Tive uma longa semana de trabalho. Rony se desculpou pelo seu acesso de fúria do outro dia e eu decidi que era melhor perdoar e deixar pra lá. Por algum motivo ele tinha mudado seu comportamento e estava mais parecido com o antigo Rony. E eu estaria amando isso tudo, se minha mente não tivesse constantemente preenchida por um loiro sonserino com o qual eu teria um filho… Ou uma filha, como ele tinha quase certeza que seria.

   Fui bruscamente tirada de meus pensamentos quando a porta da minha sala abriu e eu vi Rony passar por ela.

   - Vamos sair pra jantar hoje! - Ele disse sorridente. Tentei retribuir com o mesmo entusiasmo.

   - Acho ótimo, estava mesmo precisando relaxar...

   - Será um encontro duplo, se assim podemos dizer. - Ele me interrompeu e continuou falando. Arqueei uma sobrancelha totalmente confusa, sem ter certeza do que ele realmente queria dizer com aquilo.

   - Harry e Gina também vão? - Perguntei achando essa a única explicação plausível pro que ele dissera.

   - Não, chamei Malfoy e Parkinson. Já que vocês são tão amigos decidi que seria uma boa ideia todos nós nos conhecermos melhor.

   Abri e fechei a boca incontáveis vezes sem conseguir dizer nada. Percebi que Rony esperava alguma reação minha então me forcei a sorrir como se tivesse adorado à ideia.

   - Vai ser fantástico! - Falei com a voz meio estrangulada.

   - A melhor parte ainda está por vir... - Ele me olhou com um sorriso totalmente desconhecido no rosto, parecia quase maldoso, mas talvez fosse só minha imaginação já que o sorriso sumiu dando lugar a apenas um leve levantar de lábios. Eu ainda não tinha decidido se queria ouvir a "melhor parte" da história quando ele se aproximou de mim e falou.

   - Vamos a um restaurante trouxa! Parece que tem um restaurante que Draco sempre leva a Pansy pra jantar, parece que é um restaurante de comida italiana... Não é incrível? Achei que seria ótimo já que você gosta tanto dessas coisas trouxas. - Ele deu de ombros.

   Senti meu coração bater mais rápido. Eu havia levado Draco a um restaurante italiano trouxa. Ele não levaria ela lá, levaria? Fechei os olhos e tentei me concentrar em Rony.

   - Gosto. - Respondi. - Mas talvez não esteja me sentindo muito bem pra comer comida italiana hoje. - Falei tentando me livrar desse jantar.

   - Nada disso! Já está tudo combinado. Nós vamos e ponto final. Agora eu preciso trabalhar! Até mais tarde. - Ele me enlaçou pela cintura e beijou meus lábios. Tentei a todo custo corresponder da melhor forma possível e ele pareceu não sentir diferença.

   Assim que ele saiu, eu me joguei de volta em minha cadeira. Senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto e as limpei com raiva. Me sentia uma completa idiota por estar chorando por causa de algo tão insignificante. É lógico que ele sempre a levava pra jantar, ela era sua namorada!

   Levei minhas mãos até meu ventre e acariciei minha barriga. Esse gesto já tinha virado algo costumeiro quando eu estava sozinha. 

   Depois de longas horas sentada naquela cadeira, me levantei totalmente exausta e louca pra ir pra casa tomar um banho relaxante e dormir, mas me lembrei do jantar idiota que Rony marcou. Suspirei frustrada e saí da sala vestindo meu casaco e carregando a bolsa na mão.

   Me despedi de alguns colegas de trabalho pelo caminho até o saguão do Ministério e acabei esbarrando em Rony. 

   - Não esqueça Mione, às 19 horas estarei na sua casa pra irmos nos encontrar com nossos novos amigos. - Me limitei a assentir e me despedi dele também.

   Fui até uma das lareiras do Ministério e me lancei nas chamas verdes dizendo pra onde queria ir. Segundos depois já estava de pé na sala de casa. Tinha evitado aparatar, pois sempre que o fazia sentia enjoos, acho que o bebê não gostava muito de aparatar. Ri enquanto acariciava minha barriga pela vigésima vez naquele dia.

