O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 49
Capítulo 49 - O Crepúsculo dos Novos Compositores


Notas iniciais do capítulo

"Agora, às vezes o mundo tenta golpeá-lo
E parece adorar assistir você cair
Eu não vou mentir para você, vai acontecer
Você tem que se levantar e seguir em frente"



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-- E como foi lá? – Saulo, O Músico, está sentado em sua rotineira cadeira de escritório, atrás de sua mesa, a sala que agora se mostra constantemente iluminada, revela bem o seu rosto. Ele está com os cabelos presos para trás e usa uma camisa regata branca um pouco mal tratada. Sua mão está no queixo, ele fita fixamente enquanto indaga o homem a sua frente.

-- Bem... – Responde o homem que se prostra de pé a sua frente, ele está com a aparência cansada, seu rosto ainda mostra as manchas secas de sangue enxugadas de forma errônea, e o seu ferimento no meato acústico, torna bem difícil à compreensão de frases ditas em um tom mais baixo. Ele sua frio, não consegue encará-lo, estar diante dele, mesmo não sendo a primeira vez, ainda é algo a se acostumar.

-- Heródoto... – Disse o Músico um pouco mais firme em seu teor – Foi feito?

-- Sim... Está feito! – Heródoto estava muito nervoso, a presença do Músico a sua frente era intimidadora, não estava confortável e sua voz não passava confiança.

-- E como foram os outros? – Perguntou novamente.

-- Os... Novatos foram bem... O... Alex nos ajudou com alguns zumbis... Ele é bom nisso... O grandão também é um ótimo matador... – Heródoto soltava as palavras de forma pausada e inconstante, como um gago tendo que discursar para um grande público.

-- Calma homem... – Disse benevolentemente o Músico, ao se levantar e fazer um sinal para que ele se acalmasse.

-- Desculpe...

-- Não precisa se desculpar... – O breve sorriso seguia no rosto de Saulo, como se aquilo tivesse sido injetado ali. O montado rosto seguiu observando Heródoto e disse em seguida. – Fico feliz que tenha concluído o serviço, imagino o quanto isso deve ter sido difícil... – Saulo agora sai detrás da mesa e prostra ao lado da mesma – Sabe... Ele já não incorporava mais o espírito da nossa Transportadora... Ia acabar nos prejudicando... Eu sabia que poderia confiar em você! – Finalizou ele ainda com o sorriso.

-- Fico feliz... – Respondeu duo silabicamente Heródoto.

O Músico se dirigiu até uma estante ao lado da janela, tomou nas mãos uma garrafa de whisky pela metade e dois copos, virou-se novamente para Heródoto e seguiu discursando em seguida.

-- As coisas vão mudar por aqui... O Rodrigo não desejava nossa evolução... Tenho pensado em muitas coisas para nossa comunidade... Já estamos há um ano aqui... As mudanças vêm como o vento! – Ele serviu em seu copo uma boa dose da bebida e em seguida tomou-a de uma só vez, deixando escorrer um pouco pelo canto da boca. – Quero falar com os novatos, você elogiou os trabalhos deles e eu quero fazer isso pessoalmente!

Heródoto seguia apenas observando, ainda sentia muitas dores pelo ferimento na orelha ainda não tratado, não falava a não ser que a palavra fosse direcionada a ele. Saulo ofereceu-lhe uma dose e ele imediatamente fez sinal de negativo com a cabeça.

-- Sendo assim... Pode ir Heródoto, esta cansado, ferido, fez um ótimo trabalho! – O homem lentamente virou-se e se dirigiu até a porta, antes que chegasse até ela, O Músico voltou a falar – Peça para que Alex suba até aqui, quero falar com ele!

Heródoto espantou-se, não imaginava que ele pudesse querer se mostrar e falar com algum dos novatos, já havia sido uma grande surpresa quando ele fora chamado as escondidas até a sala do homem misterioso, o mesmo homem que pedira a ele que matasse Rodrigo, prometendo-lhe diversas coisas, mas a maior seria respeito, algo que ele julgava não ter. Ouvir que o Músico gostaria de falar com Alex, era realmente o sinal de que mudanças viriam.

