The Who escrita por NK Winter


Capítulo 14
Elefante de Neve




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"- Você sabe... Ela disse sobre os garotos irem nos quartos das meninas... - ergui os ombros e bufei, como se fosse besteira.

— Ah. - disse.

Só... Ah.

— Fay disse umas coisas muito ruins...

— Jane - me interrompeu - Eu não acho que você tem que ficar escutando a conversa dos outros, não faça de novo, está bem?

— Mas eu não...

— A gente se fala depois. Fay não falaria nada de mais, você quem deve estar inventando coisas... - disse e foi embora em direção ao seu chalé.

Eu tentei esquecer o que ouvi e aproveitei o resto do meu dia com Connor e Ron. E claro que todas as vezes que via Marie ficava observando para ver se via algum garoto por perto, queria saber de quem se tratava.

Ela não havia negado sobre ele, mas também não deixou a entender que faria algo com alguém. Decidi acreditar nela e confiar no que dizia.

Connor e Ron decidiram fazer um boneco de neve no meio da pista de Snowboard na esperança que alguém acabasse batendo nele. Fizemos um boneco de neve quase do nosso tamanho, ele tinha galhos tortos como braços e pedrinhas como olho. Ron conseguiu uma folha e a cortou para ficar como uma boca malvada.

O boneco sorria em direção à subida, para quem descesse poderia ver seu sorriso maquiavélico e acabasse batendo no monte de neve. Isso divertia eles, mesmo que não funcionasse, já teria sido satisfatório.

Após o almoço ficamos dando voltas pela estação conhecendo melhor o lugar. Conheceram garotas novas e já estavam combinando de se ver a noite.

Parecia que todos teriam um encontro à noite, menos eu. Eu ficaria no meu quarto olhando para a lareira. Não era permitido andar pelas pistas à noite, nem pelas florestas que tinham pela estação, e eram muitas, tudo era cercado por florestas de pinheiros altos e de troncos grandes.

A noite não foi nada diferente do que imaginei, Britney havia saído para uma festinha no quarto de suas amigas e Connor teria saído num encontro assim como Ron.

Eu estava sozinha e entediada olhando o fogo queimar na lareira, eu me distraia jogando pinhas no fogo e vê-las se desmancharem em meio às chamas. Foi ai que decidi ouvir musica no meu celular

Procurei meu celular por toda parte, mas infelizmente não o achei. E então lembrei que havia deixado ele na mesa do café da manhã e Connor o pegou, estava em seu chalé. Sabia que os dois não estariam lá essa hora. Talvez se eu fosse escondida poderia pegá-lo e sair antes que qualquer um me visse.

Sai do chalé pela janela de trás onde dava à floresta, havia alguns seguranças andando pelo corredor dos chalés e que ligavam as alas à todos os lugares, seria arriscado ir por lá.

Fui por entre as arvores com cuidado, pois avisaram que poderiam ter animais nas áreas mais isoladas da estação, como: lobos, veados, alces e no pior das hipóteses ursos.

Consegui chegar ao refeitório que era o que ficava no centro da estação, havia luzes acesas, mas só para espantar os animais, mas por outro lado atraiam muitos insetos. Havia muitas mariposas sobrevoando as luzes. Passei pela parte de fora do refeitório, apesar de pouco iluminado daria pra ver meu movimento de longe.

Passei por trás dos chalés masculinos, eram idêntico aos femininos, foi fácil me perder, lembrava-me do numero do quarto deles, mas eu mal sabia para que lado virar, ainda mais me escondendo. Parei de baixo de uma janela de um dos chalés, precisava saber em qual altura eu estaria para saber se estava perto ou se já tinha passado.

— Cara, conversei com Ashley hoje e já está tudo certo sobre o quarto.

Parei e fiquei de baixo da janela que vinha a voz. De novo. Eu sei que não deveria ouvir a conversa alheia, da outra vez já tinha dado problema, mas Ashley era a companheira de quarto de Marie. Talvez eles estivessem falando sobre a mesma coisa que Fay falava com as outras meninas.

— Amanhã Ashley vem ao meu quarto, seria bom se você saísse e nos deixássemos a sós - disse o primeiro garoto.

— Mas e pra onde eu devo ir? - perguntou o segundo.

— A companheira de Ashley vai estar sozinha no chalé dela, por que você não vai até lá e tenta algo?

— E quem é a companheira dela? - perguntou o segundo.

— A Marie do outro primeiro ano, amiga da Fay e da Pam, vive com aquela garota do cabelo roxo, fiquei sabendo por outras garotas do primeiro ano que ela terminou o namoro e que precisa de um cara de verdade - respondeu o primeiro rindo.

Trinquei os dentes para não fazer barulho, olhei em volta e não havia ninguém, eu poderia simplesmente entrar e bater nos dois sem que percebessem.

