*Casamento- Parte 3,e última*

Antepenúltimo capítulo de Paradise,chorem comigo.

POV Finnick

Eu achava que sabia o que era felicidade.

Como no dia em que ganhei meu carro,ou quando dei meu primeiro beijo.

Mas nada te deixa tão apavoradamente eufórico quanto seu próprio casamento.
É o peso de toda uma emoção humana caindo sobre seus ombros.E eu quase não o sustentei.

Agora,que eu estava ali,perante centenas de pessoas,com a minha garota nos braços,com arroz chovendo sobre a minha cabeça e todos os meus amigos ali,sorrindo de bobos...sorrindo por mim.Não tem preço.
Eu tenho tantos medos bobos e tantas coragens absurdas.

Porque Annie Cresta é a minha garota.Eu a amo e pronto.Não tem como fugir disto.

Vagas lembranças nossas me assomavam a cabeça com uma velocidade e qualidade impressionantes.A praia,ao por do sol de Los Angeles,onde a beijei pela primeira vez.
Nosso primeiro encontro oficial...As aulas de surf,e até algo mais que rolou entremeandos as situações que ficaram em minha mente.

Ela me mostrou o amor de todas as maneiras possíveis.E eu lhe sou imensamente grato por isso.

As pessoas hoje são tão desesperadamente loucas pela procura da felicidade,que acabam não percebendo-a. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.

E eu encontrei a minha naquela tarde quente e pesada de verão.

Com um anel fino de ouro em meus dedos longos.

Através de algo que tantos têm medo: compromisso.

Porém,se houve algo que eu aprendi ao longo de todo esse verão,com meus amigos e com Annie,foi que compromisso é permitir que o outro entre na nossa vida. É sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. Compromisso não é ‘falta’ de liberdade. Compromisso é o ‘exercício’ da liberdade de estar com alguém.

POV Katniss

As luzes multicoloridas brilhavam contra meu rosto.

Vagas lembranças do casamento perduravam em minha mente: o “sim”,o beijo,a chuva de arroz,Finnick pegando Annie em seus braços e a girando...

Eu era como uma mãe vendo seus filhos se formarem.Meus amigos,sendo lançados na vida de uma forma súbita.Prontos para superar a amargura que viesse,para derrubar barreiras,superar fronteiras.Desde que estivessem juntos.

E eu?Eu iria para a França.Eu iria deixá-los.Fugir,como a covarde que sou.

Por um momento em sequer pensei em como eu viveria sem eles?Todos eles.Minha mãe,a pequena Prim,Gale,Madge,Clove,Cato,Finnick,Annie,Marvel...até mesmo  de Glimmer eu sentiria falta.E havia Peeta.
Eu conseguiria deixar ele para trás,abraçar meu futuro e esquecer o passado?

Não.Meu egoísmo se colocava á frente,mais uma vez.

Beberiquei mais do vinho e observei a pista de dança,lotada de jovens,adultos e idosos,todos concentrados no casal de noivos que dançava um tango envolvente.
Peeta dançava com Debby,e eu não sabia dizer se estava distraído ou animado.

Eu deveria estar dançando também.Mas eu não sentia nenhuma vontade.

-Gente que some,vem para uma festa sozinha e aceita uma proposta de ir para a França sem nos avisar.-Uma voz masculina disse,ao meu lado.

Tornei os olhos e encontrei Jason,refletido sobre a luz multicolorida da pista de dança.
Estava assombrosamente bonito.Seu cabelo bagunçado,tão diferente do comportadinho que eu estava acostumada,os olhos verde-mel faiscando e o terno bem cortado.

-Jason.-Eu disse.Ele revirou os olhos.

-Katniss Everdeen,você é a pior namorada de mentira do mundo.

Jason estendeu a mão para que eu me levantasse e me abraçou.Ele perguntou,ao meu ouvido:

-Como vão as coisas?

Eu hesitei durante alguns segundos.Meu ex-namorado queria saber sobre Peeta?Não poderia deixar de ser estranho.Mesmo que,depois de tudo isso,Jason fosse mais meu amigo do que alguma espécie de envolvimento romântico.

-Bem...-Comecei,com um tom culpado.

-Você beijou ele.-Adivinhou Jason.Eu o olhei,surpresa.

-Como você...?Não.Deixa quieto.Não quero saber.

