America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 2
"Lindo escorpião você tem!"


Notas iniciais do capítulo

Se o capítulo ficou sem noção... bem, faz parte! xP
Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/347350/chapter/2

Eu não acredito.

Realmente, não acredito.

Eu, Delilah Sans, dezesseis anos, com tempo limitado para treinar para o campeonato de surf, retocar a tinta verde do meu cabelo, tirar as malditas lentes de contato, fazer o jantar e alimentar o cachorro, tenho que, inexplicavelmente, dar as boas-vindas ao vizinho do puta carrão.

O combinado era: eu fazia as panquecas (aka: panquecas da morte) e minha tia as levava para o cara. Maaaas, como eu QUASE – ouça bem, QUASE – matei meu irmão, que Deus o tenha, me obrigaram a trazer as panquequinhas felizes para o felizardo da casa ao lado. E, bem, eu tenho que confessar alguns fatos:

Fato 1: me mandaram fazer panquecas novas.

Fato 2: eu não fiz.

Fato 3: me mandaram trazer as panquecas.

Fato 4: eu estava trazendo, estava mesmo.

Fato 5: dois segundos depois de eu ter tocado a campainha, ouvi um estrondo de dentro da casa.

Fato 6: acho que o novo inquilino pode ter morrido nesse estrondo, porque já fazem cinco minutos que eu estou plantada na varanda e ninguém apareceu para abrir a porra da porta.

Eu estava pronta para desistir daquela merda e deixar as supersaudáveis panquecas de wasabi no tapete de boas-vindas que diz VATO, quando a porta abriu e o dono do apartamento surgiu, com um band-aid dos Looney Tunes no antebraço e SÓ de toalha na cintura. Puta merda. Tive que usar toda minha força de vontade para olhar nos olhos do moço e toda minha concentração positiva para não corar.

Mas, minha admiração durou pouco. Ele olhou para cima, depois para os lados, esticou a cabeça para espiar a rua que acabava na praia... e então olhou para mim, fingindo surpresa ao me encarar, jogando na minha cara que eu tenho uma altura abaixo da média. Filho da puta. Por causa dos meus 1,56 foi quase uma crucificação conseguir entrar nas semifinais do campeonato de surf. Então, por tudo isso, eu quis dar um chute na canela do sujeito incrivelmente estúpido.

Revirei os olhos. Ele sorriu cinicamente.

– Posso ajudar?

– Bem-vindo à Cocoa Beach, vato – eu disse, com minha melhor expressão de filha da putisse. Bem, eu não sei espanhol, porque dormi nas aulas, mas está escrito vato no tapete, e tenho quase certeza de que vato quer dizer ‘cara’ – eu espero, senão acho que acabei de chamar o sujeito de algo muito estranho, como PALMITO ou SUGESTÃO.

– Ah – ele olhou para as panquecas e franziu o nariz. – Presente de boas-vindas? – e sorriu.

Puta. Que. Pariu. Ele tinha covinhas! Caralho, ele tinha COVINHAS! Caralho², ele tinha olhos verdes. Caralho³, eu falhei. Estiquei meu olhar para aquelas outras covinhas dele. Aquelas, lá da barriguinha, sabe? Merda. Ou aleluia!, porque os antigos inquilinos eram um casal de mexicanos chatos. O novo inquilino, por outro lado, tinha cara de babaca gostoso, e devia ter uns... o quê? Dezoito anos?

Caham, BABACA!, leia bem! E maloqueiro. Ele tinha duas linhas em cada antebraço, tatuadas. E uma coisa árabe abaixo da clavícula – quero dizer, só podia ser árabe, ou ele tatuou um miojo. Se bem que não me parecia muito impossível.

É, ódio gratuito é um amor – oi?

– Isso, isso – forcei um sorriso. – Feliz Natal, coma, jogue no lixo, dê pro gato, faça o que quiser – joguei o pote na mão dele, recuando. Mas a varanda é curta. E tem uma escada. E eu me esqueci que a varanda é curta e tem uma escada.

– JESUS! – exclamou o cara. Ele pulou os degraus de uma única vez – ao passo que eu tinha despencado degraus abaixo. – Você está bem? – perguntou. Apoiei o corpo com os cotovelos ralados, dando graças ao bom Carinha lá de cima por eu não ter caído de cara no chão. – Duende?

