The Who escrita por NK Winter


Capítulo 17
Natal




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— No dia seguinte em que você foi embora todos os três estávamos arrasados, e decidimos ficar junto àquela noite, um consolando o outro, esperando qualquer aviso seu por mensagem... - contava Julie - Acabamos nos aproximando muito, principalmente eu e Connor... Foi estranho, porque no inicio era só... - Julie ergueu os ombros e sorriu - Não era nada, e veja no que deu...

Segui seu olhar e vi um porta-retratos em uma mesinha de canto, era Julie, sua filha Megan e Connor, de cabelos meio grisalhos pra trás com gel.

— Tantos anos de casamento e estamos tão bem - disse.

— E com uma filha linda... - acrescentei.

Julie sorriu e me olhou, como nos velhos tempos. Como se tivéssemos quinze anos novamente.

— Eu preciso de você para conseguir consertar as coisas - disse.

— Não precisa - corrigiu - Você precisa parar, pensar e aceitar.

— Aceitar?! O que? Estarmos separadas? Não mesmo.

Julie balançou a cabeça e olhou para baixo num ato de decepção. Me levantei e peguei o diário.

— Eu vou dar um jeito. Vou achá-la, pedir desculpas e vou pedi-la de volta - garanti.

Ao chegar a minha casa voltei a ler ao diário, eu precisava terminar, tinha esperanças que no final teria alguma dica de como achá-la ou fazer com que ela me perdoasse. Faltavam poucas páginas e mais eu lia mais ansiosa eu ficava para ver o que tinha na ultima.

"- Por que não quer eles namorando, Jan? - perguntou Marie no dia seguinte quando estávamos sozinhas.

— Eu só não quero... - resmunguei olhando para o outro lado.

Marie riu baixo adorando a situação e se ajeitou no sofá.

— Não vai me contar? - insistiu.

— Eu... - fiz uma careta - Só porque não...

— Jane... Eu posso não te conhecer tão bem, mas eu sei que é por algum motivo!

— Certo... - cedi - Eles são meus melhores amigos... Se algum deles se magoar, o que vou fazer? Vou ter que escolher um lado, e você também, eu não quero perder ninguém nessa brincadeira - confessei.

— Não é uma brincadeira e você não vai perder ninguém - garantiu sorrindo carinhosamente - Pense assim: Logo que você sair eu vou te levar no melhor encontro que você já teve, você vai escolher o lugar e vamos oficializar nosso namoro. Quem sabe depois podemos sair em casal...

— Eles não são um casal, são Julie e Connor... - balancei a cabeça - Mas aceito o encontro com você.

Marie mordeu os lábios e olhou para baixo.

— Essa foi rápida, já se arrependeu? - perguntei.

— Não! - Marie respirou fundo e sorriu novamente - O que você quiser, Jane. De verdade.

— Prometo não escolher um lugar muito publico ou onde o pessoal da escola frequenta - ela pareceu mais aliviada e sorriu. Eu sabia que teria que ir devagar com Marie, já estava impressionada por ela querer namorar e ainda sair em um encontro.

— Mudando totalmente de assunto. Você recebe sua alta semana que vem, alguns dias antes do Natal, já tem planos do que fazer? - perguntou.

— Na verdade não... - respondi - Eu costumo passar com meu pai, eu cozinho alguma coisa e passamos o dia juntos, não fazendo nada... Vendo filmes natalinos e comendo... Esse ano ele quem provavelmente via ter que cozinha alguma coisa, não vou poder ficar muito de pé, mesmo...

— Eu andei pensando... Vai ter essa ceia na comunidade... - Marie brincava com os dedos enquanto falava - Você e seu pai seriam bem-vindos se quisessem passar o Natal conosco, vai ter bastante comida e nenhum dos dois teria que ter tanto trabalho quanto fazendo o Natal em casa.

— Na igreja? Com você e seus pais? E o resto das pessoas religiosas que vivem com eles? - perguntei tentando achar todo o sentido daquilo.

— Eu sei... Mas você não precisaria ter contato nenhum com meus pais - garantiu - Eu só não quero os dois sozinhos no Natal, principalmente com você assim.

— Nós sempre passamos o Natal sozinhos, Marie.

— Eu sei, eu sei - Marie se encolheu no sofá - Eu só pensei... Meus pais não desconfiariam, tem gente o bastante lá para distrai-los.

Marie queria ajudar, e ela queria minha companhia para seu Natal, imaginei como deveria ser passar todos os anos numa comunidade de adultos e idosos que vivem na igreja e nem devem trocar presentes, não deveria ter muitas companhias.

