O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 31
Capítulo 31 - Como uma Foto Kirlian (pt. 2)


Notas iniciais do capítulo

"Só por uma noite..."



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-- Desembucha logo homi! – O velho homem falava com um típico sotaque interiorano, Daniel muito nervoso, conseguiu dizer:

-- Eu... Eu... Eu não estou fazendo nada senhor! – Disse gaguejando, ele havia se espantado bastante com a situação, não esperava de maneira alguma que aquele homem aparecesse o ameaçando com uma arma.

-- Ocê tá sozinho?! – O velho seguia mantendo suas fortes feições e seu tom de voz ameaçador, sua intenção era intimidar Daniel, o que parecia funcionar.

-- Sim senhor, eu... Eu estou sozinho!

-- E que nome foi aquele que cê falou antes d’eu chegar?!

-- Nada senhor... Eu estava atrás de frutas! – Daniel tentava manter a calma e ser um pouco mais convincente, estava irritado consigo mesmo por ter sido surpreendido dessa maneira.

-- Tu tá querendo me roubar seu moleque! – Exclamou o homem apontando a arma para mais próximo do rosto de Daniel.

-- Não senhor, eu nunca... Só queria frutas! – Disse Daniel dando dois passos para trás se afastando da espingarda.

-- Se der mais um passo estouro essa tua cabeça homi! – Disse o homem se aproximando um pouco mais – Vem comigo ladrãozinho, vem!

-- Não... Me deixa ir, eu não peguei nada seu! Preciso ir! – Exclamou Daniel.

-- Nada disso, vem logo! – O homem puxou Daniel pela camisa e fez sinal para que ele caminhasse em frente, enquanto o velho o seguia de perto com a espingarda em punho.

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Alex tentava encontrar uma posição que fosse mais confortável para sua perna fraturada, a dor diminuíra, mas agora ele passara a sentir um formigamento na mesma, além de um mal estar generalizado, incluindo dor de cabeça e enjoo.

Victoria olhava constantemente para os céus, temia que algo houvesse ocorrido com os dois que foram em busca do suporte para Alex. Ela sabia que com breu que a escuridão trazia, tudo ficaria complicado, tanto para Rubão e Daniel, quanto para o restante do grupo. Victoria também sabia que se algo acontecesse com Rubão e Dan, ela teria que passar a tomar as decisões, e não imaginava qual seria seu comportamento estando sozinha com dois feridos.

And seguia na mesma situação, uma incógnita. Victoria ia constantemente até ela, que estava quieta, diversas vezes fechava os olhos por certo período de tempo, estava também muito sonolenta, e é claro reclamava de dores de cabeça.

Vic sentia-se impotente, pois naquele momento, seu dom na área da medicina só podia ser utilizado de forma paliativa. Ela não sabia ao certo o que podia fazer, mas no momento, o importante era acompanhar aqueles dois de perto.

-- Eles já deviam ter voltado, não é mesmo? – Perguntou Alex olhando para o céu enegrecido, já era quase noite.

-- Acho que não... Não faz tanto tempo assim que eles saíram... – Respondeu Vic.

-- Nós dois sabemos que você está mais receosa que eu! – Devolveu Alex.

-- Bom... É claro que estou preocupada, mas... Sei que eles estão bem!

-- É o que eu espero também...

-- Estão com fome? – Perguntou Vic tentando mudar o clima e teor da conversa.

-- Claro... – Respondeu brevemente Alex.

-- Andressa? – Perguntou Vic.

-- Sim... Preciso de água também... – Respondeu ela com poucas palavras.

Victoria se dirigiu até as caixas e mochilas que Rubão havia empilhado na beira da estrada, após retirá-las do carro, pegou e juntou entre os braços duas garrafas de água e três enlatados.

-- Aqui está... Feijoada em lata! – Disse sorrindo e entregando a And – E para você... Deixe-me ver... Que coincidência, feijoada em lata também! – Disse entregando a Alex.

-- Obrigado! – Disse Alex olhando em seus olhos – Obrigado por tudo! – Victoria respondeu com um breve sorriso, voltando-se em seguida para seu próprio enlatado.

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Daniel seguiu andando pelo mato junto ao velho, não fazia ideia para onde estava sendo levado, mas sabia que precisava se livrar logo daquela situação, não podia ser sequestrado mais uma vez, os que ficaram na estrada dependiam dele para prosseguir.

Continuou andando sem nada dizer, apenas obedecendo às ordens que o velho empunhava. Chegou a olhar para trás algumas vezes, sendo sempre repreendido, pensou em Rubão, no que ele poderia ter feito, se havia voltado para estrada ou apenas se escondido.

Após caminharem por cerca de quinze minutos, chegaram até uma clareira feita no meio da mata. A primeira coisa que chamou a atenção de Daniel naquele lugar foi uma moto recostada a uma árvore, uma motocicleta do mesmo estilo das que são utilizadas em MotoCross, bem resistentes para andar em terrenos inóspitos.

