The Who escrita por NK Winter


Capítulo 4
Tic Tac




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/350923/chapter/4

Nós tínhamos acabado de chegar a minha casa, Jane segurava o guarda-chuva na minha frente enquanto eu procurava as minhas chaves em algum bolso perdido da minha mochila, eu sempre perdia as coisas na mochila.

Ao achá-las me virei para poder me despedir. E antes que pudesse perceber Jane beijou meus lábios por alguns segundos e logo se afastou. Eu congelei e fiquei apenas a olhando assustada, mal conseguia pensar ou raciocinar no que acabara de acontecer.

Jane esperou. Eu não me movia e após perceber que eu não faria mais nada ela me beijou novamente. Por algum motivo eu retribui, mesmo lutando contra tudo aquilo. Minha mente não parecia funcionar tudo e nada ao mesmo tempo, era muito confuso, minha mente estava em branco, a chuva silenciosa, e meu corpo agia por si mesmo.

Parte de mim achava tudo aquilo nojento, era uma garota, por que eu estava retribuindo? Lutei para me afastar, mas a outra parte de mim estava... Talvez gostando, não gostando de verdade, mas era algo tão diferente.

Seu beijo era tão gentil, eu me sentia bem com seus lábios nos meus, ignorando a parte enojada de mim. Como se ela pudesse me proteger de qualquer coisa e que com ela eu poderia contar. O que era realmente estranho, não era como se tivéssemos nos conhecido há tão pouco tempo.

Foi difícil deixar de beijá-la, seus lábios tinham gosto bom de Tic Tac de menta.

Beijar uma garota era bem diferente do que beijar um menino, mas infelizmente eu não sabia exatamente entender o quão diferente era e nem onde que tinha diferença. Talvez pela delicadeza e a graciosidade das mulheres, por nós sabermos o que queremos. Beijamos por amor e por querer estar com quem gostamos e não beijamos por ser uma preliminar ou por querendo chegar dentro do sutiã uma da outra.

Eu não queria ter gostado tanto assim. Não devia ser tão bom. Talvez se não acontecesse de novo eu esqueceria. Não pensar mais nisso. Mas aquilo era mais forte que eu.

Eu não queria que acabasse.

Passei meus braços em volta do pescoço de Jane e a beijei mais uma vez...

Como um flash tudo sumiu e me sentei na cama ofegante.

Eu suava e tremia. Olhei a minha volta e era meu quarto, só meu quarto. Janelas fechadas, caixas no chão perto da cama e ao meu lado o diário de Jane.

Passei a mão no rosto tentando me acalmar e respirei fundo.

Eu havia dormido lendo o diário, e acabei sonhando com as lembranças de Jane, era possível? Era apenas um sonho e eu repetia aquilo para mim mesma.

Apenas um sonho. Apenas um sonho.

Levantei-me e fui ao banheiro. Meu rosto estava pálido e as pequenas rugas próximas aos meus olhos se destacavam por causa das olheiras.

Após um banho gelado e tomar meu café voltei a ler o diário de Jane, já tinha desistido da ideia de devolvê-lo antes de ler, então, o mais rápido que terminasse, melhor.

"Passaram-se dois dias desde que beijei Marie, e não trocamos uma palavra desde então, eu cumprimentava minhas amigas do primeiro ano, mas apenas quando The Who não estava por perto.

Naquele dia eu tinha um tempo livre, não teria uma das aulas. Eu teria bastante tempo para pensar, Connor e Ron estavam muito entretidos na conversa deles, poucas vezes eu precisava me manifestar. E como eles sabiam que eu não estaria prestando a atenção, eles só me chamavam para situações de verdadeira necessidade.

Finalmente vi o primeiro ano indo para a mureta que sempre sentavam.

Fay sempre simpática acenou para mim. Tinha vezes que achava que ela só fazia isso para mostrar para os garotos do ultimo ano que ela tinha amizade com pessoas da sala deles. Ela sempre me perguntava sobre garotos que estudavam comigo, se eram solteiros e coisas do tipo.

Marie por outro lado nem me olhou, pareceu interessada de mais em seu celular. Julie também olhava para a mesma coisa que Marie, mas não parecia tão interessada, ela então me olhou.

