Foi quando percebi que chovia do outro lado da janela. Provavelmente, eu havia me esquecido alguma janela aberta em algum canto da casa. Suspirando, eu me espreguicei na cama, me sentindo contente.

Christian surgiu logo depois, um sorriso em seus lábios ao me ver. Ele vestia sua cueca azul marinho, que praticamente gritou contra seu corpo pálido e olhos azuis. Ao se aproximar, Christian puxou minhas pernas para mais perto do seu corpo. Segurando uma de minhas coxas e puxando-a para cima, para que ficasse junto ao sua cintura, ele sorriu de forma maliciosa. Maliciosamente quente, antes de me beijar.

– E agora? – ele sussurrou após o longo beijo. Eu estava em chamas.

– O que quer dizer? – perguntei, deslizando minhas mãos pelo seu peito quente. Sua mão ainda na minha coxa, apertando-a levemente.

– O que fazemos agora? Eu não sei bem... Você sempre foi a mais inteligente de nós dois quando éramos mais novos, sempre dando as cartas... – sussurrou, beijando levemente meu pescoço. Eu ponderei.

– Agora que eu encontrei você, depois de todos esses anos, eu não pretendo deixá-lo partir. De nenhuma forma possível. E aliás... O que vamos fazer sobre Lissa? – questionei, fechando meus olhos levemente enquanto desfrutava da caricia ao meu pescoço.

Christian se afastou, para analisar meu rosto.

– Eu não sei... Contar a verdade, eu acho... Eu não sei. E eu não acho que importa agora... Temos tempo. Eu acho.

– Que seja... – murmurei, puxando-o para baixo.

FIM.





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