The Who escrita por NK Winter


Capítulo 3
Santo Guarda-Chuva




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Abril de 2034. Passaram-se dois dias desde que encontrei um diário no meu armário que pertencia à Jane Summer, e faziam-se os mesmos dois dias que eu não conseguia continuar lendo, tudo aquilo começara a mexer com a minha cabeça. Eu sonhava com Jane, mais de um sonho por noite, com lembranças passadas e cada sonho mais impossível quanto o outro, um pior que o outro e nenhum deles fazia sentido. Eu não conseguia pensar em outra coisa.

Primeiramente fiquei frustrada por não conseguir me lembrar direito do meu colegial, Jane por outro lado lembrava com tantos detalhes, quando que ela teria escrito todo esse livro? Não aparentava ter tanto tempo assim.

Talvez eu só devesse devolver o diário, mas como? Poderia entregar a alguém que tenha amizade com Jane. Infelizmente não tínhamos mais nenhum amigo em comum.

Eu poderia deixar na casa de seu pai, onde ela estaria morando atualmente... Não... Eu não conseguiria. Ou Eu poderia deixar no seu trabalho, isso eu poderia fazer sem que ela soubesse ou me visse.

No dia seguinte fui a um pet shop no centro da cidade ao meio dia e vinte em ponto, pois sabia que ela estaria no seu horário de almoço e não teria como nos encontrarmos.

Ao entrar no pet shop fui direto à recepção.

— Com licença a doutora Summer está trabalhando hoje? - perguntei.

— A doutora Summer não trabalha mais aqui - respondeu a recepcionista.

— Não?

— Não.

A recepcionista me olhou por cima dos óculos e perguntou:

— Posso ajudar em algo?

— Eu só tinha algo para a doutora, sabe informar por que ela não trabalha mais aqui? - perguntei.

— Não tenho permissão para dar essa informação, sinto muito - respondeu abaixando o olhar novamente.

Eu realmente não sabia mais o que fazer sobre o livro, parte de mim queria terminar de ler, mas a outra parte não aguentaria mais.

Quando voltei para casa cedi ao meu desejo de ler.

"Estava caindo uma tempestade monstruosa aquela manhã, seria o motivo perfeito para ficar em casa e matar aula, mas não para mim. Eu não iria desperdiçar nenhum dia com Marie.

Era meu ultimo ano no ensino médio, não tinha muito tempo para aproveitar, então ficar matando aula era loucura se eu quisesse ter mesmo uma chance com ela. Ao chegar à escola vi um aviso enorme na porta de vidro de entrada para o pátio:

' AULA DISPENSADA DEVIDO À CHUVA. '

Olhei por todas as salas e havia alguns alunos perdidos, mas nenhum que me interessasse. Na saída passei na biblioteca e por sorte lá estava o grupinho do primeiro ano. Pam, Fay, Tocha, Marie e Julie.

Fui até eles e os cumprimentei. Todos, incluindo Marie The Who, me deram oi.

— Veio nessa chuva, Jane? - perguntou Pam - Poderia ter aproveitado para ficar em casa.

— É... Ano passado tive problemas com falta, não quis arriscar - menti - e vocês?

— Por moramos perto combinamos de vir mesmo assim - respondeu Pam - A chuva está muito forte para voltarmos agora, acho melhor você sentar aqui com a gente e esperar melhorar também, se quiser ir embora comigo não tem problema. Deve estar tudo alagado.

— Acho melhor mesmo... - concordei.

Sentei-me com eles, Julie havia chegado para o lado me dando espaço para sentar perto dela. Ou seja, perto de Marie também.     

— Estávamos conversando sobre faculdade, já sabe o que vai fazer, Jane? - perguntou Fay.

— Eu estou em duvida sobre fazer Veterinária... - respondi - E vocês? O que vão fazer?

— Eu queria ser modelo, mas está difícil de me acharem por aqui! Então vou fazer moda - lamentou Fay.

Pam e Tocha disseram que iam seguir os passos dos pais fazendo Administração e Contabilidade. Julie faria engenharia.

— Arquitetura - respondeu Marie.

