The Who escrita por NK Winter


Capítulo 11
J




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"- O nome dele é Mica, tem dezoito anos, estuda medicina na cidade e mora próximo à cidade também. Tem dois irmãos, um mais velho e o outro mais novo, seus pais são bem sucedidos e trabalham com politica.

Bufei.

— Como se esse cara fosse tão perfeito assim - zombei.

Julie me olhou e sorrio.

— Continuando... Ele tem uma casa na praia e um apartamento aqui onde está morando atualmente, ele herdou uma fazenda também do outro lado do país.

— Qual é?! Não tem nenhuma informação dele que seja humana? Que seja mais possível. Está na cara que esse garoto está mentindo.

Julie ajeitou o notebook em seu colo e suspirou.

— Jane... Metade do que te digo vem da Marie e a outra metade da internet... Independente do que ele for, ela não o ama.

— Ela só tem 14 anos! Ela não pode namorar alguém com 18! - disse.

— Você faz 18 quando mesmo? - perguntou - Daqui a um mês?

— Ele á está na faculdade... É diferente.

Julie riu e fechou o notebook e se levantou.

— Vamos, daqui a pouco o intervalo acaba - disse.

Todo o intervalo, e tempo, que tínhamos nos encontrávamos no quarto andar para conversar, ou só para ficar ali juntas. As pessoas já estavam começando a esquecer sobre a minha história, mas Marie ainda não queria minha amizade. Nem ninguém do primeiro ano.

Julie desceu para sua sala e esperei algum tempo para poder descer também, assim que desci dei um encontrão com alguém na escada e acabei derrubando nós dois.

Quando olhei era Marie, meus olhos se iluminaram, mas logo fechei a cara.

— Desculpa.

Me levantei e a ajudei a se levantar.

— Jane... - Marie me olhava, como se não me vesse fazia meses.

E era quase isso mesmo.

— Com licença - pedi seguindo em frente.

— Espera - disse Marie.

Parei, mas não me virei.

Marie ficou em silêncio por um tempo, ela gaguejou um pouco e então disse.

— Sinto sua falta.

Com essas palavras ela conseguiu fazer meu coração se despedaçar, como sempre minha vontade era abraçá-la e nunca mais deixá-la ir. Mas o que eu fiz foi olhá-la por cima do ombro e ignorar seu comentário.

— Eu sei que o que eu fiz foi errado... - continuou.

Eu não queria virar as costas e ir embora, era o que eu deveria ter feito depois de tudo o que ela me disse, mas eu tinha medo que se eu fizesse isso, ela nunca mais conseguiria ter coragem de falar comigo de novo.

Virei-me para ela e esperei que dissesse mais.

— Eu... - gaguejou - Eu só tenho tanto medo - disse.

Marie se aproximou devagar e encolheu o corpo.

— Me perdoa pelo o que eu te disse e te fiz... Mas eu não consigo - ela me olhava e esperava que dissesse algo.

Eu queria poder dizer algo, mas nada que eu pensava era bom o suficiente, e também tinha receio que se dissesse minha voz falhasse. Ela se aproximou e passou a mão em meu rosto.

Meu coração batia forte, mas tentei continuar com a mesma postura. Seus dedos acariciavam a maça do meu rosto e não pude evitar fechar os olhos, seu carinho era tão bom. Tinha sentido saudades de seu toque.

Ainda com os olhos fechados senti seus lábios beijando o canto de minha boca. Tive que lutar contra a minha vontade de beijá-la. Quando ela se afastou abri os olhos novamente, olhamos por um tempo uma para a outra em completo silêncio e então ela se foi."

— Onde está Julie? - perguntou Fay pra mim.

— Não sei, ela tem sumido nos intervalos ultimamente... - olhei em volta procurando Julie.

— Talvez ela tenha arrumado um namorado secreto e esteja no quarto andar - deduziu Fay.

Como sempre pensando em garotos e namoro.

— Vou procurá-la - disse eu.

Subi até o quarto andar e ao chegar lá esbarrei com alguém na escada, foi tão rápido que não pude evitar cair, imaginei que fosse Julie voltando para o intervalo.

Era Jane.

Meu coração acelerou e meus olhos brilharam, era tão bom vê-la de novo e de tão perto.

— Desculpa. - murmurou se levantando e vindo me ajudar.

— Jane... - a chamei.

Eu precisava falar algo, precisava conversar com ela de novo. Sobre qualquer coisa.

— Com licença - disse ela indo embora.

Quando que estaríamos sozinhas novamente? Eu nunca mais conseguiria falar com ela.

— Espera - disse.

Jane parou, mas não se virou pra mim o que me deixou realmente chateada.