Ele sinalizou timidamente com a cabeça e se pôs de costas novamente, se dirigindo até a saída. Ouviu um breve ‘espera’ vindo de dentro da sala novamente, ao virar-se, não houve reação, tudo aconteceu subitamente. O Músico o atingiu com um golpe de machadinha na altura da nuca, dilacerando uma artéria e fazendo jorrar muito sangue pelo lugar.

O homem desabou ao chão urrando de dor e tentando inutilmente estancar o ferimento com as mãos. O sangue espirrava como uma mangueira, o líquido já tomava conta do chão do local. Saulo abaixou-se e se dirigiu calmamente até o homem, que suplicava por algo que não viria, piedade.

-- Não precisa chamar ninguém... Pode deixar que eu mesmo faço isso! – O sorriso montado permanece em seu rosto, porém agora suas feições eram a de um demônio, alguém sádico o suficiente para se divertir com a situação.

O rosto de Heródoto já estava pálido, a vitalidade natural de um ser vivo ia deixando-o aos poucos, ele agora apenas mexia os lábios como se tremesse de frio. Seu olhar já se mostrava perdido e o Músico aproveitou para iniciar mais um de seus discursos.

-- Sabe qual o motivo? Não? Eu te digo... O lixo tem que ser jogado fora... Você é um traidor Heródoto! Somente um traidor iria aceitar a proposta que eu fiz... Vocês são coletores desde o início! – Suas mão cobertas de sangue seguravam a machadinha igualmente manchada e ele falava calmamente – Você foi um bom capacho e me ajudou bastante, não haveria outra forma de me livrar de Rodrigo, pelo menos não discretamente... Você executou bem o seu papel!

O Músico se dirigiu novamente até o homem quase morto e o fitando bem de perto, resolveu terminar com o serviço. Furiosamente ele aplicou diversos golpes no rosto e na cabeça do homem, que faleceu imediatamente. Sangue e maça encefálica se espalharam por toda a parte, sujando o rosto de Saulo, além de suas roupas. O homem morto agora era praticamente impossível de ser identificado, seu crânio está destruído e seu rosto desfigurado, aquilo em nada lembra o homem que há poucos instantes estava de pé a poucos passos dali.

O Músico passou a mão esquerda no rosto tentando se livrar dos restos mortais de Heródoto, seguiu olhando para o cadáver e disse como se ainda conversasse com o homem morto.

-- As coisas vão mudar... Nós vamos evoluir! Talvez esses novatos se encaixem por aqui... – Fez uma breve pausa após observar o estado do lugar – É... Parece que eu vou ter que limpar isso aqui!

O homem levantou-se e se dirigiu até os pés de Heródoto, tomando os dois firmemente em suas mãos e passando a puxá-lo para longe dali. Assim que começou a fazê-lo, parte do crânio destroçado soltou-se de seu corpo, caindo ao chão. Saulo olhou para o que acabara de acontecer e passou a rir naturalmente, aquilo pareceu realmente engraçado a ele.

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Alex e Victoria estão abraçados, assim que o viu chegar ela correu em sua direção, apesar de não querer demonstrar preocupação e de estar feliz por ele ter adentrado a um dos grupos da transportadora, ela passou a noite receosa por sua segurança.

-- Como foi? – Perguntou ela após beijá-lo.

Alex estava com as feições de alguém repleto de problemas, como um empresário muito endividado ou um ladrão prestes a ser pego. O rosto surrado demonstra bem como fora sua noite, em claro e puramente tensa. Ele a fita e passa a mão carinhosamente em seu rosto.

-- Não foi boa, quase fomos mortos... A cidade onde fomos estava infestada! O Rodrigo tombou...

-- O que? – Perguntou ela surpresa.

-- Ele foi pego... Bom, é uma longa história e não sou que devo contá-la...

-- Tudo bem, imagino como tudo isso deve ter sido difícil! – Consolou Vic beijando-o novamente.

