O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 43
Capítulo 43 - Entrada


Notas iniciais do capítulo

"Caio aos pedaços e estou caindo..."



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–- Não podemos nos arriscar tanto assim! – Dizia um homem negro, cabelo estilo black power, um cavanhaque bem formulado e trinta e cinco anos de idade. Ele está dentro de uma barraca, é noite, junto dele há mais cinco pessoas sentadas ao seu redor, dividindo o pequeno espaço do lugar.

–- Calma Tomas... Ninguém sabe nada sobre essa reunião... Vamos começar logo! – Disse um homem calvo, olhos negros e aparentes quarenta e cinco anos de idade, ele se pronuncia em um tom de voz mais baixo e sinaliza para que os outros o acompanhem. Após acalmar os nervos, ele volta a dizer:

–- Vamos lá... Não podemos concordar com tudo que está ocorrendo por aqui! Não podemos viver sobre as rédeas de um homem que nós nem sabemos quem é! – Ele se pronunciava com ar de liderança – O grande problema é a falta de armas... Temos que pensar em uma forma...

–- Hugo... Eu sei que tudo que você diz é verdade, mas... – Interrompe-o Tomas – Não podemos fazer nada precipitadamente, se todas essas atrocidades forem reais... Temos crianças aqui...

–- Eu não o entendo irmão Tomas... De que lado está? – Indaga Hugo.

–- Pode parecer que vivemos em uma selva, mas não podemos agir como selvagens... Se ele é tudo o que achamos, poderá descontar sua raiva em qualquer um... – Faz uma breve pausa – Se derraparmos estaremos perdidos!

Os outros homens apenas observavam o debate entre os dois, pareciam admirá-los, ou menos não tinham opinião formada o suficiente para entrar na conversa.

–- Não estou dizendo para invadirmos o Estúdio e estripá-lo... Mas não podemos mais ficar de braços cruzados! – Disse Hugo – Quem foi o último? Demétrius? – Indagou Hugo.

–- Calma aí! É melhor maneirarmos! – Disse um homem de mais de cinquenta anos, cabelos compridos vermelhos e olhos claros.

–- Demétrius... – Disse Tomas ignorando o outro homem – Disseram que ele saiu com os coletores... Mas não podemos provar nada! – Completou em tom de frustração.

–- Irmão Tomas nós... – Antes que Hugo prosseguisse, sons de vários passos são ouvidos do lado de fora da barraca onde se situam, Tomas faz um sinal para que retornem as suas posições originais e que façam silêncio.

Os passos se tornam mais presentes, se aproximando cada vez mais, vozes também passam a ser ouvidas. Os homens que discutiam agora tentam se manter da forma mais natural possível, pegam alguns livros e distribuem entre si.

–- Aloha! – Exclama Rodrigo adentrando a barraca rapidamente.

–- Rodrigo... – Diz Tomas.

–- Não acham que está muito tarde para o clube do livro? – Pergunta em tom irônico.

–- Estávamos com insônia! – Diz Tomas entrando em seu jogo.

–- Hugo... – Rodrigo parece ignorar Tomas completamente – Venha comigo, por favor...

–- Eu... Mas... – Gagueja Hugo.

–- Ele quer te ver... Falar pessoalmente com você! – Exclama Rodrigo que em seguida faz um sinal com a mão esquerda e um homem armado adentra a barraca. Ele prossegue:

–- Vamos escoltar você até o Estúdio! Vamos! – Exclama ele, e ao fazer mais um sinal com a mão, o homem armado puxa Hugo pelo braço e começa a retirá-lo da barraca. Tomas se levanta indignado e diz:

–- Ei! Não pode fazer isso! – Rodrigo se vira furioso olhando para o homem que tenta enfrentá-lo e diz raivosamente:

–- Eu não falo com lixos como você! Raça inferior! Continuem com a leitura seus merdas! – Após essas palavras raivosas ele cospe no chão, Tomas se espanta, não esboça reação, apenas segue observando Hugo ser levado até um local misterioso.


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–- Isso não é proibido por aqui? – Perguntou Vic sorridente enquanto abraçava Alex. Seus corpos nus estão embaixo do chuveiro que a pouco fora apresentado por Alice. A água gelada que dele escorre ameniza o forte calor que se formava.

