Daniel pede ajuda a Gabriel para desamarrar a tipoia improvisada de seu braço, ele estava há algum tempo se movimentá-lo, e isso era ruim, precisava verificar o estado da cicatrização, se é que havia cicatrização.

Os pontos estavam feios, provavelmente infeccionados, tudo fora feito de forma improvisada, e aquilo já deveria ser esperado.

-- Cara, tá bem feio isso, hein? – Diz Gabriel.

-- Realmente, tá bem dolorido, mas eu tenho que deixar o ferimento respirar, e preciso tentar movimentar esse braço!

-- E como está o braço?

-- Tá dormente, não to sentindo direito!

-- Você vai fazer o que?

-- Improvisar uma fisioterapia, preciso começar a movimentar o braço e o ombro aos poucos. O ferimento eu vou cuidar com um remédio que eu tenho na mochila.

-- Você vai embora amanhã também? – Perguntou Gabriel.

-- Sim, acho que já fiz o que deveria aqui. Tinha esperança de achar um lugar seguro, mas esse cara, o Alex, ele parece não querer ninguém com ele... Vou ter que seguir o rumo... E você, vai pra onde?

-- Não sei, também não tenho escolha... Vou pegar a estrada, tentar achar outra cidade, buscar um lugar seguro, sem zumbis... Sem pessoas...

-- Acho difícil brother!

-- Não precisam fazer isso! – Uma voz vinda da escuridão é ouvida, os dois não haviam percebido a chegada de Alex, que continua – Eu pensei bastante no que vocês falaram... E apesar da desconfiança, darei uma chance a vocês, não precisam ir embora!

-- Você... Você vai nos deixar ficar? – Pergunta Gabriel.

-- Sim, vamos ver no que vai dar! – Afirma Alex.

-- Desculpe, mas eu não vou ficar aqui, não estou sozinho e não posso ficar aqui protegido enquanto pessoas que amo estão aí fora! Vou atrás delas!

-- Não posso oferecer mais do que isso, desculpe... – Responde Alex.

-- Não é sua culpa, acho que não deveria ter vindo aqui...

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Isabelle seguia sem falar com a irmã durante a rápida viagem que as duas faziam cortando as ruas com a camionete roubada. Andressa segue firme na direção, ainda está com os nervos à flor da pele, uma mistura de sentimentos altamente explosivos, também preferira não falar nada para não causar outra discussão.

O dia vai nascendo lentamente enquanto as duas ainda percorrem a longa avenida, agora fica clara a escolha feita por Andressa, o caminho escolhido fora justamente à praça, praça na qual Daniel já pensava em se retirar.

-- A praça... – Diz Isabelle para si mesma – Como não pude perceber, minha cabeça estava tão bagunçada por conta de tudo que ocorreu que não imaginei que esse seria o lugar que And nos traria, mas então... Daniel! Será que ele ainda está vivo? Será que este lugar é perigoso? – Pensou Isabelle.

O carro já estava cada vez mais próximo da praça e os primeiros raios de sol já são visíveis. And dirige de forma fria e ríspida ao mesmo tempo em que constantemente olha para trás e pelo retrovisor na esperança de não ver nenhum daqueles homens seguindo-as.

-- Me desculpe And, me des...

-- Depois Belle, depois... – Interrompe Andressa.

As duas finalmente chegam, estão de frente para o grande portão. Andressa sai do carro com o arco e sua última flecha em mãos, dá uma breve observada para o lado de dentro da praça e ouve uma movimentação. Três homens vêm correndo na direção delas, um deles está armado, And prepara seu arco, quando ouve uma voz gritar:

-- Ei! Sou eu! O barbicha! – Grita Daniel. Alex o contesta e ele afirma que conhece as duas, e que as pessoas da qual ele se referia, eram elas.

Daniel, Alex e Gabriel chegam até os portões, Andressa segue com o arco levantado, e Alex segue com a arma na mão.

-- Tudo bem pessoal podem abaixar as armas! – Diz Daniel olhando para Alex e Andressa – Tá tudo bem!

-- Elas são as pessoas que você se referiu? Pelas quais você iria voltar? – Pergunta Gabriel.

