O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 47
Capítulo 47 - Despeçam-se das Sepulturas


Notas iniciais do capítulo

"Hora de acabar com esse sofrimento, preciso de um minuto para mim..."



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-- Belo show! – Exclamou novamente Rodrigo, ele realmente havia se impressionado com as habilidades de Rubão.

-- Você tá bem? – Perguntou Alex preocupado.

-- Ô... De boa! – Exclamou Rubão ainda tomando fôlego. Alex virou-se para Rodrigo e encarando-o disse:

-- O que foi isso? Você ia deixar ele morrer?

-- Claro que não galã! – Respondeu calmamente Rodrigo – Isso é a nossa iniciação, fazemos isso com todos! Eu iria interferir se o perigo fosse realmente real! – Alex seguiu o fitando – O que foi?! É só diversão... Sorria, eu sabia que nada iria acontecer! – Completou.

Alex seguiu encarando-o, Rubão olhava a todos, não confiava em nenhuma daquelas pessoas que ali se encontravam, ele sabia que não diziam a verdade, e o que havia sido feito era por pura diversão. Não havia muito que fazer e nem discutir, era preciso guardar aquilo consigo, eles estavam armados e em maior número, seria burrice tentar algo. Apenas seguiram junto aos homens, se valendo de muito mais atenção a partir de agora.

Rodrigo fez sinal para Heródoto, ele retirou da cintura uma faca e entregou a Rubão, que nada disse. Após isso feito, os coletores se dirigiram até o mercado, antes de adentrarem, Salomão questionou:

-- Esse mercado já está saturado... Já viemos muitas vezes, temos que achar outro lugar!

-- Isso é verdade... Nós mesmos esgotamos o lugar nesses últimos meses, e os bares não nos dão suprimento, somente álcool, o que também não é ruim... – Manifestou-se Heródoto.

-- Vamos comprovar com nossos próprios olhos rapazes! Sem moleza! – Exclamou Rodrigo sinalizando mais uma vez para que todos seguissem em frente.

A ordem foi obedecida, o mercado era um enorme galpão, lá dentro vendia-se de tudo, era como uma grande feira, mas também havia no lugar pequenos estabelecimentos, onde os suprimentos eram encontrados. O lugar estava totalmente abandonado, a entra estava destruída, e um rastro de caixas de verduras e legumes eram vistos pelo chão, todas quebradas e com os condimentos estragados.

Aos poucos os homens foram se movendo em direção ao local, sempre atentos a qualquer som que fosse, não podiam ser pegos de surpresa. Rodrigo foi o primeiro a entrar, empunhando sua arma, ele olhou para todos os lados e sinalizou para que os outros o acompanha-se.

O lugar estava completamente revirado, havia alguns zumbis eliminados ao chão, provavelmente pelos próprios coletores em uma de suas visitas anteriores. Se utilizando mais uma vez de sinais, Rodrigo pediu para que separassem. Alex, Heródoto e próprio Rodrigo foram por um lado, enquanto que Rubão, Salomão e Valdemar seguiram por outro.

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Após a discussão que tivera com Daniel, restou a Vic se recompor, estava com um tremendo ódio daquela pessoa, e não a queria mais em sua vida. Sentia-se decepcionada com Daniel e com suas recentes atitudes, o achava falso, e tinha uma enorme certeza que manteria sua palavra diante desse conflito.

Saiu de sua barraca, precisava espairecer, sabia que era provável que Alex demorasse a chegar, então, precisava se ocupar, se atarefar com algo. Foi em direção à cozinha comunitária para falar com Alice, chegando lá a mesma se preparava para deixar seu posto.

-- Oi... Precisa de ajuda? – Perguntou Victoria.

-- Não... Já estou saindo... Nós podemos ir até os enfermeiros, ainda quer conhecê-los? – Indagou Alice.

-- Claro! – Respondeu.

Alice usava um avental, que foi retirado naquele mesmo instante, após limpar as mãos em um pano, saiu da cozinha e conduziu Victoria pelas dependências da Transportadora até onde os enfermeiros se encontravam.

