O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 45
Capítulo 45 - Si Bemol com Sétima Diminuta


Notas iniciais do capítulo

"Há um paraíso acima de você..."



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Pelo som que se podia perceber, era notável que a manhã já havia chegado. Ela abriu os olhos e passou a observar ao seu redor, estava tonta, não deveria ter bebido tanto na noite anterior. Parou para pensar no que provavelmente havia acontecido, percebeu que estava sem roupas. Cobriu-se com os lençóis e ainda confusa olhou para o lado, ele estava lá em sua cama. Um sentimento de culpa começou a rondar sua cabeça.

Sabrine levantou-se e se apoiando em uma das pilastras de sua barraca, passou a se vestir. Olhou mais uma vez para sua cama e atestou, Rubão havia passado a noite com ela. Ela tentava puxar na memória possíveis lembranças do que acontecera, mas nada vinha em mente. Observando o chão, era possível imaginar o motivo dessa amnésia repentina, suas duas preciosas garrafas de rum guardadas desde sua chegada a Transportadora estavam jogadas ao chão, completamente vazias.

Sua cabeça estava rodando, estava enjoada e não sabia o que dizer, o que fazer. Ao vestir-se por completo, saiu sem despertar Rubão, preferiu evitar um confronto, não saberia como explicar a ele sua situação, estava realmente confusa. Passou ao largo por algumas pessoas, não estava de bom humor. Pegou uma garrafa d’água e passou a beber desesperadamente, precisava de um café.

Dirigiu-se até uma parte próxima ao prédio e pediu a uma senhora que lá se encontrava:

-- Ainda tem café? – Sua visão ainda estava turva, deveria ser a pior ressaca de sua vida.

-- Claro. – Respondeu docemente a velha mulher.

Ela pegou uma garrafa térmica e a abriu, despejou sobre um pequeno copo uma generosa dose do líquido fervente, após isso o entregou a Sabrine. Ela pegou o copo e em apenas uma talagada despejou o café por sua garganta. Sentiu seu corpo esquentar, parecia que só agora havia despertado.

Agradeceu à senhora que lhe fornecera o café e saiu andando, não sabia direito o que fazer, precisava pensar muito bem em seus próximos passos. O dia ainda estava em seu início, poucos haviam acordado. A maioria ainda se recolhia no interior de suas barracas.

Sabrine se lembrou de seu irmão, preocupou-se de súbito, ele não estava na barraca onde ela e Rubão haviam passado a noite. Lembrou-se de Beth, uma mulher de mais de cinquenta anos, que adorava crianças, ela havia perdido os filhos para o apocalipse e uma fuga era cuidar das crianças do lugar.

Correu até a barraca dessa senhora, abriu com cuidado e se aliviou, Marco estava lá dormindo junto a bondosa mulher. Parou para pensar, provavelmente havia pedido para Marco dormir junto a Beth, para que ela aproveitasse sua noite ao lado do vocalista da ‘Bocas Ordinárias’.

Após isso, lembrou-se que tinha algo a resolver, precisava falar com uma pessoa e isso não poderia esperar, era de suma importância. Saiu andando firmemente até base do prédio, passou por todos sem nada dizer, precisava resolver isso logo. Chegou à porta de ferro, um homem armado a guardava, ela o encarou e disse:

-- Preciso entrar.

-- Desculpe Sabrine, mas eu sigo ordens... – Disse o homem um pouco relutante em impedi-la.

-- Eu preciso mesmo entrar. – Repetiu ela ampliando um pouco mais o tom de voz.

-- Desculpe, mas...

-- Onde está o Rodrigo? – Perguntou ela.

-- Ainda está dormindo. – Respondeu o homem.

-- Não me impeça de entrar, eu preciso falar com ele...

-- Mais uma vez eu... – Dessa vez Sabrine se irritou como nunca e despejou:

-- Eu não estou pedindo, estou mandando! Vocês não se orgulham de falar por aí sobre ‘os oito’, então é uma deles quem está falando! É uma ordem! – Ela não costumava falar desse jeito, estava muito irritada com tudo que estava acontecendo nos últimos tempos.