Pisquei.

Depois de novo.

Ele me chamou de quê?

– Oi?

– Você. Está. Bem? – perguntou pausadamente. Filho da puta! Meu ódio gratuito aumentou.

– Claro – continuei estatelada no chão. – Ótima. O céu está tão lindo, não é mesmo?

E não é que ele olhou para o céu? Olhou mesmo. Ficou tentando descobrir qual era o meu problema, suponho eu; o céu estava nublado, e parecia ter uns mini furacões rodopiando lá em cima. O cara ficou em silêncio por um tempo.

– Quer um band-aid?

– Dos Looney Tunes?

O cara voltou a ficar em silêncio por alguns minutos.

– É.

– Me ajuda a levantar – suspirei. Que escolha eu tinha, afinal? Cotovelo dói pra cace...rambolas.

Oras.

Ele me puxou pelo braço e me empurrou novamente varanda acima. Pegou o pote com as panquecas – lindas e saudáveis panquecas – do tapete e carregou para dentro da casa. Olhei de soslaio para ver se ele iria ou não fechar a porta.

Não fechou.

Bom-senso.

Eu estava mal-humorada. Sim, eu estava. Tive que pedir ajuda para levantar, porque a porra dos gramados são forrados com a porra de cascalhos, ainda tive que dar o braço à torcer para um band-aid dos Looney Tunes. Vou te falar, viu. Orgulho é uma merda, sempre foi, porque depois eu tive que ficar esperando na sala enquanto o mané procurava, no meio das toneladas de caixas de mudança, um band-aid.

– Serve um guardanapo. É só pra estancar o sangue – eu disse. Como se estivesse sangrando muito.

– Lava ali na pia, eu já acho o band-aid.

Suspirei, de novo, e fui até a pia.

Tinha um pano de prato cinza em cima da pia, extremamente sujo. Tsc. Liguei a torneira e me dobrei para lavar os braços. Ardeu pra caralho. Tirei a areia, o cascalho, acho que devo ter tirado até minha própria pele de tanto que esfreguei os cotovelos. Sacudi os braços e estendi a mão para pegar o pano de prato, mas ele estava um pouco mais longe.

Ele não estava do lado da pia?

Dei de ombros. Caminhei até o pano e peguei. Comecei a esfregar nas mãos até sentir alguma coisa arranhando minha palma. Afastei o pano para olhar. Ele guinchou e pulou da minha mão.

– AHHHHHHHH! – gritei.

– Gaaaaah! – gritou o pano de prato.

– AHHHHHHHH! – gritei de novo, porque panos de prato não gritam.

– Dolly! – o cara apareceu correndo pela sala e pulou o balcão da cozinha. Mas ele estava de toalha. Gritei de novo e me virei para o lado.

– Caralho, coloca uma roupa, mano!

Virei-me devagar e abri só um olho. Ele me encarava, confuso, com o pano de prato no ombro. O pano de prato tinha dois olhinhos. E duas orelhinhas. E um rabinho comprido. E patinhas. E um focinho fino e rosado.

– Você assustou o Dolly – acusou-me.

– Dolly?

– É, o Dolly.

Absorvi aquela informação; Dolly era um furão. Um furão sujo e magricela, bichinho de estimação do meu vizinho maloqueiro.

Faz todo sentido.

– Achou o band-aid? – perguntei, tentando mudar de assunto. Eu não gostava nada dos olhinhos brilhantes do Dolly me encarando.

– Ah, sim, sim – ele colocou – leia-se ATIROU – Dolly na bancada e pegou um band-aid azul dos Looney Tunes do bolso. Rasgou o pacotinho e abriu. Mostrei o corte no cotovelo para ele e ele cobriu com o curativo. Depois, olhou para Dolly, que fuçava no potinho das panquecas verdes asquerosas. – Aquilo são...?

– Panquecas – sorri, satisfeita comigo mesma. – De... espinafre. Deixa você forte.

O maloqueiro não pareceu convencido.

– Ah, jura, Duende?

Fechei a cara. Como é?

– Meu nome é Delilah – rosnei. Opa. Merda, merda, merda. Acabei de dizer meu nome; ele pode ser um psicopata/serial killer, e agora ele já sabe quem pode matar; merda.