-- Sim, podem abrir os portões!

Alex ainda desconfiado vai até as correntes e abre os portões, Isabelle entra na frente e Daniel vai até ela abraçá-la, ela refuta o afeto e anda para dentro a praça sem falar nada. Andressa vai até a camionete e a estaciona dentro da praça, ao sair vai até Daniel:

-- Eu preciso te dizer uma coisa!

-- É sobre a Isabelle?

-- Não... Bom, tem haver com nós duas.

-- Pode falar.

-- Nós só viemos para cá, porque nossa casa foi invadida ontem!

-- O que? Zumbis?

-- Não, tinha um grupo de dez homens mais ou menos, estavam saqueando as casas ao lado. Eles nos ouviram e invadiram nossa casa... Eu matei dois deles e fugi junto com Belle.

-- Então essa camionete...

-- Eu roubei deles... Eu tenho medo deles nos acharem, deles quererem vingança ou sei lá! Esse foi o único lugar que eu pensei, eu realmente não sei o que fazer!

-- Nossa... – Daniel mostrava-se surpreso com tudo que acabara de ouvir, acabava por se sentir pior em saber de tudo que elas haviam passado enquanto ele estava ausente.

-- Eu não sei se eles podem nos achar aqui, mas talvez seja seguro...

-- Tem um cara aqui que tem que decidir isso, ele é o ‘dono da praça’! – Diz Daniel.

-- Por falar nisso, onde está todo o perigo que aquele homem falou? – Pergunta And.

-- Tudo já foi resolvido, mas agora precisamos resolver a situação de vocês, se esses caras vierem atrás de vocês... É melhor esconder a camionete nos fundos da praça, perto das árvores, lá ela não vai poder ser vista da rua...

Isabelle estava sentada no chão, com sua mochila no colo, observando de longe a conversa da irmã com Daniel. Alex estava ao lado de Gabriel, um pouco mais ao fundo, observando a tudo.

-- Você acha que elas são perigosas? – Perguntou Alex a Gabriel.

-- Quanta mudança, você perguntando isso a mim... Bom, é difícil saber, o Daniel parece ser uma cara confiável, parece. Pra falar a verdade, eu acho que todos somos confiáveis até provarmos o contrário!

-- Então eu devo esperar elas provarem isso?

-- A verdadeira face sempre se mostra com o tempo, use isso com todos nós. Você tem as armas, está seguro, qualquer coisa que algum de nós tentarmos será refutado por você. Dê tempo ao tempo, talvez só queiram um lugar seguro.

Alex ouviu atentamente as palavras de Gabriel, ele estava em uma situação complicada, talvez devesse dar uma nova chance às pessoas, ou talvez aquilo fosse um tiro no escuro, qualquer que fosse seria uma decisão complicada. Ele queria confiar em todos, mas depois de tudo era complicado. Já havia dado uma chance a Gabriel e ao próprio Daniel, mas ter todas aquelas pessoas a sua volta, valeria a pena?

Andressa e Daniel seguem conversando, ela continua a falar:

-- Você acha que devemos falar isso ao ‘dono da praça’?

-- Eu não sei... Realmente não sei... Talvez ele nos expulse se contarmos... Mas não contar poderia demonstrar falta de confiança...

-- Vamos deixar tudo como está pelo menos até decidirmos! – Diz Andressa.

Daniel assenti com a cabeça e se dirige até Isabelle novamente, ela segue quieta:

-- Ei, ei, o que foi? – Pergunta Daniel tocando seu rosto – Desculpe por ter te deixado... Andressa me contou o que passaram essa noite, eu... Eu sinto muito por tudo, sinto por não estar lá – Daniel segue olhando para ela, que não corresponde ao olhar – Vem comigo, levanta... – Isabelle se levanta e vai andando até a camionete, onde entra e se senta.

Daniel segue digerindo tudo aquilo que ocorrera, de repente as gêmeas reaparecem em meio a uma situação tão complicada e delicada. Importantes decisões precisam ser tomadas e ele não tem ideia de como prosseguir. Se isso não bastasse ainda precisará enfrentar o distanciamento que Isabelle impôs aos dois.