Chegaram até uma barraca grande, talvez a maior de todas. Alice abriu cuidadosamente a lona que servia de porta de entrada e disse:

-- Olá... Seu Martim... Está aí? – Após uma pequena pausa uma resposta foi ouvida:

-- Olá Alice! Entre por favor!

As duas entraram no lugar, além da lona de entrada havia uma cortina logo depois, ou seja, só era possível ver o local após transpassá-la. Alice abriu a cortina e as duas se dirigiram até Martim. O lugar era um pouco espaçoso, não era habitado, apenas servia como enfermaria, havia uma mesa onde alguns materiais hospitalares eram guardados, a frente da mesa, uma maca servia como leito para atendimento de quem quer que fosse. Mais ao lado podia-se ver três tubos de oxigênio, além de diversas caixas inteiras de medicamentos, dos mais variados tipos.

Sentado perto da maca, há um senhor de cerca de setenta anos de idade, ele tem os cabelos compridos e brancos, amarrados para trás, sua barba é exageradamente comprida e também amarrada, seus olhos são azuis e sua pele é morena clara, queimada pelo sol.

-- Oi Martim! Tudo em ordem? – Perguntou Alice.

-- Olá... Ela é... – Disse Martim.

-- Me chamo Victoria, prazer! – Manifestou-se Vic estendendo a mão direita em forma de cumprimento. Martim retirou do bolso da camisa um óculos e o colocou, observando melhor a moça que se referia a ele.

-- Olá querida! – Exclamou apertando a sua mão – Desculpe os modos, mas é que sem meus óculos eu não enxergo nem os próprios pés! – Completou ele rindo.

-- Tudo bem... – Após olhar a seu redor – Vocês estão muito bem equipados!

-- O Músico sempre se preocupou com nossa saúde, ele próprio foi quem conseguiu a maca e organizou essa enfermaria, mas isso foi há algum tempo... – Exclamou Martim saudosista.

-- Martim, ela é a médica que lhe falei! – Disse Alice.

-- Puxa vida... Que bom! Tivemos muita sorte... Qual sua especialidade filha?

-- Clínica Geral. – Respondeu.

-- Excelente! Você vai poder ajudar a mim e a minha filha! Sua experiência será por demais útil!

-- Fico feliz... Sua filha também é enfermeira? – Perguntou Vic.

-- Sim, eu estou nesse ramo a mais de cinquenta anos, e bom... Acabei corrompendo minha filha por assim dizer! Ela havia se formado pouco antes de tudo isso acontecer... Eu só não... Bom, não sei onde ela está agora, mas fique aqui! Você pode dar uma olhada em nossos medicamentos e avaliar se precisamos de algo. Quando ela chegar poderá conversar com ela.

-- Sem problemas! – Respondeu Vic, Alice saiu logo depois sem nada mais dizer, deixando os dois conversando.

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Sabrine caminhava com Marco a seu lado, os dois apenas andavam pelas dependências do lugar, era como um passeio, mas com uma área delimitada. Ela observava a criança agitada sempre falando e correndo, parecia não sentir falta do mundo que acabara de perder, sua inocência era realmente cativante. Apenas as crianças não viviam em eterna tensão.

Enquanto caminhava, observou um irritado Daniel andando rapidamente, ele estava com sua criança na mochila e carregava seus pertences em sua mão direita. Seus largos passos entregavam seu mau humor.

Ele se aproximava dos dois, mas não intencionalmente, apenas andava. Marco observando a cena começou a puxar a barra da saia que Sabrine trajava chamando sua atenção. Ela olhou para ele que disse apontando:

-- Adanele mana! Adanele! – Sabrine sorriu, Marco seguiu falando e chamando a atenção. Daniel percebeu e parou para observar a tudo.

Daniel se abaixou perto de Marco e disse olhando para o mesmo:

-- E aí rapaz? Beleza?

-- Beleza! – Exclamou Marco sorrindo, Daniel cerrou o punho direito e esticou na direção da criança, que repetiu gesto tocando sua mão em forma de cumprimento.

