Dois dias se passaram sem que tivéssemos notícias do que havia acontecido e aquilo se tornava uma angústia maior do que eu podia suportar. Shizune sempre ao meu lado me recomendava que eu me mantivesse calma por causa dos bebês, mas falar é sempre mais fácil do que fazer.

No final da tarde do segundo dia eu adormeci, eu sabia que Shizune secretamente colocava calmantes em meu chá, mas não a repreendi por isso porque sabia que eles me eram necessários naquele momento. Quando o sol já baixava no horizonte eu despertei com os gritos de Naruto ecoando pelo hospital.

Ao escutar a voz dele, meu coração saltou no peito e eu me sentei na cama. Shizune estava ao lado da minha cama velando percebeu rapidamente a minha agitação.

Naruto gritava alto por meu nome, e dizia que queria me ver. Eu não sabia onde ele estava, mas sentia que ele estava bem perto dali.

- Sakura-chan, é melhor que fique deitada. Lembre-se que você perdeu muito sangue e precisa se recuperar. Eu vou avisar ao Naruto que você está bem.

- Shizune, por favor, me deixe ir também – eu lhe supliquei.

- De maneira alguma, Sakura-chan. Você ainda está muito debilitada.

- Eu estou bem... – protestei.

- Fique aí – disse Shizune saindo do quarto e fechando a porta.

Escutar toda aquela balburdia que Naruto estava fazendo no hospital apenas me deixava mais impaciente, e tudo o que eu podia fazer era ficar escutando a voz dele ecoando pelos corredores.

- Sakura-chan, Sakura-chan... Eu quero vê-la – ele gritava.

Escutei Tsunade-sama o contestar.

- Naruto, fique calado!

- A Sakura está sendo bem cuidada – Kakashi-sensei também o tentava acalmar.

- Eu quero vê-la! Sakura-chan....

- Com licença – eu ouvi Shizune que se aproximava

- Shizune, então como está a Sakura? – perguntou Tsunade-sama.

Não houve resposta por um tempo, somente os gritos de Naruto chamando por meu nome.

- Sakura-chan, Sakura-chan...

Eu sabia que eles estavam bem próximos porque eu podia ouvir claramente as vozes deles. Decidi me levantar e seguir em direção a voz de Naruto que me chamava.

Senti uma forte dor em meu ventre ao tentar me movimentar, respirei fundo e pus os pés no chão.

- Sakura-chan teve uma forte hemorragia e por pouco não perdeu os bebês – Shizune começava a explicar

Agarrada as paredes eu caminhei em direção ao quarto onde estava Naruto e os demais, a voz de Shizune me parecia cada vez mais próxima.

- Ela ainda precisa ficar de observação, já que um novo sangramento pode voltar a acontecer.

- Sakura-chan... – novamente a voz de Naruto me chamava.

Cada vez eu me aproximava da porta do quarto.

- Onde ela está? – a voz de Naruto soava desesperada.

Inesperadamente eu vi um vulto irromper pela porta do quarto e sair correndo pelos corredores. O vulto que imediatamente reconheci como sendo Naruto passou por mim sem notar a minha presença.

Ele parou diante da porta do quarto onde eu estava e ficou olhando da soleira o interior do quarto vazio.

- Idiota! Por que está fazendo tanto barulho? – o repreendi.

Naruto me olhou de uma maneira que não saberia explicar com palavras, eu apenas sei que eu sorri quando o vi aparentemente bem.

Eu dei alguns passos, no entanto, Naruto foi mais rápido e vindo em minha direção me abraçou.

- Sakura-chan... – disse num sussurro que me caiu ao pé do ouvido.

Minhas pernas fraquejaram e eu fui ao chão. Naruto me amparou entre seus braços e não me soltou nem por um minuto, talvez ele pensasse que se o fizesse eu voaria para longe dele.

- Naruto, você está aqui. Você voltou! – as lágrimas que tão logo vieram a meus olhos deslizaram por minhas bochechas.

Notei que a face dele tinha alguns arranhões. Elevei minha mão e usando meu chakra de forma medicinal comecei a curar aqueles pequenos cortes, Naruto sentiu a quentura de meu jutsu e com um olhar surpreso agarrou minha mão.

- Você precisa se recuperar... Eu estou bem.

Puxei minha mão e ele a soltou.

- Não tem problema eu usar um pouco do meu chakra. Eu já estou bem recuperada. Além disso, eu gosto de ver seu rosto sem ferimentos e com um sorriso... Porque assim eu sei que tudo está verdadeiramente bem.

Ele sorriu e me abraçou mais forte, em seguida tombou a cabeça encostando-a em meu ombro direito. Eu senti o ombro direito da minha camisola umedecer rapidamente, e mesmo que eu não visse seu rosto, eu pude deduzir que ele estava chorando.

- Está tudo bem, Naruto... Estamos todos juntos...