A notícia começava a se espalhar lentamente, e todos começam a dobrar os pescoços e a sair de suas moradias para atestar se isso era realmente verdade, se Rodrigo estava realmente morto. O clima já se mostrava pesado no lugar, as felizes pessoas começavam a se mostrar preocupadas, tal perda era um baque estrondoso para os moradores, Rodrigo era a artéria carótida da comunidade, levava o sangue a todos os compartimentos do lugar, perdê-lo era como condenar o lugar a um estado vegetativo.

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Rubão assim que chegou seguiu realizando seu trabalho, ajudou Salomão e Valdemar a levar as caixas com os produtos colhidos até um setor ao norte do portão, onde um contêiner abandonado é utilizado como depósito. A quantidade de mantimentos até que fora razoável, porém os obrigaria a voltar para as ruas antes do que planejavam.

O assunto sobre a morte de Rodrigo não fora comentado por nenhum deles, que preferira nada dizer a ninguém, porém o burburinho se espalha como uma doença infecciosa e, portanto a maioria já tinha uma ideia sobre que acontecera a eles na noite passada.

Todas as caixas foram entregues e devidamente armazenadas, Rubão que trajava suas típicas roupas largas, se mostrava bem cansado e suado, precisava de um banho e principalmente de um cigarro. O fumo que consumira na noite anterior despertou seus desejos mais primitivos. Sentiu-se um adolescente ao consumir novamente a droga que fora introduzida a ele aos quinze anos, por um tio com tendências ‘paz e amor’, para ele a maconha era leve e relaxante e não faria mal algum a ele.

Enquanto mergulhava em seus pensamentos delirantes, sentiu alguém se aproximar, a presença chegou até ele já falando:

-- Olá... – Sabrine estava com alguma dificuldade em encará-lo, ainda era difícil para ele tentar pedir desculpas após o que ocorrera entre os dois. Rubão enxugou o suor da testa com a manga da camisa e disse:

-- Oi... O que manda?

-- Nós precisamos conversar...

-- Precisamos não gata... Sem resentimentos... Não me leva a mal, mas eu não sou o tipo de cara sensível que fica remoendo mágoas, tá ligado? – Tudo isso era dito encarando a mesma, seu olhar natural já era um pouco intimidador a Sabrine – Não me leva a mal de novo, mas... Eu sou do rock baby, já peguei umas trezentas garotas, já chutei e já fui chutado... Sacou?

-- Olha só... – Sabrine tentou argumentar.

-- Da próxima vez não precisa me usar gata, é só pedir! – Finalizou calmamente, dirigindo-se a direção contrária após isso.

Sabrine apenas o observou, não pensou em nada para confrontar as frases jogadas pelo vocalista, certamente não havia nada mesmo que pudesse ser dito, Rubão falara pelos dois. A culpa diminuíra um pouco, mas não se esvaiu, apesar das duras palavras ditas, seu respeito por aquele homem aumentava cada vez mais, em seu interior ela o via como alguém de bem.

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Daniel acordara meio alienado, cedo como sempre e despertado pelo choro incessante de Annabelle, ele seguiu sua não tão harmoniosa rotina, estava caindo no esmo, adentrando um limbo que talvez fosse difícil de abandonar.

Ao abrir os olhos percebeu o dia que chegara, além de uma presença a seu lado. Jeniffer se agarrava a ele firmemente e dormia como um anjo. Daniel a observou, ela estava vestida, preferiu não fazer nada, afinal, não era mesmo necessário. Olhando-a bem, ele começou a pensar no que ela pudera ter passado, e apesar de não conhecer sua história, imaginava as prováveis perdas que a garota pudera ter tido, pois não há quem não tenha uma lamentação hoje em dia.

Talvez ela só quisesse atenção, talvez precisasse de alguém que não a visse como uma pessoa perturbada. Foram muitos pensamentos durante os quase quarenta segundo em que a observou dormir. Lentamente ele foi levantando, se esforçando ao máximo para não despertá-la, ele ainda não entendia porque repentinamente passara a se importar com ela, mas como nada nesse mundo faz sentido, isso seria mais um ato para se guardar em um livro.