–- Talvez seja... Mas ainda não fazemos parte desse grupo, não é? Não estão nos testando? – Respondeu ele rindo igualmente, os dois estavam em extrema sintonia, e não se sentiam dessa forma a semanas.

–- Ainda tá desconfiado? – Perguntou ela.

–- Admito que tudo ainda é muito confuso, mas... Era isso que procurávamos... Não vemos zumbis há algum tempo, e isso é um grande avanço! – Destacou Alex.

–- Espero que tudo dê certo... Tenho nos imaginado recomeçando por aqui... Reconstruindo... – Disse Victoria olhando docemente para Alex.

–- Vamos com calma... – Respondeu Alex um pouco mais realista.

–- Eu ainda estou preocupada com o Daniel... Desde aquele dia... Aquilo não sai da minha cabeça... Temo pela saúde mental dele! – Diz Vic.

–- Sabe... Eu me lembro bem o dia em que o conheci – Começa a falar Alex – Ele chegou até a praça desesperado, tinha acabado de receber a notícia que a amiga havia sido morta... Estava tão desesperado... Ele não é uma pessoa ruim, e acho que nunca se tornará! – Finaliza.

–- Bom, é melhor irmos... Daqui a pouco vai aparecer alguém dizendo que temos que ter horário para fazer isso e aquilo... – Descontraiu Victoria.

–- Temos que ir mesmo? – Perguntou Alex rindo – Tudo bem... Mas quando chegarmos à barraca pode expulsar quem lá estiver, porque eu vou acabar com você! – Os dois se beijaram e riram, e começaram a se arrumar para saírem daquele lugar.


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Rubão andava pelas dependências da Transportadora, queria conhecer tudo por ali, entender como funcionam as coisas. Tentava formar uma opinião em sua cabeça, desconfiava de toda aquela gente, mas ainda não havia entendido o real espírito que elas tentavam transmitir.

Várias coisas pairavam sobre sua cabeça, ele não sabia se haviam sido aceitos, se eram bem vindos, e também não sabia se caso fossem, se seria uma boa tentarem o reestabelecimento de suas vidas ali. Tinha que descobrir logo se, e em quem podia confiar.

Caminhando perto da horta, passou a observar um homem trabalhando nela, cultivando e preparando o solo para a colocação de sementes. Tal homem é negro e tem o cabelo estilo black power anos 70, usa uma camisa azul marinho e uma bermuda preta, ele está suado, parece estar naquela tarefa a algumas horas. Rubão se aproxima e fala tentando puxar assunto:

–- Calor, não é não brow? – O homem vira-se e o observa, vê seu estilo e após enxugar o suor da testa com o dorso da mão, responde:

–- É... A tarde tá bonita! Deve chover a noite... – Ele volta ao seu trabalho após respondê-lo:

–- Eu me chamo Rubão! Qual o seu nome? – Insistiu Rubão. O homem se virou novamente.

–- Tomas... – Respondeu brevemente – Você é um dos novatos... Quem está guiando vocês? – Perguntou.

–- Uma garota chamada... Alice... Mas parece ser meio pirada... – Tomas dá um breve sorriso, Rubão continua – Posso te fazer uma pergunta?

–- Claro. – Respondeu Tomas educadamente.

–- Quem é o Músico? O que é essa história afinal? – Tomas se surpreende um pouco com a pergunta, mas mesmo assim responde:

–- Isso já se tornou quase uma lenda... O que contam é que oito pessoas chegaram aqui logo que os mortos passaram a andar entre nós... Eles tomaram e limparam essa transportadora, fazendo-a segura... Eram lideradas por um homem que sempre zelou pelo bem comum em detrimento do seu próprio... Esse é quem chamam de Músico. – Disse Tomas seriamente.

–- ‘Esse é quem chamam de Músico’? Você já o viu? – Perguntou mais vez.

–- Poucos já viram... Somente ‘os oito’, e eu não faço parte desse grupo...

–- Mas como... – Rubão tenta assimilar mais essa informação, olha na direção dos portões e vê Sabrine conversando com outras pessoas – Quem é ela?