— Sinto sua falta - foi a única coisa que consegui dizer a ela, tudo engasgava em minha garganta. Eu me odiava por me sentir assim perto dela, ela era só uma garota. Apesar da distancia nada havia mudado eu ainda adorava ficar perto dela - Eu sei que o que eu fiz foi errado - continuei.

Jane se virou e me olhou, meu corpo fraquejou, eu não sabia se deveria continuar, e nem sabia como continuar.

— Eu... Eu só tenho tanto medo - disse.

Ela continuava apenas me olhando, eu precisava que ela dissesse algo, ou fizesse algo, pelo menos pra eu saber que ela estava me ouvindo. Eu não ligava se ela brigasse comigo ou me xingasse, precisava ouvi-la.

Aproximei-me esperando que dissesse algo, mas foi em vão.

— Me perdoa pelo o que eu te disse e te fiz... Mas eu não consigo.

Arrisquei-me e passei a mão em seu rosto, meu corpo tremia e tinha medo que ela percebesse. Ela parecia tão brava, me lembrava de quando acordei deitada em seu peito, seus olhos eram tão mais felizes.

Eu queria poder abraçá-la e ficar com ela pra sempre, mas eu não podia, eu não conseguia. Não era o certo aquilo. Eu estava tão confusa, e esperava para o fim de seu terceiro ano, por que talvez sem vê-la todo dia eu a esquecesse.

Jane fechou os olhos e abaixou um pouco a cabeça, me aproximei dela para beijá-la, mas eu não pude. Beijei a lateral de sua boca e fui embora.

"Numa manhã quando chegava da escola vi de longe que Connor estava no portão, pude ver que era ele antes mesmo de atravessar a rua, ele tem ombros largos e seu cabelo cumprido inconfundível, mas ele não estava sozinho, havia alguém com ele.

Assim que me aproximei pude ver que era a garota do primeiro ano de cabelos loiros cacheados, ela sempre usava a saia da escola com meia 3/4 e uma sapatilha preta, era quase como uma boneca.

Seu lencinho em volta do pescoço de florzinha chamava a atenção já que tínhamos que usar uniforme.

O que acabava sendo engraçado porque Connor era todo roqueiro, com braceletes, anéis grandes e barba. Era mais como se ela fosse uma pequena princesa e ele seu Guarda-costas.

Podia ver que eles estavam ficando, estavam abraçados e trocando beijinhos, por isso preferi nem incomodar, imaginei como Emily ficaria caso passasse por ai, ela tinha uma quedinha por ele desde... Desde o primeiro ano, que fiquei sabendo.

Pelo menos alguém estava se dando bem.

— Ela está me deixando louco - disse Connor na sala de aula ao encontrar eu e Ron sentados conversando.

— Ah! Seu safadinho - zombou Ron com um sorriso malicioso - Já rolou?

— Não estou falando disso... - disse Connor - Ela é tão grudenta e carente, eu não sei se eu aguento mais tempo com ela!

— Achei que estivesse tudo bem com vocês - deduzi - Vi vocês lá no portão ficando.

— Você viu?! Por que não me falou? - perguntou Ron decepcionado - Eu queria ter visto! - lamentou.

— Você precisa de ajuda - disse.

— Mas vocês realmente fizeram? - perguntou Ron mais uma vez.

— Qual o problema de vocês?! - me virei para Connor - Por que você não quer mais ficar com ela? - perguntei.

— Ela é grudenta, não quero mais nada.

— Como vocês conseguem? Quanta sensibilidade... - revirei os olhos

— Cara, se eu fosse vocês eu aproveitava mais um pouco, aproveita enquanto você está livre, não tem mais ninguém que você realmente goste... - sugeriu Ron.

— Talvez eu faça isso... - concordou pensando.

— Eu desisto - disse eu - Eu tento ser a sensível daqui, ter compaixão, ajudar vocês com concelhos amorosos, mas tudo bem.

Ron me olhou e riu.

— Concelhos amorosos? Sensível? Sério? Você? Pfft! Até parece... - disse rindo.

Connor o acompanhou com suas gargalhadas.

— Hei!

— Nós dois juntos somos mais amorosos do que você - disse Connor.

— Está bem! – concordei irônica.

— Eu estou ficando com uma garota de outra escola, e você? – desafiou Ron – Connor está com a fuinha dele!

Eu hesitei.

— Eu não preciso de uma...”

Já era Novembro e o frio começava a se aproximar, meu humor não poderia ser melhor. E estava feliz e o frio me fazia bem, sempre gostei dessa época de fim de ano, natal e neve.

