Eu estava lutando contra tudo para conseguir não me importar com os amigos de Jane sabendo sobre nós, sabia que isso era importante a ela e eu queria poder ficar com ela mais vezes, queria poder vê-la em publico, mas eu simplesmente não conseguia, já foi um grande a avanço conseguir contar para Connor quando ele nos viu.

Eu achava que a qualquer segundo eu poderia acabar dando um ataque nos nervos e discutindo com ela de novo, eu estava cansada de me segurar, de me controlar toda vez que a via no corredor. E agora quando a via no corredor junto a seus amigos mal conseguia imaginar o que eles estariam pensando.

No primeiro intervalo que tivemos fomos ao quarto andar, não ficar de amasso como sempre, só conversar.

— Como Ron reagiu ontem? - perguntei.

— Ele ficou feliz - contou Jane rindo - Obrigada por confiar neles, eu me sinto muito melhor conversando nós quatro sem precisar ficar escondendo isso. Não que eu fique falando de nós duas, mas eu me sinto melhor.

— Nós quatro? - perguntei - Você, os dois e mais quem?

— J-Julie... Mas não fui eu quem contei a ela.

— Julie sabe?! - perguntei aumentando meu tom de voz.

Hesitei.

Eu deixei que os dois amigos de Jane soubessem pois sabia que não teria contato com eles, não me importaria tanto com o que pensassem, mas Julie era minha melhor amiga e ela estava sempre comigo, nas aulas, em casa, nos fim de semanas, como que ela poderia saber e não ter me dito nada.

— Como que você contou para a minha melhor amiga sem dizer nada?!

— Ela já sabia! - disse Jane - Qual é! Achei que você não fosse se importa deles saberem.

— Eu me importo, não era para você falar com Julie - me levantei dando as costas para Jane.

Ela me puxou pelo braço me colocando contra o seu corpo. Eu estava tão brava, mas não pude evitar que meu corpo enfraquecesse com seu toque. Minha respiração falhou por um segundo, mas me recompus e me soltei dela me afastando.

— Ela é minha melhor amiga - disse mais uma vez.

— Eu não faria nada para te deixar chateada, não faria nada nas suas costas que você não aceitaria...

A parte de mim que se irritava sempre com Jane se acalmou e pude pensar racionalmente, quando ela me puxou contra seu corpo algo estranho aconteceu, tudo pareceu normal, como se eu não me importasse mais com o que ninguém pensava.

Balancei a cabeça para que Jane esquecesse isso, assim como eu gostaria de fazer. Mais uma vez era só não conversarmos sobre isso de novo, nem com ela nem com Julie.

Jane se aproximou novamente e me beijou, eu já estava fraca do que ela acabará de me fazer, e a única coisa que consegui fazer foi me entregar por completo.

"Dezembro estava cada dia mais perto e a viajem também, as horas se passavam rápido e antes que eu percebesse já era dia 30 de novembro. Marie e eu havíamos combinado de nos encontrar algumas vezes escondido, infelizmente a viajem seria longa e nós não nos veríamos por um dia inteiro.

Havia uma ala apenas para as meninas e outra apenas para os meninos e era proibida a entrada do outro sexo nas alas determinadas. O que não seria um problema para eu e Marie.

Os chalés teriam duas pessoas, sempre da mesma sala, mas não éramos nós que escolhíamos, e eu só saberia quem ficaria comigo no chalé na hora. Eu estava rezando para que eu não ficasse com alguma menina chata. Única coisa que sabia é que ela seria do outro terceiro ano.

De malas feitas eu estava pronta para aproveitar meus feriados de inverno.

Connor e Ron também estavam muito animados, eles já haviam combinado tantas guerras e corridas entre si, tantas apostas e coisas do gênero. Sempre rolava apostas entre eles, mas no final das contas só contavam vitória e sem nenhum premio adicional.

Havia seis ônibus para levar todos à estação de esqui. Lá era enorme, tinham Spa, várias pistas de esqui e Snowboard, bondinhos para passeios e teleférico para descer depois com as pranchas de Snowboard, tinham piscinas aquecidas e saunas. Era como num filme.

Era 1 de Dezembro de 2002, todos estavam tão animados por viajar. Logo que todos da minha sala entraram no ônibus não durou muito tempo para que virasse bagunça. Connor e Ron se sentaram no ultimo banco e eu me sentei na frente deles para poder ficar virada para trás conversando com eles, nós trocaríamos com o passar da viajem, caso ficássemos acordados.

Na primeira hora os garotos da nossa sala zoavam por todo o ônibus cantavam e faziam brincadeiras. Todos conversavam alto e faziam planos para quando chegassem na estação.

Já na terceira hora o ônibus estava num silêncio mortal, todos dormiram, eu estava ouvindo musica no meu celular, Connor havia dormido no banco da frente e Ron dormia no meu colo. Eu podia ver na fresta aberta da janela que o céu estava alaranjado e se misturava com o azul, era lindo. O sol se punha e a luz dele iluminava todo o horizonte o colorindo.

Após sete ou oito horas de viajem chegamos à estação de esqui, todos reclamavam o quão demorava e o quão estavam cansados. Com toda a razão. Não era nada confortável dormi naquele ônibus lotado com alguém roncando no seu colo.