Pela primeira vez eu poderia ouvir Marie de perto, eu nunca havia conversado com ela antes, talvez se eu provocasse um pouco, mas sem deixar na cara.

— Então vocês desenham para quererem fazer Moda e Arquitetura? - perguntei à Fay e Marie.

— Não. Mas eu tenho ótimas ideias e posso costurar - respondeu Fay.

— A Marie desenha muito! - exclamou Pam antes mesmo de Marie pensar em responder - Quando a aula está chata ela fica rabiscando o caderno e são ótimos! Ela vai se dar bem como Arquiteta.

Forcei um sorriso e concordei com a cabeça o melhor que pude, era ótimo Pam tagarelar e criar amizade comigo, mas em certas horas eu gostaria que ela desse oportunidade para outras pessoas falarem, como a Marie The Who!

Eu passei o olho pela Marie que já estava distraída com outra coisa junta ao Tocha e encontrei o olhar da Julie, meu corpo gelou com receio que ela pudesse realmente ler minha mente ela me fitava como se soubesse tudo sobre mim e me conhecesse, não era como os outros faziam, automaticamente comecei a pensar em outra coisa e desviei o olhar, só para garantir.      

Pôneis.

Pôneis rosa e saltitantes.

Foi a primeira coisa 'normal' que pude pensar.

Julie logo na conversa deles tirando a atenção e o foco de mim.

Por volta de 14h da tarde a chuva estava melhor, não havia parado totalmente, mas já tínhamos percebido que isso não ia acontecer naquele dia, então decidirmos ir antes que ela piorasse de novo.

Porém Fay, Pam e Tocha iam por um lado diferente naquele dia e eu realmente tinha medo de ficar sozinha com as duas amigas, o problema não era a The Who, mas sim a Julie, não queria precisar pensar em coisas ridículas foras do assunto novamente. Por isso seria melhor ir embora com os três dessa vez. Fortalecer meu plano de amizade com Pam e investir em Marie mais tarde. Sem a Julie.

Quando estávamos saindo do portão Pam, Fay e Tocha viraram para a esquerda e Julie e Marie para a direita. Pam e Marie se viraram para mim esperando que eu virasse para um dos lados também, escolhendo meu caminho.

— Você vem? - perguntou Marie.

Sabe quando seu mundo para? REALMENTE para e você pode pensar claramente. Pode parecer coisa de filme, mas naquele segundo tudo congelou, eu mal conseguia pensar, meu coração disparava e a única coisa que eu queria fazer era agarrá-la e beijá-la.

Marie The Who tinha acabado de me chamar para ir embora com ela!

Ok. Julie estava junto, mas era apenas um detalhe. E se eu fosse com elas? Eu iria até metade do caminho e depois cada um seguiria o seu? No máximo eu insistiria em levá-la em casa por estar chovendo, mas aconteceria alguma coisa? Eu tinha conversado tão pouco com Marie nesse tempo. Ela mal me conhecia e eu a ela.

Mas e se eu fosse com Pam? Fortalecia nossa amizade e nos deixaria mais próximas para ter mais dias como esse, ou até melhores, para sair além da escola... Baladas, cinema, parques e muitos outros lugares.

Tudo voltou ao normal e sorri.

— Vamos - disse a Marie.

Me despedi de Pam e fui com Marie.

Eu poderia ter fugido do meu plano, poderia ter apostado em falso, mas eu precisava tentar.

— Que tipo de musica você ouve, Jane? - perguntou Julie.

— Ahm... Eu ouço Aerosmith... - respondi.

— Adoro Aerosmith - disse Marie.

Não pude evitar de abrir um sorriso quando ela disse. Segundo seus bótons nós tínhamos muito em comum e isso era ótimo.

Durante todo o caminho fomos conversando sobre filmes, musicas e vídeo clipes, foi uma ótima conversa. Podia perceber Julie me observando a conversa toda. E pude concluir que ela realmente não gostava de mim, ela me olhava diferente.

Ela me media tanto e me olhava como se tivesse realmente reparando em tudo que eu dizia ou fazia.