Após alimentar Annabelle e realizar mais algumas anotações em seu caderno, que já estava com diversas folhas preenchidas, ele observou a garota despertar, lentamente, como um adolescente que não pretende ir à escola e sempre pede os ‘cinco minutos’ a mais.

-- Bom dia! – Disse ele sem muita emoção na voz.

-- Dia... – Respondeu a garota ainda grogue de sono, passou as mãos nos cabelos e depois no rosto. – Eu dormi muito?

-- Não...

-- Você já tomou café? – Perguntou a garota.

-- Não, eu acordei, alimentei Annabelle e depois, bom...

Ela apenas o observou, levantou-se e caminhou em direção a uma mala perto da cama. Retirou o short e a blusa que trajava e vestiu uma saia e uma nova blusa, tudo sem nenhum pudor. Dessa vez Daniel não se incomodou, agiu como se aquilo fosse amplamente natural, o que não deixava de ser, afinal, quando ele estava na estrada com seu grupo, eles tomaram banho juntos algumas vezes sem se importar em ver uns aos outros sem roupa.

-- Vamos comer alguma coisa... – Disse a garota ainda com cara de sono.

Daniel não se contrapôs, tomou Annabelle nos braços e saiu logo atrás da garota, ao saírem da barraca, viram outras pessoas do lado de fora, um cochicho perpétuo e uma sensação de que algo estava fora do lugar se mostrava presente.

As pessoas deveriam estar realizando suas tarefas rotineiras, ou reunidas ao redor de uma mesa tomando café enquanto debatiam sobre a vida por detrás dos muros. Tudo estava estranhamente sombrio, algo com certeza acabara de ocorrer.

-- Por que todos estão assim? – Perguntou Daniel curvando um pouco o corpo para se aproximar do ouvido de Jennifer.

-- Não sei... – Respondeu ela.

Enquanto tentavam descobrir o que havia acontecido para deixar todos daquela maneira, Alice correra até os dois e com uma cara de espanto disse se dirigindo apenas a Jeniffer:

-- Você não vai acreditar no que aconteceu... – A fala dela foi interrompida um silêncio que cortou a garganta de todos e fez com que virassem suas cabeças para a mesma direção.

Um homem moreno claro, olhos negros e cabelo comprido e encaracolado, amarrado para trás em um volumoso rabo de cavalo, sai calmamente pela porta do prédio da Transportadora. Ele veste uma camisa branca com um colete preto por cima, a calça justa e cheia de estilo, lembra um astro do rock americano, seu figurino na verdade se aparenta com hard rockers dos anos oitenta. Completam seu visual um coturno preto manchado com algo que se assemelha a sangue, ele passa e andar até certo ponto, perto da cozinha.

A maioria não pode ter tal certeza, mas por todas as circunstâncias, aquele homem só pode ser uma pessoa, o venerável Músico. Ele para de andar e observa a todos, passa a mão brevemente no queixo e dá mais três passos a frente, dizendo a plenos pulmões em seguida:

-- Preciso dizer algumas palavras a vocês! – Sua voz grave e intimidadora, demonstra bem a personalidade de quem se pronuncia, um verdadeiro líder, um político um pouco mais inescrupuloso.

Um burburinho maior que o inicial passa a se propagar, todos começam a se movimentar e chamar os outros integrantes espalhados por toda a parte da Transportadora. As pessoas se mostram felizes e assustadas ao mesmo tempo, e como em um efeito manada, não tardam a se aproximar do imponente homem sério que se prostra a frente deles.