–- Ela? Ela é uma dos ‘oito’, são eles que tomam as decisões... Dizem que as ordens vêm sempre do Músico, mas... Isso não podemos saber! – Exclama Tomas.

–- O Rodrigo também é um deles, não é?

–- Sim... – As feições de Tomas mudam, ele passa a olhar na direção de um homem armado que os observa ao longe – Me escuta – Pede a atenção de Rubão – Para a sua segurança e a de seus amigos é melhor não falar mais comigo!

–- Mas...

–- Estou falando sério, vá! – Exclama Tomas uma última vez.

Rubão obedece e começa a andar, saindo do raio de ação de Tomas. Ao mesmo tempo em que as coisas pareciam de desenrolar, um novo mistério surgia. Rubão percebeu com essa breve conversa que não são todos que parecem viver as mil maravilhas naquele lugar, ele percebeu que Tomas parecia não concordar com aquela gente, e não tinha a mesma visão dos demais sobre o Músico.


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Daniel estava com Annabelle nos braços, começou a andar pelo lugar, sempre olhando para todos os lados, não queria permanecer por ali. Sua vontade era de voltar para a estrada, retornar para o que estavam fazendo anteriormente a chegada a Transportadora. Não sabia se conseguiria se adaptar novamente a vida em sociedade, talvez não se encaixasse mais nesse mundo.

Pensava em seus amigos, mas principalmente em Annabelle, não considerava que ali fosse um bom lugar para criá-la, não confiava naquela gente. Talvez a estrada fosse mais segura, ou talvez ele estivesse inseguro demais para recomeçar.

Caminhava nas proximidades do contêiner onde havia ficado preso juntamente com seu grupo. Tentava planejar uma maneira de escapar dali, de sair daquele lugar. Homens armados ficavam sempre perto dos muros, no portão e na guarita. Haviam dois veículos estacionados estrategicamente perto do portão.

O movimento era constante, pessoas trabalhavam, andavam de um lado para o outro, riam, viviam a vida de forma natural, como se aquele fosse o seu novo mundo. Passou a observar as crianças que brincavam por ali, jogando futebol. Em um chute mais exacerbado, a bola foi parar próxima a ele.

Um garotinho branco de quatro anos, cabelos cacheados negros e compridos e bochechas volumosas se aproximou de Daniel, a alguns passos dele, ele olhou e perguntou com seu rosto inocente:

–- Moço... Pode me dar a bola? – Daniel o observou e deu um leve toque na bola com o pé direito, jogando-a na direção do garotinho.

A criança se abaixou e pegou a bola com as mãos, permaneceu observando Daniel e Annabelle em seu colo, e após isso perguntou:

–- Essa neném é sua? – Daniel deu um sorriso e respondeu:

–- Sim, o nome dela é Annabelle.

–- Adanele? – Perguntou a pequena criança, Daniel riu.

–- Como é seu nome? – Perguntou Daniel.

–- Marco. – Após dizer isso o garoto se retirou, voltando a brincar com as outras crianças.

Daniel apenas observou a cena toda, seguia pensando mil coisas. Não se sentia confortável no solo em que pisava e começava a achar que estava sozinho, Alex, Vic e Rubão pareciam querer se manter por ali. Se seus amigos realmente decidissem que permaneceriam, valeria a pena se juntar a eles? Ou seria melhor tentar uma fuga junto a Annabelle seguindo seus instintos?

Sua cabeça que não andava em seu estado natural, ficava cada vez mais perturbada, ele se sentia sozinho, e isso era muito complicado de se passar no momento. Sem mais o que fazer por ali, saiu andando, observando o lugar mais pouco. Enquanto caminhava se deparou com Alice, que amigavelmente o cumprimentou:

–- Olá! Desculpe, eu ainda não aprendi os seus nomes, o seu é...

–- Daniel... Olá! – Respondeu ele sem a mesma animação da garota.

–- Dando uma volta?

–- Espairecendo...

–- A bebê é mesmo sua filha? Desculpe a indiscrição... – Indagou Alice amistosamente.

–- Sim... Se chama Annabelle.

–- Tenho certeza que logo ela se adaptará e daqui um tempo estará brincando com as outras crianças! – Exclamou ela sorrindo.