O homem nada disse, apenas se afastou da porta e deixou-a entrar. Sem olhar para trás ela adentrou o escuro lugar, mesmo de dia era uma eterna penumbra dentro do prédio. Já fazia algum tempo que ela não andava por essas dependências, e era justamente por isso que o que ela pretende fazer a seguir torna-se necessário.

Subiu as escadas iluminadas por velas e relembrou de tudo que já havia passado nesse lugar, por tudo que outrora ocorrera. Tentou se lembrar de qual seria a porta, chegou ao segundo andar do prédio, talvez a área mais escura de todas, era muito difícil se guiar ali dentro. Baseando-se pelo tato seguiu caminhando, passou por duas portas e parou diante da terceira.

Pelo que se lembrava era ali, não poderia ser em outro lugar, tudo era triste e sombrio, reflexo do muito que já acontecera com o homem por detrás da porta. Pensou em bater, mas preferiu abrir a porta de uma vez, sem anúncio, lá de dentro ouviu uma voz falar:

-- Schmidt?

-- Não... Sou eu Saulo.

Um silêncio se prostrou sobre o lugar, por alguns instantes o homem as sombras perdeu a voz. Antes que ele dissesse qualquer coisa, Sabrine se dirigiu até a janela única da sala que estava completamente fechada, e sem pedido algum de permissão a abriu.

A luz solar rasgou todo o lugar iluminando tudo, a muito aquela sala não via qualquer luz que fosse. Agora era possível ver o homem sentado à mesa do que parecia ser um escritório, ele que tentava tapar sua visão por conta da repentina luz incomodando sua retina finalmente seria revelado.

Ele é moreno claro, olhos pretos e pequenos, cerca de setenta quilos e músculos bem firmados, é possível ver seus cabelos longos e encaracolados, amarrados em um volumoso rabo de cavalo, eles soltos provavelmente chegam até um palmo abaixo do ombro. Usa um boné preto e uma camisa sem mangas branca.

-- O que foi isso di Steffano?! Ficou louca?! – Indagou ele indignado.

-- Acho que foi você quem ficou! – Respondeu ela sem medo algum.

-- Quem permitiu sua entrada?

-- E desde quando eu preciso de permissão?! – Agora é ela que fala com ares de indignação, ela prossegue – Você tem me evitado há muito tempo... Nunca entendi essa sua loucura de se trancar aqui!

O homem se levanta, agora é possível atestar sua altura, aproximadamente 1,80m. Já acostumado com a luz, ele sai detrás da mesa e também fala:

-- Você sabe muito bem o motivo di Steffano, você sabe muito bem...

-- ‘di Steffano’? Eu não sou seu cão de guarda... Me chame pelo nome!

-- Sabrine... Peço que saia, Rodrigo virá logo e eu tenho muito a resolver! – Exclamou o homem.

-- Saulo... – Ela foi interrompida pelo homem.

-- Eu já perdi esse nome há algum tempo... Eu não tenho mais identidade, eu sou o Músico! – Sabrine o observou, parecia nutrir sentimentos por ele, o enfrentava por não ter medo, o enfrentava por querer o melhor para o Músico.

-- Ele sente sua falta, ele pergunta por você... O Marco sente a sua falta Saulo!

-- Me chame de Músico! – Exclamou ele cerrando os punhos e batendo furiosamente na mesa. Sabrine não recuou, se aproximou um pouco mais e disse:

-- Você não pode ficar trancado aqui... É nosso líder, precisamos de você lá embaixo, tomando as decisões... – O Músico ergueu a cabeça e disse olhando fixamente para ela:

-- Eles não precisam de um líder, precisam de um Deus... Estão desacreditados o suficiente para manterem sua fé... Eles têm em mim a visão do Deus perfeito, do ser que realmente zela por eles! Eu os coloquei em um lugar seguro, longe daquelas criaturas... Se eu aparecer, toda a magia se quebra... Eles não me querem lá embaixo!

-- Quantas vezes eu vou precisar repetir que você não teve culpa! – Começou a dizer Sabrine – Todos lá fora contam a história ‘dos oito’... Ninguém te culpa de nada...

