Tsunade-sama fez muita falta a todos nós e, sua ausência parecia ter aberto em mim um vazio que não era preenchido por minha família.

Ir todos os dias visitar o Naruto no escritório era uma tarefa um pouco difícil para mim, pois ali jaziam muitas recordações de minha sensei. Em tudo o que era feito, eu sentia que faltava a crítica dela, e numa tentativa de repor o que faltava, eu comecei a agir cada vez igual a Tsunade-sama. Coitado do Naruto, não foi fácil para ele me agüentar durante essa fase, mas ele ouvia meus sermões com paciência.

Shizune também sofreu muito com a falta da mestra e amiga, ainda que ela não dissesse seu rosto sempre sério mostrava sua tristeza. Nós duas tentávamos levantar nossas cabeças e seguir nosso caminho, no entanto, a lembrança dela invadia nossos pensamentos diários e nos abatia em muitos momentos do dia.

Passado quase um mês da morte de Tsunade-sama, num final de tarde de verão, eu fui visitar Naruto no escritório, quando cheguei lá o encontrei escondido atrás de enormes pilhas de papéis, Shizune o auxiliava a separar os papéis.

- Vejo que estão muito ocupados, melhor voltar outra hora!

Ao me ver Naruto ergueu a cabeça por cima das pilhas e sorriu.

- Olá Sakura-chan – saudou-me Shizune

Eu balancei a cabeça e sorri discretamente.

- Sakura-chan que bom que está aqui! – disse Naruto alegre.

- Naruto, ainda tem que assinar esses papéis – disse Shizune de forma autoritária. Ela havia aprendido a não dar espaço para Naruto fugir a suas obrigações.

Eu acabei rindo da maneira como Shizune falou aquilo, parecia que ela passara a conhecê-lo tão bem quanto eu; e por conhecê-lo sabíamos que em qualquer brecha, ele acabava fugindo e deixando os papéis para depois.

- Ah Shizune – Naruto fez biquinho como se fosse uma criança.

- Naruto, seus filhos podem me convencer a fazer as coisas, você não!

Meus filhos conseguiam tudo o que queriam de Naruto, e com Shizune era igual.

Eu continuei rindo, era muito cômica aquela cena. Há uma mês que eu não me divirtia daquele jeito.   

- Eu já estou aqui o dia inteiro! – reclamou meu marido.

- E ainda não assinou nem metade do que devia!

- Parece que você está muito ocupado Naruto – eu disse num tom de deboche – Acho que vou voltar para a casa e ficar sozinha naquela cama tão grande...

Eu girei os calcanhares e fingi que ia sair.

- Sakura-chan espere! – gritou Naruto.

Não me lembro o que aconteceu em seguida, só que eu senti uma tontura e minhas pernas fraquejaram; tudo ficou escuro e não consegui ver e nem ouvir mais nada.

Quando voltei a abrir meus olhos eu percebi que ainda estava no escritório de Naruto, ele me amparava em seus braços e Shizune estava ajoelhada ao meu lado.

- Sakura-chan, Sakura-chan... – Naruto chamava por mim

Eu tentei me sentar, mas novamente o mal-estar me impediu de fazê-lo. Eu olhei para Shizune que me retribuiu o olhar de maneira séria.

- Sakura-chan, você está bem? – Naruto estava bem preocupado comigo.

Eu por meu lado estava preocupada que Shizune tivesse dito algo a Naruto.

- Sakura-chan, eu a examinei... – disse Shizune mantendo o tom sério.

- Então já sabe, não é mesmo? – minha voz saiu baixa. 

Eu sentei-me e Naruto soltou suas mãos de meu corpo, agora ele estava apenas ajoelhado ao meu lado, seus olhos mostravam a sua preocupação.

- Shizune, a Sakura-chan... O que ela tem?

Shizune levantou-se e respirou fundo.

- Quer dizer que já sabia? – interrogou-me Shizune ignorando a pergunta de Naruto.

- Eu sou uma ninja médica... Não tinha como não saber.

- Ah! Alguém pode me dizer o que está acontecendo?! – de preocupado Naruto já estava desesperado.

Naruto se pôs de pé e eu, me apoiando no chão, também me levantei; a tontura havia parado.

- Sakura-chan é melhor que você conte a ele – me sugeriu Shizune

Naruto pegou no meu braço.

- Sakura-chan, você está doente? – me perguntou num tom de voz firme e preocupado.

Eu não respondi nada.

- Ela está grávida – disse Shizune em vista de meu silêncio.

Naruto soltou meu braço.

- Grááááávviiidddaaaa! – ele gritou.

- Me desculpe Naruto por não ter dito nada antes... – eu sorri bobamente. 

- Sakura-chan está grávida de trigêmeos! – anunciou Shizune rindo abertamente.

- Que!!!!!

