[...]

Ouvi um barulho distante, abri os olhos.

"Eu dormi?", pensava. "Igneel teria sido o causador desse barulho? Algo parece ter quebrado, acho que o som veio da cozinha". Então levantei e, na ponta dos pés e com o "Modo Nin Nin" ativado, segui para a mini cozinha.

Quando, ainda na espreita, cheguei na cozinha, Igneel estava vasculhando a geladeira. Vaguei meus olhos por toda a cozinha - o que foi extraordinariamente rápido, já que a cozinha era minúscula -, e logo encontrei os estilhaços do que parecia um dia ter sido um pote para biscoitos.

– Hey!

– Ah! - Assustou-se o ruivo, deixando o que parecia um pote de sorvete congelado cair.

[...]

– Acha mesmo que creme é melhor que chocolate?

– Talvez, ué. Sei lá. Qual você prefere?

– Acho que chocolate. Mas flocos também é muito bom! - Percebi seu olhar de indagação. - Você... já comeu sorvete de flocos, né...?

– Não. - Ele respondeu, parecendo constrangido.

– Tudo bem, não precisa se intimidar. - Segurei seu ombro, o olhando nos olhos e sorrindo, tentando p o máximo de confiança que eu poderia demonstrar ter - Amanhã vamos em uma sorveteria! Hai?

– Hai!

Estávamos de volta ao quarto, sentados em minha cama, comendo o sorvete que Igneel encontrara na cozinha. Era o primeiro sorvete de creme que o dragão em sua vida, e eu havia me animado por estar com ele naquele momento.

Olhando pela janela, vi algo mover-se no Céu noturno.

– Igneel! Venha! - Pulei da cama e corri para a varanda. Três estrelas contadas rasgavam a escuridão da noite, palco esse que já abrigava incontáveis outros radiantes pontos luminosos.

– Nossa... As estrelas... Eu havia me esquecido delas.

É verdade, o Céu da Terra dos Dragões não possuía estrelas.

– Fizeram falta, hein? - disse, em seguida demorando-me num suspiro, sentindo uma brisa noturna acariciar minhas bochechas.

– Não me fizeram muita, admito - riu, constrangido -. Mas admito também que elas são muito... belas, e não me importaria em tê-las toda noite lá em cima, enfeitando a noite... Ainda mais com a mais bela delas ao meu lado.

Eu, entretida com a vista, realmente não havia entendido o que o ruivo havia dito e só uns 3 segundos depois me liguei. O encarei corada, mas assim que ele virou o rosto pra também me encarar, virei meu rosto para o lado contrário, eu não conseguiria o encarar se ele também me olhasse.

Eu estava soando um pouco frio, tentei convencer a mim mesma de que era por causa do clima da madrugada, em vão.

– Já falamos sobre isso. Não diga coisas assim - lembrei-o, de cabeça baixa, meus longos cabelos cobrindo o rosto.

– Ué, eu não estava falando de você - mas o quê? Levantei meu rosto, ele segurava algo pálido e peludo nos braços -. Eu a encontrei na floresta, quando você estava explicando aquilo de como eu deveria me comportar com você e tal. Pensei em chamá-la de Haru. Sabe... por causa do Natsu. Natsu e Haru, Verão e Inverno - ele parecia prestes a chorar por seus olhos tanto brilharem.

– Eu... nem sei o que dizer.

– Diga que me achou fofa e que ajudará a cuidar de mim - ele disse, fazendo voz manhosa, fingindo ser o bicho.

Eu ri, e ele ergueu o peludo para que eu o segurasse. Era uma gatinha. Não resisti e acabei a pegando nos braços. Ela parecia ter sono, seus olhos pescavam. Me encantei com o rosto adorável daquela criaturinha.

– Eu a adorei - o olhei com os olhos cintilando.

– Eu sabia que você ia gostar dela! - animou-se.

– Shhh! Ela está com sono! - murmurei, segurando a pequena com um braço, para com o outro dar um peteleco na testa de Igneel.

– Ai! - fez beicinho - doeu, tá?

– Criança...! - ri, segurando a gatinha com os dois braços novamente, balançando-o de leve, a ninando.

~ Enquanto isso, na Fairy Tail... ~

[Natsu narrando...]

