The Who escrita por NK Winter


Capítulo 16
Womderwall




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/350923/chapter/16

 — Como foi com Josh? - perguntou Julie séria passando a ponta dos dedos pelo diário - Você nunca disse exatamente como foi... - Julie me olhou com os olhos cerrados.

— Como eu sempre disse: Não aconteceu nada de importante, não tem com o que se preocupar - respondi a olhando pelo canto do olho.

Julie ficou por um tempo me analisando, como sempre, tentando descobrir o que pensamos e o que sentimos. E quase sempre conseguia.

— Se você quer saber mesmo como achar Jane, é bom começar a ser sincera - disse se debruçando sobre a mesa.

Cedi e contei a Julie o que havia acontecido, não com todos os detalhes, mas o suficiente para ela entender.

— Jane não sabe disso - deduziu.

Neguei com a cabeça e continuei olhando pra baixo, envergonhada de mais para olhá-la nos olhos. Aquilo estava indo no rumo que ela queria, mas o que eu tinha a fazer? Eu precisava ver Jane, e o único jeito era entrar na brincadeira de Julie.

— Você conseguiu olhar na cara dela duas semanas depois e dizer...

— É! - interrompi - E foi verdadeiro! Eu estava desesperada, e você lembra disso. No dia anterior que a acharam tiveram que me levar de volta pra cidade pois achavam que eu ia acabar ficando desidratada ou coisa parecida por que eu não bebia, não comia e só chorava.

— Eu admirei a pessoa que você virou após o acidente de Jane - admitiu Julie.

Franzi o cenho sem entender onde ela queria chegar.

— Você ficou todos os dias com Jane no hospital, esperando para que ela acordasse... Mesmo que os médicos não te dessem garantia nenhuma...

Todos os dias após a uma da tarde eu ia ao hospital passar o resto do dia com Jane, mesmo ela desacordada. Nos primeiros dias eram apenas lamentações e pedidos de perdões desesperadores, eu estava me sentindo tão culpada que faria qualquer coisa para trocar de lugar com Jane.

Após os cinco primeiros dias eu fui melhorando, eu passei a conversar com Jane normalmente, esperando que ela pudesse me ouvir... Contava o meu dia, como estava indo as séries que ela assistia, lia as noticias para ela e até jogava um pouco de vídeo game com ela. O que depois me pareceu muito solitário.

Eu sempre soube o que ela gostava de fazer, e acabei ficando fascinada com tudo, apesar de não entender nada aprendi a jogar Zelda! Para a minha surpresa Zelda não era uma garota, é um menino verdinho e seu nome nem ao menos é Zelda... Por que então esse nome para o jogo? De qualquer maneira, eu queria estar junto a ela o tempo todo.

Seu pai estava tão preocupado, ele ia todos os dias no hospital antes do meio dia, era o único horário que ele tinha livre, me sentia tão mal por ele... Não ter com quem desabafar, mas eu não estava pronta para me apresentar ainda. Por isso só ficava lá com Jane da uma da tarde até as sete.

Já havia feito uma semana que Jane estava no hospital ainda desacordada, nada parecia funcionar e apesar dos médicos me dizerem sempre que ela vai acordar quando for a hora e não havia nada o que eu pudesse fazer, eu tinha que tentar... Não podia ficar ali sentada de braços cruzados esperando. Eu estava ficando sem opções, decidi levar meu violão e treinar um pouco, apesar de eu não saber tocar muito bem violão, eu tentava.

No sétimo dia eu estava apenas cansada de tudo, mal dormia a noite, eu tentava tanto... Sem ao menos perceber dormi de bruços na cama de Jane ao seu lado, sentada numa cadeira que eu sempre usava. Acordei quase duas horas depois com o barulho da porta.

— Me desculpa - disse a enfermeira entrando no quarto e fechando a porta.

— Tudo bem - disse bocejando e me arrumando na cadeira.

— Nunca tive a chance de me apresentar - disse a enfermeira se aproximando e erguendo a mão - Sou Becca.

— Marie - apertei sua mão.

Eu já havia visto Becca algumas vezes, era uma enfermeira jovem e bonita, cabelos escuros e longos. Parecia ter não mais do que 25 anos.

— Me desculpa perguntar, mas você é o que dela? - perguntou - Você está aqui todos os dias... Não consegui deixar de imaginar...

— Somos namoradas - respondi sem hesitar e olhei para Jane, quase pude ver o sorriso que se formaria em seu rosto caso estivesse acordada.

— É muito atencioso da sua parte vir aqui todo dia fazer companhia à ela - disse também sorrindo, a ideia de sermos namorada pareceu confirmar sua desconfiança.

Peguei na mão de Jane, gelada como sempre, e a acariciei.

Becca olhou para meu violão atrás de mim e acrescentou.

