America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 3
Bode expiatório


Notas iniciais do capítulo

Leitores fantasmas - tsc, tsc, tsc -, mais um capítulo ^^
Boa leitura!



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- Você tem problemas, Delilah.

Sorri para ele. Nós dois estávamos deitados na beira da praia à cerca de uma hora, como velhos amigos. A situação se devia aos seguintes fatos:

Fato 1: ele saiu correndo com a minha camiseta pela casa.

Fato 2: eu dei uma voadora nas pernas dele, e nós dois caímos.

Fato 3: ele caiu de cara no chão e lascou um dente.

Fato 4: eu quase morri pela segunda vez no dia.

Fato 5: nós fomos até a farmácia, depois de uma briguinha básica.

Agora, por favor, deixe-me contar uma historinha bonitinha:

Era uma vez, dois amiguinhos. Eles eram muito, muito, muito travessos. Não havia curandeiros na farmácia local; ninguém podia cuidar dos dentes do pobre plebeu lascado. A plebeia, com toda a proeza, roubou um quilo de Corega fita-adesiva, enquanto seu amiguinho plebeu burro discutia com a moça perigosamente equipada com uma seringa. A plebeia estupidamente inteligente deu um grito de guerra e voou porta afora com o Corega roubado, deixando o amiguinho para trás. Ele só teve tempo de pegar shampoos e perfumes antes de dar no pé.

Fim.

Olhei para trás; o burro do Henri havia criado uma trilha de perfumes que foram caindo e quebrando no caminho da farmácia até a praia – duas quadras, para se ter uma noção de quantos perfuminhos o retardado pegou.

- Eu quero te matar – ele disse, colando a lasca do dente que caíra com um pedaço recortado do Corega, o que ficou bizarro, pois a lasca se sobressaía.

- Você é um idiota.

- Você quebrou meu dente, lindinha. Seja relevante.

- Você pegou minha camiseta, isso não precisava ter acontecido.

- Ah, vai tomar no cu – quando se acabam os argumentos, é assim que se ganha uma discussão. Pelo menos por hora, ele ganhou, com essa EXÍMIA frase de efeito.

Descobri assim que quebrei o dente dele que ele não era não retardado quanto parecia; na verdade, minha primeira impressão sobre ele estava certa: B-A-B-A-C-A. Jumento, estúpido, metido e, convenhamos, gostoso. Mas ele não precisava saber disso, cá entre nós.

Então, se meu ódio gratuito por ele voltou, você deve se perguntar, porque raios e caralhos eu estava deitada com ele na areia? Resposta simples: a moça maluca com uma seringa da farmácia estava atrás da gente, e a praia tem um morrinho de asfalto que ficou desigual com a areia, então, estávamos com as cabeças grudadas onde o murinho de asfalto começava, usando aquilo como barricada para nos esconder da farmacêutica ruiva e assassina.

Assassina.

Ruiva.

- Sabia que a farmacêutica era minha madrasta? – eu perguntei, do nada. Henri olhou para mim como se eu fosse louca. – A número 7. Ela tentou me sufocar.

Henri piscou.

- Conte-me mais das proezas dessa moça.

- Filho da puta – outra resposta universal.

- DÊH! – ouvi alguém me chamar. Droga. – DÊH, SUA SURDA! – me mate, Henri! – DÊÊÊÊH!

Ouvi gargalhadas do meu lado. Fechei os olhos. Não queria ver as covinhas dele.

- Acho que estão te chamando – disse Henri, a voz risonha. – Tipo, só acho.

- Vai se foder, Henri!

Olhei em volta. Era um cara ruivo, baixinho e magrelo que chamávamos de Babe – juro, juro que até hoje não sei o nome verdadeiro do maldito infeliz. Porque eu odeio ele? A sequência de motivos é infinita, talvez maior do que a de motivos do porque eu odeio Henri, cuja pessoa conheci há pouco, mas o que eu mais odeio em Babe é que ele SEMPRE, repito SEMPRE tenta achar um motivo para me agarrar ou tentar me beijar.

É. Ele dá em cima de mim desde que tivemos que fazer um trabalho escolar juntos, no último ano de escola, onde devíamos arrecadar dinheiro. Só porque eu tirei a blusa em frente ao sinal do trânsito – qual é, arrecadamos cinquenta dólares só de um Fusca com a capota retrátil, então funcionou perfeitamente bem, embora eu tenha devolvido vinte e cinco para ajudar o sujeito comprar um carro melhor, hehe –, ele acha que tem TODOS OS MOTIVOS DO MUNDO para namorar comigo.

Essa sequência de fatos fez com que eu pegasse a mão de Henri e nos jogasse novamente deitados na areia.

- O que você está fazendo? – ele rosnou. Sacudi sua mão. – O quê, sua maluca?

- Finja ser meu namorado – sussurrei. Houve um silêncio definitivamente incomodativo. Ele ergueu a cabeça e me encarou, perplexo.

- Oi?

- Só por agora, idiota. Eu quebrei seu dente e roubei trinta caixas de Corega pra você, me deve essa pelos 45 minutos em que nos conhecemos.

Henri ficou em silêncio. Eu já podia ouvir o tilintar dos mil e um colares de latão que Babe usava, sabe-se lá Deus por que.