Naruto caiu no chão. Dessa vez foi ele quem desmaiou.

- Naruto você está bem? – perguntei abaixando-me ao seu lado.

- Trrrrêêêsss... – repetia num tom de voz trêmulo.

- Shizune! - olhei brava para Shizune mostrando que eu não havia aprovado a brincadeira, ainda que tivesse achado bem engraçada.

Shizune riu como há duas semanas não ria. Ela agachou-se e ficou bem próxima de

Naruto que estava em estado de choque estirado no chão.

- Me desculpe, são apenas dois!

- Shizune! – voltei a repreendê-la pela nova mentira.

Shizune mais uma vez soltou uma sonora gargalhada e levantou-se.

- Está certo, dessa vez é apenas um bebê.

Estranhamente Naruto não levantou do chão, ele ainda parecia estar bem abalado com a notícia.

Algumas horas depois, Naruto e eu nos encontrávamos em nosso quarto, eu estava deitada e aguardava ele sair do banho. Eu não havia voltado a comentar nada a respeito de minha segunda gestação durante todo o trajeto de volta a casa e agora que estava ali deitada não conseguia parar de pensar na reação que Naruto teve ao saber que eu estava grávida. 

- Será que ele não gostou? – eu me questionava

Naruto entrou no quarto e eu me sentei na cama, ele me olhou sério, era difícil vê-lo assim. Eu não sabia o que dizer, eu queria saber se ele estava feliz por eu estar grávida, mas tinha medo que ele dissesse que não queria, ainda que eu soubesse o quanto Naruto gostava de nossos filhos, não podia afastar de meu coração o medo da rejeição dessa nova gravidez; afinal não estava sendo muito fácil cuidar de nossos trigêmeos.

- Naruto... – as palavras me faltaram a boca naquele momento.

Ele sentou-se na cama e ficou de costas para mim.

- Fiquei preocupado... Quando você desmaiou...

- Naruto, eu sei que deveria ter lhe contado, mas... Eu não sabia.

- Se eu ia gostar de saber que você estava grávida?

Não era somente eu que passei a entender mais o Naruto, ele também passou a me entender mais.

- Sim... 

Naruto virou-se para mim e sorriu.

- Eu amo você e meus filhos... Também vou amar o novo bebê – ele tocou em minha barriga um pouco receoso.

A minha primeira gravidez não foi muito tranqüila, pois no começo dela eu estava preocupada com o Naruto e depois fiquei preocupada em como seria a nossa vida com a chegada dos trigêmeos. Agora, na minha segunda gravidez, eu queria acreditar que tudo seria melhor, uma vez que eu me sentia mais confiante para ser mãe.

Naquela noite nós dormimos abraçados como tantas vezes havíamos feito.

- Sakura-chan. Da próxima vez que ficar grávida, você me conta.

- Naruto, você é o homem que amo... – eu disse num sussurro próximo ao ouvido dele. 

Naruto riu quando disse isso. Ele sabia que nos últimos anos eu passara a dizer que ele era o homem que eu amava todas as vezes que eu fazia algo que ele não gostava, era charminho para convencê-lo a me perdoar por meu erro.

- Está sempre perdoada, Sakura-chan... – ele me respondeu de volta.

Eu sorri e uma lágrima boba escapou pela lateral de meu olho direito indo parar na camiseta de Naruto, porém ele não percebeu que aquela pequena lágrima havia molhado sua camiseta.

Naruto me apertou mais forte em seus braços.

- Agora, eu acho que não vou engravidar mais não!

Ele riu e eu acabei rindo com ele.

Na manhã seguinte contamos aos nossos filhos de cinco anos a futura chegada do irmãozinho. Posso dizer que eles ficaram bem animados com a idéia. E no começo do inverno daquele ano a pequena Tsunade veio ao mundo. Assim como Naruto homenageara seu sensei Jiraya-sama, eu decidi homenagear Tsunade-sama colocando seu nome em minha filhinha.

Desde o dia que Tsunade nasceu, Jiraya se tornou seu galante herói. O cuidado que o pequeno demonstrava com a irmãzinha era incrivelmente maior do que eu jamais o vira demonstrar por Kushina; e quando o questionei porque sua preocupação ser maior por Tsunade do que por Kushina ele simplesmente respondia “Kushina é mais forte do que o Minato e eu juntos. Já viu como ela bate forte mamãe?”

Sua proteção e atenção por Tsunade não mudou com o passar dos anos, ele sempre a defendia e protegia. Como mãe, posso dizer que o único momento que ele deixou de olhar exclusivamente para Tsunade de forma tão protetora foi quando se apaixonou por Lyu, a filha mais nova de Ino e Chouji. O que fazer? Era certo que um dia eu e a Ino teríamos nossas famílias unidas, pois nós duas sentíamos que o amor deles era verdadeiro e duraria muito anos.