-- Oi... – Disse Sabrine olhando para ele.

-- Oi! – Respondeu brevemente.

-- Dia difícil? – Perguntou Sabrine.

-- Dias... – Respondeu Daniel.

Sabrine observou os pertences que Daniel continha e não viu problemas em questioná-lo:

-- Pra que todas essas coisas?

-- O meu grupo está passando por problemas... Acho que não somos mais um grupo... Não me entenda mal, mas desde o dia em que pisei aqui, senti que não poderia ficar!

-- Você não pode ir embora...

-- É... Esse é o problema! – Exclamou Daniel.

-- Eu não entendo... Você está em um lugar seguro, atrás de muros resistentes... Tem um chuveiro, comida... Você é pai, deveria querer um lugar seguro pra sua filha!

-- Taí outro problema... Eu não acho que aqui é mesmo seguro... Você se sente confortável estando presa nesse lugar?

-- E por qual motivo eu ia querer sair? Isso é um recomeço! – Respondeu Sabrine.

-- Chegamos ao terceiro ponto da questão – Voltou a explanar Daniel – Vocês entraram em um conformismo... Não há recomeço dessa forma! Eu não sou um de vocês... Me deixem ir embora! – Complementou um pouco mais exaltado.

-- Nós não vivemos em uma anarquia... O Músico ele... Ele não pode deixar você sair para o nosso próprio bem!

-- Essa discussão não vai acabar nunca! – Refutou Daniel que prosseguiu – É melhor eu ir... – Daniel voltou-se novamente para Marco – Tchau garoto!

-- Aonde vai? – Perguntou Sabrine.

-- Infelizmente para algum lugar dentro dessa prisão! – Respondeu Daniel já partindo.

-- Se você encontrar o Rubão diga que quero falar com ele! – Gritou Sabrine.

-- Pode deixar! – Respondeu Daniel já distante.

Sabrine apenas observou ele partir, não conseguia entender a visão que ele tinha da Transportadora, o achava ingrato, havia sido aceito, ganhado um lugar seguro para dormir, a certeza de alimentos para ele e sua filha, e mesmo assim tinha esse desejo de partir. Chegou a pensar inclusive em mandar que um dos soldados abrisse o portão para ele ir, pois em sua concepção ele não merecia permanecer na localidade, contudo, ela sabia que não poderia passar por cima de uma ordem do Músico, ela o respeitava bastante, um misto de respeito e medo.

-- Ele vai embora? – A voz repentina assustou Sabrine.

-- Porra Jeniffer! Você parece um fantasma aparecendo assim do nada!

-- Você acha que ele vai embora? – Perguntou novamente a garota.

-- Bem que poderia... Não ele não vai embora, porque a pergunta? – Questionou.

-- Por nada... Eu gostei dele!

-- Acho que você é a única... Ele é maluco, nem os amigos o querem por perto!

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Rodrigo comandava sua equipe, andava a frente de todos, sempre verificando o perímetro e o liberando quando o mesmo se mostrava seguro. Ele, Alex e Heródoto entraram em uma pequena mercearia, o lugar estava quente e escuro, Rodrigo pegou uma lanterna e passou a iluminar o lugar.

Alex passou a recolher alguns produtos, pegou uns pacotes de salgadinhos, além de enlatados, mas todos em pouca quantidade, não havia muito no lugar.  Heródoto também tentava selecionar os melhores produtos, mas igualmente sem sucesso.

Rodrigo focava nos alimentos ‘frescos’, pegou alguns queijos suspeitos, além de alfaces claramente estragadas e alguns tomates. Na situação em que estavam, não ligavam muito para prazo de validade e nem para o estado das frutas, ter alimento já era o suficiente.

-- Vamos sair daqui, não tem nada! – Disse Heródoto.

-- Vamos ouvir a opinião do galã! O que você acha? – Perguntou o debochado Rodrigo.

-- Nem deveríamos ter entrado, vamos procurar em outro lugar! – Respondeu friamente Alex.

-- Ouviu ele Heródoto! Vamos! – Disse Rodrigo rindo ao outro homem.