–- Olha só Alice... Eu realmente não me sinto confortável aqui...

–- Tudo bem, isso é normal... Com o tempo você vai ver como isso é maravilhoso, todos se ajudam!

–- E o que você faz? – Perguntou Daniel.

–- Eu faço parte da cozinha, ajudo a preparar os alimentos... As refeições são feitas em um único local e distribuída a todos. – Respondeu.

–- Vocês são bem organizados... – Espantou-se Daniel.

–- Temos que ser... Estamos construindo uma nova sociedade... Nós nos dividimos em algumas classes – Começou a explicar Alice – Tem os cozinheiros; os coletores, que buscam lá fora os produtos que precisamos; os agricultores, que começaram a fazer essa horta para que tenhamos alimentos frescos; os soldados, que protegem o perímetro... Enfim, são várias classes, cada uma com sua importância aqui dentro... E tem ‘os oito’ que tomam as decisões políticas, e o Músico, que zela por tudo e por todos! – Finalizou Alice.

–- Isso é espantoso... Alice, você disse que não é possível falar com o Músico, mas...

–- Daniel me desculpe, mas está fazendo perguntas erradas para a pessoa errada! Por que não aceita a sua condição? Todos aceitamos! – Exclamou ela um pouco irritada e logo em seguida se retirou.

–- Eu vou ficar maluco aqui! – Exclamou Daniel a si mesmo.


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Rubão seguia tentando se enturmar, não queria ficar isolado no lugar, já que não podiam sair e que não estavam mais presos no contêiner, tentou observar e tentar adquirir o espírito daquela vivência em comunidade.

A tarde já estava os deixando, e a noite ia se anunciando pouco a pouco. Piras por todo o lugar começaram a ser acesas, isso deixava o lugar bem visível à noite, já que não havia eletricidade por lá. Olhou para uma das barracas e viu Sabrine sentada, ela estava com uma criança próxima a ela, a mesma criança que Daniel havia tido uma breve conversa ao pegar a bola.

Começou a caminhar em sua direção, ela se sentava a frente de uma barraca, provavelmente a sua própria, brincava com o garotinho com o qual tinha bastante intimidade, Rubão foi se aproximando cada vez mais, até chegar a sua frente e cumprimentá-la:

–- Olá! – Ela olhou para ele e respondeu sem esboçar muita reação:

–- Olá... Você é...

–- Rubão, eu sou um dos ‘novatos’...

–- Sim, eu sei... Recepcionei vocês quando chegaram.

–- É... Foi tipo ‘para as masmorras’! – Disse Rubão fazendo alguns gestos e engrossando a voz em tom de brincadeira, Sabrine ri e se manifesta:

–- Então... É só um protocolo.

–- Sem problemas gata, eu até gostei de lá, lembrou minha casa! – Novamente Sabrine riu.

–- Rubão... Como estão essas primeiras horas por aqui? – Perguntou ela.

–- Bom Sabrine... Ainda estou meio grilado, é difícil não ter que matar um zumbi a cada hora! – Disse ele.

–- Como sabe meu nome?

–- ‘Os oito’... Todo mundo sabe seu nome por aqui, é famosa!

–- Eles mesmos que inventaram essa história de ‘oito’...

–- Esse garoto é seu filho? – Perguntou Rubão.

–- Não... Meu irmão Marco! – Respondeu ela passando a mão nos compridos cabelos cacheados de Marco.

–- Nós temos uma bebê também...

–- Adanele! – Exclama Marco gerando risadas nos dois.

–- Eu vi, ela parece bem! – Disse Sabrine.

–- Sim ela tá legal... Sabrine, eu percebi que todo mundo aqui tem um trampo, queria saber se nós podíamos dar uma força também. Bom... Eu posso ajudar com a plantação, qualquer coisa! – Exibiu seu raciocínio Rubão.

–- Essa decisão tem que partir dele...

–- Beleza... – Falou Rubão entendendo que ela se referia ao Músico.

–- Olha... Porque não fica aqui e come junto comigo e o Marco? Logo vai vir o jantar. – Disse Sabrine.

–- É claro! – Respondeu Rubão animado.