Eu não tinha mais motivos para mudar de pensamento ou me sentir ameaçada, talvez eu até estivesse chateada com Marie e acabou me deixando do mesmo jeito com Julie, mesmo que sem motivo. Nenhuma de nós desviava o olhar, Julie me olhava como que se procurasse algo, algo em minha mente ou em minha expressão.

Por fim franziu o cenho e olhou para Marie e então sussurrou algo para ela.

Marie ficou reta e engoliu em seco, balançou a cabeça erguendo os ombros e voltou a olhar seu celular. Julie voltou a me olhar, sem expressão.

Ela havia perguntado sobre aquela noite... E Marie deveria ter respondido algo como 'Nada'... Eu recostei na cadeira ainda observando Julie. Ela sabia. Julie sabia que eu gostava de Marie. Não... Não sabia... Sabia?

Mas como? Só pelo meu olhar tem como saber? Mais alguém saberia? Pffft... Julie não sabia... Eu estava só pensando muito nisso, era coisa da minha cabeça.

Na saída daquele mesmo dia eu fiquei cinco minutos a mais na sala de aula arrumando umas coisas, e nesse tempo o corredor já havia ficado vazio, ao sair não vi ninguém no corredor da minha sala apenas uma ou duas pessoas dentro de outras salas, mas ao virar para outro corredor para ir à escada principal vi Marie próxima à porta da escada de incêndio.

— Boa tarde - disse ao passar por ela.

Antes mesmo de me responder Marie me puxou pela camisa, entrou na escada de incêndio comigo e me colocou contra a parede.

Ela me olhava furiosa, o que começava a me deixar com medo. Marie segurava perto da gola da minha blusa e me empurrou mais contra a parede. Ela parecia com tanta raiva que eu realmente me senti mal naquele momento.

— Nunca mais faça aquilo de novo entendeu? - disse - Eu não sei qual é a sua, mas eu não tenho o mesmo problema que você! Ou melhor, não fale mais comigo.

— Marie... Eu não...

— Nunca mais! - interrompeu - Eu nunca iria gostar de você.

Marie largou minha camisa e saiu andando.

Eu apenas me sentei no chão e larguei minha mochila.

Tive vontade de chorar naquele momento, mas não sabia se era por raiva ou tristeza. Ela não merecia que chorasse por isso, mal a conhecia e não sabia se daria certo desde o inicio. Mas suas palavras tinham sido duras de mais.

E eu só conseguia pensar no que ela me tinha dito, seu beijo, como ela retribuiu e me abraçou naquela chuva. No fim do mesmo beijo Marie sorriu, ela olhava em meus olhos e sorria... Eu nunca mais ia esquecer aquela cena, muito menos essa de agora.

Eu a perdi.

Todo meu plano que demorei em conquistar. Quase dois meses tentando me aproximar e apenas com um beijo tudo foi por água a baixo. Mas eu consegui o que tinha dito a Ron. Consegui uma chance com ela, mesmo que tenha durado três beijos essa chance. Eu tive.

‘Eu nunca iria gostar de você’

 

Eu podia dizer que estava triste. Não querendo mais nada com ninguém, sem querer conversar. E eu estava.

Mas eu entendia o lado de Marie, não apoiava suas palavras, foram duras de mais. Suas frases ficaram ecoando na minha cabeça por uma semana... E durante toda essa semana não cumprimentei Pam nem Fay... Eu evitava passar perto de qualquer um do primeiro ano. Mal olhava na cara de Marie, e duvido que ela olhasse para a minha.

Não pude falar nada disso para Connor e Ron. Só ia servir para me deixar pior e para eles dizerem coisas do tipo ‘Eu disse que ela era Hétero’ ou ‘Existem outras garotas’. Eu não queria ouvir concelhos para meninas de doze anos que tinham acabado de perder o namoradinho.

Apesar de tudo o que estava acontecendo eu não me arrependia de nada, de ter me aproximado, de ter beijado Marie... De ter tentado.

Até olhar para Julie eu estava evitando, sei que não era possível que Marie tivesse contado para qualquer pessoa, muito menos Julie adivinhar o que houve só pelo meu olhar.