— Tudo bem. Vou falar com meu pai.

 

Após libertarem meu braço eu pude jogar vídeo game com Marie e me sentir mais livre, mesmo quase não mexendo minhas pernas. Era comum passarmos a tarde jogando e conversando, não tinha muito mais o que fazer, estávamos nos conhecendo muito, e eu estava realmente feliz com isso.

— Eu consigo te vencer mesmo com uma mão ruim - disse rindo.

— Eu estou pegando leve porque você está no soro... - disse Marie me mostrando a língua.

— Eu consigo te vencer com uma mão só - a desafiei.

Marie riu e se ajeitou na cadeira, ela se sentava ao lado da cama numa cadeira que sempre estava ao meu lado.

— Se você trocasse de carinha... Talvez eu tivesse chance! Ensina-me a jogar com um deles - pediu.

— Teken se resume em treino... Basta criar uma energia entre você e seu lutador, utilizando o equilíbrio e a força do adversário para derrubá-lo. Conheça suas vantagens.

— Ou você aperta todos os botões... - zombou.

— É. Você também pode apertar todos os botões - concordei.

Bateram na porta, eram 14h e nós não esperávamos ninguém. Marie se levantou e foi abrir a porta.

— Pam?! - exclamou surpresa. Eu tirei a atenção do videogame e vi Pam do lado de fora a encarando com os olhos arregalados.

— Então é verdade! - disse Pam maravilhada enquanto entrava no quarto. Confusa Marie fechou a porta.

— O que faz aqui? - perguntou Marie.

— Todos na viajem diziam que vocês estavam juntas... Eu precisava confirmar - disse - Vocês estão? - perguntou.

Marie estava pálida, ainda na porta. Eu não tinha o que fazer ali deitada, parecia que a qualquer momento ela desmaiaria e eu não poderia pegá-la.

— Fay disse tantas coisas, eu não estava no refeitório quando tudo aconteceu, mas tantas pessoas contam a mesma história... Então achei que fosse mesmo verdade... E aqui você está! - disse Pam se virando para Marie.

— Todos? - perguntou Marie sem voz com o olhar vago.

Tentei me sentar, mas meus joelhos doíam e me forçaram a deitar novamente, eu não sabia o que dizer, não sabia se confirmava Pam para evitar que Marie falasse no assunto ou mentia e alimentava o medo de Marie.

— Uma pena estarmos de férias, pois queria saber mais sobre o assunto, eu queria ter estado lá também... Nada contra, sabe. Sempre gostei de Jane, espero que você não tenha guardado rancores... - disse me olhando - Mas mesmo assim, acho legal isso, pensando bem, vocês ficam bem juntas.

Pam sempre falou de mais, e não tinha certeza se aquilo era bom por dar tempo para Marie pensar ou ruim por que só a deixava mais sufocada. Finalmente seus olhos encontraram os meus, fiquei feliz por ela não estar tendo um ataque ou coisa parecida. Tentei não demonstrar emoção alguma além de dar apoio a ela. Não queria forçar a ela dizer nada que não quisesse.

Enquanto Pam ainda falava Marie respirou fundo voltando a cor de seu rosto.

— Pam - interrompeu. Pam se virou para Marie com atenção - Sim. Nós estamos namorando, e eu agradeceria muito se você não saísse contanto para a escola toda assim como contaram sobre o refeitório, ou sobre a Jane.

Pam concordou com a cabeça animada e se virou pra mim de novo.

— Sinto muito ter cortado nossa amizade... Como você está? Bem? - perguntou - Já faz um tempão que você está aqui não é...?

— Eu estou bem - respondi - Logo vou receber minha alta.

— Espera. Vocês começaram a namorar na viajem? E o Mica? Você sempre foi Lésbica? - perguntou virando-se para Marie.

Marie gelou, suas mãos tremiam e a palavra lésbica só pareceu piorar mais ainda a situação. Ela estava começando aceitar nosso namoro fazia tão pouco tempo, lutando para não se importar com os outros... Isso só estragaria todo o autocontrole de Marie.

— Sabe, Pam... Nem faz tanto tempo assim... Não tem nada de interessante e empolgante na história, não deu pra aproveitar muita coisa já que eu estou aqui no hospital, sabe? - ergui os ombros lamentando.

— Entendo... Vocês ficam bem juntas - repetiu.

Pam tagarelou sobre mais algumas coisas aleatórias e sobre o jogo pausado na televisão e foi embora um pouco depois. Durante todo aquele dia Marie estava tensa. Mal imaginava o que se passava em sua cabeça. Algumas vezes ela só ficava parada olhando pro nada, outras ficava inquieta.