— Bom. É aqui que eu fico - disse Julie quando paramos em um cruzamento.

Era naquele cruzamento que todas nós nos separávamos. Mas éramos três e dois guarda-chuvas. Eu estava com o meu e Marie e Julie dividiam um.

— Você não pode ir debaixo de chuva, Ju - disse Marie.

— Não tem problema. Eu vou correndo - brincou.

— Se quiser deixar o seu com ela, eu te levo em casa - disse para Marie. E disse sem nem pensar.

Julie me olhou e sorriu com o canto da boca. Eu teria franzido o cenho se Marie não tivesse sido mais rápida me chamando a atenção.

— Não... Você teria que andar muito mais - negou Marie.

— Não tem problema nenhum... Gosto de andar - insisti.

Marie olhou para Julie e voltou a me olhar.

— Tudo bem - concordou entregando o guarda-chuva para Julie.

Julie pegou o guarda-chuva e atravessou o cruzamento correndo antes que abrisse para os carros.

Marie estava distraída com o transito, esperando para que nosso sinal abrisse. De longe vi Julie me olhando. Ela havia parado e virado para mim. Não entendia o que ela queria quando ela sorriu e gesticulou com a cabeça para eu ir em frente. Mas em frente para onde? O sinal continuava fechado.

Julie olhou para Marie e voltou a olhar para mim. E então foi embora.

Marie continuava olhando para o transito, já não se podia ver Julie do outro lado.

Seguindo nosso caminho nos aproximamos da casa de Marie e eu comecei a ficar nervosa, meu tempo estava acabando e eu mal havia conversado com The Who ainda. Eu não sabia sobre o que falar e tinha medo que se falasse começasse a gaguejar. Era fácil falar com ela quando tinha alguém por perto, eu podia tirar meu foco e me distrair, mas só com Marie complicava as coisas.

— É aqui - disse Marie apontando para uma vila quase como um beco.

Levei Marie até a porta e paramos. Fiquei de frente a ela enquanto ela procurava suas chaves na bolsa. A rua estava vazia, nenhum sinal vivo, e onde estávamos era meio escuro.

Um frio subia pela minha barriga até minha garganta, era difícil de respirar. Eu apenas a observava procurar suas chaves. Ficava pensando no que Julie tinha insinuado. Ir em frente. Marie... Ir em frente com a Marie? Eu não podia arriscar tão cedo e perder tudo.

Era difícil ser racional com Marie tão próxima, seu perfume me encantava e eu mal podia desviar o olhar de seu rosto.

Marie se virou tão rápido ao achar as chaves que não me deu tempo de pensar melhor sobre aquilo, a única coisa que consegui fazer foi beijá-la. Beijei seus lábios e logo que me dei por mim afastei meu rosto. Ela me olhava tão assustada que tive certeza que tinha perdido tudo que conquistei desde então. E também senti certo medo por ela não se mexer. Ficamos por uns segundos só nos olhando, Marie estava sem reação e aquele clima constrangedor me incomodava de mais, me aproximei com cuidado, sem nenhum movimento Marie me deixou chegar a seus lábios novamente.

Beijei-a devagar com medo de assustá-la, por minha surpresa ela retribuiu o beijo. Com a mão livre que não segurava o guarda-chuva segurei sua nuca. O beijo durou mais do que esperava. Seus lábios eram macios e se encaixavam perfeitamente com os meus, era como um sonho.

Apesar de Marie retribuir o beijo seu corpo estava paralitico e meu coração batia tão forte que mal se ouvia a chuva.

Afastei meu rosto e a olhei nos olhos. Marie abaixou a cabeça e apertou as mãos nos olhos. Eu só a observava esperando que tomasse alguma atitude. Me bater, se afastar ou apenas ir embora, qualquer coisa que mostrasse que ela não estava tendo um derrame.

Depois de alguns segundos Marie agiu. Passou rapidamente seus braços em volta do meu pescoço e me beijou de novo, seu corpo veio contra o meu tão rápido que quase não tive reação. Abracei sua cintura deixando o guarda-chuva cair e prossegui com o beijo."


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Notas finais do capítulo

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