O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 36
Capítulo 36 - Craniotomia


Notas iniciais do capítulo

"O mundo cruel vai tentar mudá-lo"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/349667/chapter/36

-- Pressão e batimentos? – Perguntou Vic mais uma vez, ela aparentava estar centrada e calma, diferente de Alex, que seguia receoso.

-- Quatorze por dez e cento e quarenta... – Respondeu.

Victoria que já havia feito uma incisão vertical na nuca de Andressa, agora trazia esse corte na horizontal, subindo cerca de cinco centímetros na direção de sua orelha. Tudo era feito de forma muito delicada, era preciso muito cuidado.

Cautelosamente, Vic começou a desprender a camada da pele da parte de trás da cabeça de Andressa, esse movimento era realizado na intenção de deixar o crânio à mostra. Aos poucos ela foi realizando tal movimento, conseguiu desprender cerca de quatro centímetros de sua pele, de ponta a ponta na nuca.

Já era possível segurar esse pedaço solto de tecido epitelial, Victoria agora, passou a segurar a pele com uma mão e com a outra manusear o bisturi para que o corte fosse estendido até a altura das sobrancelhas. O sangue que seguia escorrendo era limpo por Vic, ela não podia se precipitar, se fizesse algo desmedido, a vida de Andressa ficaria por um fio.

Alex observava a tudo espantado, tentava se manter centrado, pois reconhecia sua importância em tal ato. Precisava se acalmar e seguir atento aos números e bips mostrados nos monitores dos quais ele não desgrudava o olhar. Victoria lhe perguntou mais uma vez sobre a pressão e os batimentos, que seguiam subindo a cada novo movimento de Vic.

A visão que tinha era realmente de se espantar, Andressa estava deitada na maca, e a pele de sua cabeça estava sendo esticada, cortada, seu crânio já estava parcialmente à mostra e ainda viria mais pela frente.

Victoria seguia cautelosamente a realização de suas intervenções, o corte já estava na altura desejada, e agora o restante de tecido precisava ser desprendido. Foi o que ela fez, sempre se preocupando em realizar a limpeza, por esse motivo, já podia se imaginar que a cirurgia poderia durar bastante tempo.

_____________________ X________________________

Depois de comerem e alimentarem Annabelle, Daniel e Rubão resolveram ficar mais um pouco na cozinha, sabiam que o que Alex e Vic estavam fazendo poderia demorar bastante, e talvez não fosse seguro ficar perambulando pelos corredores. Precisavam pensar na criança também, no que fosse mais seguro para ela.

Os dois passaram bastante tempo conversando, porém com o passar dos minutos, Rubão foi mudando de atitude, mostrou-se mais calado, suas feições mudaram. Daniel passou a perceber que ele estava diferente, e não era de hoje, as mudanças repentinas de humor e personalidade ficavam cada vez mais evidentes no vocalista.

Daniel havia acabado de verificar a porta da cozinha, já era a terceira vez que o fazia, ele seguia com a pequena Annabelle nos braços, depois de comer ela mostrava-se mais calma, estava sonolenta.

Rubão estava sentado em uma cadeira, perto de um emaranhado de panelas que se amontoavam ao chão, reflexo da bagunça que haviam encontrado naquele lugar. Ele estava de cabeça baixa e batia os dedos rítmica e ininterruptamente na mesa, o boné que usava escondia seu rosto. Fazia alguns minutos que não falava.

-- Rubão? – Perguntou Daniel que não obteve resposta – Você... Tá bem?

Rubão nada respondeu, ele seguia realizando os mesmos movimentos, passava agora a balançar a cabeça de um lado para o outro, agia de forma muito estranha, de uma hora para outra o pico de humor havia ocorrido.

-- O que aconteceu? Você estava rindo... Nós estávamos conversando... O que... – Daniel hesitava em se aproximar, não fazia ideia do que poderia estar acontecendo.