-Vocês são tão previsíveis,Everdeen.Perde a graça ser seu namorado falso assim.

Ele se sentou ao meu lado na mesa e bebericou de meu vinho.Eu o observei.
Parecia tão bem-humorado,tão mais jovem e tão melhor.

-Ele é um imbecil.É arrogante,irritante e consegue me fazer subir pelas paredes.Implica comigo 24h por dia.-Eu listei.-Mas você sabe?Eu não quero que ele mude.

-Você é inteligente,Kat.E toda pessoa inteligente tem um problema insolúvel.Ele é o seu.-Jason repetiu,virando a taça de um gole só.

-De qualquer forma,eu estarei na França depois de amanhã.-Suspirei.

-Então você vai?-Jason ergueu uma sobrancelha.

-É claro que eu vou.Isso não é um filme,Jay.É a vida real.Ele vai se casar,eu vou para Paris e cada um segue sua vida...-Respondi.Meu coração pesou,tão embora eu soubesse que essa era a verdade.

-Você cresceu tanto.-Ele me observava com atenção.

-Isso é bom?

-Não cabe a mim dizer.-Depois Jason sorriu,brincalhão.-Mas é como dizem,se for paras ser,será.Independente da quantidade de vírguas,pontos e parágrafos.

-Como está filosófico.-Repliquei.Jason se levantou.

-Já que não precisa mais dos meus serviços de namorado,não vai recusar uma dança com um amigo,não é?-Ele estendeu a mão para mim.

-Falando assim,até parece que eu te usei.-Fingi indignação.Jason deu um sorriso torto.

-E não usou?-Ele piscou,como se estivesse confuso.Eu bati em seu ombro.

-Você sabe que sim.-Brinquei.

A música eletrônica começou a tocar.Jason Derulo?Quem raios estava escolhendo as músicas?
Olhei para a mesa do DJ,e Marvel,radiante,me mandou um sinal de positivo com a mão.

Por que não estou surpresa?

Ele me puxou para a pista.Jason era um bom dançarino.
Ele...bem,fez balé durante cinco anos e isso sempre foi um motivo para que eu debochasse dele.Logo,não entendi o motivo de,com uma música agitada tocando,ele balançar os quadris de forma vagarosa,me guiando pista adentro.

Ele chegou á aproximadamente meio metro de outro casal.Agora seus movimentos começavam a se acelerar,e eu o segui.
Mesmo não gostando muito de Jason Derulo,a música até era boa.

O casal ao nosso lado se virou e eu os reconheci.
Percebi o que Jason faria um milésimo de segundo tarde demais.

-Não pode dizer que nunca fiz nada por você.-Ele sussurrou em meu ouvido.

Com um movimento rápido,porém gentil,Jason arrancou o par do garoto ao nosso lado e a puxou para si,ao mesmo tempo que me jogava para ele.
Os casais á nossa volta pareceram achar graça da ideia,e logo estavam trocando seus pares com o vizinho.

O rubor tomou meu rosto de assalto.Minha maior vontade nesse momento era encontrar Jason e torturá-lo de todas as formas possíveis.
Que espécie de namorado falso ele era?

-Fala sério...-Reclamamos,em uníssono.

-Quem é vivo sempre aparece.-Peeta disse.Eu revirei os olhos.

-Pelo visto Jason gostou de Debby.-Acenei na direção dos dois.Jason era um filho da puta mesmo...Levou Debby para o outro lado do salão.

Peeta deu de ombros.

-Não me importo de dançar com o par dele.-Ele disse.Suas mãos apertaram minha cintura,mas eu retesei.

Não.Chega.Não é porque Jason me empurrou para os braços dele que eu vou cair em tentação tão fácil assim.
Talvez ele seja a causa de minha euforia.Mas,se não é para ser,eu me disciplino a parar.Não seria o primeiro coração partido entre muitos,seria?

Cansei de ser boba,frágil e coitada.Essa não sou eu.Eu bato de frente,peito,brigo e enfrento.Nã sou sensível,não sou sentimental.Posso ter meus momentos românticos,mas não sou feita de corações de chocolate.

Deus não me deu esse estômago enjoado,essa alegria encantada de vida e esse coração disparado á toa.Tudo tem um limite.

E eu cheguei ao meu.

POV Peeta

Seus músculos estavam rígidos sob meus dedos.

