Assim que coloquei os pés em casa, soltei o ar que estive prendendo. Eu nem tinha percebido mas estava toda trêmula. Me joguei no sofá e tirei os sapatos, logo Draco fez o mesmo.

— Sabe, isso foi loucura. - Eu suspirei ao ver ele dar de ombros. - Mas... - Sorri e me aconcheguei em seu colo. Em poucos segundos já estávamos nos beijando.

— Hermione? - A voz grave veio da cozinha. Dei um tapa na minha própria testa pela minha própria estupidez. Eu tinha esquecido totalmente que Harry e Gina estariam aqui.

— Sou eu, Harry!

— O que ele está fazendo aqui? - Draco perguntou baixinho enquanto eu levantava e ia até a cozinha. Draco me seguiu. Meus amigos estavam de costas para a porta.

— O que aconteceu? Não tem nem uma hora que você saiu. - Gina virou o rosto e sorriu. - Oh! Isso explica muita coisa.

Harry virou o rosto também e seus olhos arregalaram. Eu estava quase rindo disso tudo.

— A festa não estava muito... boa. - Draco respondeu por mim.

— Claro que não estava! - Eu rolei os olhos. - Era um jantar de noivado seu e da Parkinson! - Ele fez uma careta e eu soltei uma risadinha.

— O que? - Harry e Gina exasperaram-se.

— Longa história. - Eu ri.

— Nós não estamos com pressa. - Gina apontou curiosa.

Respirei fundo e puxei Draco pela mão pra gente sentar na mesa junto deles.

— Por onde eu começo? - Perguntei para mim mesma retoricamente.

— Pelo começo. - Harry murmurou impaciente. Não conhecia esse lado fofoqueiro do meu amigo. Ri sozinha do meu pensamento e recebi olhares de interrogação dos três.

— Tudo bem. - Respirei fundo. - O jantar era pra que Draco pudesse pedir a mão de Parkinson publicamente. Mas, ao invés de pedir a mão dela, ele pediu a minha. - Eu olhei para ele e sorri. Não conseguia me conter.

— Você fez isso? - Harry perguntou num sussurro agitado, olhando para Draco. O loiro assentiu.

— Na frente de todo mundo? - Gina também estava surpresa mas empolgada.

— Sim, Weasley.

— Vocês vão se casar? - Harry perguntou cauteloso, como se estivesse tentando decifrar uma runa muito difícil em sua cabeça.

— Achei que você fosse mais inteligente, Potter. - Draco respondeu irônico e estalou a língua.

— Sim, Harry, nós vamos nos casar. - Esclareci.

— E seu pai aceitou isso numa boa? - Harry perguntou de novo, parecendo perdido por uns momentos.

— Na verdade, eu acho que estou deserdado. - Draco passou a mão pelos cabelos com um sorriso torto.

Ouvimos Gina suspirar e olhamos para ela. Ela estava chorando baixinho.

— Por que está chorando? - Harry perguntou preocupado.

— Porque.. tudo isso é tão... - Ela deu uma fungada. - lindo!

Eu me levantei para abraçar Gina e nós duas começamos a chorar. Os dois homens se entreolharam sem saber o que fazer.

— Ah, Hermione? - Draco chamou incerto. Eu levantei os olhos vermelhos para ele. Ele se aproximou de mim e eu soltei Gina. - Por favor, para de chorar. Eu odeio ver você chorando.

— Desculpe. - Limpei as lágrimas. - Eu ando tão emotiva. - Suspirei.

Olhei em volta e percebi que Gina já tinha se recomposto e estava sentada no seu lugar. Deixei Draco me levar de volta para o meu.

— Mas e o que vai acontecer com a Parkinson? - Gina perguntou desdenhosa.

— A Parkinson que se exploda! - Bufei e eles se assustaram com minha atitude.

— Mas ela não estava... - Harry não terminou a frase.

— Não. - Draco balançou a cabeça. - Tudo armação.

— Que vaca! - Gina bufou também.

— Tudo bem, ela já recebeu o que merece. Uma humilhação em público dessas e ela arruinou o nome da família dela até as próximas 5 gerações. E tenha certeza que Rita Skeeter vai fazer o favor de anunciar isso para todo o restante do mundo mágico amanhã.

Gemi em frustração. Amanhã todo mundo saberia.

— Ah, droga!

— É, "ah, droga" mesmo. Amanhã seremos o casal mais famoso da Inglaterra.

Eu soltei um bocejo e olhei pros meus amigos.

— Bom, acho melhor irmos Harry. Eles devem estar cansados. - Harry olhou mais uma vez pra mim e levantou, meio a contra gosto.

— Eu estou bem, Harry. - Assegurei.

— Ela está em boas mãos. - Gina olhou para Draco e sorriu. Harry ainda estava carrancudo, mas eu não esperaria tratamento melhor.

Nos despedimos dele e eu me virei para Draco.

— Ouch! - Ele reclamou quando eu estapeei seu braço. - Ficou maluca mulher?

