America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 13
Bipe


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá, olá, como vão vocês? xDD
O capítulo ficou gigante, na minha opinião ;-; MAS posso usar isso como desculpa da demora e dizer que o capítulo anterior estava meio monótono e curtinho só pra encher o saco até esse aqui õ/

Espero que gostem ;3



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– Então, tem certeza de que não nos trouxe aqui pra armar uma cilada e nos prender? – questionou Henri, cuidadoso, inclinando a cabeça em direção à madrasta 21.

Amélia riu. Aparentemente, ela gostava mais de Henri do que de mim.

Bem, estávamos andando pela praia. Amélia disse que queria conversar com a gente, e preferia que fosse em um lugar agradável – aparentemente nossa casa não era. Meus pés afundavam na areia, minha cabeça latejava, e eu dei graças à Deus por estar de camiseta regata e short, porque o clima em Cocoa Beach é altamente tripolar. Bem, a questão, que eu não dava graças à Deus, era: COMO eu estava de regata e short? Eu acordei assim, quero dizer. MAS quando fomos na festa, três dias atrás, eu estava de pijama.

Deus me livre em saber como eu mudei de roupa, inconsciente, em uma casa cheia de garotos.

– Não se preocupe, querido – disse Amélia, carinhosamente. Suspeito que ela goste mais dele por causa daquele teatrinho do primeiro dia de prisão domiciliar. – Vim oferecer... uma proposta.

– Se é uma proposta, é óbvio que você vai oferecer – comentei.

– Quieta – disse Amélia. Mostrei minha língua para ela. Ela me ignorou. – Vocês são jovens! Foi tolice a minha prender vocês em uma casa. É claro que vocês iriam desobedecer as regras – ela chutou, sem brincadeira nenhuma, um caranguejo branco para longe do caminho dos pés dela. – Mas tudo bem, o erro foi meu. Então, eu proponho uma coisa: uma condicional em monitoramento.

Silêncio. Troquei um olhar EXTREMAMENTE cúmplice criminal com Henri, que deu de ombros e mordeu os lábios. Oh, Deus. Ele... eu... quero dizer, o “oh, Deus” propriamente dito não foi por causa disso, claro que não. Não foi porque ele, sua pele morena, seus olhos verdes e seus cabelos loiros cacheados eram incrivelmente sexys e fofos somados à mordidinha na boca. Foi por que... bem... tinha uma garota se afogando. É. Isso. Vi com a minha panorâmica enquanto olhava para Henri.

Coitadinha.

– O que isso quer dizer? – perguntou Henri, piscando.

Pisquei também. Tsc.

– Vocês vão ter... uma espécie de tornozeleira – Amélia uniu as mãos nas costas. – Ela servirá para monitorar os dois. Quero dizer, não tem câmeras nem microfones, mas têm localizadores. Saberemos onde vocês estão, e tecnicamente o que estão fazendo por scanners de visão que funcionam de hora em hora, o que quer dizer que vocês não serão vigiados, propriamente, mas não poderão, tecnicamente, roubar lojas ou matar alguém. E vocês não podem sair do país também, mas sugiro que saiam do estado.

Ergui as sobrancelhas.

– Sugere? Depois de tudo isso, você sugere que saiamos do estado? Por quê?

– Sua mãe é Katherine McClay, não é? – perguntou ela, dirigindo-se à Henri.

– Katherine Lawrence, nome de solteira – corrigiu ele.

– Bem, ela está vindo pra cá.

Henri arregalou os olhos e parou no meio da praia. Bati com o nariz nas costas dele e resmunguei de dor, apertando o nariz, recuando e olhando ele com os olhos estreitados.

– O que é tão ruim? – perguntei, fanha.

– O-o que ela está... vai fazer... aqui? – balbuciou Henri. Parecia bem incrédulo e mal. O que tinha de ruim em a mãe vir visita-lo? Quero dizer, eu nunca tive uma mãe. Só um monte de madrastas que em geral não gostavam de mim nem dos meus irmãos. E eu queria uma mãe. Sempre quis. Não que meu pai fosse ruim, ele era um ótimo pai, quando conseguia, mas era difícil. Com minha tia sempre doente e os dois trabalhos... bem, ele era meio distante. – Ela vai vir por que...?

– Ora, por que. Visitar o novo namorado, o que mais seria? – Amélia fez uma careta de desgosto. – O pai da Delilah, é claro. O meu cara.

