Minhas mãos tremiam levemente quando me sentei na mesa do restaurante bruxo que ficava próximo ao ministério. Tinha escolhido uma mesa mais distante possível de todos de forma que ninguém pudesse ouvir a conversa que eu teria com Gina. Eu tinha ficado tão ansiosa com esse almoço que tinha chegado uns bons minutos mais cedo. Chamei o garçom e pedi que me trouxesse um chá.

Enquanto esperava ele voltar com o meu pedido, desci minhas mãos até a minha barriga. Era imperceptível à vista, mas ao toque era outra história. Eu podia sentir a pequena saliência em meu abdômen e isso me fazia sentir medo. O futuro daquela criança era tão incerto. O meu próprio futuro era tão incerto...

— Hermione? - A voz impaciente de Gina me tirou dos meus devaneios depressivos. Levantei o olhar pra ela mas o dela caiu sobre as mãos que ainda acariciavam minha barriga. Compreensão passou pelos olhos da minha melhor amiga mas ela continuou em silêncio.

— Oi Gina. - Sorri levemente e ela retribuiu.

Ela não estava brava, isso já era um ótimo começo! O garçom chegou com meu chá e Gina pediu uma xícara de café. Parece que nenhuma das duas tinha estômago pra comer antes daquela conversa.

— Então? - Ela perguntou quando eu continuei em silêncio. Como eu começaria uma conversa dessas? Respirei fundo, tentando reunir a coragem de quando saí de casa mais cedo.

— Eu não sei como começar isso... Eu... - Ela me observou calmamente, indicando que não tinha pressa. Suspirei. - Você sabe o quanto eu e Draco nos tornamos amigos ultimamente, certo?

A ruiva assentiu e riu. Como ela não saberia? Ela e Malfoy tinham estampado toda a primeira página do Profeta Diário quando foram vistos juntos na festa da Mansão Malfoy.

— Talvez tenha algo além de amizade... entre nós. - Murmurei incerta e abaixei a cabeça, com medo da reação dela mas não houve qualquer indício de que ela iria gritar comigo, então continuei. - E um dia, bem, nós... você sabe. - Fiquei vermelha momentaneamente e tropecei nas palavras.

— Entendo. - Ela falou com um ar de riso e eu olhei pra ela surpresa.

— Você não está com raiva por causa de Rony? - Perguntei incerta.

— Hermione, Rony já não é o mesmo a tanto tempo. Ele não parece mais meu irmão e sei que você também acha isso. Lógico que não concordo com você tendo traído ele, foi terrivelmente errado sim mas inevitável. - Ela suspirou e seus olhos caíram de novo pra mão que permanecia inconscientemente na minha barriga. - Quantos meses? - Ela sussurrou.

— Quase três. - Sorri fracamente e ela me acompanhou.

— Malfoy sabe? - Ela perguntou curiosa.

— Sim. Na verdade ele sabe desde o primeiro mês e tem me ajudado.

— Isso é bom. - Eu assenti. - E o que vocês pretendem fazer?

— Não sabemos ainda mas seja o que for, vai ser uma loucura.

— Sem dúvidas! - Gina riu. - E como Rony reagiu a isso?

Então contei todo o episódio de ontem, omitindo a parte da agressão física, essa era uma parte da história que eu queria que morresse comigo embora eu sabia que se dependesse de Draco, ele colocaria aquilo na primeira página do Profeta Diário.

— Bom, todos nós sabemos como Rony é e que ele não poderia ter agido diferente. Você sabe que eu acho que ele não tem um cérebro.

— Todos achamos! - Eu afirmei e nós rimos. O clima ficando muito mais leve, deixando a seriedade da situação que nos levou até ali pra trás. Eu quase suspirei de alívio.

Finalmente nós pedimos algo pra comer e continuamos a conversar animadamente sobre a criança que eu esperava. Ela concordou com Draco de que seria uma menina. Segundo ela, conseguia sentir a aura mágica da criança.

— Tive uma ideia! - Quase gritei quando aquilo passou pela minha mente. Gina me olhou meio assustada mas logo depois seu olhar mudou pra curiosidade. - Você vai me ajudar a arrumar o quarto dela!

Os olhos da ruiva saltaram das órbitas enquanto ela me olhava alegremente. Ela abriu um sorriso tão cheio de dentes que eu tive que acompanhar. Era tão incrível ter o apoio da minha melhor amiga!

— É claro que vou! Eu vou ser a madrinha e ela vai ser muito mimada!

— Obrigada. - Sorri, feliz. - Nos encontramos amanhã? Quero mostrar o quarto. Draco foi lá na semana passada e pintou as paredes!

— Vocês estão realmente apaixonados não? - Ela perguntou divertida. Senti meu rosto esquentar e vi Gina rir um pouco.

— Sim. - Respondi um pouco constrangida.

— Bom, o que posso dizer? Espero que vocês dois... vocês três, sejam muito felizes!

Simplesmente levantei e abracei minha melhor amiga. Senti as lágrimas escorrerem por meu rosto e nem me incomodei em secá-las. Gina retribuiu o abraço com o mesmo entusiasmo.

— Obrigada por ficar do meu lado! - Minha voz saiu trêmula e abafada em meio aos cabelos ruivos dela.

— Por que eu não ficaria? Você sempre esteve do meu lado e eu sempre estarei do seu.

Nos separamos sorrindo e eu rapidamente limpei meu rosto molhado.

— Desculpe o choro, você sabe, estou muito emotiva por causa da gravidez, é tipo uma TPM que dura nove meses. - Eu ri da minha constatação. - Mas e como tá o Harry?

— Está ótimo! Ele não para de dizer que sente saudades de você. Acho que você deveria aparecer no Grimmauld Place qualquer dia desses e... contar pra ele. - Ela soou incerta na última parte.

Eu podia sentir o medo correndo por minhas veias. Eu já podia ver Harry me repreendendo e nossa discussão passando pela minha cabeça. Percebendo meu estado de espírito, ela segurou minha mão.

— Sei que está com medo mas precisa fazer isso, se ele souber depois por outra pessoa vai ser muito pior. Coragem grifinória, Hermione!

— Fácil falar... - Sussurrei com desgosto e ela só fez rir.

**

Eu estava na porta dos Parkinson. Eu terminaria com Pansy ainda hoje. E ficaria com Hermione não importa o que tivéssemos que enfrentar e nós teríamos nossa filha juntos.

Bati na porta e esperei. Poucos segundos depois a porta abriu. O elfo doméstico da família deixou que eu entrasse. Inquietamente, andei até o quarto de Pansy no final do corredor.

— Só mais um pouco e você se livra dela. - Sussurrei pra mim mesmo.

Bati na porta do quarto e entrei. Pansy me olhou assustada mas logo correu em minha direção e se jogou no meu pescoço, tentando me beijar. Me desvencilhei de seus braços e andei na direção oposta a ela.

— Que bom te ver aqui, amor! - Ela sentou na cama e sorriu pra mim. - Eu tenho uma ótima notícia pra te dar.

Ela voltou a levantar e parou na minha frente. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, ela soltou:

— Eu estou grávida, Draco! Nós vamos ter um filho!