The Who escrita por NK Winter


Capítulo 9
AP 2C


Notas iniciais do capítulo

Particularmente meu capítulo favorito.



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Abril de 2034. Uma semana que havia encontrado o diário de Jane Summer. Desde então tenho tido sonhos, com as mesmas lembranças que Jane descrevia.

E naquela noite... Tive meu pior pesadelo.

Eu suava frio.

' Posso te pedir um favor, Jan?' ' Promete nunca contar pra ninguém o que houve entre nós?'.

Vozes ecoavam na minha cabeça. Risos. Pessoas me olhando e apontando para mim.

‘ Não... Não tem essa de esfriarem... Se vocês tem vergonha de mim o problema é de vocês’

‘ Ei! Saca só! Duas cola velcro!'

‘ Vai se ferrar’

Sussurros e Murmúrios tomavam conta de minha mente.

'Vai se ferrar' Repetia Jane.

Eu batia em uma porta de madeira com uma placa de ferro escrita ‘2C’.

Meu sonho havia acabado, mas as vozes ainda me perturbavam, e foi por isso que decidi fazer o que fiz. Em uma mão batia na porta repetidamente e na outra segurava o livro tão forte, que ele poderia se desfazer a qualquer momento entre meus dedos.

— Já vai! - gritaram de dentro – Meu Deus!

A porta se abriu e vi uma mulher, da minha idade com cabelos presos num coque. Seu rosto ainda familiar, cabelos castanhos escuros com mexas grisalhas e olhar cansado. Estava de mãos dadas a uma garotinha de dez anos, parecida com a mulher à minha frente.

Ergui o diário e disse com dificuldade.

— Você sempre soube...

A mulher ainda me olhava, e então suspirou.

— Eu sabia que você viria... Cedo ou tarde - A mulher se virou para a criança e sorriu - Megan, vá brincar no seu quarto. Mamãe tem assuntos pra resolver.

A criança então se foi saltitando.

— Você quer um chá... Ou um café? - perguntou enquanto entravamos em seu apartamento.

— Eu não estou aqui pra bater papo. Eu quero respostas!

— Claro que quer... - ela então se virou para mim - Não achei que demoraria tanto.

— Como assim? - perguntei.

— Jane disse que você viria quando achasse e lesse o diário dela - contou - eu só não achei que você demoraria tanto para achá-lo.

— Isso existe faz quanto tempo?

— Estamos em que...? Abril?

Ela então andou em volta, olhando pela sala, com seu jeito tranquilo de sempre.

— Julie!

Ela então se virou para mim.

— Depois de tantos anos... Você vem atrás de mim, querendo que eu te de respostar, e você nunca me deu nenhuma? Por favor! E nossa amizade? Lembra o quanto éramos próximas no colegial? Fizemos a mesma faculdade para não perdemos contato! E você egoísta como sempre!

— Tem algo aqui... Algo que eu quero saber!

— Você nunca a ouviu!

— Ela nunca conversou comigo, fomos nos afastando assim como eu e você - disse.

— Você é muito egoísta para admitir que o erro foi você.

— Não foi culpa minha! E onde estava você? - perguntei - Todas nós nos separamos.

— Você acha? Ainda vejo Jane diariamente. E você? Sabe onde ela esta?

— Não me interessa...

— Sabe onde ela está, Marie?! Sabe como achá-la? - perguntou aumentando seu tom de voz e se aproximando. - Você só pensa em si mesma e não a procurou desde que se separaram! Assim como me cortou da sua vida você fez o mesmo com ela, se não tivesse achado esse diário, nunca mais iriamos nos ver.

Joguei o diário no sofá e me afastei de Julie.

— Pode ficar... Eu não quero terminar de ler isso.

— Onde parou? - perguntou.

— O que?

— Onde parou?! Até onde você aguenta sua hipocrisia?

Eu não tive como respondê-la, eu sabia que sua filha estava no quarto ao lado.

— Eu não tenho mais nada pra resolver com você. Devolva isso a ela.

— Chegou à viajem que fizemos pra estação de esqui? Chegou na parte do hospital?!

Apertei meus punhos ao lembrar de poucas cenas do inverno daquele ano.

— Eu não quero mais saber - insisti.

— Covarde como sempre. Você pode não admitir, mas todos sabemos que a culpa não foi de Jane. Você também sabe.

— Ela estava me traindo, Julie! O que queria que eu fizesse? - perguntei com meus olhos cheios de lágrima.

Julie parou e ficou me olhando, e então começou a rir.

— Jane? E você acha mesmo?! - Julie ria.