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Depois de andar pelo lugar durante boa parte da tarde, Daniel resolveu voltar até a barraca, e começou a fazer o trajeto de volta, havia estranhado o fato de não ter visto Alex e Victoria nenhuma vez, mas considerou isso normal, afinal a Transportadora é bem extensa, eles poderiam estar em qualquer lugar.

Seguiu caminhando, e ainda se atrapalhou um pouco para achar sua barraca, tudo ali era novo e ele não havia decorado o caminho ainda. Mesmo com essa dificuldade encontrou a barraca, se encontrava tão cansado que não ligou para os ruídos que começou a escutar antes de adentrar o lugar sem se anunciar.

Ao entrar de súbito, acabou por flagrar Alex e Victoria em meio ao ato sexual, sobre a cama única da barraca, ele parou bruscamente e só pode exclamar já deixando o lugar:

–- Caralho! – Começou a caminhar novamente para longe dali, não sabia se sua presença havia sido notada pelo casal.

–- Porra! Se for pra ficar nessa merda de lugar, que eles se comam em outra barraca! – Exclamou irritado, porém após perceber o teor de sua frase e o motivo de sua indignação, começou a rir sozinho, com certeza o momento era muito mais hilário do que raivoso.

–- Também tava espiando eles? – Perguntou uma voz que acabou espantando Daniel.

Ele olhou para o lado e viu a garota que acompanhava Alice na primeira visita que ela fizera quando estavam presos, ela permanecia olhando para ele, ainda utilizava uma casaco com capuz.

–- Do que está falando? – Perguntou espantado.

–- Eu também os vi ali... – Daniel tentou ignorar o que ela acabara de dizer e perguntou:

–- Qual o seu nome?

–- Jeniffer! Não se lembra de mim? – Perguntou ela.

–- Lembro sim... Só não lembrava seu nome... – Respondeu Daniel mantendo suas feições.

–- E aí, quer fazer o mesmo? Você pode deixar a garotinha com a Beth... Eu tenho uma barraca só pra mim! – Exclamou a garota de forma maliciosa.

–- Mas o que... Quantos anos você tem garota? – Perguntou Daniel mais espantado ainda.

–- Eu tenho quinze, por quê?

–- Eu tenho vinte... Eu acho, já perdi a noção do tempo!

–- E o que tem isso? Ninguém vai te prender... Aposto que já faz um tempo que...

–- Olha só garota, eu não sei qual... – Jeniffer se aproxima mais de Daniel, que se afasta – Eu não quero nada com você! – Disse Daniel finalizando o diálogo e se retirando.

–- Você sabe onde moro, é só aparecer! – Exclamou a garota rindo.

–- Que porra foi essa?! – Exclamou Daniel para si mesmo – Esqueça tudo que viu e ouviu agora, ok Annabelle? – Finalizou se referindo a criança que seguia em sua mochila para bebês bem agitada.


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–- O que vamos fazer Alex? – Perguntou Vic na cama ao lado de Alex.

–- Como assim...

–- Nós íamos para o Nordeste, mas... Isso parece ser tão mais real!

–- Isso é estranhamente real! – Disse Alex – Como eu disse, temos que deixar rolar... Se nos aceitarem...

–- Vamos ficar não é? – Perguntou Vic.

–- Como assim? – Indagou Alex percebendo algo a mais na pergunta de sua amada.

–- Independente do Daniel, do Rubão...

–- Você quer dizer que... – Alex é interrompido.

–- Temos que pensar em nós mesmos agora! Estamos juntos... Independente do que o Daniel e o Rubão decidirem... Somos uma família! – Exclamou ela.

–- Todos nós somos uma família Vic! Estamos há muito tempo juntos, não dá para se separar deles! – Refutou Alex.

–- Então converse com eles... Eu tenho medo... Se qualquer dia disserem que temos a liberdade para ir embora, tenho certeza que o Daniel vai querer ir... Talvez o Rubão também... Eu não quero voltar para aquele inferno, não aguento mais a estrada! – Desabafou Victoria.

–- Não se preocupe... Ainda é muito cedo... Se esse lugar for um bom lugar, não vai ter nada que nos impeça de permanecer, eles vão entender! – Disse Alex reconfortando Vic.