Naquele lugar havia também uma fogueira no meio que começava a ser acesa, uma barraca feita de lona e tendo partes de árvores como base, mas não era uma barraca estilo acampamento comum, era uma espécie de pequena casa que fora construída. Sua entrada estava coberta por uma cortina improvisada, feita de lençóis, era uma moradia bem rústica e que provavelmente abrigaria duas ou três pessoas.

No mesmo local, Daniel observou que por todos os lados havia objetos, enfeites de natal pendurados nas árvores que ficavam ao redor, um varal ao fundo com algumas roupas estendidas, além de pelo menos dois galões que provavelmente continham gasolina dentro.

Era um abrigo com o mínimo de organização, aquelas pessoas provavelmente estavam fazendo daquele lugar um recomeço de lar. O velho seguiu acompanhando Daniel, que ao chegar até o acampamento, recebeu o pedido para que parasse e levantasse as mãos, ele então assim o fez.

-- Norberto! – Gritou o velho duas vezes.

Um homem grande, com cerca de 1,90m de altura e mais ou menos cem quilos, com aparentes quarenta anos de idade e um ralo cabelo escuro saiu da barraca, espantou-se a primeira vista ao ver Daniel no local e disse em seguida.

-- Quieto tio! Ocê vai acordar a Rosa! – Recriminou o homem.

-- Eu encontrei esse ladrãozinho logo ali no mato! Ele queria nos roubar!

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Victoria finalizava seu enlatado ainda tentando disfarçar sua preocupação com os que foram em missão. A noite já se mostrava presente, e a lua parecia que iria fazer companhia a todos naquele final de dia.

-- Posso fazer uma pergunta? – Questionou Alex após engolir a última parte de seu alimento.

-- Claro... – Respondeu Vic.

-- Você nunca pensou em se matar quando estava em cárcere com aqueles monstros? – Victoria sentiu o peso da pergunta, mas não se sentiu desconfortável em responder:

-- Isso me passava a todo o momento pela cabeça... Eles não me deixavam usar os artefatos médicos longe deles... Eles sabiam – Disse apertando a lata vazia – que se eu ficasse com o bisturi ou com uma agulha, eu iria usar aquilo para me matar! Eles não podiam arriscar de ficarem sem sua... – Vic preferiu não terminar a frase.

-- Sei que pode parecer estranho eu perguntar isso agora... Desde que te conheci, sempre quis fazer esse questionamento... Não me leve a mal! – Justificou-se Alex.

-- Sem problemas... – Disse Victoria abaixando a cabeça – Eu percebi uma coisa em você...

-- O que?

-- Esse seu colar, com esse pingente... – Disse Vic se aproximando e puxando o cordão de Alex que estava dentro da camisa. – Isso é algum símbolo?

-- Você é a primeira pessoa desse grupo a perguntar sobre isso! – Respondeu Alex rindo.

-- Sério? Mas o que significa? Você nunca o tira...

-- É um pássaro feito com clipes e uma tampa de garrafa... Bom... Eu era voluntário em um abrigo para menores em Manaus, passava os sábados com as crianças... Elas me fizeram esse cordão, trago como um amuleto! – Respondeu ele.

-- Voluntário? Você pelo visto é a melhor pessoa do mundo! – Disse Vic rindo e o encarando.

-- Que isso... Que nada... – Falou Alex um pouco consternado, e após olhar para ela – Você é uma boa pessoa Vic... Sofreu e batalhou muito nesse mundo que virou do avesso... Você merece viver mais do que qualquer um de nós aqui!

Victoria o olhou profundamente e se emocionou com as sinceras palavras ditas por Alex, aproximou-se dele e o beijou. Curta e brevemente seus lábios se tocaram. Após todo o sofrimento que havia passado na mão de diversos homens, ela não imaginava que tão cedo conseguiria ter contato com um novamente.

O breve beijo transformou-se em algo mais forte, os dois passaram a se beijar profundamente. O belo momento só fora cortado por um som de dor e agonia ao mesmo tempo, um gemido fora ouvido ao fundo. Os dois cessaram o beijo e viram que o som vinha de And, que vomitava bastante, Vic levantou-se e foi até ela, mas antes que chegasse lá, Andressa caiu ao chão desmaiada.

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-- Quem é esse tio? – Perguntava o homem ao velho surpreso.

-- Ocê é surdo, seu monte de esterco? Esse é um ladrãozinho que tava aqui perto!

Daniel reparou no homem que debatia com o velho, e viu que ele também portava uma arma, só que a dele posicionava-se na cintura.

-- Vai pegar uma corda! Vamo amarrar esse moleque pra ele aprender a não roubar ninguém! – Disse o velho ao homem.

-- Eu não roubei nada! E nem quero roubar nada! Só estava de passagem, me deixar ir! – Exclamou Daniel criando coragem para se manifestar.