Naruto levantou a cabeça e sua bochecha roçou na minha, nossos rostos estavam bem próximos e, sem perceber, apenas senti seus lábios sobre os meus. Foi um beijo singelo e demorado, não havia pressa em realizar o ato, somente o sentimento falando por nós.

Quando nossos lábios se separaram Naruto me ergueu no colo e nesse momento eu vi seus olhos azuis inundados pelas lágrimas. Ele me levou de volta ao quarto e me pôs na cama, não havia palavras em sua boca.

Quando Naruto me soltou sobre o colchão, eu agarrei sua mão.

- Naruto, o que aconteceu?

Ele apenas me olhou e sorriu ainda mais.

- Eu estou feliz - foi tudo o que ele me disse.

A Naruto não era fácil que lhe faltasse às palavras, afinal sendo tão expressivo como era, vê-lo calado não era comum. No entanto, naquele momento parece que Naruto não encontrava as palavras que sempre lhe vinham tão rapidamente à boca.

Eu o puxei para que ficasse perto de mim, e Naruto entendendo meu gesto se sentou a meu lado na cama. Estávamos somente os dois no quarto, os demais haviam permitido que tivéssemos esse momento de reencontro tão especial sozinhos.

Eu ajeitei as travesseiras de modo que elas ficassem apoiadas na cabeceira da cama, e me recostei nelas. Naruto ajeitou-se a meu lado e dividiu o pequeno espaço da cama comigo.

Eu coloquei minha cabeça sobre seu peito, ele passou o braço por trás de meu corpo e começou a acariciar meus cabelos. Era muito bom poder partilhar um momento assim com ele.

- Eu fiquei preocupada que você não fosse voltar – disse colocando minha mão direita sobre seu peito e agarrando firme sua jaqueta.

- Eu não ia te deixar sozinha com os bebês.

- Que bom que voltou.

Naruto me empurrou para mais perto dele, e eu me aconcheguei entre seus braços tão protetores. Nós ficamos por um tempo em silêncio, apenas curtindo nosso momento de felicidade; estávamos juntos, nos amávamos e os frutos desse amor em breve chegariam.

A nossa vida finalmente rumava à felicidade. O selo havia sido refeito por Tsunade-sama e Kakashi-sensei, e segundo eles, também havia sido possível refazer graças à própria vontade de Naruto que desejava poder voltar para poder ver formada a sua família.  

- Sakura-chan, você acha que eu sou egoísta?

Naruto me surpreendeu com aquela pergunta tão repentina. Eu levantei a cabeça e o olhei fundo nos olhos.

- Naruto, por que está me perguntando uma coisa dessas?

Naruto desviou o olhar de mim e começou a fitar o teto.

- Uma vez o ero-sennin me disse que quando amávamos muito uma pessoa, nós nos tornávamos egoístas, porque não queríamos que essa pessoa pudesse amar ninguém mais além de nós mesmos, e que isso era egoísmo.

Fiquei pasmada ao escutar Naruto falando de Jiraya-sama, há muito tempo ele não mencionava o nome do velho sensei, talvez por saudades tentava ocultar as lembranças que aquele nome lhe trazia.

Egoísmo, refleti alguns instantes sobre as palavras de Naruto e logo me veio a resposta a boca.

- Naruto, você não é egoísta – voltei a encostar minha cabeça em seu peito – Porque você sempre quis que eu fosse feliz ao lado de outra pessoa.

Eu não gostava de ficar tocando em feridas passadas, e os meus sentimentos por Sasuke era uma dessas feridas passadas; no entanto, não pude deixar de mencionar isso quando esta era a maior prova que Naruto não era egoísta em seus sentimentos por mim.

Naruto me deu um beijo no alto de minha cabeça.

- Obrigado, Sakura-chan.

Um novo agradecimento por amá-lo, e não era preciso palavras para expressar o significado daquele singelo e tão significativo “obrigado”.

- Quanto a mim, Naruto... Saiba que eu sou muito egoísta em relação aos meus sentimentos – disse num tom jocoso - Então, é bom você não ir se apaixonando por outra garota, porque eu não vou aceitar que você seja feliz ao lado de outra pessoa que não seja eu.

Naruto riu e me apertou ainda mais contra seu corpo.

- Não se preocupe Sakura-chan, porque eu só amo você.

Mesmo já tendo escutado isso do Naruto tantas outras vezes, eu não pude deixar de corar ao escutar ele falando que apenas me amava.

- E é bom que continue só me amando!

- Eu não quero te perder... Você e os bebês são tudo para mim.

E éramos mesmo tudo para Naruto.

A noite seguiu tranqüila e somente pela manhã Shizune apareceu no quarto para me examinar. Ela havia pedido que Naruto ficasse no corredor enquanto me esperava, e acreditem que ele quase abriu um buraco no chão de tanto que andava de um lado para o outro do corredor.