- Tá bom.

Quando ouvi o primeiro “Dêêêh” de Babe, Henri pulou por cima de mim e me deu um beijo.

É, isso mesmo. Um beijo. Mas foi um beijo técnico, do tipo que fazemos em teatro para não beijar. Só que eu, com minhas reações atrasadas, me debati. Ele me sacudiu e deu uma risadinha, fingindo que estávamos brincando.

- Tô te ajudando, caralho – sussurrou quando me largou. Meu rosto estava quente. Acrescente isso à lista de porque eu odeio ele.

- Não era pra me beijar! – eu queria afundar na areia. – Tem o quê nessa tua cabeça de ervilha, Henri?! Era pra fingir! Eu mal te conheço, garoto, não é pra me beijar!

Henri, inocente e ingênuo, deu de ombros, escondendo muito na cara-de-pau um sorriso malicioso.

- Você gostou.

- Cala a boca.

Silêncio.

- Dêh? – puta merda. Por dois segundos, eu esqueci completamente do Babe. Me recompus.

- Huh? – rolei na areia, cuspindo os meus próprios cabelos. – Ah, Babe!

- É Josh – ele me encarou, tristonho. – Você tem namorado, então?

- Oi? – olhei de rabo de olho para Henri, que fechou os olhos e cruzou os braços atrás da cabeça, sorrindo. Aquele merda. – Ah, sim... desculpe, Babe...

- Josh.

Ouvi uma risadinha. Eu queria matar o canalha atrás de mim, e quase o fiz, mas Babe me chamou de novo.

- Que que cê quer, Babe?

- É JOSH! – ops. – Eu ia te convidar pra uma festa... na casa do Jems. O Jay disse que você não iria, porque não está acompanhada... mas agora não vejo o porquê de você não ir.

Oh, merda. Henri ergueu o pescoço e apoiou a mão no meu pé descalço.

- Festa? Aonde é essa festa, Babe?

O rosto do menino ficou vermelho, depois roxo, até que ele respirou fundo e sacudiu a cabeça. Desviei os olhos, meio rindo.

- É Josh – depois, estralou os dedos. – Na rua 1072, a casa amarela.

- A casa do Jeins? – perguntou Henri. Revirei os olhos.

- É Jems. E nós não vamos, cara.

- Porque, amor? – Henri riu. Filho da puta! – Vamos, ah, vamos! Vai ser divertido!

Suspirei. Mesmo se eu dissesse ‘não’, Jay iria aparecer na minha casa mais tarde para me encher o saco, então achei que seria melhor aceitar de uma vez. Concordei com um aceno.

- Nos vemos lá, então, Bab... – ele me deu uma bazucada com o olhar. – Jooosh. Nos vemos lá.

- Sim! – o garoto recolheu as bugigangas da fantasia do jacaré e rebolou com aquele rabo verde e pontudo até a próxima vítima, que tomava banho de sol.

- Simpático – disse Henri, observando o jacaré saltitante. Ele olhou para mim. – Não acha?

- Não – eu disse, fechando a cara.

Ele me estudou, sorriu, ficou sério, depois sorriu de novo e, por fim, me encarou mais uns minutos antes de soltar uma gargalhada. Porra.

- VOCÊ TAVA FUGINDO DO MANO ALI!

- NÃO! – me joguei na areia. – Quero dizer...

- Foi por isso que me pediu pra te beijar!

- Eu não pedi pra me beijar – cruzei os braços, olhando pro céu. – Eu disse pra fingir ser meu namorado, oras essa. N-Ã-O era pra me beijar, você é um estranho!

- Você quebrou meu dente. Eu te vi sem blusa. Nós vamos à uma festa juntos. Somos vizinhos. Temos um grau de familiaridade muuuuuito grande, Duende – complementou ele, apertando a ponta do meu nariz. Tsc.

- A culpa é sua.

Henri franziu as sobrancelhas.

- Minha?

- Toda sua – eu disse. – Se não tivesse aberto a porta, não teríamos chegado à esse ponto.

- Você não pode me culpar por ter aberto a minha porta!

- Estou culpando.

Fechei os olhos. Ele deu um suspiro irritado e se levantou. O sol sumiu de cima da minha cara.

- Se quer me culpar, então tá – abri um dos olhos. Ele me estendia a mão. – Maas, temos uma festa para ir, e você vai levantar essa bunda daí agora mesmo ou eu vou te carregar.

Não levantei. Burrice a minha, porque ele estava falando sério. Henri me puxou pelo pé e me jogou por cima do ombro igual a um saco de batatas. Rosnei, mordi seus cabelos, arranhei, chutei e belisquei durante todo caminho da praia até nossa rua, mas o infeliz só se agachava, me ajeitava, e continuava a caminhar. Eu joguei tantas pragas na mãe, na tia, na vó e até no cachorro que tinha gafanhotos e doenças por mil anos.

- A MALDITA CULPA É SUA! – gritei quando ele me colocou no tapete da minha casa.

- Você que levou as panquecas! – ele se virou para mim, já no tapete da casa dele. – Nove horas, Delilah, ou corto todas minhas relações com você.

E sorriu.

Eu entrei em casa e bati a porta.


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Notas finais do capítulo

Eu mereço alguma coisa? t-t



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