–- A minha preocupação é com o Daniel... Ele tem problemas, às vezes me dá medo...

–- Não se preocupa com isso, já te disse, não tem nada com o Daniel, é uma ótima pessoa... Vamos esquecer isso, aproveitar o momento! – Finalizou Alex beijando a testa de Victoria.


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Daniel caminhava sem rumo, não voltaria a sua barraca por enquanto, não queria arriscar e pegar os amigos novamente no flagra. Não sabia para onde seguir, a noite já caía e ele não tinha um lugar para ir. Seguiu caminhando até ouvir uma voz que já se tornava familiar.

–- Ei! – Era Alice, chamando por ele e sinalizando com a mão para que se aproximasse.

Ela estava em sua barraca, junto dela havia outra garota, que ela ainda não havia visto no lugar. Daniel hesitou um pouco, mas lentamente fora se aproximando das duas sorridentes garotas.

–- Olá novamente! – Exclamou Alice – Desculpe se fui um pouco grossa anteriormente...

–- Sem problemas! – Exclamou Daniel, ele permanecia desconfiado, não conseguia se soltar naquele lugar.

–- Oi... Alice estava me falando sobre você... Vocês! Me chamo Cláudia – Disse a garota que estava ao lado de Alice, cabelos loiros em uma tonalidade escura, rosto arredondado e pele branca, um pouco acima do peso, mas mesmo assim bela, estava com a mão estendida para Daniel.

–- Daniel! – Disse brevemente estendendo a mão e devolvendo o cumprimento.

–- Por que ainda está andando por aí? – Perguntou Alice.

–- A barraca, bom... Está muito cheia! – Respondeu.

–- Logo vão ter barracas individuais, assim que forem aceitos! – Disse Cláudia, Daniel não se manifestou.

–- Aposto que está com fome, você e a lindinha aí! – Exclamou Alice. Mesmo desconfiado, a fome falou mais alto e Daniel respondeu:

–- Sim, estamos famintos!

–- Senta aí, vou trazer alguma coisa para vocês! – Exclamou Alice se levantando e se dirigindo rapidamente para outra área. Daniel sentou-se ao lado de Cláudia e resolveu levantar uma questão que pairava sobre sua cabeça:

–- Cláudia... Posso te fazer uma pergunta?

–- Claro!

–- A barraca que nos deram... Ela está repleta de objetos e outras coisas... – Cláudia fez uma breve pausa tentando se recordar sobre a barraca que ele se referia.

–- Ah... Claro, a barraca de vocês era do senhor Hugo, ele foi mandado em uma missão com os coletores... Infelizmente ele não voltou! – Disse ela tristemente.

–- Ele era um dos coletores? – Perguntou Daniel.

–- Não... Mas o próprio Músico lhe deu essa missão, queria que ele coletasse algo especial, às vezes ele faz isso, nos testa, para sabermos se estamos cem por cento com a comunidade! – Finalizou ela, Daniel nada mais disse.

Alice volta com uma bandeja com alguns artigos dentro, se aproxima e diz em um tom amistoso:

–- Aqui está... Ainda bem que temos essa papinha guardada! Tenho que falar para os coletores colocarem isso na lista, temos um bebê agora! – Disse ela olhando para Annabelle, Daniel havia colocado ela sentada no chão, ela mexia os braços e olhava para todos os lados.

–- Ela é linda, não é mesmo? – Manifestou-se Claudia.

–- É sim! – Respondeu Daniel orgulhoso. Ele agora pegara a comida de Annabelle e se preparava para dar a ela.

–- Onde vai dormir? – Perguntou Alice.

–- Bom... Por aí! – Respondeu vagamente Daniel, já dando a comida à criança.

–- Por aí? Por que não fica aqui com a gente? Tem espaço... – Disse Claudia.

–- ‘Com a gente’? – Perguntou Daniel.

–- É... Nós dividimos essa barraca! – Disse Alice.

–- Vamos lá, não será nenhum problema, você vai ter espaço para dormir com sua filha! – Falou Claudia tentando convencê-lo.

–- Eu não sei...