— Jane! - Fay me chamou do portão na saída.

— Oi Fay... - respondi sem ânimo algum.

— Você sumiu... Não tem mais ido embora com a gente - lamentou.

— É... Estava tendo umas provas... E eu realmente precisava estudar - menti.

Fay estava com Pam e logo atrás seu grupinho de sempre do primeiro ano, incluindo Marie que nem se virou quando comecei a falar com Fay.

— Passaram prova na minha sala também - disse Pam - E foi o professor de geografia, ele mal explica, na verdade ele mal fala, ele é tão parado e morto... Como vou saber a matéria se ele não explica...? - Pam continuou tagarelando por um tempo.

Eu estava tão desanimada e com a menor vontade de ficar perto de Marie, então não teve como ir embora com eles, muito menos criar conversa.

Julie me olhava durante toda a conversa, evitei fazer contato visual, mas estava me irritando ela me olhar tanto. Eu estava prestes a ir falar com ela, perguntar qual era seu problema, mas então alguém do grupo os chamou para irem embora.

Me despedi de todos, menos de Marie que fez questão de ir andando na frente.

Naquela tarde fui andando sozinha para casa, sem fone, sem musica... Só com meus pensamentos.

Eu havia feito amizade com elas, gostava de Pam, do jeito que ela falava de mais e se empolgava com suas histórias. Gostava do jeito simpático de Fay que sempre acenava quando me via, mesmo que de longe e no meio do pátio lotado.

Não era pela Marie, mas eu realmente tinha me apegado a elas, era difícil conversar com todos quando ela estava por perto, mas também era difícil me afastar. Era uma amizade que me fazia bem.

Na mesma tarde eu fiquei durante horas sentada perto da igreja, sem fazer nada, só pensando na vida. Eu não tinha mais no que pensar, mas ficar quieta só colocando tudo em ordem na minha cabeça me fazia bem. Eu só precisava de mais tempo para esquecer tudo o que Marie tinha me dito.

— Jane! - alguém me gritou ao fundo.

Olhei para o lado e vi Pam correndo em minha direção.

— O que está fazendo aqui? - perguntou sentando ao meu lado.

— Só passando o tempo - respondi.

— Aqui... Daqui a duas semanas vou dar uma festa - disse Pam me entregando um pedaço de papel - Ai tem endereço, data e hora... Você vem certo? - perguntou.

Olhei o pedaço de papel e sorri.

— Vou sim, Pam! - respondi.

Naquela semana Fay me cumprimentou todos os dias, e na sexta eu tinha resolvido ir embora com elas. Eu estava me acostumando a ficar perto de Marie sem me importar com ela. Não que eu ainda não achasse ela linda ou não gostasse mais dela, mas não me importava.

— Hoje vamos eu, Pam e Marie no cinema, quer vir Jane? - perguntou Fay.

Marie olhou para Fay assustada. E com um sorriso malicioso respondi:

— Hoje? Seria ótimo - Marie me olhou e fechou a cara - Mas infelizmente tenho muito dever pra fazer. Quem sabe outro dia?

Marie fechou as mãos em punho e se afastou um pouco. Provocá-la não me pareceu tão ruim. E eu me sentia muito melhor.

— Uma pena - disse Fay - A gente combina.

Depois daquilo eu me aproximei de novo do primeiro ano. Fiz mais amizades com Tocha. Ele era viciado em jogos de vídeo game. Ele era branquinho, com sardas no nariz e por toda a bochecha, seus cabelos eram ruivos para cima. Por isso seu apelido.

Eu me divertia conversando com ele sobre jogos. Pam se irritava por não conseguir entender a conversa, mas não era motivo para não conversar. Ela sempre dava um jeito de se enturmar no meio de assuntos complicados.

Foram dias normais, todos estávamos bem de novo, felizes. Todos menos Marie, e Julie percebia que mais eu me aproximava, mais Marie se afastava quando eu estava por perto.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me siga nas redes sociais para mais desenhos, informações do meu livro e muito mais ♥ dê apoio ao artista ♥ Obrigado.

Tumblr: nkwiinter.tumblr.com/tagged/thewho
Instagram: nk.wiinter
Twitter: nkwiinter



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Who" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.