Alex apenas observava aos movimentos deles, sabia que estava servindo de chacota, mas ao mesmo pensava na importância do que estava acontecendo, sabia da necessidade de ser bem quisto por um dos ‘oito’.

Rubão era quem ia mais a frente em sua metade do grupo, não ligava para o que os outros homens diziam durante o trajeto. Empunhando sua faca, ele ia entrando e esgueirando-se por cada vão e curva da parte onde estavam no mercado.

Uma grande janela e parte da parede perto de onde estavam estava derrubada, por isso era possível ter uma visão mais apurada do local por conta da luz externa que cortava aquele bloco.

Estavam em algumas bancas de carnes e frutas, o cheiro era muito forte, a mistura de alguns cadáveres que ali se encontravam com a podridão dos produtos. Valdemar estava em um balcão onde algumas carnes eram expostas quando ouviu um barulho, um som que espantou parte das moscas que ali se encontravam.

Um zumbi surgiu, ele estava sem um braço e em estado avançadíssimo de decomposição, era possível ver seus ossos, e parte de seu tórax estava destruído. Quase que se arrastando, o monstro seguiu na direção de Valdemar, que aprumou sua arma, pronto para disparar.

Antes que Valdemar eliminasse o morto vivo se valendo de um tiro, Rubão foi até ele e cravou sua faca na testa daquele emaranhado de tecido e ossos mortos. Ele então retrucou o homem:

-- Nós estamos em um lugar fechado, fechado e escuro... Se você atirar aqui dentro, vai chamar a atenção de uma galera!

O homem apenas o observou, Salomão mais ao longe apenas assistiu a cena toda. Virou-se e seguiu coletando o que podia, mesmo que fosse quase nada. Logo após isso ouviram um assovio, era o sinal para que todos se reunissem na frente do mercado, Rubão e os outros dois se dirigiram até lá.

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-- Oi Cláudia! – Exclamou Daniel ao adentrar a barraca da moça.

Ela observou Daniel, viu seu estado e também que ele portava todos os seus pertences. Querendo saber o que havia acontecido, ela o indagou:

-- Nossa... O que aconteceu?

-- Eu acho que estou sozinho... Não faço mais parte do meu grupo! – Disse ele.

-- Vocês brigaram?

-- É esse lugar... Parece uma maldição! Ele transforma as pessoas! – Refutou.

-- Parece que você não foi afetado pela ‘maldição’... – Manifestou-se Cláudia.

-- Eu não penso como vocês... Não penso como eles!

-- Não vou discutir seus méritos... – Disse Cláudia evitando uma discussão.

-- Bom Cláudia... – Daniel estava um pouco sem jeito de dizer – Você e Alice me receberam muito bem, parecem ser boas pessoas... Queria saber se eu poderia ficar mais um pouco aqui, eu estou sem um lugar para ficar... É só até eu ir embora.

-- É claro que pode, vai ter sempre espaço para você e Belle! – Respondeu ela sorridente.

Daniel espantou-se a muito não ouvia o nome de Belle, aquilo ainda o abalava, apesar de toda a armadura que ele demonstrava ter adquirido.

-- Belle? – Perguntou.

-- A sua pequena Annabelle, a Belle. – Respondeu Cláudia.

-- Obrigado Cláudia... Obrigado mesmo! – Exclamou.

-- Pelo que eu estou vendo você deve estar de cabeça quente... Relaxe um pouco e depois converse com seus amigos...

-- Acho que não há mais conversa... Não nos entendemos mais! – Respondeu Daniel.

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-- Nossa... Vocês estão mesmo equipados aqui! – Exclamou Victoria enquanto olhava uma prateleira com diversos utensílios médicos.

-- Fizemos um grande esforço durante esses meses... Nunca se sabe! – Disse Martim enquanto verificava a validade de algumas caixas de anti-inflamatório.

-- Vocês tem material até para uma reanimação!

-- Que bom que gostou! – Exclamou Martim orgulhoso.

-- Eu vou mesmo poder trabalhar aqui com você e sua filha?

