Com o passar dos dias, as coisas entre mim e Edward ficavam mais fáceis e mais difíceis. Mais fáceis porque tudo entre nós se resolvia facilmente; e mais difíceis porque nossos pais não colaboravam, ou melhor, colaboravam demais entre si.

No dia seguinte ao almoço na casa dos pais de Edward, nós fomos na casa dos meus pais. Eles ficaram felizes, e houveram gritos animados da minha mãe, e resmungos satisfeitos do meu pai. E só.

E era esse só que me preocupava. Eles, os quatro, Esme, Renée, Carlisle e Charlie, estavam quietos demais. Acho que eles são animados demais para ficarem tão... tão... parados.

Então, depois de alguns dias, Edward começou a ficar quieto demais também. Como se todos ali compartilhassem um segredo que eu não podia fazer parte. Eu fiquei na minha, fingindo que não percebia nada. 

Isso até Alice, Jasper, Emmett e Rosalie tornarem parte disso.

Mas eu não podia pensar muito nisso. Afinal, amanha era meu aniversário. Eu sempre ficava acordada até 01:30, como uma tradição, só porque eu nasci 01:11. Eu achava legal, era uma coisa minha e não "obrigava" ninguém a participar. 

Às vezes eu fazia um bolo, ou comprava um cupcake, ou comprava um muffin no starbucks. Mas era sempre uma comemoração. Eu assistia um filme, ou lia um livro, ou fazia doces. Eu pensava no ano que tive e no que estava vindo. 

Era como minha própria comemoração de ano novo. 

Hoje ia ser um pouco diferente. Eu estava deitada na minha cama vestindo um pijama de calor, com o ar-condicionado ligado e um edredom enorme me cobrindo. Eu tinha uma barra de chocolate na mesinha ao lado, junto com uma lata de coca. A televisão estava ligada em algum show de alguém. A voz suave da cantora me deixava ligada com seu ritmo agitado. 

Eram 00:49. O show estava acabando, assim como a coca que eu não tive paciência de esperar dar o horário para tomar. 

Mas tinha mais. E eu levantei, do jeito que estava, e fui até a cozinha. Arrepiei com ar frio do quarto e agradeci pelos outros aparelhos estarem desligados. Abri a geladeira peguei duas latinhas para levar para o quarto.

Eu aumentei os graus do ar e voltei para minha cama.

Na hora exata em que meu despertador tocava 01:10, um minuto antes dos meus 27 anos completos, a campainha tocou. E eu fiquei irritada. 

Que porteiro estúpido. 

Levantei de qualquer jeito, o shorts do meu pijama colado, minha blusa escura até o meio da minha barriga, meu cabelo preso num coque frouxo, e fui até a porta com a minha barra de chocolate na mão.

Abri a barra e dei uma mordida. E, só então, a porta.

O coro de gritos que ouvi foi tão alto, que eu aposto que acordou os moradores dos outros dois apartamentos do andar. E disseram o que eu pensava sarcasticamente:

"Feliz aniversário, Bella."

Foi chocante, eu juro.

Um flash brilhou em meus olhos e eu pisquei para poder enxergar. Dois braços familiares tomaram minha cintura e, logo, os lábios que acompanhavam os braços tomaram os meus.

Minhas mãos foram para o cabelo dele e meu coração acelerou.

- Queria ser o primeiro a isso, meu amor. - Edward disse quando nos separamos. - Parabéns.

- Puta que pariu. - Uma voz, e um tapa. - Ai. Desculpa, mãe, é que... Agora eu entendo porque Edward gosta da Bellinha. - Corei. - Ele é gostosa. - Outro tapa. - Car... - Tapa.

- É melhor calar a boca, Sr Emmett. - Isso veio de Rosalie.

Eu ri, envergonhada. 

Escancarei a porta para deixar todos entrarem e, à medida que o faziam, me abraçavam e desejavam felicidades. As nove pessoas que vinham escondendo algo de mim entraram em casa, completamente a vontade com minhas vestimentas. Mas só uma delas tinha aquele brilho quase selvagem para cima de mim. A mais importante.

E todos falavam ao mesmo tempo e riam de alguma coisa. Eu pedi licença para me trocar e coloquei um shorts jeans customizado junto com uma blusa escrito Princess. 

Antes que eu chegasse na sala, os braços do meu namorado estavam em volta de mim. Ele me olhou da cabeça aos pés, que estavam descalços, e sorriu. 

- Minha princesa. - Ele disse meio possessivo. Eu ri. 

- E de quem mais seria?

Ele me beijou e, por alguns segundos, esqueci de onde estava, de quem estava na minha sala, esqueci até meu nome. Mas acabou. Porque um ser necessitado de morte decidiu aparecer.

- Pare de pegar sua gostosa e a traga para sala, seu egoísta. - Isso veio de Emmett. Nós rimos e fomos para lá.

Uma coisa que eu não havia percebido quando todos entraram é que eles tinham chegado com coisas na mão, exceto, talvez, a câmera de Alice, que quase havia cegado meus olhos. Mas agora minha mesa de centro estava lotada de diferentes doces. As balas fini e minha barra de chocolate era o que estava mais perto do... BOLO DE PRESTÍGIO.

Minha boca abriu. Meus olhos brilharam. Risadas podiam ser ouvidas. Braços sentidos. Afagos apreciados. E mais uma foto. Mas nenhuma sensação se comparava a de ter todos aqueles doces para mim. Talvez uma: a de Edward me beijando.