— E a musica que você sempre toca é linda.

— É a favorita de Jane - disse voltar meu olhar à Becca - Wonderwall.

Julie pegou o diário interrompendo minhas memórias e abriu numa página para lê-lo.

— Aqui... - disse virando o diário pra mim.

"Estava tudo tão frio, e escuro. Eu não conseguia pensar, mas sentia tudo aquilo com tanta intensidade."— lia em voz alta o diário de Jane - "Eu estava com medo, tinha medo de tudo ficar mais frio e sombrio, eu tinha que me concentrar e me manter ali, onde estava, mesmo não sabendo onde era. Havia algo que me ajudava a ficar ali. Era algo tão familiar e calmo, fazia com que o medo não ficasse tão forte quando ela estava por perto."

Olhei para Julie e ela sorriu e gesticulou para que eu continuasse.

"Com o passar do tempo aquilo foi ficando mais claro, pude começar entender que era uma voz, assim que pude identificar sua voz feminina e familiar também percebia outros sons à minha volta. Algumas vezes várias vozes, todas conhecidas, outras vezes apenas uma melodia." Nós, certo? - perguntei a Julie.

Julie concordou com a cabeça.

"A voz foi ficando mais forte, mais próxima e eu pude sentir minha respiração, consegui sentir tudo a minha volta novamente. Marie tocava violão lentamente, não seguia o ritmo, eram apenas dedilhadas sem ânimo nas cordas do violão. Ainda assim, fazia a musica se tornar linda. Levei alguns segundos para conseguir abrir meus olhos, estava tudo tão claro e vai saber quanto tempo estava ali.

Olhei para baixo e eu estava deitada em uma cama coberta por um lençol, era um quarto de hospital, com as paredes brancas e aparelhos ao meu lado. Um dos meus braços estava no soro e o outro enfaixado. Olhei para o lado e Marie estava mesmo ali, tocando violão, sentada em um pequeno sofá no canto do quarto.

— I don't think that anybody feels the way i feel about you know - cantava Marie seguindo com um suspirou alto. Ergueu seus olhos e os encontrou com o meu, num lance mais rápido que pude acompanhar ela se levantou jogando o violão para o lado e se debruçando sobre mim.

— Jane! - disse passando a mão em meu rosto, seus olhos brilhavam e seu sorriso ia de orelha a orelha - Você está bem!

Dei meu melhor sorriso e tentei perguntar.

— Há quanto tempo estou aqui?

— Quase duas semanas - respondeu acariciando meu rosto - Eu fiquei tão preocupada!

— Mas... O que houve exatamente? - perguntei olhando pelo quarto.

— Você bateu a cabeça e teve uma hipotermia... Espera, o médico disse para chamá-lo caso acordasse... - disse a si mesma apertando um botão ao lado da cama.

— Duas semanas...? Só por que cai na neve? E a viajem?

Marie beijou minha testa e se afastou, logo em seguida uma enfermeira bonita entrou no quarto e ao me ver acordada ergueu as sobrancelhas.

— Acordou Senhorita Summer! Vou chamar o médico, está sentido algo? Enjoo, Dores, Calafrios...? - neguei com a cabeça enquanto perguntava.

Assim que o médico chegou à sala pediu para que Marie se retirasse, ela hesitou, mas saiu da sala mesmo assim sem o questionar.

No dia seguinte acordei cedo, sem sono algum, eu aparentemente havia dormido por duas semanas... Assim que a enfermeira entrou no meu quarto perguntei sobre Marie.

— Ela vinha sempre me visitar? - perguntei.

— Todos os dias das uma as sete, sem se atrasar um minuto - respondeu olhando ao relógio - Vocês estão juntas faz tempo?

— J-Juntas? - gaguejei - Quem? Eu e Marie?! N-Nós...

— Ela me contou que vocês namoram - disse confortando-me.

Como se fosse algo para me relaxar, a ultima lembrança que tinha com Marie era 'Quero que saia daqui assim que chegarmos no fim da montanha, sai e não volta.'.

— Contou?

A enfermeira sorriu carinhosamente e se retirou após ligar a televisão.

Aquela queda forçou muito meu joelho, como eu tinha imaginado, eu não podia mexê-lo, então sem forçá-lo, pular, correr e muito menos andar durante uma semana mais. Faltavam poucos dias pro Natal, e aquilo começou a me deixar nervosa e muito ansiosa. Pelo menos o gesso do meu braço eu poderia tirar no final dessa semana.

— O que ficou fazendo aqui sozinha enquanto eu estava desacordada? - perguntei

Marie ergueu os ombros e puxou a cadeira próxima à cama, se ajeito ao meu lado e passo a mão em meu braço naturalmente, como se fizéssemos isso há um ano.