–- Que isso... Não vai ser problema algum, a menos que se incomode em dormir com duas garotas! – Exclamou Alice rindo, Daniel também riu.

–- Tudo bem então... – Respondeu.


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–- Estética? Cê é formada em Estética? – Perguntou Rubão rindo a Sabrine.

–- Sou sim... Trabalhei cerca de dois anos antes de isso ocorrer! – Disse ela.

–- Desculpe, é que te vendo assim, não imagino cê em um salão...

–- Me vendo assim como? – Perguntou ela.

–- Toda general... Você manda por aqui!

–- Mando nada... – Falou ela um pouco sem jeito. Os dois comiam enquanto conversavam, o prato era composto por arroz, frango e algumas fatias de tomate. Já fazia bastante tempo que Rubão não comia algo que não fosse industrializado, estava nas nuvens, não aguentava mais comer enlatados.

–- Você é de Santos mesmo? – Perguntou Rubão enquanto mastigava.

–- Sou sim, nasci por lá, mas parte da minha família é daqui, então vim para cá! – Respondeu.

–- Maneiro! – Exclamou.

–- E você? O que fazia? – Perguntou Sabrine também comendo.

–- Era vocalista de uma banda... Bocas Ordinárias conhece?

–- Não...

–- Nós estávamos tocando em Rondônia quando tudo ocorreu...

–- E como era sua vida? – Perguntou Sabrine, Rubão sentiu o peso da pergunta e a amenizou respondendo:

–- Nada de anormal... Eu tinha uma esposa, um filho...

–- Sinto muito! – Exclamou ela percebendo que havia tocado em um ponto difícil. – Você parece ser gente boa Rubão! – Continuou ela olhando Rubão nos olhos – Você bebe?

Rubão pensou nos remédios que estava tomando, e em Vic que havia lhe dito que ele não poderia interromper a medicação e nem consumir álcool. Tudo isso passou por sua cabeça, mas o momento era tão leve, que ele pensou: “Que mal isso pode fazer?”.

–- Bebo sim, o quê que cê manda? – Respondeu rindo.


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–- Ele está bem amarrado Schmidt? – Perguntou a voz na mesma sala as escuras citada anteriormente. Rodrigo verifica se o homem que está preso na cadeira está amarrado da forma correta.

–- Tudo certo! – Exclama Rodrigo, ele parece feliz, sorri enquanto toda a cena prossegue.

–- Tire o seu capuz! – Ordena a voz mais uma vez. Rodrigo assim o faz, revelando o homem que outrora havia sido retirado de sua barraca enquanto se reunia com os outros homens. A voz que vem das sombras prossegue:

–- Você sabe o que significa a palavra ‘boato’ senhor Hugo Costa? – O homem assustadíssimo, segue sem reação, o medo exala por todo o seu corpo, a voz prossegue – “Notícia divulgada sem fundamento, princípio de uma inverdade”... Foi o que chegou a mim... Um boato, queria confirmá-lo com o senhor!

–- Eu não sei do que está falando! – Exclamou o homem bastante nervoso.

–- É o que veremos... Ouvi uma história que me deixou bastante intrigado, sobre uma revolta... Sobre rebeldes! – Rodrigo dá uma cotovelada no rosto de Hugo e exclama em seguida:

–- Responda a ele! – O homem nada diz, a voz então continua no mesmo tom, calmamente.

–- O que há de verdade nessa história de rebeldes?!

–- Nada... Eu não sei de nada! – Rodrigo dá um soco dessa vez.

–- Costa... Costa... Você conhece o álbum ‘Contraband’? – Pergunta a voz que sem aguardar uma resposta prossegue – É um disco bem interessante de uma banda chamada Velvet Revolver... Nele há uma música que se chama ‘Set Me Free’... Posso cantar para você!

Rodrigo abre um sorriso ainda maior, retira do bolso um canivete, e se diverte observando as feições de horror que Hugo começa a exprimir, ele sabe que corre um grande perigo. A voz então começa a cantarolar:

–- “You operate and motivate on synthetic fuel...” – Após esse trecho, o homem em meio as sombras faz um sinal para Rodrigo, levantando a mão direita.



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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que estejam gostando...
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Säteily



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