Preferi não atrapalhá-la, caso não passasse em um dia eu conversaria com ela, mas sufocá-la igual Pam fez não seria a melhor solução.

Pelo menos nós 'ficávamos bem juntas'.

 

— Você esta bem? - perguntei enquanto me trocava. Por fim tive minha alta e poderia ir para casa. Marie me ajudará a arrumar minhas coisas e levar do hospital, mas ela estava distante, desde que Pam havia me visitado e descoberto nosso namoro.

— Eu estou bem - respondeu distraída - Por que pergunta isso?

— Por que você acabou de colocar um saquinho de soro na minha mala... - disse colocando o soro de volta na cama do hospital.

Marie balançou a cabeça e fechou a mala colocando-a no ombro.

— Eu levo - peguei a bolsa em seu ombro, mas Marie a pegou de volta.

— Você não pode carregar peso, eu levo.

— O que você tem? - insisti.

— Nada... Eu só estou pensando - respondeu.

— Em que? No que Pam disse?

Marie concordou com a cabeça e se sentou na cama.

— Está preocupada porque ela sabe? - perguntei

— Todos sabem - corrigiu - E se a noticia chegar nos meus pais? E se... Todos... - Marie ficou pálida e abaixou a cabeça.

— Vai ficar tudo bem - garanti passando a mão em sua cabeça.

— Daqui a dois dias é Natal, depois de uma semana já é Ano Novo e depois as aulas voltam... Todos vão sabe ao nos ver... - sussurrava com a cabeça baixa e olhar vago.

Marie tinha razão, mas não me importava com essas coisas, e eu não sabia o que fazer para ela que se importava... Não sabia como agir, eu só esperava que aquilo não nos separasse ou enlouquecesse ela.

Passamos o resto do dia em casa, assim que escureceu Marie se despediu com receio que meu pai chegasse logo.

— Você ainda nos quer no Natal? - perguntei levando-a na porta.

— Quero sim - disse.

— Mesmo que todos saibam de nós? E se seus pais nos vir juntas?

— Eles já me viram junta com Julie, vai ser a mesma coisa, vai dar tudo certo - prometeu.

Tudo ocorreu bem no Natal, meu pai pareceu bem feliz comendo tudo aquilo e por eu estar com ele, passamos um bom tempo juntos aquela noite, eu e Marie só trocávamos olhares de longe, ela estava sempre fazendo ao que os pais pediam, ajudava os idosos, servia comida e bebida a todos. Foi uma grande festa. Com musica, coral e muita solidariedade.

No final da noite após nos juntarmos na igreja e rezarmos uma missa eu fiquei um pouco sozinha no estacionamento, onde eu podia ver o céu aberto estrelado.

Fiquei lembrando dos últimos momentos antes de desmaiar, era como se tivesse um buraco na minha vida que eu não fazia ideia do que acontecerá.

'Você vai estar sozinha e o outro garoto vai vir atrás de você... Você sabe o que ele quer' lembrava.

Josh...

'E se ela não quiser... Não vai ter problema, vai? Você já fez isso antes' dizia o amigo de Josh.

Como não me lembrava disso antes? Eu fui avisá-la para ela tomar cuidado com o garoto do segundo ano, mas em vez disso desmaiei e voltei apenas duas semanas depois... Que coisas terríveis aquele garoto poderia ter feito com Marie...

— Feliz Natal - disse sua voz doce cortando meus pensamentos.

Suavizei meu rosto e me virei, Marie se aproximava com seu cabelo preso num rabo com uma pequena franja caindo em seu rosto, ela estava com um vestido bege lindo, fazia me lembrar duma deusa grega.

— Feliz Natal - disse de volta.

Marie apoiou-se à grade ao meu lado e olhou para o céu.

— O que está fazendo aqui sozinha? - perguntou observando a lua.

— Só pensando... Colocando tudo em ordem... Foi uma semana um tanto confusa pra mim - disse.

— Estou feliz que tenha vindo!

— Eu também - me virei para Marie - Obrigada por ter nos convidado fez muito bem ao meu pai.

— Espero ter mais Natais assim com você - confessou Marie sorrindo para mim. Seu rosto no luar ficava, se possível, mais lindo. Apenas sorri de volta, não quis arriscar beijá-la.

Eu teria perguntado a ela sobre Josh, se estava tudo bem... Mas não era o momento, era Natal uma comemoração de família que faz você parar pra pensar às vezes nas coisas, mas ainda assim... Não era a hora."


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