The Who escrita por NK Winter


Capítulo 23
O Plano


Notas iniciais do capítulo

Em 2012 eu estava em meu terceiro ano do Colegial. Eu não tinha metas, objetivos nem ideia do que eu queria ser na vida, a pressão do último ano e do vestibular, de entrar na faculdade no ano seguinte eram de mais para mim e eu não queria absolutamente nada, não tinha uma vocação aparente, não era boa em nenhuma matéria em especial... Nada.
Então eu encontrei um bótom no chão em minha primeira semana do terceiro ano do colegial.
Para ser sincera, eu não me lembro do que era o botom. Mas eu sabia a quem pertencia, a uma garota com a bolsa cheia de botons. Eu a devolvi e fui viver minha vida sem rumo. Até que eu comecei a reparar na dona do botom... Eu sentia a paixão que Jane sentia, fiz amizade com suas amigas, mas nunca conversei com ela de fato. Nunca trocamos mais do que cumprimentos.
E de uma paixão platônica surgiu a ideia de escrever The Who... Um simples "e se" em minha vida. E esse simples "e se" desencadeou a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo, eu finalmente me encontrei, aceitei quem eu era, em relação à sexualidade, a gostos, ao meu futuro... Eu simplesmente aceitei a mim. Alguns anos atrás eu acharia um absurdo admitir de onde surgiu The Who, caso alguém que me conhecesse sequer visse isso eu negaria, mas não me importo ou me envergonho de nada que fiz hoje, porque o que fiz me tornou o que sou hoje. E sou grata a cada detalhe.
Hoje eu estudo e faço o que amo, pretendo continuar escrevendo e contando histórias porque é isso que me faz feliz.
Faça o que te faz feliz. Siga seu sonho. Realize-se.



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Eram seis horas em ponto e o sino da igreja tocava alto.

Eu estava parada dentro do carro fazia meia hora, olhando para a caixa de Jane no banco do carona. Eu estava estacionada no estacionamento da igreja da cidade em que eu e Jane crescemos, onde nós passamos nosso primeiro Natal juntas.

Eu segurava um papel com o endereço da igreja escrita, hora e data. Faziam-se exatamente sete dias que o pai de Jane havia morrido, e segundo Julie ela estaria nesta igreja essa hora.

"- Que plano? - perguntei durante nossa conversa em meu escritório.

— Um dos meus planos de não te deixar estragar tudo – respondeu Julie."

A missa estava começando e a conversa que eu havia tido com Julie dois dias antes não parava de passar em minha mente. Meu coração batia a mil.

"- Eu sabia que você poderia estragar tudo se falasse com Jane assim que achasse o diário - dizia Julie - Eu queria proteger vocês duas.

— Então você me afastou para podermos ficar juntas? - perguntei ainda mais confusa.

Julie riu e se aproximou da mesa.

— Nós tivemos problemas no passado, mas nossa amizade é maior que tudo isso, não é? Eu vi que você mudou... Eu acho que você está pronta para ser quem era."

Durante quase uma hora eu esperei. O sol se pôs lentamente pintando o céu de laranja, e cada segundo que passava eu ficava mais nervosa. O papel com o endereço em minhas mãos tremia cada vez mais.

"- Esperar fez com que você pensasse e refletisse a respeito de tudo, eu sabia que iria demorar... - contava Julie dando voltas em minha sala - Mas eu sabia que você ia chegar lá, demorou um pouco mais que esperava, claro. E a morte do pai de Jane atrasou um pouco as coisas... - Julie balançava a cabeça enquanto dizia - Você encontrar Jane nesse tempo foi importante mesmo que não planejado e eu pude ver que essa é a oportunidade perfeita.

— Oportunidade...?

— Sim, Jane te aceitaria de volta a qualquer segundo, eu tenho certeza disso, o meu trabalho é fazer com que você faça direito o seu trabalho - dizia - Ela ainda te ama assim como você a ama, e ela precisa de você agora mais do que nunca.

Julie parou no meio da sala e me olhou. Meu coração apertou tanto naquele momento, que fiquei quieta, tinha medo de que se falasse eu começasse a chorar.

— Jane precisa de você, Marie - repetiu Julie."

Fechei meus olhos e apoiei minha cabeça no encosto do carro, eu precisava me acalmar.

Os sinos da igreja tocaram novamente deixando, se possível, meu coração mais acelerado ainda. Retirei-me do carro e fiquei esperando apoiada na porta até que visse Jane.

Jane saiu pela porta da igreja e logo que desceu as escadas me viu ao longe. Por minha surpresa ela veio em minha direção, parou um pouco antes de chegar ao carro e franziu o cenho.

— O que faz aqui? - perguntou.

"- Não faça besteiras dessa vez, Marie - pediu Julie”.

— Eu... Fiquei sabendo o que houve, vim saber como está. Eu sinto muito - disse.

— Por que está aqui fora?

— Achei que você gostaria de um pouco de espaço... Na verdade... - fechei a porta do carro e fui até a porta do outro lado - Eu precisava te devolver algumas coisas...

— Algumas coisas...? - perguntou baixo.

"- Primeiramente, peço que mostre a doação que fez. Mostre o gesto que fez por ela”.