-- ‘Os oito’... Apenas eu, você o Marco e o Rodrigo restamos... Como eu posso não ter culpa?!

-- Foi uma fatalidade, os que morreram...

-- Tudo bem Sabrine, já teve o que queria, saia! – Exclamou o Músico.

Sabrine se espantou com a exclamação dele, já fazia algum tempo que não se falavam, ela precisava dizer tudo aquilo a ele, se importava com o mesmo, tinha em sua cabeça uma responsabilidade com tal homem. Olhou para ele e voltou a dizer:

-- Espero que você não tenha ligação com esses desaparecimentos...

-- Saia!

-- Por que você mandou o Hugo nessa missão com os coletores?

-- Saia!

-- Por favor, Saulo...

-- Porra Sabrine sai! – Gritou ele furiosamente.

Sabrine se virou e saiu, estava ainda mais confusa. Sentia-se aliviada por tê-lo visto novamente depois de alguns meses, mas estava triste por ter visto no que ele se transformou. Os dois chegaram juntos a Transportadora e junto com outras pessoas, ‘os oito’ tomaram e limparam o lugar. Saulo, o Músico, se sente culpado por ter perdido nesse mesmo dia quatro pessoas, após isso ele começou a se recolher no prédio, saindo cada vez menos, até se trancafiar por completo, não saindo mais.

Foi sua ausência que o transformou em uma lenda, apenas as pessoas que conviveram com ele no início da formação da sociedade já o viram. A imagem do Músico passou a ser fortemente nutrida, e ele nunca mais saiu. Sabrine se preocupa muito com ele, teme que ele enlouqueça, ou que já o tenha feito.

Ela o considera uma boa pessoa, e acaba por fechar os olhos diante das atrocidades que acontecem por lá, sempre acha que tais atos partem de Rodrigo, e acha que ele é uma má influência a Saulo.

Descendo as escadas, Sabrine pensava em tudo que havia acontecido, sua cabeça ainda girava, mas agora não se tratava apenas da ressaca, sua mente se embaralhava, ela não sabia o que pensar. Passou pelos degraus de forma rápida e na mesma velocidade abriu a porta de ferro saindo do lugar.

Andou até sua barraca sem pensar em mais nada, a conversa com o Músico havia sido dolorosa. Adentrou-a e viu Rubão, até já havia se esquecido de mais esse problema, não estava com paciência, acabou sendo rude com o homem que estava acordando:

-- Desculpe Rubão, mas eu preciso que saia! – Rubão abriu os olhos e passando a mão no rosto, disse:

-- O quê?

-- Nós bebemos muito ontem à noite, foi um erro...

-- ‘Foi um erro’? Beleza gata, já saquei... – Rubão levantou-se e começou a se vestir, Sabrine continuou:

-- Seja lá o tenhamos feito, eu acredito que foi a bebida... – Rubão a interrompeu:

-- Eu sei, eu sei... Não é a primeira que uma mina faz isso... Mas não se esqueça de que foi você quem me chamou... E pareceu gostar bastante! – Rubão não era do tipo de quem trata mal uma mulher, mas se sentiu usado, não queria ficar por baixo, resolveu responder na mesma moeda.

Sabrine se irritou, seu dia mal havia começado e já estava extremamente problemático, ela apontou com o dedo indicador para a saída e disse mais uma vez:

-- Saia!

-- Sabe meu telefone, é só marcar hora! – Disse Rubão sério sendo irônico.

Ele saiu de sua barraca, ela não queria que as coisas tivessem saído dessa maneira, a conversa com o Músico havia mexido com ela, não estava em seu estado natural. Deitou-se em sua e passou a refletir, pensar em tudo que havia ocorrido e em como ela prosseguiria após tudo isso.


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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que tenham gostado...
Comentem e opinem!


Os capítulos 'Juventude Hitlerista' e 'Si Bemol com Sétima Diminuta', serviram para entendermos melhor sobre os personagens 'Rodrigo' e 'Sabrine', e transcorreram em um pequeno espaço temporal. O próximo capítulo reunirá todos os outros personagens e por conseguinte será maior...







Säteily



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