-- Claro! Nunca dispensaríamos uma médica!

-- Muito obrigada! Você não sabe o quanto isso é importante para mim... Depois de tudo que eu passei!

Um barulho é ouvido na entrada da barraca, é o som de alguém adentrando a localidade. Martim ergueu o corpo e perguntou:

-- Renata é você? – A resposta veio de imediato:

-- Sou eu velho!

-- Venha até aqui, temos visitas! – Exclamou.

-- Visitas? – Perguntou a voz já adentrando o lugar. Uma moça de aproximadamente vinte e dois anos, negra, cabelos bem curtos, olhos amendoados e lábios grossos. Trajando uma blusa preta e uma calça jeans cinza que realçava suas proeminentes curvas, chega à enfermaria.

-- Essa é Victoria, será nossa chefa! – Disse o sorridente enfermeiro.

-- Chefa? – Perguntou a moça.

-- Ela é médica... Clínica Geral! – Disse novamente Martim.

-- Prazer eu me chamo Victoria! – Exclamou a médica estendendo a mão.

-- Renata – Disse sem responder ao cumprimento – Não sei se precisamos de mais alguém aqui... Meu pai sempre resolveu os problemas mais difíceis!

-- O que é isso Renata! A moça... – Começou a repreender Martim, que foi interrompido pela moça:

-- A moça é uma novata, quando ela for uma de nós, podemos conversar! – Exclamou Renata.

-- Mas o que...

-- Tô indo pai... Pelo visto não está precisando de mim...

-- Aonde vai Renata! – Exclamou o velho homem um pouco mais exaltado.

-- A lugar algum pai... A lugar algum! – A mesma se retirou após as palavras ditas.

Victoria ficou espantada com a reação da garota, não sabia o que dizer. Receber uma rejeição de um dos membros da comunidade foi um choque a ela. Tentando consolá-la, Martim começou a dizer:

-- Não se preocupe minha filha... Renata está problemática assim desde que perdeu a mãe... Faz um mês, ela estava com câncer... Não podemos fazer nada... Não se preocupe, ela não fará isso de novo!

-- Se sua filha não me aceitar não poderei... – Martim interrompe-a:

-- Isso não afetará em nada... Eu falarei com ela!

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-- Como vimos, não há muita coisa aqui! Então como previsto, vamos seguir a estrada e ir até Alto Paraguai... Não conhecemos o lugar, portanto tenham todo o cuidado! – Alertou Rodrigo a todos, antes de adentrarem o carro e partirem.

O carro seguiu com Rodrigo ao volante, todos estavam um pouco apreensivos, era a primeira vez que precisavam ir até outra cidade para buscar suprimentos. Valdemar que ia ao lado de Rodrigo disse:

-- O grandão é foda mesmo! Matou outro zumbi no braço quando estávamos lá dentro! – Exclamou ele a Rodrigo.

-- É mesmo? – Rodrigo virou-se a Alex – Viu só galã?! Eu não disse que seu amigo não morreria? Vocês vieram da estrada, são durões!

O veículo seguiu o caminho por alguns minutos, a cidade de Alto Paraguai não ficava tão distante assim. O trajeto era desolador, tudo destruído, carros tombados impediam a passagem, era necessário cuidado ao volante para não provocar nenhum acidente.

-- O que conseguiram? – Perguntou Rodrigo a Valdemar.

-- Entramos na parte da feira onde vendiam carnes... Tudo estragado! O Salomão conseguiu alguma coisa! – Respondeu.

-- Nada de mais... Uma maçã e alguns pêssegos de uma banca! – Manifestou-se Salomão.

-- Quando chegarmos a cidade vamos no separar novamente, andaremos a pé por lá. Passaremos a noite e nos encontraremos pela manhã onde o carro será deixado! – Disse Rodrigo já os preparando para o que viria a seguir.