— Onde esteve ontem o dia inteiro? - Perguntei com raiva. Ele pareceu surpreso com a pergunta.

— Em casa.

— Por que não respondeu minhas cartas?

— Cartas? - Ele parecia confuso.

— Não me faça de idiota! Te mandei uma meia dúzia de cartas ontem e não me respondeu nenhuma!

Ele pareceu pensar por um momento.

— Isso está cheirando à Lúcio Malfoy. - Eu olhei desconfiada.

— Deixa para lá então. Vamos dormir? Estou exausta.

— Só dormir? - Ele perguntou. Joguei um dos travesseiros nele.

— Só dormir, Draco Malfoy.

**

Cinco dias depois...

— Sr Malfoy, por favor nos dê uma declaração sobre o casamento de vocês. - Gritou um repórter. Draco bufou e empurrou o homem do nosso caminho.

Quando chegamos na entrada principal do Ministério, Draco nos aparatou. Quase uma semana depois e eles ainda insistiam nisso. E o pior de tudo é que se torna impossível não ficar estressada. Aí eu e Draco vamos para casa e relaxamos, se é que me entende.

— Não aguento mais isso. - Murmurei irritada.

— Eu sei. Por isso trouxe você para um lugar especial.

Eu desgrudei o rosto do seu peito e olhei em volta. Nós estávamos em um jardim. Um lindo jardim. Eu suspirei em contentamento. Ele sempre sabia o que fazer para eu me sentir bem.

— Venha comigo. - Ele pediu. Eu segurei sua mão e nós começamos a caminhar.

O lugar era lindo mesmo. O sol ainda estava bem lá no céu, o que só tornava a paisagem ainda mais linda. Nos aproximamos de algumas árvores que pareciam esconder uma clareira. Assim que ultrapassamos essas árvores, eu engasguei.

Eu engasguei porque a clareira não estava vazia. Longe disso. Tinham várias cadeiras organizadas em fileiras, assim como um altar e um tapete vermelho. E muitas flores. Minha surpresa foi maior ao ver todos os meus amigos mais próximos ali, junto com meus pais.

— Draco, o que.. - Fui impedida de terminar por uma ruiva que surgiu sabe lá da onde.

— Vamos Mione, você precisa ficar linda para o grande dia.

Eu simplesmente não tinha palavras. Draco já tinha se distanciado antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa. Gina me arrastou para uma tenda que tinha próxima dali.

Em pouquíssimo tempo tinha pelo menos umas três pessoas em cima de mim. Uma fazia o cabelo, a outra as unhas e Gina fazia a maquiagem. Maquiagem essa que ia ser desperdiçada pois já estava querendo chorar.

Magia era uma coisa muito conveniente mesmo. Em menos de vinte minutos eu já estava pronta. Gina entrou na tenda com o vestido na mão. Eu suspirei. Era o vestido da minha mãe. A própria entrou logo atrás da ruiva.

— Mãe! - Eu corri para abraçá-la. Fazia um longo tempo desde que eu a tinha visto.

— Quando ia me contar sobre seu casamento? - Ela perguntou com reprovação. Depois virou-se para o outro lado e jogou as mãos para o alto. - Minha filha está grávida, vai se casar e eu nem sabia de nada!

Eu me senti culpada por não ter contado nada a meus pais desde que essa loucura tinha começado mas não havia tido tempo de pensar nisso.

— Desculpe mãe. - Pedi, realmente culpada.

— Ah filha, sem problemas! Só desejo que seja feliz. - Ela respondeu com a voz embargada.

— Ah, mãe! - Eu a abracei de novo e sorri. - Agora me ajudem a colocar meu vestido.

Elas me ajudaram e eu notei que o vestido ficara perfeito.

— Você está parecida comigo no dia do meu casamento. - E minha mãe caiu no choro.

— Mione, como você já tem algo velho, eu queria te oferecer algo emprestado.

Gina me mostrou um lindo broche prateado.

— Foi da minha mãe e ela queria que você usasse. É uma herança de família. E você é da família.

O que eu fiz para merecer pessoas tão maravilhosas na minha vida? Sim, eu já estava chorando a tempos. Ela colocou o broche no vestido e sorriu pra mim.

— E agora você precisa de algo novo. - Meu pai disse da entrada da tenda. Eu corri para abraçá-lo também. - Eu comprei esse colar pra lhe dar no seu aniversário, mas acredito que hoje seria o dia ideal.

— Obrigada pai!

Obrigada Merlin pela magia, ou já estaria com a maquiagem toda borrada.

— Vou anunciar que a noiva está pronta. - Gina saiu e levou minha mãe.

— Filha, eu estou muito feliz por você. Draco é um cara legal e sei que ele vai cuidar muito bem de você, porque se ele não cuidar ele será um bruxo morto! - Eu ri da ameaça de meu pai, fazendo-me lembrar porque o amava tanto.

Eu tinha tantas perguntas para fazer para o meu futuro marido nesse momento que nem podia enumerar todas elas.

— Obrigada por isso pai, amo você.