Seu olhar era ferino.Irracional.Como se ela estivesse tentando explodir meu cérebro em pedacinhos.Como se meu simples toque a causasse uma raiva louca.

E causava.

Droga Jason.Quando alguém como Katniss está quietinha em seu canto,você não provoca.
E,além do mais,eu deveria evitá-la durante o decorrer destes dois dias.Isso não só facilitaria meu casamento como também a dor de sua partida.
OK,eu estou ficando muito sentimental...

-Vai atrás da sua noiva,vai...-Ela “abriu” caminho.O uso de aspas faz-se necessário devido ao fato da pista estar tão lotada que ela mal consiga se afastar uma polegada de mim.

Eu era como uma pessoa obesa,e ela,meu chocolate.Que péssimo exemplo,meu Deus...Mas a nossa relação funcionava assim mesmo: desde que eu não a visse,eu não sentiria uma necessidade tão exorbitante de ficar com ela.A partir do momento em que ficávamos próximos,meu peito rugia em aprovação.

Eu odiava isso.Ela era mandona,teimosa,difícil,metida,implicante e linda.Ah,e me achava podre.Que crime...

-Acho que você não entendeu muito bem a dinâmica da “troca de pares”.-Eu disse.

Nessa hora,eu juro,pensei que ela fosse me dar um tapa na cara.

Sarcasmo,por quê não me larga?Acho que a minha ironia  sente a necessidade de estar presente sempre que falo com Katniss Everdeen.Depois eu apanho e não sei por que.

Á nossa volta,as pessoas dançavam ao ritmo da música,agitadas e se empurrando.Todas,exceto nós dois.Estávamos ali,parados,um olhar brigando com o outro.

-Você quer saber?Para mim já chega.Não importa o quanto a gente tente,nossos defeitos sempre vão se chocar um contra o outro.Você é aquele tipo de pessoa inconfiável,incerta.Seus movimentos são joguinhos manipuladores,e seus discursos nem se fala.Por mais que eu deteste a Debby,não acho que seja justo você machucá-la por puro egocentrismo.Eu vou embora.E agora é de uma vez.-Ela disse,e empurrou meu peito.Seus olhos estavam brilhantes,mas não de lágrimas.Era de raiva.

-Katniss,espera aí...-Eu disse,e tentei segurar seu pulso.-Não me entenda mal,eu quero sua...amizade.

-É assim que pretende conquistá-la?Me agarrando?-Seu tom de voz furou minha alma.Eu parecia um boneco de posto sendo esvaziado.Dei graças a Deus pela música alta não permitir a mais ninguém ouvir nossa discussão.
Mas eu deveria saber.Nossos encontros sempre acabam em briga,discussão e dor.

-Quanto tempo eu esperei você mudar?Você crescer?-A vontade de chorar agora era minha.-Eu quero,Peeta.Você não tem ideia do quanto eu quero.Mas mesmo comigo querendo em dobro,não dá para querer por você.

-Então fica comigo.-Pedi,desesperado.Minha voz estava embargada.-Eu desisto.Juro que desisto de tudo.Só...só me promete que não vai embora.Que não vai se afastar mais nem um passo de mim.

Ela balançou negativamente a cabeça.

-Você precisa ajudar seu pai,e eu,a seguir com a minha vida.Ficar seria tolerar todas as suas mancadas.Eu não quero que você mude quem você é.Eu só quero que você aprenda que errou,e que não tocar mais no assunto não significa perdão.

Então ela sumiu na multidão.

Eu queria sair e socar todo mundo.

Eu sentia uma inveja horrorosa de Finnick,de Gale e de Cato.Tudo estava dando tão certo para eles,enquanto a minha vida afundava em um monte gigante de estrume.
Eu poderia dizer que sentia falta da minha vida antiga,mas não sentia.

Eu enfiei as mãos nos meus bolsos e atravessei o mar de pessoas.
Eu não iria atrás dela.Eu não pediria arrego.

Ela que ir embora?Que vá.

Mas assim que cheguei na sala de estar da mansão do resort,eu fiquei a segundos de infartar.
Um homem de meia-idade,com um terno risca giz preto e cabelos ligeiramente grisalhos penteados para trás estava sentado em uma das poltronas,lendo uma VOGUE.
O homem que costumo chamar de pai ergueu olhos azuis e cansados para mim.

-Precisamos conversar.