-- Ele tá certo tio! Deixa o homi ir... Porque ocê trouxe ele pra cá?

-- Norberto! – Exclamou o velho para o homem.

-- Isso vai dar pobrema ô tio! – Respondeu Norberto frustrado com as atitudes do velho homem. – Acho que o senhor já tá gagá! Onde já se viu... Trazer um prisioneiro?! – Resmungou Norberto.

-- Ocê me respeita! Enquanto tiver vivo, eu é que mando aqui! – Falou o velho, calando Norberto.

Daniel percebeu que se tratava de um grupo de caipiras, estavam mais perdidos do que ele. Não imaginava ao certo o que fariam com ele, mas com certeza não seria nada comparado ao sequestro anterior. Ao mesmo tempo em que eles aparentemente não representavam perigo, eram um atraso em seu caminho, já que ele precisava voltar o quanto antes para a estrada para ajudar os que ficaram.

Norberto atendeu ao pedido do tio e adentrou a barraca para pegar a corda solicitada. O velho seguia ameaçando Daniel, ainda com a arma em punho. No período de tempo em que Norberto foi buscar a corda, um barulho fora ouvido no meio do mato.

-- Que foi isso? – Perguntou o velho olhando para os lados – Nor... – Antes que ele completasse o grito por Norberto, Rubão surgiu da penumbra o acertando na cabeça com um golpe desferido por ele com o taco de baseball.

O velho foi ao solo, silenciado pelo rápido movimento de Rubão. Norberto saiu da barraca e viu seu tio no chão, com a cabeça ferida e tentou pegar sua arma na cintura, porém em meio ao nervosismo, antes que conseguisse, Rubão correu até ele e também o certou com um golpe do taco muito forte na cabeça.

Norberto foi ao chão e Rubão não se conteve, seguiu distribuindo golpes, dilacerando a cabeça do homem que não apresentou nenhuma reação. Daniel pegou a espingarda que o velho deixou cair no chão. Olhou para Rubão e o viu com feições diferentes do comum, estava com o olhar perdido e respirando muito forte. Mostrou uma agressividade talvez desnecessária naquele momento.

-- Você tá legal? – Perguntou Daniel um pouco receoso. Após uma breve pausa, Rubão respondeu:

-- Eu to legal brother... To legal...

Daniel não sabia se condenava a atitude de Rubão ou a louvava, estava confuso. Ao mesmo tempo em que havia sido salvo, pensava se era mesmo necessário matar aqueles homens daquela forma. Refletiu por pouco tempo e achou melhor ver aquilo como algo benéfico, afinal ele tinha uma arma apontada para a face, o velho poderia matá-lo sim a qualquer momento.

Os dois ainda estavam se recompondo do ocorrido, quando um barulho foi ouvido de dentro da barraca, vindo para o lado de fora, se aproximando. Daniel ergueu a arma e atirou assim um vulto abriu as cortinas para sair de dentro do abrigo improvisado.

Sua atitude fora puro reflexo, não pensou direito no que acabara de ser feito. Após o tiro, um corpo agonizando veio ao solo, uma mulher com uma longa saia, e uma blusa de alça escura, cabelos pretos compridos e mal tradados. Daniel foi até ela, ela cuspia sangue e se debatia. Ele começou a se culpar pelo que acabara de ser feito. Por um momento de autodefesa, alguém que não teve nem tempo de se defender, acabara de ser condenada a morte.

Daniel começou a andar de um lado para o outro, inquieto, a mulher seguia morrendo aos poucos. Rubão viu o estado em que Daniel se encontrava e foi até a mulher, posicionou seu taco e com algumas pancadas, pois fim a seu sofrimento.

-- Tá tudo bem brother? – Perguntou Rubão.

Rubão não obteve resposta, Daniel seguia sem saber o que pensar. Tentava se confortar imaginando que a mulher poderia estar armada, ou trazer algum perigo real a eles, mas seguia confuso. Tentando acabar com a culpa, respirou fundo e disse:

-- Vamos logo embora daqui Rubão, temos que voltar para o grupo!

Rubão respondeu com um sinal de positivo com a cabeça. Os dois pegaram as recolheram as armas do velho e de Norberto, e uma faca que a mulher tinha na cintura. Ele também começou a verificar a moto, sabia que ela seria útil para o grupo, a desencostou das árvores e foi verificar os galões de combustível.

Quando tudo estava pronto par que eles fossem embora, um som peculiar os chamou a atenção. Tal som vinha de dentro da barraca, Daniel parou para prestar atenção se o que ouvia era real.

-- O que é isso? – Perguntou Rubão a Daniel.

-- Isso é... Um choro de bebê!


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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo... Espero que tenham gostado!

Eu achei interessante de se escrever... Surpresas virão, aguardem!

Comentem, opinem e continuem acompanhando!










Säteily



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