-- Poucos aqui me conhecem, mas todos sabem quem sou! – Seu pronunciamento se mostra ainda mais altivo ao ver que todos os componentes da comunidade pararam o que estavam fazendo para ouvi-lo – Eu sou o Músico! – Exclamou em alto e bom som, um sorriso estampara o rosto da grande maioria ao ouvirem orgulhosos tais palavras – Eu fiquei afastado por um tempo... Diversos fatores... O mais importante é que mesmo sem minha presença efetiva, nós caminhamos bem... Acreditem, eu sempre segurei as rédeas desse lugar mesmo sem me mostrar, afinal, vocês não precisam me ver para saberem que quero sempre o bem dessa Transportadora! – Os sorrisos se multiplicaram, aquilo se assemelhava a um palanque político – Muita coisa ocorreu durante esses meses desde que cheguei aqui... Algumas têm que mudar! Eu não me abrigarei mais atrás desse prédio, não serei mais um espírito de um líder! Agora eu vou estar aqui, ao lado de vocês, os ouvindo... Temos que levar essa comunidade em frente! E antes que alguém me pergunte... Sim, tivemos uma perda imensurável na última noite, o nosso mais fiel integrante, o mais confiável, que conduziu junto a mim esse lugar... Foi morto por essas criaturas... Sua morte não será em vão! Faremos um funeral a ele... Rodrigo não será esquecido! – Seu tom de voz se manteve durante todo o discurso, assim como suas feições sérias. – Vamos honrar a memória dele seguindo em frente, sobrevivendo da maneira que ele gostaria que fizéssemos... A Transportadora é o nosso refúgio, vamos fazer dela efetivamente um lar!

Todos assistiram aquilo atenciosamente, se atentando a cada frase dita por ele, pareciam que seus corpos haviam sido chacoalhados de tanto espanto, a admiração em um nome, agora ganhara um corpo, um rosto e uma voz. Talvez fosse arriscado para o Músico se mostrar após tanto tempo recluso, porém talvez a adoração por ele aumentasse, além do mesmo não querer se tornar um prisioneiro de si próprio.

Após terminar o discurso, Músico se dirigiu até onde Alex se encontrava e disse ao se aproximar dele:

-- Dez minutos lá em cima!

Alex espantou-se com o que acabara de ocorrer, não esperava ver aquele homem e muito menos trocar palavras com ele. Não sabia o que aquele ultimato significara, mas com certeza ele não deixaria de conversar com o Músico.

Saulo virou-se de costas e voltou para o prédio, adentrando novamente a protegida porta de ferro do lugar. Ninguém conseguia dizer nada, tudo ocorrera de uma forma tão rápida que alguns se perguntavam se aquilo havia sido realmente real, ver o Músico diante a todos havia sido muito impactante. Sabrine estava com as mãos na boca de tão estranho que tudo havia se mostrado. Ela que era uma das poucas a ter acesso a ele, começava a raciocinar e tentar entender o motivo dele ter tomado tal decisão.

-- Você vai até ele? – Perguntou Victoria a Alex.

-- Vou sim... Nossa! – Exclamou demonstrando sua surpresa – Esse é o Músico!

Daniel que estava ao lado de Jeniffer teve uma reação parecida com a de todos, porém agora ele sabia quem era o homem que comandava aquele lugar, e com o anúncio da morte de Rodrigo, talvez fosse mais fácil conseguir sair de lá.

-- Você já tinha visto ele? – Perguntou Daniel a garota a seu lado. Jeniffer mantinha seu olhar fixo para o lugar onde Saulo acabara de discursar.

-- Já... Eu já tinha visto! – Respondeu.

-- Mas e essa história dos ‘oito’?

-- Eu invadi o prédio uma vez... – Daniel apenas a olhou, não havia mais nada a ser dito.

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Se passado algum tempo desde a aparição do Músico em público, Alex se dirigiu como pedido até a entrada do prédio, ao chegar nada foi dito, o guarda que protegia o lugar apenas se afastou e abriu a porta para que ele adentrasse o lugar.

Alex se deparou com um corredor escuro seguido de uma escadaria igualmente sombria. Apenas candelabros traziam um resquício de luz ao ambiente. Calmamente ele fora subindo os degraus que o levaram ao segundo andar, era tenebroso pensar que alguém possa ter ficado tanto tempo ali dentro sem ver a luz do sol, sem ver as demais pessoas.