— Eu tenho certeza - corrigi.

— Depois mesmo de ler esse diário você acredita que Jane te trairia? Por favor.

Após algum tempo quando tudo se acalmou nós nos sentamos à mesa e tomamos um café, conversando mais calmamente.

— Eu tenho algumas perguntas a te fazer - disse.

— Só depois que você responder as minhas, você me deve essa, Marie - disse Julie.

— Tudo bem - concordei.

— Quando achou isso? - perguntou gesticulando para o diário.

— Faz uma semana - respondi.

— Há quando tempo não vê a Jane? - perguntou.

— Um pouco mais de seis meses.

Julie parou para tomar um gole de seu café e pegar o diário.

— Onde parou exatamente? - perguntou o folheando.

— Na hora que você entra. Na hora que você diz para Jane não desistir de mim. E qual é a de vocês? Vocês ainda tem amizade, você sabia que ela estava tendo um caso não sabia? - perguntei.

— Minhas perguntas primeiro - disse.

— Não é justo assim, eu quem vim até aqui!

— E por que é que você leu até aqui? Por que continuou? - perguntou Julie.

— Me fez lembrar como eram as coisas antigamente... Era tudo tão mais fácil.

— Por que quer parar? Mal chegou na metade e já está querendo jogar tudo fora?

— Não tem por que isso tudo agora que não temos mais nada. Eu me sinto mal, é como estar dentro da cabeça de Jane. Chega a ser ridículo.

— Quer saber por que não aguenta mais?! - perguntou retoricamente - Você sabe que tudo o que tem aqui dentro é verdade, você vê o quanto errou todos esses anos. Tem medo do que você fez com ela desde o colegial. Você vive com medo, e nunca corrige o que faz. Você não mudou nada...

— Você por outro lado mudou muito, não foi? Continua me analisando como sempre e fingindo que sabe o que se passa.

— É meu trabalho.

E era mesmo, Julie era tão boa nisso que se formou em psicologia. Mas não era motivo para ficar vendo dentro de minha mente, como Jane dizia.

— Agora quero as minhas respostas - exigi.

Julie recostou na cadeira e me olhou.

— Quando que ela escreveu isso? - perguntei.

— Faz quase um ano. Acho que foi em julho... - respondeu.

— Você leu ele todo?

Julie concordou com a cabeça passando a mão pelo diário.

— Por que ela escreveu tudo isso...? - perguntei olhando para o diário, o clima ficara tão pesado que eu não conseguiria mais olhar em seus olhos. Ela saberia o que sentia e o que pensava só de olhar para eles. E eu estava cansada dos rótulos de Julie, mesmo que corretos.

— Ela diz - disse Julie abrindo na primeira página do diário e lendo em voz alta - "Meu nome é Jane M. Summer e estou aqui escrevendo porque tenho medo que tudo o que guardei morra comigo."

Julie me olhou como se estivesse óbvio, mas não estava.

— Ainda não faz o menor sentido - disse.

— Termine e depois a gente conversa - disse Julie devolvendo o diário para mim.

— Eu não quero ler mais nenhuma palavra que Jane tenha escrito aqui.

— Eu não ligo para o motivo que fez você se afastar de mim, mas eu não aguento você magoar Jane mais uma vez por motivo nenhum! De um jeito, Marie. Engula seu orgulho e pense nela alguma vez.

— Eu já fiz muito por ela...

— Eu me lembro de quando fez. Nunca senti tanto orgulho como senti naquela excursão, mas você nunca mais o fez depois que tudo se encaixou novamente.

Alguém entrando na porta interrompeu a conversa. Era um homem forte de ombros largos com cabelos grisalhos de comprimentos médios e colocado todo para trás com gel.

— Boa tarde, Amor - disse Julie.

— Jane? - perguntou ele brevemente com a voz grossa sob o bigode e a barba.

— Eu já estava de saída - disse eu.

— Ela encontrou o diário de Jane... - contou Julie ao marido.

— Ah... - disse ele pegando um jornal numa mesinha próxima a porta.

Olhou pelos seus óculos na ponta do nariz lendo seu jornal e então ergueu seus olhos de novo para Julie.

— Megan está em seu quarto? - perguntou.

Julie concordou com a cabeça. O marido calmo como sempre me olhou também e sorriu carinhosamente.

— Jane sabe que está aqui? - perguntou.

— Não... Não sabe.

O homem enrugou os lábios e voltou a olhar seu jornal.

— Uma pena... - disse baixo folheando o jornal.


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Notas finais do capítulo

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