Era estanho ouvir Amélia, na casa dos quarentões, dizer “meu cara” naquele tom.

– Então é verdade – resmunguei, ainda fanha. – Eles são pseudo-namorados.

– MAS, eu conto com vocês para irem atrapalhar a vinda dela até aqui. Ela vai passar o Dia de Ação de Graças em Las Vegas com o filho mais novo, e depois vir pra cá, e é bom vocês irem pra lá... você sabe, para segurarem ela lá. Pelo menos por duas semanas até eu conseguir fazer seu pai ficar meu noivo – e os olhos dela brilharam, ao passo que os de Henri brilhavam também, mas de sentimentos bem diferentes.

Henri ficou branco. Apressei-me em sua direção e puxei seu braço.

– Pelo amor de Deus, não vai desmaiar agora – sussurrei. Ele piscou os olhos e olhou para mim, bem perto. Eu quis empurrá-lo, mas isso só pioraria as coisas entre Amélia e eu, já que basicamente ela AMAVA Henri, aparentemente.

– Estou bem.

– Acho bom – eu disse, mas continuei segurando seu braço, só pra garantir. E também porque ele parecia precisar de alguém. Não parecia fiasco, isto é. Ele parecia realmente mal. Como se tivesse sido nocauteado por um fantasma. Achei que ele deveria ter um problema com a mãe, ou qualquer coisa do tipo. Suas mãos tremiam levemente. – Henri?

– Porque faríamos esse... favor, pra você? – perguntou Henri, educadamente, mas ao mesmo tempo com um tom ríspido. Eu sentia ele se apoiando em mim, mas a voz dele estava normal.

– Porque eu estou negociando sua liberdade condicional E sigilo sobre como aqueles carros, motos e UM CAMINHÃO – ela realmente deu um ênfase BEM GRANDE na frase –, foram parar na casa de vocês, quando eu disse que, estar em domiciliar é, basicamente, não SAIR nem receber visitas de fora.

Olhei para Henri, alarmada.

– Parece uma boa negociação – sussurrei, preocupada. – Se estiver bem pra você, claro.

– Bem, você tem as nossas fichas. Isso quer dizer que pode me livrar de uma condicional pra me pôr na outra, certo?

– Se você antes estava em domiciliar e condicional, agora você só tem uma condicional, e é a minha – Amélia ergueu o rosto. – Dou quarenta o oito horas para vocês arrumarem suas coisas e irem pra Las Vegas – e sorriu vitoriosamente. – Espero que pensem nisso. Não precisam me comunicar se resolverem ir; aqui está suas pulseiras – ela entregou duas faixas pretas, cada uma com uma caixinha com uma tela preta e pequena. – São seus monitores. Ponham nos pés e liguem se realmente forem sair do estado. Ah, e troquem as pilhas quando o aparelho começar a chiar, senão seremos obrigados à ir atrás de vocês.

Peguei o meu e Henri pegou o dele, ainda apoiado em mim.

– Porque eu sinto que isso parece uma coleira elétrica anti-latidos? – ele franziu as sobrancelhas. – Podemos tirar para tomar banho?

– É a prova d’água. Não tirem isso aí por motivo nenhum – Amélia suspirou. – Bem, tenho um encontro com seu pai hoje, querida Delilah. Espero notícias suas.

E então, ela se virou de costas para nós e refez o caminho pela praia até os estacionamentos, e desapareceu dentro de um carro preto, que logo deu a partida e sumiu atrás das casas de beira de praia. Fiquei observando por um momento, atônita.

– Isso não é contra a lei? – perguntei, mais para mim mesma do que para Henri.

Mas, de qualquer jeito, ele não me respondeu. Enfiou as mãos na cabeça e caiu – leia-se SE JOGOU – no chão, murmurando alguma coisa, estremecendo e trincando os dentes.

E, de qualquer jeito, isso me deu um aperto estranho no coração.


(...)



Depois de sussurrar o mais suave e docemente que eu consegui, o que não era muito, porque eu não manjo dessas coisas, arrastei Henri até os quiosques da praia e sentei ao seu lado na areia. Ele me olhou. Parecia abalado, pálido, com as mãos apertadas em punhos e tremendo. Respirei fundo.


– Henri...