Rubão levantou de súbito, Daniel afastou-se como em reflexo protegendo Annabelle. O rosto de Rubão podia ser visto agora, estava suado, ele estava agitado, olhou para Daniel e disse:

-- Não se... Não se preocupa brow... Eu preciso ver uma para aí!

O mesmo passou por Daniel rapidamente saindo da cozinha, Daniel o seguiu, não estava entendendo o poderia estar havendo. Tentou argumentar mais uma vez, indagando-o:

-- Aonde você vai cara?

-- Não se preocupa eu conheço a cidade... – Respondeu.

-- Espera... Você não pode sair!

Não houve tempo para mais diálogo, o agitado homem já dobrava os corredores em direção à saída. Daniel não o seguiu, não poderia sair e deixar Vic e Alex a mercê de uma possível invasão zumbi. Não podia também deixar Annabelle desprotegida, pois sair seria por em risco a vida dos dois. Ao mesmo tempo, sentia-se no dever de impedir o amigo de sair pela cidade no estado em que estava, mesmo sem saber o que poderia ser, era notável que aquele não era o estado normal de Rubão.

Ele escolheu o que achou ser mais seguro, ficou com a criança na Unidade, apenas torcendo para que Rubão ficasse bem e não fosse pego por zumbis, a partir de agora ele estava sozinho e sua segurança estava por sua conta.

_____________________ X________________________

-- Vic eu acho que a pressão está muito alta! – Exclamou Alex ao ver o número que se mostrava no monitor naquele instante.

Vic olhou para os mesmos dados, e sem nada dizer aplicou uma substância em And, que aos poucos foi normalizando seus sinais vitais.

Ela continuou com o procedimento, havia acabado de desprender a camada de tecido restante, Andressa agora tinha metade da parte posterior de seu crânio à mostra. Agora era necessário iniciar a segunda etapa, após ter conseguido expor a parte óssea, era preciso abri-lo.

Victoria terminou de realizar a limpeza no local, que havia gerado um sangramento moderado, mas nada que não pudesse ser contido por suas habilidades médicas. Após isso feito, ela foi até a mesa de materiais e pegou uma mini serra, que ao ser ligada fazia uma barulho nada agradável.

Alex percebeu o que aconteceria e ficou bem nervoso, a cabeça de And seria aberta naquele instante. Mais uma vez centrou-se e pensou consigo mesmo que não podia desesperar-se ou se espantar com nada que ali acontecesse, pois o mais importante era ser útil para que Andressa saísse de tal situação.

A serra já estava preparada, e Vic também. Após um breve momento de concentração e respirar fundo, a médica posicionou o equipamento na parte posterior central do crânio de And, e com muito cuidado passou a abrir a parte óssea logo acima da sutura lambdoide. Tudo feito com muita calma e precisão, qualquer erro poderia ser fatal.

O sangue voltou a jorrar, e era preciso realizar novamente a limpeza. Foi o que Victoria fez, se utilizando da pinça com esparadrapo, limpou a área para que pudesse seguir realizando o procedimento. Um problema se mostrava em seu trabalho, em uma cirurgia normal realizada para a resolução de um aneurisma, o planejamento detecta a região exata em que devem ser feitas as aberturas, porém como tudo fora feito de forma rápida, Vic precisaria abrir uma área maior, o que aumenta o risco de problemáticas.

-- Pressão e batimentos? – Perguntou mais uma vez.

-- Quinze por nove e cento e setenta e quatro e subindo! – Respondeu Alex.

Vic seguiu centrada e mais uma vez nada disse, realizou novamente a aplicação de um medicamento em sua paciente e voltou a se concentrar na abertura de seu crânio. Com o medicamento aplicado a pressão e batimentos diminuíram um pouco, porém já se mostravam longe dos números iniciais.

A serra foi mais vez ligada e o osso seguiu sendo aberto, é necessário força e jeito ao mesmo tempo, pois o osso craniano é resistente, porém delicado, tudo deveria ser feito de forma proporcional. Mais uma parada fora feita para a realização de nova limpeza.