Passado mais alguns minutos, finalmente a cidade é avistada, o carro a adentra e estaciona em um meio fio próximo a um posto policial no início da cidade. Rodrigo desce do carro empunhando sua arma e verificando se o local é seguro. Faz sinal para que todos desçam e em seguida dá novamente as ordens:

-- Vamos nos alinhar nos mesmos grupos, o meu vai para o norte e o do grandão vai para o sul! Recolham o que puderem, desde alimentos a produtos de limpeza... Estamos quase sem! Vamos! – Complementou sinalizando para que obedecessem.

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-- O que você fazia antes de tudo acontecer? – Perguntou Cláudia.

-- Técnico em Radiologia... Realizava exames de raios-x em um hospital de Manaus! – Respondeu – E você?

-- Professora... Dava aula para crianças... Aqui mesmo em Diamantino! – Respondeu.

-- Professora... Legal! – Disse Daniel. Os dois estavam na barraca, Daniel sentava-se o chão, estava com seu caderno, sempre escrevendo algo. Cláudia estava sentada a cama, e Annabelle também estava lá, brincando.

-- Você deve ter passado por muita coisa até chegar aqui! – Admirou-se Cláudia.

-- Ainda estou passando! – Lamentou-se Daniel.

-- Digamos que você vá embora daqui... Tem planos? Pra onde iria?

-- Nós nunca tivemos planos... As coisas eram mais simples... Eu acredito que o Nordeste possa ser seguro... O litoral, bom...

-- Será que isso seria mais seguro do que ficar aqui? – Perguntou novamente Cláudia.

-- Tem algo aqui que... Eu não sinto que esse lugar seja tão seguro e próspero quanto dizem... Eu não acho que seja um bom lugar para criar Annabelle!

-- Você gosta realmente dela, não é?

-- É tudo que eu tenho agora! – Respondeu Daniel.

Cláudia seguiu o encarando, até o momento Daniel não havia percebido segundas intenções na moça. Ela saiu da cama e se aproximou dele, chegando bem perto e dizendo:

-- Você não devia pensar assim... – Sussurrou ela.

-- Cláudia eu... – Cláudia colocou o dedo indicador nos lábios de Daniel, o impedindo de falar, ela passou a mão por seu tórax e em seguida o beijou. Daniel deixou se levar, retribuindo beijo e começando a retirar sua roupa. Nem parou para raciocinar que Annabelle estava no mesmo recinto.

Os dois deitaram-se ao chão e seguiram se acariciando e retirando o restante das roupas. O clímax só foi interrompido repentinamente quando Alice adentrou o lugar.

-- Mais o que é isso?! – Exclamou ela indignada.

-- Alice... Eu posso explicar – Disse Cláudia. Daniel não havia entendido a princípio, mas quando ouviu o teor das primeiras palavras ditas, percebeu que Cláudia e Alice eram um casal.

-- Como você pode fazer isso comigo?! – Exclamou Alice a Cláudia ainda enfurecida.

-- Eu não sabia Alice, eu não... – Daniel tentou argumentar.

-- Sai daqui! Vai embora! – Exclamou Alice expulsando Daniel. Ele nada disse, terminou de se vestir, pegou Annabelle e saiu. Enquanto se retirava ainda pode ouvir parte da discussão entre as duas que se iniciava:

-- Como você pode me trair na minha barraca sua vadia?! – Daniel apenas seguiu caminhando agora completamente sem rumo.

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Victoria deixou a enfermaria logo após o incidente com Renata, sabia que a garota não havia gostado nem um pouco de tê-la como companheira de trabalho. Mas para seguir galgando seus objetivos, Vic precisaria passar por cima desse obstáculo, não deixaria que nada a atrapalhasse.

Foi voltando para a sua barraca que ela se encontrou novamente com Daniel, os dois não se falaram, apenas trocaram olhares, ele estava com seus pertences e a criança e passou direto por ela, sem manifestação alguma.

Ela não ligara, simplesmente não queria mais ver Daniel, considerava-o passado em sua jornada, daqui para frente, era ela e Alex recomeçando a vida. Seguiu em direção a sua barraca e passou a refletir sobre tudo que havia ocorrido, sobre como as coisas haviam mudado em tão pouco tempo. Era um pouco assustador embarcar em tudo isso de primeira, mas ao mesmo tempo era mágico tudo estar se resolvendo em um espaço temporal tão curto.