Eu estava com Connor e Ron do lado de fora do pátio onde geralmente ficava um pouco vazio. E por minha surpresa Julie se aproximou de nós e se sentou em nossa mesa.

— Julie? - olhei em volta - O que está fazendo aqui? - perguntei.

— Vim conversar - disse simpática.

— Ahm... Julie, esses são Connor e Ron - os apresentei já que nenhum dos alunos do primeiro se aproximou deles dois.

— Oi - Julie os cumprimentou e se virou para mim, mas antes que ela pudesse dizer algo a interrompi, saberia que ela falaria de Marie, e eles não poderiam saber de nós, mesmo sem amizade tinha prometido isso a ela.

— Eu vou pegar um suco, quer ir comigo? - perguntei.

— Claro - concordou se levantando comigo.

Assim que nos afastamos contei.

— Connor e Ron não sabem que fiquei com Marie, sabem que gosto dela, mas não que rolou algo e muito menos que ela me deu um fora. Ela pediu pra manter em segredo e foi o que eu fiz - disse - Só você que lê mentes sabe, então evita de falar dela perto deles.

— Tudo bem - disse Julie se virando para olhar os dois - Sabe que dia é amanha?

— Sei lá... Quinta?

— É aniversário da Marie - disse.

— Sério mesmo? - perguntei pegando uma garrafinha de suco na máquina.

— Vai fazer algo, certo?

— O que espera que eu faça? Dê um presente a ela? - zombei - Chegue nela e de um abraço de feliz aniversário?

Julie cruzou os braços advertindo minha brincadeira.

— Ela não quer nem me ver na escola, por que ela iria querer que eu desse um presente a ela? E mesmo se desse... Eu não a conheço a ponto de saber o que lhe dar - disse.

— Talvez algo que toda garota goste... - Julie sorriu e piscou pra mim.

Julie saiu pelo corredor e me deixou ali sozinha com a máquina de bebidas. Seus mistérios já estavam me dando nos nervos, estava realmente cansada de Julie me incentivar a fazer algo sem motivos sendo que não teria futuro."

Em meu aniversário de 2002 acordei cedo para ir à escola e havia um café da manhã todo especial para mim. Com um bilhete escrito:

'Feliz aniversário, querida. Amamos você. Beijos mamãe e papai'

Na escola meus amigos me abraçaram e me desejaram um feliz aniversário e os professores também, foi um dia feliz como qualquer outro, brincamos e ameaçaram jogar ovos em mim, mas no intervalo eu via Jane de longe e desejava que ela soubesse que era meu aniversário. Queria que ela viesse me abraçar, mesmo que escondido.

O que eu sabia que não aconteceria, principalmente depois de termos nos afastado.

— Vamos começar abrindo na página 325 do livro de Biologia, por favor - dizia o professor ao começar sua aula.

Olhei de baixo da minha mesa mas estava vazia, era onde sempre deixava o meu livro, me virei para trás e perguntei à Julie.

— Meu livro está com você? - perguntei.

— Não... Só o meu - respondeu.

— Que estranho - disse procurando meu livro pela minha mochila - Acho que deixei no armário.

Levantei-me e pedi ao professor para ir ao armário buscá-lo.

O corredor estava vazio, todos estavam em aula. Fui até meu armário e o abri, e me surpreendi ao dar de cara com um pequeno buque de flores.

Peguei as flores e as cheirei era uma combinação de flores brancas e roxas com algumas folhas. Eram lindas. Junto a elas havia um cartãozinho, o peguei e abri o pequeno papel dobrado ao meio.

'J'

Era apenas um papel em branco com uma letra J desenhada cheia de curvas em seu meio. E eu sabia de quem era o tal J.

Naquele dia Jane não foi falar comigo, não trocamos olhares por mais que eu tenha tentado, a procurei na saída, mas ainda assim... Nada. Era como se estivesse me evitando...

Levantei-me da cama e fui até o armário, peguei a velha caixa na ultima prateleira e a coloquei na cama do meu quarto. Revirei a caixa cheias de objetos e papeis, não demorou para achar um papel em especial que procurava.

Um papelzinho amarelado nas pontas com um J desenhado em seu meio, quase pude sentir o cheiro das flores nele, um sorriso surgiu em meu rosto. E depois de tanto tempo tive vontade de vê-la.

Suas lembranças começara a ativar minha memória, eu quem achava que não me lembrava de meu colegial comecei a me lembrar graças ao diário de Jane. Tudo se encaixava, os momentos, as frases. Menos por uma coisa.

Jane sempre foi tão na dela, não falava o que pensava e o que sentia, ler seu diário era como conhecer um novo mundo, reviver o passado e mudar totalmente o presente.


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Notas finais do capítulo

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