— Também amo você, filha! - Ele me deu um abraço e me estendeu a mão. - Está pronta?

— Sim. - Peguei o buquê de flores azuis e dei o braço para o meu pai.

Quando a marcha nupcial começou a tocar, senti a ficha cair. Eu estava me casando. Me casando com o homem que eu amava. O homem que tinha feito tudo isso por mim. Lágrimas involuntárias começaram a rolar pelas minhas bochechas.

Eu e meu pai entramos na clareira e todos nos olharam. Todos que eu amava estavam ali. Meus pais, meus melhores amigos, minha segunda família de cabelos ruivos e até alguns professores de Hogwarts. Eu não pude evitar ofegar quando olhei para o altar.

O sol estava se pondo nas árvores altas da clareira, logo atrás do altar. O brilho dourado do sol estava diretamente em cima de Draco. Eu nunca tinha visto cena tão linda quanto aquela. Ele parecia um anjo. Seus cabelos platinados brilhavam com a luz e seus olhos estavam cravados em mim. Mas nada disso era tão lindo quanto o sorriso dele pra mim. Era tão sincero e espontâneo que encheu meu peito de alegria. Eu olhei em seus olhos e fui sugada pela intensidade deles. Estavam tão claros e brilhantes que o azul sobressaía no cinza.

Eu quase quis correr diretamente pros seus braços mas eu mantive meu caminhar lento, acompanhada de meu pai. Eu não ouvia a música, eu não ouvia os elogios quando passava pelas fileiras de pessoas, eu não via ninguém além dele. Ele era meu foco.

Finalmente chegamos no altar. Meu pai acenou para Draco, me deu um beijo na bochecha e foi se sentar ao lado de minha mãe.

Draco entrelaçou nossas mãos sem desviar o olhar do meu. Nós dois estávamos hipnotizados.

— Você está linda. - Ele sussurrou para mim. Eu não tinha palavras para descrevê-lo e sem dúvidas "lindo" não fazia jus a tamanha beleza. Fomos interrompidos pelo pigarro do juiz que dava início a cerimônia.

— Senhoras e Senhores, nós estamos reunidos aqui hoje, para celebrar o casamento de Hermione Jean Granger e Draco Black Malfoy.

— Senhor Malfoy e Senhorita Granger, é de livre e espontânea vontade e de todo coração que pretendem fazê-lo?

— Sim.

— Sim.

— Vocês estão decididos a amar-se e respeitar-se ao longo de toda sua vida?

— Sim.

— Sim.

— Estão dispostos a receberem amorosamente os filhos como um dom e a educá-los segundo as leis do Mundo Mágico? - Draco colocou uma das mãos na minha barriga.

— Sim.

— Sim.

— Uma vez que é vosso propósito contrair o matrimônio, unam as mãos direitas e levantem suas varinhas.

— Eu, Draco, recebo-te como minha esposa e prometo ser fiel, te amar e te respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossa vida. - Um longo fio de prata saiu da varinha dele ao dizer essas palavras e envolveu nossas mãos.

Eu não conseguia controlar mais o choro. Minha voz estava quase inaudível.

— Eu, Hermione, recebo-te como meu esposo e prometo ser fiel, te amar e te respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, - Fiz uma pausa para tentar controlar o choro e fazer minha voz mais forte. - todos os dias de nossa vida.

O mesmo fio de prata saiu da minha varinha e envolveu nossas mãos. Percebi momentos depois que uma aliança dourada tinha envolvido nossos dedos da mão esquerda.

— Com o poder investido em mim pelo Ministério da Magia. Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Era isso. Eu estava casada com Draco. Eu era oficialmente Hermione Granger Malfoy. Abracei meu marido pelo pescoço e nós nos beijamos. Ouvi ao fundo os aplausos e assovios.

Nos separamos momentos depois e sorrimos um para o outro.

— Eu tenho certeza que eu sou a mulher mais feliz desse mundo. - Sussurrei para ele no espaço entre nós.

— Ótimo. Era tudo que eu queria para você hoje. - Ele deu de ombros fingindo indiferença.

— Você é terrível e eu te amo por isso.

Ele gargalhou e eu olhei questionadora.

— Se alguém tivesse dito que eu me casaria com você a alguns anos atrás eu teria lhe azarado por falar besteira.

— Muito engraçado, Malfoy! - Repreendi.

— Ah, você faria a mesma coisa. Mas quem se importa com o passado? Eu te amo e amarei daqui pra frente.

— Espero que esteja certo disso.

— Nunca estive tão certo na minha vida.

Em algum lugar da Mansão Malfoy...

— Bastardo! - Lúcio gritou quando viu o nome de seu filho ser apagado da Árvore Genealógica dos Malfoy da mesma forma que Andrômeda tinha sido apagada da Árvore Genealógica dos Black quando tinha se casado com Ted Tonks.

Estava feito. Ele tinha se casado com a sangue-ruim e não havia nada que Lúcio poderia fazer. Draco Malfoy estava oficialmente deserdado. Não que ele se importasse com isso.