– Bem, Delilah, você parece um duende – ele disse, divertido. Semicerrei os olhos. – Você sabe, não por mal. Tem esses olhos castanhos, cabelo verde, é baixinha... tem até orelhas pontudas!

– É um piercing! – rebati.

– Tanto faz – ele se aproximou. E continuava de toalha. – Sou Henri – e me estendeu a mão.

– Oi – falei toscamente. Ele tinha cheiro de shampoo de chocolate. – Então... Não vai provar?

Fui até o pote; eu só estava aqui mesmo, mesmo, porque não podia perder a cena dele comendo as panquecas da morte. Sorri internamente quando abri a tampa e entreguei a ele, que cheirou e fez uma careta, inspecionando a gororoba grudenta.

– Dá pra comer isso?

– Dã – respondi. Mordi os lábios. – É claro que dá!

– Certeza?

– Arrã.

Henri cutucou as panquecas e depois ficou olhando para o dedo, como se esperasse que ele começasse a borbulhar e derreter. Como isso não aconteceu, ele pôs as panquecas em um prato, cortando em seis pedaços cada uma. Franzi as sobrancelhas.

– O que você vai fazer?

– Dar pro Dolly.

– O quê? Não!

– Você disse: “coma, jogue no lixo, dê pro gato”. Estou fazendo isso.

– Ele é um furão!

Silêncio.

– Isso é deprimente – disse Henri.

– O quê?

– Você não ficaria deprimida se te dissessem: ‘você não é nada demais, não sonhe, você é só uma humana?’

– Eu sou só uma humana – retorqui, confusa. Mas que diabos estava acontecendo ali? – Ele é um furão, garoto!

– Shh! – Henri avançou em mim, tapando minha boca. – Não deprima ele!

Asfhushfufhsfhsufh – murmurei. Olhei de soslaio para o furão, em cima do balcão, que cheirava desgostosamente as panquecas. Mordi o dedo de Henri.

Ai! – exclamou ele, ofendido. – Nós acabamos de nos conhecer e você me morde?

Lembrei que ele estava segurando Dolly com aquela mão. Eca. Peguei a primeira coisa que vi na bancada e enfiei na boca para tirar o gosto de furão molhado da minha língua...

... mas o que estava em cima da mesa era a panqueca da morte.

– PUTA QUE PARIU! – gritei entredentes, porque meus olhos começaram a lacrimejar; bem, verdade seja dita: tinha um gosto bom – tirando o alho, esse eu não devia ter posto –, mas o wasabi e a pimenta turbinavam demais a panqueca. Ofeguei. Corri até a pia e liguei, entendendo agora o drama do Glenn. Lágrimas grossas escorriam dos meus olhos, mas eu não estava chorando. Era o wasabi. Não conseguia sentir meu nariz, o ar entrava alfinetando.

– EU SABIA QUE ERA UMA TRAMÓIA! – acusou-me Henri. De novo.

Comecei a sentir calor, e ao mesmo tempo frio, e eu comecei a sufocar. Caralho. Minha respiração era um chiado, eu RI disso. Ri mesmo, até que meus pulmões foram costurados pelo wasabi. Droga. Enfiei a cabeça debaixo da torneira e bebi água, cabelos e lágrimas, tudo junto, o que congelou ainda mais minha garganta.

Calor; calor; calor. Numa situação de desespero, tirei a camiseta e pus novamente a cabeça debaixo d’água...

... até lembrar que eu não estava na minha casa.

E pior: estava na companhia de um estranho.

Deus.

Limpei a boca que ardia um pouquinho menos, fechei a torneira, puxei os cabelos em um rabo-de-cavalo e, lentamente, me virei para Henri. Ele me encarava com um sorrisinho. Levantei a outra mão, rendida.

– Não... comente nada.

– Lindo escorpião você tem! – exclamou, olhando para minhas costelas, onde, de fato, havia um escorpião tatuado.

Meu sangue ferveu.

– Cala a boca! – joguei minha camiseta nele, mas ele segurou diante do rosto e sacudiu, fazendo-me perceber a bobagem que eu fiz. – Er... devolve? – sorri amavelmente.

– Pega.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eaí, eaí, my precious?
Mereço reviewzinhos? u,u



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "America's Sweethearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.