   Joguei a bolsa e o casaco em cima do sofá e fui até o banheiro. Coloquei a banheira pra encher e joguei alguns sais de banho, eu precisava mesmo relaxar.

   Voltei pra sala e me joguei no sofá chutando os sapatos pra longe. Me espreguicei e bocejei percebendo que estava totalmente cansada. Queria poder deitar e dormir, esquecer Rony, Pansy, esse jantar idiota e Draco... 

   "Por que Merlin faz isso comigo?" pensei, rindo sem humor. "Por que logo o Draco?”.

   Era inútil dizer que não estava perdidamente apaixonada pelo meu ex-inimigo. Assim como era inútil dizer que nós ficaríamos juntos sem se importar com que os outros vão dizer. Eu me importaria! O que meus amigos vão dizer quando souberem que carrego um filho de Draco dentro de mim? O que Rony vai dizer quando souber disso? 

   Eu não devia me permitir ficar sozinha, pois só tinha pensamentos desesperadores e isso só fazia meu humor piorar. Suspirei pesadamente e caminhei para o banheiro. No caminho pra lá olhei no relógio e vi que tinha pouco mais de uma hora pra Rony aparecer.

   Me despi lentamente e entrei na banheira. Submergi na água deixando apenas a cabeça de fora e fechando os olhos. Meus músculos foram relaxando e meus pensamentos também. Boa parte do cansaço pesou no meu corpo, mas eu continuei ali. Quando a água já estava quase fria, saí me enrolando na toalha. Tinha passado 40 minutos na banheira e nem tinha percebido. 

   Corri pro meu armário e o abri. Comecei a mexer nas roupas em busca de algo que estivesse a fim de usar. Depois de muito procurar, encontrei um vestido que nunca havia usado, minha mãe havia me dado de presente de natal. Ele era azul-marinho e simples, com alças largas. O vesti e achei que era perfeito pra ocasião, peguei uma jaqueta e coloquei por cima. Coloquei meus sapatos de salto favoritos pretos e passei uma leve maquiagem no rosto. Soltei os cabelos e simplesmente deixei-os caírem um pouco bagunçados ao longo das minhas costas.

   Olhei no relógio de novo e percebi que havia me arrumado em tempo recorde. Sentei no sofá pra esperar que Rony aparecesse, mas assim que me sentei, lembrei do quarto que havia pintado com Draco quando ele veio aqui em casa dizer... Deixei os pensamentos morrerem por ali. Sua voz ainda ecoava em minha cabeça.

   - Eu amo você! 

   Eu nunca tinha me sentido tão feliz e triste ao mesmo tempo quando ouvi aquelas palavras saírem de sua boca. Feliz por saber que eu não sentia nada sozinha e triste por saber que nunca poderíamos ficar juntos em paz. Seria como mudar a ordem natural das coisas.

   Abri a porta do quarto e passei a admirar a parede pintada de rosa.

   - Será que você é uma menininha? Uma linda menininha? - Falei repetindo o gesto de acariciar minha barriga. 

   Me assustei quando ouvi o barulho da campainha ressoar pelo apartamento e tornei a fechar a porta rapidamente. Fui até a porta e a abri já sabendo quem era.

   - Vamos? - Ele perguntou. Ele estava lindo. Calça jeans, blusa cinza e um blusão jeans por cima. Sorri pra ele.

   - Vamos. - Segurei em seu braço e nós aparatamos no mesmo beco onde eu e Draco tínhamos aparatado da outra vez. Assim que entramos na rua, vi o restaurante e do outro lado à boate que fomos e bebemos e depois... Balancei a cabeça mandando esses pensamentos pra longe e acompanhei Rony até a recepção.

   - Temos amigos nos esperando. - Ele disse pra recepcionista. Senti o tom falso quando ele disse a palavra "amigos", mas ignorei. A mulher logo nos levou onde os outros dois estavam sentados.

   - Oi. - Rony disse assim que nós chegamos à mesa. Como num filme em câmera lenta, vi Draco levantar a cabeça e nossos olhares se cruzarem.