Pensou em Alex, em como ele poderia estar. Já fazia algumas horas desde que ele saíra e ela já imaginava que ele pudesse passar a noite fora. Esperava que tudo desse certo, que seus caminhos se encaixassem para que pudessem seguir vivendo o sonho daquela nova vida.

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Alex segurava firmemente seu facão com a mão direita, está dentro de uma farmácia. Atrás dele, Rodrigo e Heródoto também estão prontos para um ataque a qualquer momento. O lugar fechado mostra-se quente, todos estão suando lá dentro.

-- Não se esqueçam dos produtos de higiene intima feminina... Se não levarmos seremos mortos! – Brincou Rodrigo.

Ambos passaram a recolher diversos produtos, incluindo os ditos por Rodrigo. Precisavam ser rápidos e precisos, coletar o necessário sem se distrair, a atenção é a moeda mais valiosa nesse mundo.

Passando por um dos corredores da farmácia, um zumbi que estava sentado ao chão, levanta-se e começa a andar em direção aos três. Alex se prostra mais a frente e antes que alguém atirasse, elimina o monstro decepando sua cabeça com um fortíssimo golpe de facão. Rodrigo assiste a cena e aplaude, dizendo em seguida:

-- Pensei que você e o grandão não eram de nada! Até achei que seria divertido tê-los aqui... Me surpreenderam... São realmente cascas grossas, sem medo dos zumbis! – Alex percebeu que as palavras de Rodrigo poderiam ser mesmo sinceras.

-- Nós já encontramos muitos zumbis pelo caminho... Nos acostumamos a matá-los! – Exclamou Alex mantendo a seriedade.

-- Desse jeito vocês vão longe! – A forma com que Rodrigo falava e se utilizava das palavras tornava difícil a leitura de seu real objetivo. Alex não percebera se ele realmente adquirira aquele respeito por ele e estava elogiando sinceramente, ou se tudo não passava de mais um deboche.

-- Bom, chega de boiolagem garotas, vamos parar de pegar absorventes e ir atrás da comida! – Exclamou Rodrigo.

Rubão, Salomão e Valdemar adentram uma mercearia, haviam tirado a sorte grande, o local estava intacto, aparentemente ninguém havia o saqueado. Todos estavam de prontidão como sempre, e agora se voltavam para as prateleiras, buscando alimentos úteis.

-- Olha só o que eu encontrei! – Exclamou Valdemar ao abrir uma geladeira e retirar dela uma garrafa de iogurte – Alguém quer? – Perguntou rindo.

-- Vai se foder Valdemar! – Exclamou Salomão também rindo – Trata de procurar algo que seja útil.

Rubão passou a recolher alguns enlatados em uma das prateleiras, achou também batatas chips em lata, e também tratou de pegá-las. Salomão recolhia frutas que pareciam estar em bom estado, enquanto que Valdemar seguia na geladeira, queria ver se algum daqueles congelados poderia ser consumido.

-- E então? – Perguntou Salomão a Valdemar.

-- Tem esse peito de frango aqui... – Disse retirando uma embalagem – Acho que não está tão estragado assim!

-- É só pedir para prepararem com algumas cenouras que ninguém vai perceber! – Exclamou Salomão sinalizando para que ele recolhesse os congelados suspeitos.

-- De onde você é grandão? – Perguntou Valdemar prosseguindo com seus afazeres.

-- Manaus! – Respondeu ele.

-- O que você fazia?

-- Eu era vocalista de uma banda de rock... Bocas Ordinárias, conhece? – Indagou Rubão, que já estava cansado de repetir essa história várias vezes.

-- Bocas Ordinárias... Bocas... Caralho! Eu conheço sua banda! – Exclamou Salomão. Rubão virou-se espantado, não esperava mais encontrar alguém que conhecesse seu trabalho.

-- Você conhece a minha banda?

-- Sim... Na verdade a minha filha é que era fã! Ela assistiu a um show de vocês uma vez... – Respondeu Salomão se recordando de sua filha.