— E se ela não quiser... Não vai ter problema, vai? Você já fez isso antes - disse o primeiro.

Eles não fariam...

— Adoro quando elas se fazem de difícil - disse o segundo.

Houve um quebrar de galhos alto próximo a mim e eu gelei, não queria ficar ali para descobrir o que era, corri para o quarto de Connor e resolvi o que tinha que fazer.

A primeira coisa que fiz quando acordei foi procurar Marie, o horário do café da manhã já acabado, então sabia que ela estaria já em alguma atividade.

— Hei, Jane! - chamou Ron de longe.

— Agora não, Ron. Tenho que falar com a Marie - disse.

Ron correu até mim, mas não parei, então teve que acompanhar meus passos.

— Por que a pressa? - perguntou.

— Tenho que falar com ela! - respondi.

— Alguém acertou nosso boneco de neve! Ele está todo destruído! - comemorou Ron.

— Legal, mas você viu Marie?

— Não... Eu...

— Então depois a gente conversa.

Ron me seguia ofegante.

— Vi Julie indo ao bondinho... Se ajudar.

Marie e Julie passavam bastante tempo juntas, talvez elas estivessem no bondinho.

Deixei Ron para trás e fui atrás de Marie. Não me senti mal por ignorá-lo aquela hora, explicaria depois o que tinha acontecido.

Não havia ninguém na fila do bondinho, não poderia saber se elas estariam lá em cima, talvez devesse só esperar onde todos embarcavam e desembarcavam. Fiquei um tempo ali, vendo pessoas irem e virem, mas anda de Marie. Quando olhei ao fundo pude ver uma boina lilás familiar.

Julie então passou pelo meu olhar e se sentou numa das cadeiras do teleférico que ficava alguns metros do bondinho. Aquela boina era de Marie.

Fui até as duas e acompanhei a cadeira enquanto estava ao nível do chão.

— Julie, preciso falar com Marie. Urgente! - pedi.

Julie sabia reconhecer meus olhares, apenas concordou e desceu da cadeira e me deu sua prancha de Snowboard.

— Você vai precisar quando chegar ao final - ofereceu Julie.

Agradeci e me sentei ao lado de Marie.

Marie olhava para trás como se quisesse Julie de volta.

— O que está fazendo aqui? - perguntou confusa - Por que precisava expulsar Julie assim?

— Olha, eu sei que você não gosta disso, mas uns garotos do segundo anos estavam falando sobre...

— Uns garotos do segundo ano?! Esta ouvindo a conversa dos outros de novo?!

Marie suspirou e virou para o outro lado.

— Me escuta... Eu estava na ala masculina...

— Na ala masculina? - me interrompeu - É proibido você ir lá, quando você foi lá?

— Ontem à noite, eu fui procurar...

— Á noite? - perguntou ainda mais incrédula e ainda me interrompendo.

— Eu passei pelo quarto de dois garotos do segundo ano e...

— O que você estava fazendo lá? Não deveria ficar indo lá pra ouvir esse tipo de coisa!

— Me deixa terminar! - gritei.

Havia saído mais alto do que eu esperava. Marie me olhava brava, brava por eu ter gritado com ela e por ter feito o que ela pediu pra não fazer. Mas não é como eu tivesse ido lá procurar os dois.

Marie não me respondeu, ela cruzou os braços e virou o rosto brava, aproveitei seu silêncio e continuei.

— Um deles vai passar a noite com Ashley liberando o seu quarto, você vai estar sozinha e o outro garoto vai vir atrás de você... Você sabe o que ele quer.

Marie virou os olhos e bufou.

— Você é muito infantil - disse.

No momento depois que disse meu coração disparou, não era a intenção dizer aquilo, muito menos daquele jeito. Marie se virou pra mim com os olhos estreitos e disse firme.

— Quero que saia daqui assim que chegarmos no fim da montanha, sai e não volta.

Engoli a seco. Marie dizia aquilo olhando fixamente em meus olhos, e pareceu que era aquilo mesmo que ela queria, depois do que eu disse eu não tive forças para pedir desculpas nem para explicar direito.

Eu conversaria com ela depois, ou talvez esperasse a noite e ficasse a sua disposição caso precisasse. Assim que o garoto do segundo ano tentasse algo com ela que ela não quisesse eu poderia ajudá-la... Assim tudo ficaria bem entre nós de novo.

— O que está fazendo? - perguntou Marie.

Eu estava colocando meus pés na bota da prancha de Snowboard e a arrumando.

— Você não pode pular daqui, é muito alto! - interviu ela.

Apenas ignorei o que ela dizia e me coloquei na ponta da cadeira.

— Jane!