Eu não tinha tido o dia anterior muito bom. Eu descobri que Lissana inventara coisas terríveis sobre Lucy, coisas que ela contara a mim, e eu acreditara. Eu então, desnorteado, fui para a guilda. Lá eu contei sobre minha descoberta aos meus amigos mais próximos e pus-me a lamentar ao saber o porquê Lucy havia saído da guilda - Lissana contara a mim que a loira havia apenas ido a uma missão com "o novo namorado", e eu ainda não havia ligado-se sobre mais essa mentira. Talvez, a pior delas.

"- Ela saiu por você a magoar, Natsu" - a voz de Erza explicando quantas situações horríveis fizeram a loira entristecer-se não saía da minha cabeça.

Escureceu e eu ainda estava na guilda. Mente vazia, pensamentos cheios de Lucy. Eu estava no modo automático, mas não conseguia fazer nada além de levar uma caneca de espumante pra boca. Eu não gostava de beber... mas aquilo me fazia pensar na Lucy em paz.

Foi quando, subitamente, comecei a sentir um cheiro diferente, um aroma não mais sentido há anos. Era o cheiro dela, era o cheira de Lucy. Pulei do banco do bar, decidido a ir até ela. Eu devia ter feito isso há horas, eu devia ter feito isso há anos.

Porém, ao tentar andar, estranhei não ver nada. Ouvi algumas risadas abafadas e exclamações de surpresa. O que havia acontecido? Senti braços me levantando. Eu havia me esborrachado no chão. Acho que meu nariz sangrava, pois Mira do nada apareceu com uns algodões e uma água alcoolizada.

– Natsu! Vo-você está bem? - Me pareceu Happy, acho que chorando. Eu estava de cabeça baixa, sentado novamente no banco alto do bar, sentia pessoas ainda de olho em mim - esperando mais um tombo, provavelmente -, mas não sentia muita vontade de levantar o rosto com dois algodões em minhas narinas - algodões esses que, de tão aguados de álcool, me faziam fazer caretas a cada respiração acelerada.

– Happy, vamos ver a Luxy - sorri largo para ele.

– D-Do que está falando, Natsu? - ele pareceu se assustar, talvez confuso.

– Eu sinto de novo o cheiro da Luxy. Nós iremos a encontrar. Agora - animei-me.

– Opa, opa! Mas como é? A loirinha voltou? - reconheci a voz de Gajeel ao meu lado. Provavelmente teria sido ele quem me levantou.

– Me ajuda a levantar, Gajeel.

Assim que senti meus pés no chão - apenas eles era melhor -, continuei:

– Luxy voltou e Happy, Gajeel - ao citar seu nome, o "Do Ferro" pareceu hesitar, mas nada disse - e eu iremos a ver. Caso alguém queira vir junto, terá de ser mais rápido que eu! - comecei a rir, mas então percebi que todos na guilda me encaravam. É uma droga estar bêbado quando se toma uma atitude que valha a pena.

– Natsu... é verdade mesmo? Lucy-chan voltou? - brotou Levy do meu daquela gente toda. Gajeel tremeu um pouco, talvez por ver a azulada chorando.

– Sim, Levy. Ela gostará de te ver, você pode ir com a gente - dei uma cotovelada no braço de Gajeel, acho que ele entendeu.

– Vocês não vão a lugar algum - Erza entrou na conversa, comendo uma fatia de bolo de morangos.

– Erza tem razão - disse Gray -. Você está acabado.

Droga! Eu tinha que fazer alguma coisa, ou não me deixariam ir.

– Mas é verdade! Por que não me deixam ir!? Ela voltou, eu sinto o cheiro dela!

– Natsu, escute. Está bem, ela pode mesmo ter voltado, e, mesmo que adoremos a notícia, você não pode ir a ver. Não sabemos se ela quer te ver. Pense nela. Ela... Você a machucou muito. Lembra? - Levy dizia, tentando acalmar o Salamander.

– Por isso mesmo eu preciso a ver! Preciso falar com ela, me desculpar!

– Você não está em condições de a ver, Natsu - declarou a Titânia.

– Péssima hora pra se embriagar, Foguinho - ironizou Gray.

– Amanhã conversamos, Natsu - e desapareceu com sua fatia de bolo.