-- Como é o nome da sua filha? – Perguntou Rubão.

-- Era... Atena! A mãe que escolheu... Gostava desses nomes assim... Elas morreram quando saímos de Cuiabá... – Disse tristemente Salomão.

-- Sinto muito! – Exclamou Rubão.

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Daniel estava desnorteado, aquele dia infernal parecia não acabar mais, uma pancada ia acontecendo após a outra, e agora ele estava sem lugar para ficar. Não sabia para onde ir, pensou em procurar por Rubão, mas já fazia algum tempo que não o via. Não restavam muitas opções, apenas uma pessoa podia ajudá-lo no momento, e era justamente esse o problema.

Caminhou mais um pouco procurando por essa pessoa, olhou para todos os lados tentando achá-la, até finalmente visualizá-la. Daniel seguiu andando até ela, sabia que talvez se arrependesse depois, mas no momento era sua única solução. Como ele ainda pensava que logo sairia dali, isso não seria tão ruim assim.

-- Oi... Oi Jeniffer! – Exclamou um pouco receoso a garota que estava próxima a cozinha.

-- Olá! – Exclamou ela animadamente.

-- Eu preciso de um favor...

-- Tudo o que você quiser! – Disse ela sorrindo.

-- Você mora mesmo sozinha?

-- Sim! Não vai me dizer que...

-- Eu queria saber se você deixaria que eu e Annabelle dormíssemos com você por enquanto! – Argumentou.

-- Nossa... Não achei que seria tão rápido! Já vamos até morar juntos! – Exclamou a garota novamente rindo.

-- É por pouco tempo... Você aceita ou não? – Questionou Daniel já um pouco irritado.

-- É claro que aceito! Será maravilhoso! – Disse ela mantendo o sorriso de orelha a orelha.

Daniel começou a imaginar que não seria apenas o dia que se alongava, a noite também prometia ser maior do que o normal, já que pelas palavras da garota, ele percebeu que as investidas seriam fortes.

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Após deixarem a farmácia, Rodrigo conduziu seu grupo até um posto de gasolina, para explorarem a loja de conveniência que estava intacta. O melhor de tudo era que o local era abastecido por um gerador, que ainda estava funcionando, ou seja, a maioria dos produtos pareciam estar bem conservados.

Passaram então a recolher tudo o que podiam, incluindo algumas embalagens de coxas de frango e algumas carnes em pouca quantidade que lá se mostravam. Não havia destruição no local, ele não havia sido vítima de nenhum saqueador até o momento.

-- Parece que foi uma boa termos vindo até aqui! – Exclamou Heródoto.

-- Vamos pegar tudo o que pudermos! – Exclamou Rodrigo.

Alex preferia não falar muito, seguia recolhendo o que podia, mas sempre a espreita, preparado. Não sentindo que o lugar pudesse ser tão seguro quanto parecia, ele manifestou-se:

-- Acho melhor irmos logo! Esse lugar não me parece seguro!

-- O que foi galã?! O lugar está intacto, ninguém veio aqui ainda! – Exclamou Rodrigo.

-- Esse é o problema... – Exprimiu sua preocupação Alex. Ele tinha experiência de estrada o suficiente para perceber que um lugar intacto pode ser sinal de que ele esteja repleto de zumbis. Por esse motivo ele permaneceu recolhendo os produtos, mas sempre atento ao menor ruído.

Os três seguiram realizando seus trabalhos, quando um barulho foi ouvido vindo de uma sala nos fundos da loja. Antes mesmo que pudessem averiguar o que seria, a porta que continha passou a ser forçada, e em seguida aberta violentamente, dela saíram cerca de doze zumbis.

-- Puta que pariu! – Exclamou Heródoto.

-- Eu disse! – Vociferou Alex já empunhando seu facão.


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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que tenham gostado!
Comentem e opinem!


Queria agradecer ao Artur Montenegro por favoritar a fic, valeu!

A cada capítulo a fic vai se desenrolando mais, ainda tem muito para ocorrer... Aguardem!







Säteily



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