— Li um livro, aprendi a jogar Zelda, assisti Friends desde o primeiro episódio e treinei um pouco meu violão... - respondeu olhando para o sofá onde se encontrava suas coisas.

— Por quê?

— Por quê? - repetiu Marie franzindo o cenho - Porque eu queria estar com você quando acordasse...

— Por que continuou aqui? - insisti - Você deixou bem claro que não queria mais nada...

Marie hesitou e abaixou a cabeça, como se já previsse que isso iria acontecer cedo ou tarde.

— Eu sinto muito por tudo o que eu te disse, de coração. Desde o inicio eu fui uma idiota com você... Só disse coisas insensíveis e não pensei no seu lado. Ter a possibilidade de te perder me fez perceber... Quanta sorte eu tenho e eu não deveria ter deixado você ir, por isso, não vai acontecer de novo.

Marie passou a mão em meu rosto e beijou lentamente meus lábios.

— Então estamos namorando, hã? - perguntei rindo - Me contaram por ai - zombei olhando Marie, mas ela me olhava sorrindo de lado, como não fosse zombaria pra ela. - Espera... Era sério?

Sem graça ergueu os ombros e olhou pra baixo.

— Eu não quero mais ficar longe de você, quero fazer tudo o que fiz essa semana ao seu lado, não posso te perder outra vez - confessou olhando em meus olhos, um grande sorriso se formou em meus lábios e Marie beijou minha bochecha após acariciá-la.

— Eu gostaria de te abraçar, mas não dá muito certo - ergui meu braço esquerdo o máximo que pude, o suficiente para colocar a mão na lateral do corpo de Marie. Ela riu baixo e beijou meu pescoço intercalando beijinhos nos meus lábios.

— Eu fiquei tão preocupada... - sussurrava entre os beijos, subiu aos meus lábios e me beijou lentamente - Nunca mais me assuste desse jeito, ok? - concordei com a cabeça enquanto Marie voltava a beijar meus lábios, sua mão segurou firme na minha nuca e sua testa encostou com a minha - Eu... - mordeu os lábios - Eu te amo de mais, Jane...

Marie voltou a beijar meu pescoço na intenção de esconder seu rosto. Beijei sua cabeça e sussurrei em seu ouvido.

— Te amo.

Após alguns minutos ali alguém bateu na porta.

— Você tem visitas... - disse The Who sorrindo e indo em direção à porta.

— Ron! - exclamei tentando me sentar.

Ron me abraçou forte e retribui deitando minha cabeça em seu ombro.

— Ficamos todos muito preocupados, Jane! Como você está? - perguntou.

— Eu estou bem! - respondi - E como está?

— Com saudades...

Reparei trás de Ron Connor e Julie juntos, franzi o cenho ao ver que estavam de mãos dadas, um silêncio profundo tomou a sala, algo fora do normal. Olhei para Marie procurando entender e ela olhava para baixo.

— Oi, Jane... - disse Julie. Ron foi para o canto próximo a Marie, assim que os dois ficaram à vista se soltaram um do outro - Como você está? - perguntou nervosa passando a mão na cabeça.

— Eu estou bem... - respondi.

— Que bom! Nós estávamos com muitas saudades e preocupados com você! - disse Connor.

Outro silêncio dominou o quarto, eu estava ficando impaciente, mas eu não sabia se deveria perguntar assim de repente. Olhei para Marie mais uma vez procurando um refugio, alguma ajuda.

— Connor... - rugiu Marie entre os dentes.

Julie deu um passo à frente e disse.

— Tem algo que queremos te contar - em seguia olhou para Connor esperando que ele continuasse, mas ele não disse nada - Connor!

— Ah sim... - Connor limpou a garganta - Consegui passar de nível e passei de classe! Sou um Mercenário!

— Parabéns... - disse confusa.

Julie virou zangada para Connor e o bateu no ombro.

— Connor!

— Está bem... Está bem! - passou a mão em seu ombro e murmurou - Na viajem eu e Julie dor...

Julie tampou a boca de Connor e continuou.

— Depois que você voltou pra cidade pra ficar no hospital eu e Connor começamos a nos conhecer melhor... E acabou rolando certas coisas e agora estamos namorando - contou Julie.

— Não! Vocês não estão... - corrigi - Vocês não podem namorar!

— Jane... - suspirou Marie se aproximando.

— Eles... Eles não tem nada a ver, você sabia disso? - perguntei e Marie concordou com a cabeça - E permitiu? Esquece...! - disse olhando para Julie e Connor.

— Não tem o que permitir, Jan... - disse Marie calmamente passando a mão em meu braço."

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me siga nas redes sociais para mais desenhos, informações do meu livro e muito mais ♥ dê apoio ao artista ♥ Obrigado.

Tumblr: nkwiinter.tumblr.com/tagged/thewho
Instagram: nk.wiinter
Twitter: nkwiinter



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Who" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.