   Se eu havia dito que Rony estava lindo, eu simplesmente não tinha palavras pra descrever Draco. Usava uma calça jeans escura, uma blusa azul e um blazer simples e preto. Tive que reprimir um suspiro quando ele sorriu pra mim. Tentei voltar ao mundo à minha volta e percebi que Pansy e Rony esperava que eu falasse alguma coisa.

   - Oi. - Disse simplesmente e me sentei, Rony fez o mesmo.

   A mesa permaneceu num silêncio constrangedor até Pansy quebrá-lo. 

   - Que tal um vinho? - Rony concordou imediatamente, Draco deu de ombros e eu apenas assenti.

   Ela chamou o garçom e pediu o vinho, poucos minutos depois ele voltou e encheu nossas taças.

    - E então, sobre o que vocês gostam de conversar? - Rony perguntou olhando de mim pra Draco.

    - Nós conversamos muito sobre trabalho. - Eu disse. Óbvio que era mentira, a última coisa de que falávamos era trabalho. - Mas falamos sobre muitas outras coisas também. - Evitei o olhar de Draco e tomei um gole do vinho.

   Mais silêncio.

   - Acho melhor pedirmos algo pra comer. - Draco falou.

   Todos nós pedimos o mesmo prato: Espaguete. Simples e gostoso.

   Enquanto não chegava os nossos pedidos, ficamos conversando sobre trivialidades e coisas inúteis. Eu respondia a perguntas monossilabicamente, mas às vezes Pansy dizia coisas que me irritavam e eu retrucava com entusiasmo.

   A comida chegou e nós comemos em silêncio. Eu estava extremamente desconfortável naquela mesa. A cada vez que Rony colocava a mão em minha perna, braço ou simplesmente me tocava, Draco me olhava carrancudo. Comigo não era diferente. Aquela nojenta da Parkinson simplesmente não largava do pescoço dele, parecia que eles tinham nascido grudados, tipo irmãos siameses. Bufei irritada quando ela o beijou pela milésima vez naquela mesa.

   Já na sobremesa, fui pega de surpresa pelas palavras de Rony.

   - Eu te amo, sabia? - A cor do meu rosto sumiu e minha respiração cessou. Senti o olhar de todos em mim esperando alguma resposta. Abri e fechei a boca várias vezes, mas não conseguia formular alguma coisa coerente. Rony já me olhava nervoso, seus olhos transpareciam mágoa. Suspirei baixinho e fechei os olhos.

   - Eu também te amo. - Disse tão baixo que se ele não tivesse tão perto, simplesmente não teria ouvido.

   - Não precisa ter vergonha de expressar seus sentimentos, Mione. - Ele me beijou com uma voracidade e eu apenas me deixei ser levada.

   Me separei do beijo mas não tive coragem de encará-lo. Sabia que sua expressão não seria nada agradável.

   - Ai que lindinhos. Tá vendo amor? Você devia ser fofo assim comigo também! - Pansy falou e eu senti meu sangue correr mais rápido nas veias. Eu poderia torturá-la com um Crucio ali mesmo, mas mantive meu controle.

   - Acho que já está tarde, melhor irmos Pansy. - Ouvi a voz de Draco falar rapidamente. Finalmente olhei pro seu rosto, mas ele não me olhava. Sabia que tinha feito besteira, mas o que eu diria? "Obrigada, Rony"? Ou "Que lindinho! Você é mesmo um fofo"? Eu não queria magoar Rony apesar de tudo.

   - Mas já amor? Agora que a noite tava ficando boa! - Ela falou divertida.

   - Terminamos nossa noite lá em casa, que tal? - Ele disse ferino, olhando nos meus olhos.

   Abaixei os olhos e sequei uma única lágrima que caiu sem minha permissão. Sabia que ele havia feito aquilo de propósito, apenas pra me magoar.

   Eles se despediram e saíram. Pansy ainda sorria divertida quando saiu pela porta do restaurante.

   - Acho melhor irmos também né? - Rony disse sorridente. Eu apenas assenti.