Do quadrado que Vic pretendia abrir no crânio de Andressa, ela já havia conseguido cortar a metade aproximadamente, tudo era muito cansativo, essa com toda certeza era sua cirurgia mais complicada e difícil de todas.

_____________________ X________________________

De subido Daniel desperta de um breve cochilo que havia tido sentado na cadeira, já fazia um bom tempo desde que Rubão saíra da Unidade. Ele estava bem cansado, Annabelle dormia em seus braços, parecia calma, ela nada sabia sobre o mundo e talvez assim fosse melhor.

Mais uma vez Daniel passou a imaginar o futuro, como seria crescer nesse mundo, como seria desenvolver-se sem saber como tudo era “seguro” antes do vírus. As lembranças do passado fomentavam seu futuro, mas e para Annabelle? Que esperança de melhoras teria, se ela nunca teve contato com o mundo anterior? Como sua personalidade e caráter seriam moldados em um lugar em que a única regra é matar ou morrer? Como seria educada sem escolas, como seria curada sem hospitais? Tudo isso o atormentava, porém ao vê-la ali, dormindo, longe de tudo isso, talvez houvesse esperança, talvez ainda aja saída.

Para se ter um futuro era necessário se ter um presente, e por isso ele passou a se preocupar com Vic e Alex no centro cirúrgico e Rubão. O que havia acontecido com ele? Porque Rubão mostrava-se tão revolto? Daniel estava por demais confuso, sentia que enlouqueceria a qualquer momento.

Já eram seis horas da manhã, o sol já despontava por entre as nuvens, e mesmo do lado de dentro da Unidade era perceptível que a noite já os havia deixado. Fazendo rápidos cálculos, Daniel mensurou que os dois já deveriam estar a três ou quatro horas na cirurgia. Ele sabia o quanto era cansativo, como trabalhava com aparelhos de radiodiagnósticos, já havia sido solicitado uma vez que ele realizasse imagens durante uma cirurgia. Ele sabia na prática o quanto uma intervenção cirúrgica era demorada e delicada, só restava a ele esperar, não podia mais fazer nada.

_____________________ X________________________

Victoria seguia usando a torturante serra em Andressa, Alex apesar da cena nada agradável, seguia firme, exercia bem seu papel. Outra limpeza fora realizada e novamente uma verificação de sinais vitais foi feita. Tudo seguia dentro das normalidades, até o momento a operação era um sucesso.

O quadrado feito na parte óssea entre os parietais e o occipital havia sido realizado com sucesso. Um pedaço de osso com cerca de sete centímetros acabava de ser retirado de Andressa, seu crânio agora estava aberto. Mais uma vez, sangue escorreu de sua cabeça, dessa vez em uma quantidade maior que das outras etapas. Seus sinais vitais começavam a subir de forma desordenada.

-- Vic, Vic! Vinte e dois por treze e duzentos batimentos! – Exclamou Alex, mesmo sem conhecimentos prévios, ele sabia que os números eram exorbitantes.

Tal numeração seguia mudando constantemente, como nunca havia ocorrido anteriormente, os batimentos começaram a diminuir drasticamente. Victoria olhava para o monitor enquanto seguia limpando o sangramento.

-- Cento e cinquenta... Cem... Cinquenta... Vic! – Alex exclamou um pouco mais alto, Victoria seguia sem mudar os movimentos, nada dizia e observava o que o monitor lhe mostrava. Alex seguiu falando mais assustado ao olhar novamente para a tela – Dez... Zero... Vic!

Um bip ininterrupto passou a ser ouvido, Alex olhava para o monitor e seguia chamando por Vic, os batimentos de Andressa chegavam agora à zero.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que tenham gostado!

Comentem, quero saber suas opiniões!

Um aviso para quem me mandou personagens, estamos em uma etapa bem importante na fic, e seus personagens serão integrados logo mais, haverá uma mudança e bom... Aguardem!







Säteily



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.