Eu mesma não tinha dormido nada durante toda a viajem. Felizmente a bateria do meu celular aguentou mais de cinco horas de viajem.

Eu poderia ter ido procurar Marie ou Julie para perguntar se a viagem delas teria sido melhor que a minha, mas estava tão cansada que apenas me despedi de Connor e Ron e fui pegar o numero do meu quarto.

Meu chalé ficava no inicio da ala feminina, então não foi difícil achá-lo.

— Oi - disse ao entrar e cumprimentar Britney.

— Oi - cumprimentou de voltar apertando minha mão.

Eu não tinha amizade com Britney, mas ela não me parecia chata ou irritante. Ela era uma japonesa de um metro e setenta com cabelos lisos. Ela era muito bonita e simpática.

Após uma ótima noite de sono levantei cedo e fui conhecer o lugar. Era enorme e muito fácil de se perder lá. Era lindo. Já cedo me lembro de que havia pessoas pedindo para mudar de quarto ou com problemas com as malas.

Esperei para procurar Marie e Julie depois do café da manhã. Connor acordava tão cedo quanto eu, então nos encontramos numa mesa para comer. Ron acordava só na hora do almoço, então não nos demos o trabalho de esperá-lo.

Sei que é errado ouvir conversa alheia, mas enquanto nós comíamos não pude evitar ouvir a conversa de algumas meninas do primeiro ano na mesa de trás.

Reconheci algumas apenas de vista, não saberia o nome delas, mas sei que Fay e Victoria estavam entre elas.

— Finalmente ele tomou uma iniciativa! - disse uma delas.

— Ele gosta dela desde que começaram as aulas, ele é um frouxo... - disse Victoria.

— E depois que ela terminou o namoro era o momento! - acrescentou Fay - Mas essa viajem vai dar o que falar, é tão fácil entrar na ala masculina, é só combinar de trocarmos de quarto e sem dúvida ela vai deixar de ser virgem!

— Ela é? - perguntou outra incrédula.

— Ela nunca fala no assunto... E viu o jeito que ela ficou perto dele? Ela não sabia onde se enfiar - sussurrou Fay.

As garotas deram risadinhas.

— Não sei o que ele viu na Marie... - disse outra garota rindo.

Minha mão fechou em punho tão forte, tive que me segurar para não me levantar e dar na cara de nenhuma delas.

— Acreditam que ela nem deu corda para ele beijá-la? Eles conversaram quase a viajem toda...

— Jane... - sussurrou Connor colocando sua mão por cima da minha.

Olhei para ele e abri minha mão, uma colher de plástico toda quebrada caiu em cima da mesa, olhei minha mão e estava toda arranhada pelas pontas que tinham na colher.

— O que foi? - perguntou.

Balancei a cabeça e me levantei.

— Eu vou pro meu chalé... Não estou me sentindo bem - disse.

Connor concordou com a cabeça e recolheu a colher quebrada.

Os chalés eram bem afastados do refeitório, era um caminho de pedras cobertas por neve e cercado por árvores e arbustos. Os chalés eram feitos de madeira e todos tinham aquecedores, se não seria impossível dormir lá tão afastado.

No caminho para a ala feminina vi Marie de longe, fui até ela e a chamei.

— Oi, Jane - disse sorrindo e mordendo o lábio inferior.

— Oi! - disse com um sorriso de orelha a orelha, eu queria poder abraçá-la, mas mesmo não tento ninguém em volta não queria arriscar e chateá-la - Como foi a viajem? - perguntei.

— Foi numa boa - respondeu olhando em volta e balançando o pé.

— Numa boa? Só? - insisti.

— Ah, você sabe, oito horas de viajem, dormi bastante - respondeu.

— É... - concordei.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Eu não sabia o que dizer, não tinha porque eu ficar com ciúmes dela, ela poderia ficar com quem quisesse, mas não gostava do jeito que Fay havia falado dela, ela era pra ser sua amiga, certo?

— Eu estava lá no refeitório... - disse - E ouvi umas meninas do primeiro ano conversando.

— Ouviu? Como assim? Sai por ai ouvindo conversa dos outros? - perguntou Marie rindo.

— Elas estavam sentadas atrás de mim - expliquei - Fay disse umas coisas sobre vocês... Eu achei que...

— Fay? - perguntou.

— É... - eu tentava falar, mas mais eu tentava mais eu me enrolava - Ela disse sobre o garoto.

— Que garoto? - perguntou Marie mais confusa que eu.

— Do ônibus, um menino que gosta de você e queria ficar com você... - enquanto eu falava eu podia sentir minhas bochechas corarem apesar do frio.

— Jane... - Marie tentou me interromper.

— Você sabe... Ela disse sobre os garotos irem aos quartos das meninas... - ergui os ombros e bufei, como se fosse besteira.

— Ah - disse.

Só... Ah.

— Fay disse umas coisas muito ruins...

— Jane - me interrompeu - Eu não acho que você tem que ficar escutando a conversa dos outros, não faça de novo, está bem?

— Mas eu não...

— A gente se fala depois. Fay não falaria nada de mais, você quem deve estar imaginando coisas... - disse e foi embora em direção ao seu chalé."