— E-Eu... - gaguejei. Peguei dentro da caixa o documento do hospital com minhas mãos tremulas e entreguei para Jane que leu atentamente - Eu sinto muito ter te deixado no momento que você mais precisava. Eu deveria ter ficado ao seu lado todo segundo, e eu sei que não adianta nada pedir desculpas agora, não vai desfazer o meu erro, só queria dizer que sinto muito por tudo.

Jane me olhou e me devolveu o documento.

— Não acredito que foi você... - disse por fim.

— Eu...

— Parte de mim tinha esperanças que tivesse sido, mas... Outra parte dizia que você nem se lembrava mais de mim - disse.

— Não teria como esquecer, e de certa forma... Eu tive algo que me ajudou a lembrar - abri a porta do carona mostrando à Jane a caixa onde estavam todas nossas lembranças - Eu acho que isso é seu.

— Meu diário...

— Eu o achei quando estava de mudança... Você sumiu e... A única coisa que me restou de você era isso - disse - Nosso primeiro ano juntas. Por quê...?

Jane abaixou a cabeça e foi até a caixa e pegou se diário, cuidadosamente o abriu e o folheou.

— Eu achei que não iria sobreviver, e eu tinha medo de te deixar sozinha... Eu queria deixar uma parte com você, de alguma maneira. Imaginei que o único jeito seria deixando com você o melhor ano da minha vida, minhas melhores memórias, meus primeiros momentos ao seu lado - contou Jane - Eu não tive a oportunidade de pegá-lo de volta quando terminamos.

— Por que não me contou que estava doente? - perguntei.

— Eu tentei... - Jane suspirou e se afastou do carro - Não era fácil, e algumas vezes que tentei você me irritava, dizia coisas sem sentido. Dizia que eu estava com outra, ou que trabalhava muito, dizia que ficava muito tempo fora. Eu me irritava... - Jane se virou para mim e me olhou em silêncio.

Abaixei a cabeça e respirei fundo.

— Eu errei, de uma maneira que não tenho como recompensar, eu reconheço. Peço desculpas por tudo. Eu tinha esquecido a garota maravilhosa que tinha ao meu lado - disse à Jane e ergui a cabeça - Se você me der a chance de recompensar tudo o que fiz eu adoraria tentar.

— Eu não acho que esse seja o momento... - Jane suspirou e encostou de costas no carro.

Ficamos por um tempo quietas ali de cabeça baixa. Eu não sabia se deveria dizer algo, ou se devia abraçá-la. A perda do pai ainda era muito recente.

"- Você vai saber o que fazer, Marie. Ela tem te pedido isso há anos, e você quer - dizia Julie em nossa conversa"

Fiquei em frente de Jane e com a mão em seu queixo ergui sua cabeça.

— Eu sinto muito, por tudo - disse.

Acariciei seu rosto cuidadosamente e Jane fechou os olhos.

— Eu sinto sua falta - sussurrou.

— Eu também sinto sua falta - sussurrei de volta.

Jane abriu os olhos e me olhou, era como se fosse antes, nós duas próximas, seus olhos nos meus e sua mão em minha cintura. Lentamente me aproximei e beijei seus lábios. Jane retribuiu me beijando e passando seus braços em volta de minha cintura.

— Jane... - sussurrei entre o beijo.

Jane parou e me olhou nos olhos.

— Case-se comigo - pedi.

.

Três semanas depois.

— Hei, Marie. Todos estão se reunindo lá fora para tirar uma foto - chamou Julie em direção á sala.

— Eu já vou... - disse baixo.

Eu segurava um porta retrato nas mãos, cuidadosamente o coloquei na prateleira mais alta da estante da sala. Éramos eu e Jane na foto, no dia da minha formatura, a foto que havia achado dentro da caixa há alguns anos no meu antigo apartamento.

— Marie! - me chamavam.

Sorri para a foto e segui rapidamente para o lado de fora.

Estavam todos reunidos em frente à casa do pai de Jane e uma câmera presa num tripé estava em frente a todos.

Connor abraçava Julie que segurava a mão de Megan sua filha, até Ron estava lá com a esposa e seus dois filhos. Alguns amigos do trabalho de Jane e a própria no meio de todos me olhando com um sorriso de orelha a orelha.

Jane ergueu sua mão em minha direção.

— Vem - disse.

Olhei sua mão que, agora usava uma aliança dourada, e a peguei carinhosamente. Juntei-me à todos e a câmera foi preparada para tirar a foto

"- Eu sei que vocês são para sempre - disse Julie em nossa conversa em meu escritório."

Aquela foto ficou guardada ao lado de nosso retrato em minha formatura por um bom tempo. Em homenagem ao pai de Jane continuamos morando em sua casa. Era uma rua bem calma, vivemos muito felizes lá por anos e anos. A vida foi passando e eu não poderia ter ficamos mais felizes ao lado de Jane. Resolvemos águas passadas e vivemos felizes.

Eu aprendi minha lição, nunca é tarde para reparar os erros, nunca é tarde para amar. Dou valor ao que tenho e ao que tive, e tenho orgulho em dizer que sou mais do que feliz com as escolhas que fiz.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura.
The Who 2012-2013.

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