Ele passou a reparar no chão do lugar, que se mostrava manchado de sangue, um sangue seco que tomava conta também das paredes. Era difícil saber qual seria sua origem, muito provavelmente o lugar antes de ser tomado deveria estar impregnado de zumbis, não havia outra possibilidade, pelo menos era o que Alex pensava.

A porta do escritório se mostrou aberta e antes que Alex a adentrasse, uma voz do lado de dentro disse:

-- Pode entrar rapaz!

Alex pensou um pouco, ele estava receoso, receoso com o que essa conversa poderia trazer, a que ela deveria levar, ele não imaginava qual pudesse ser o assunto que o Músico quisesse tratar com ele. A porta fora empurrada levemente e o homem foi entrando no lugar, viu o Músico sentado em sua cadeira, olhando fixamente a ele.

-- Olá! – Exclamou Alex, foi a única coisa em que pensou no momento.

-- Soube que você se adaptou bem aos coletores... Ouvi alguns elogios!

-- Obrigado...

-- Vocês novatos, mas tem mais experiência que qualquer um de nós... Nós ficamos durante esse quase um ano aqui dentro, enquanto vocês estavam na estrada!

-- Passamos por algumas situações sim... Mas agora estamos aqui! – Manifestou-se Alex.

-- Sim, sim... Estão... Vocês me parecem ser muito valiosos! Você sabe que eu perdi o meu braço direito nessa noite...

-- Sim, eu sinto muito!

-- Você viu o que aconteceu com ele?

-- Não, nós nos separamos, eu apenas recebi a notícia por... Onde está Heródoto? – Perguntou Alex ao se lembrar de que não vira mais o homem após chegarem.

-- Ele veio com você! Mas o caso é o seguinte... Você é um soldado, isso exala em você! – Exclamou o Músico.

-- Soldado? Não... Desculpe mas você mal me conhece!

-- Você acha que eu deixaria estranhos ficarem na minha Transportadora sem nada saber sobre eles? Vocês poderiam ser presidiários! Não... Eu sei quem você é... Alexander Ávilla!

A afirmação espantou Alex, como aquele homem que nunca tinha visto poderia saber algo sobre ele, como ele poderia saber seu nome?

-- Como... – Alex fora interrompido.

-- Algumas coisas vão mudar por aqui! É preciso mostrar que está cem por cento com essa comunidade! Eu quero você chefiando a linha de frente Ávilla! Tem algo que eu quero realizar e preciso de sua ajuda para fazê-lo.

Alex recebeu tudo aquilo com muito espanto, ele que nem esperava falar com aquele homem, agora recebia uma proposta como essa. Parou para pensar por breves segundos, e imaginou Vic, além de seus outros amigos apesar de afastados. Talvez uma negativa significasse um passo para trás, e isso ele não podia e nem queria fazer.

-- Eu... Eu aceito! – Respondeu.

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Em uma rua diversos zumbis são vistos vagando, sem rumo. Seus aterrorizantes grunhidos podem ser ouvidos ao longe, o lugar está desolado e tomado por aquelas criaturas. A frente dessa rua há uma casa com a fachada azul marinho, o delicado lugar provavelmente deveria ser o lar de uma família feliz.

Em seu interior um homem pode ser visto jogado no sofá, ele está sem camisa e uma enorme tatuagem no peito pode ser vista, ele segura algo como uma pinça na mão direita e tenta a todo custo retirar dois projéteis de seu corpo. Um está em seu ombro esquerdo e o outro ou pouco mais abaixo, perto do úmero. Ele sente muita dor, porém evita emitir qualquer som que possa alvoroçar as criaturas que já cercam a casa.

Há bastante sangue pelo chão e pelo sofá, o homem já se mostra fraco por conta de suas inúmeras tentativas de retirar os resquícios dos tiros em seu corpo. Ele está suado e respira profundamente. Após uma breve pausa, ele volta a perfurar o ombro em busca da bala.


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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que tenham gostado...
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Säteily



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