Olhei para baixo e me senti tonta. Realmente era alto de mais, mas o fim da montanha estava longe de mais para aquele silencio pesado. Respirei fundo pegando coragem e pulei.”

Julie e eu estávamos no teleférico apesar de não me agradar andar de Snowboard Julie amava, e iria fazer companhia a ela pelo menos a metade do caminho.

— Julie, preciso falar com Marie. Urgente! - pediu Jane.

Virei-me, nem sabia quando que Jane havia aparecido. Julie apenas a olhou e desceu da cadeira do teleférico, simples assim. Ela entregou sua prancha de Snowboard e disse:

— Você vai precisar quando chegar ao final.

Jane a pegou e sentou-se ao meu lado, Julie me olhava e erguia os ombros como se não pudesse fazer nada. Nada daquilo fazia sentido.

— O que está fazendo aqui? - perguntei confusa - Por que precisava expulsar Julie assim?

— Olha, eu sei que você não gosta disso, mas uns garotos do segundo anos estavam falando sobre...

— Uns garotos do segundo ano?! Esta ouvindo a conversa dos outros de novo?!

Eu não gostava do jeito que as coisas estavam indo, depois que Julie ficou sabendo ficou cada vez mais difícil controlar o meu lado que era contra tudo isso, qualquer coisinha que Jane faria poderia me fazer estourar.

E ela ter ouvido a conversa de Fay com outras meninas não ajudou nada, tive que me afastar para não acabar machucando as duas.

— Me escuta... Eu estava na ala masculina...

— Na ala masculina? - interrompi - É proibido você ir lá, quando você foi lá?

— Ontem à noite, eu fui procurar...

— Á noite?!

— Eu passei pelo quarto de dois garotos do segundo ano e...

— O que você estava fazendo lá? Não deveria ficar indo lá pra ouvir esse tipo de coisa!

— Me deixa terminar! - gritou.

Pude até achar que aquilo havia ecoado pelas montanhas, me encolhi no meu canto da cadeira e não a respondi, eu não queria começar aquilo de novo, íamos brigar e alguém ia acabar jogando a outra montanha abaixo.

— Um deles vai passar a noite com Ashley liberando o seu quarto, você vai estar sozinha e o outro garoto vai vir atrás de você... Você sabe o que ele quer.

Virei os olhos. Parecia só uma desculpa para alguém que ficou procurando motivos para sentir ciúmes e ficar no meu pé. Parte de mim não queria acreditar que aquilo era só desculpa. Mas já era a segunda vez que ela me vinha com papinho. Eu podia sentir a raiva subindo pela minha garganta, era difícil engolir e ignorar. Tudo que eu queria era deixar tudo aquilo passar e esquecer.

— Você é muito infantil - disse ela.

Fechei minhas mãos em punho segurando a explosão, eu poderia gritar com ela e dizer tudo que eu quisesse naquele momento, eu poderia chorar ou bater nela. Mas apenas a olhei fixamente e disse.

— Quero que saia daqui assim que chegarmos no fim da montanha, sai e não volta.

Jane me olhava arrependida, mas aquilo só me fazia pior. Ela então começou a colocar a prancha de Snowboard no pé.

— O que está fazendo? - perguntei - Você não pode pular daqui, é muito alto!

Ela apenas ignorou olhando para baixo. Eu estava irritada querendo explodir, mas não queria que ela se machucasse, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa Jane pulou.

Jane caiu no chão de neve forte, mas continuou sem olhar para trás.

"A queda foi rápida. Fria.

Assim que pisei no chão senti o impacto correndo pelas minhas pernas, eu quase cai, mas o orgulho era tanto que me segurei firme, deslizei por alguns metros a baixo ainda com dor, meus joelhos pulsavam e davam choques hora sim hora não.

Havia algumas pessoas descendo a pista, estava muito longe do final, foi então que fui para o inicio da floresta, não era densa de inicio, havia só algumas árvores.

Eu poderia estar chorando pela dor em minhas pernas ou por Marie, não dava pra saber, mas descer a pista numa prancha de Snowboard numa velocidade alta era difícil enxergar algo chorando. Eram como pequenas agulhas em minha bochecha.

Estava extremamente frio e o vento parecia cortar meu rosto. Eu não estava pronta pra descer aquilo, porém antes que eu pudesse parar para respirar e limpar o rosto algo grande e forte, quase como um elefante bateu no meu ombro.

Eu não podia ver nada, ultima coisa que me lembro foi ver o céu.

Minha visão estava embasada por causa das lágrimas, minha cabeça doía pelo impacto, e minhas pernas pela queda. Meu ombro também não estava tão bem assim, a batida tinha sido forte.

Tudo doía.

O céu branco como a própria neve brilhava entre as árvores.

E isso foi a ultima coisa que me lembro.


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