Todo mundo deve pensar: "Nossa, então você deve ser uma obesa." E eu respondo: "Não, eu corro aos domingos."

Nos sentamos nos sofás, todos conversando animadamente como se não fosse 01:25 da manha.

As conversas nunca se fragmentaram, mas o tumulto era certo.

- Mas, diga-nos, Bella, qual foi o tamanho da surpresa? - Isso veio de Carlisle.

Eu ri.

- Eu estava esperando para dar um soco na cara do infeliz que estava atrapalhando meu... momento. - Sorri. - Meu chocolate e minha coca-cola estavam a postos e a Multishow me mostrava shows de rock. Foi quase inovador o fato de eu passar com alguém. - Me virei para minha mãe. - Você sabe que faz mais de cinco anos que não passo com ninguém.

Ela assentiu e meu pai sorriu para mim. 

Edward enrijeceu ao meu lado. 

- Desde quando você faz isso? - Esme pareceu interessada. Eu sorri para ela.

- Desde os sete anos, quando meu melhor amigo me perguntou que horas eu havia nascido. Virou quase tradição. E não era só no meu aniversário que fazíamos isso. - Eu comecei a rir com a lembrança do meu Colegial. - No Ensino Médio, nós virávamos a noite no aniversário daqueles que nasceram antes das 10 horas da manha. 

Eu podia apostar na minha expressão sonhadora. Muito havia mudado. Olhei para Alice, que me olhava emocionada.

- No ano passado, quando você faltou a empresa sem mais nem menos, foi por isso? - Eu assenti. - Eu pensei que fosse porque nós dissemos que você era obrigada a ir. - Rimos. - Na verdade, Jasper pensou. Eu pensei que você havia desistido de acordar, ou jogado o celular longe.

A conversa ficou em volta disso por algum tempo, até eu quase babar no bolo e Edward perceber que eu o comeria em poucos minutos se ninguém cantasse os parabéns.

Nos levantamos e levamos o bolo para a mesa da cozinha. As velas 2e 7 foram acesas e a bagunça começou.

Parabéns pra você, nesta data querida...

E, a cada virgula, Emmett gritava "HEY".

Muitas felicidades, muitos anos de vida...

Alice e Rosalie, que estavam cada uma de um lado meu, pegaram uma orelha minha e começaram a puxar.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

É pique, é pique, é pique, é pique, é pique

É hora, é hora, é hora, é hora, é hora

15 16 17 18 19 20 21 23 24 25 26 

HA TIM BUM

27

Bella, Bella

Depois disso eu só lembro de estar sentada no colo de Edward enquanto comia meu pequeno - ou não - pedaço de bolo, junto com minha barra de chocolate derretida e balas fini, e enquanto Edward me provocava passando a mão fria dele em minha coxa quente. Nós ríamos, e conversávamos, e ouvíamos as piadas de Emmett (e eu tive que quase expulsar ele da minha casa três vezes), e assistíamos programas de insônia na televisão. 

Mas já eram 04:20 e todos trabalharíamos no dia seguinte, uma sexta-feira. Então, começaram as despedidas. Primeiro Esme e Carlisle que tinham uma viagem de férias (Sim, no meio de setembro) marcada para amanha de manha, ou seja, eles não dormiriam. Tremi mentalmente. Uh, não quero saber o que eles fazem.

Então, meus pais. Esses teriam a sexta-feira livre. Uh, outra imagem mental que eu não quero ter. Eu ri enquanto eles beijavam minhas bochechas e desejavam as coisas que todo mundo deseja para o aniversariante.

Emmett e Rosalie estavam quase fazendo sexo no meu sofá. Eu preferi expulsá-los. Eles me abraçaram e saíram rindo da minha cara contrariada. 

- Não se preocupa, Cunhadinha, Edward também vai dar um trato em você. - Emmett. Eu corei enquanto os dois iam embora rindo.

Alice estava super confortável o meu sofá trocando os canais da minha televisão, enquanto Jasper falava algo para um Edward confuso. Cheguei perto de Alice e falei alto o suficiente para interromper a conversa paralela entre os dois homens ali:

- Não está na hora de vocês irem embora, não? - Sutil eu, não?

- Nossa, Isabella, pois saiba que nós já estamos indo, não é Jasper? - Alice ficou meio brava. - Não precisa nos expulsar. Ainda está cedo. Olhe pela janela. Ainda está amanhecendo.

Eu ri enquanto levantava do sofá arrastando-a comigo.

- Ótimo, vão aproveitar o nascer do sol no Central Park.

Edward riu de mim, mas a risada foi meio trêmula, como se ele estivesse ansioso com algo. Jasper mandou um olhar mortal para ele e sorriu para mim. Eu o encarei desconfiada. 

- Vamos, Allie. Parabéns, Bells. 

- Vamos. Bella, não faça nada que eu não faria! - Alice piscou para mim.

Quando eles finalmente se foram, me virei para Edward. Sua expressão não estava mais ansiosa. Seu sorriso torto característico estava lá, me deixando com uma mistura de excitação e expectativa. 

Ele andou vagarosamente até mim, sem fazer barulho. Um caçador chegando perto de sua presa. O leão chegando para atacar o cordeiro. Ele chegou perto demais. E, como o cordeiro lento e masoquista, eu não me afastei.

Então, ele sussurrou no meu ouvido:

- Está na hora da aniversariante... jogar comigo.

E eu quase morri.