– Eu estou bem – ele disse, conseguindo manter o tremor longe da voz. – Eu só... não consigo acreditar que vou ter que ver minha mãe tão cedo... é... é assustador.

– Por quê? – ele estava tão sério e assustado que eu tive que manter um tom sério também, só pra não piorar as coisas, o que, seriamente falando, eu faço muito bem. – Vocês... não se dão um com o outro?

Henri sorriu tristemente e negou.

– Nem um pouco.

– Oh.

Duh.

Sim, eu disse “oh”, do jeito mais triste que eu consegui, porque eu não sabia consolar as pessoas, ainda mais um garoto que, há mais ou menos uma semana, só conseguia fazer babaquices e me ferrar com a polícia. E, verdade seja dita, eu não conhecia ele muito bem. Não conhecia nada, na verdade! Éramos estranhos um para o outro, mas eu tinha um carinho por ele. Caham!, é sim, você leu certo, um carinho!

Nada mais que isso, não crie expectativas, mero mortal.

Fiquei observando-o. Eu realmente queria conhecer mais um pouco ele. Tinha sido tudo tão rápido e tão alheio desde que roubamos – miseravelmente – uma loja de bebidas. E então veio a prisão, os amigos dele, Niko... eu mal tive tempo de perceber quem Henri realmente era. Mas tinha uns poucos momentos, que nós só nos entreolhávamos, seja antes de xingar um ao outro ou mesmo sem querer, que parecia que eu conhecia ele há mais tempo.

Talvez porque ele já tenha me beijado, hehe!

Mas, em momentos inúteis acontecidos nesses últimos dias – antes de eu entrar “em coma”, hehe! –, momentos não narrados, como almoços, café da manhã ou jogadas de UNO, que, sério, você não iria querer ter lido, porque foram horas de convivência com Henri & Cia totalmente entediantes, eu sentia que estava gostando de Henri... um pouquinho.

GOSTANDO, gostando de gostar da presença, da companhia, não GOSTAR, GOSTAR, me leia bem, está certo? Não me leve ao pé da letra!

Verifique as definições de “gostar” no dicionário.

É a menos amorosa o possível, leia bem.

– E por quê?

– Porque o quê? – ele me perguntou. Revirei os olhos.

– Porque você e a sua mãe não se dão um com o outro.

– É uma longa história – disse Henri, pensativamente, inclinando-se encostando-se em uma das colunas de madeira que sustentavam o quiosque.

Olhei em volta.

– Acho que temos tempo – comentei, erguendo os ombros.

Henri revirou os olhos. Eu o imitei. Seis cachorros vira-latas correram duna abaixo, da mureta lá em cima que separava o morro de areia do calçadão, jogando areia e mato em nós. Filhos da puta que os pariu! Sacudi a cabeça e me joguei pra cima de Henri, tossindo areia pra fora da boca, espirrando areia pra fora do nariz e piscando areia pra fora dos meus olhos.

Ah, e sacudindo areia pra fora da minha cabeça.

– É só areia, Delilah, sua fresca! – riu Henri.

– Odeio areia! Areia quente e cheia de mato! – retruquei, raspando a língua nos dentes. Urgh. Eu realmente odiava areia, com todas as minhas forças. Coisa grudenta. Arenosa – jura? –, incômoda, babaca, quente, desconfortável...

– Você cresceu na praia e não gosta de areia?

– Você cresceu com a sua mãe e não gosta dela – falei, meio sem pensar. Assim que falei, ergui as sobrancelhas, mostrando que eu estava certa daquilo que tinha acabado de falar. Pura asneira, isso sim. O garoto ficou encabulado.

– Certo, você venceu.

– Mas você não me respondeu porque diabos não gosta da sua mãe! – insisti. Eu simplesmente não entendia. Mães eram tão... ótimas. Eu via as mães de todo mundo. A mãe de Jay, de Babe, as mães das mães deles... elas tinham um dia pra elas! Porque alguém não gostaria da própria mãe?!


(...)



Ai, ai, ai.


Como era difícil explicar as coisas praquela garota, puta que pariu. Ela não entendia que eu não queria falar sobre a minha família? Rick, Jimmy, minha mãe, meu pai, meu irmãozinho... eu estava enrolando ela acho que há meia hora. Um pouco mais. O sol estava caindo atrás do mar, lançando dedos compridos sobre a água. Eu gostava disso aqui. Em Vegas o único pôr-do-sol que vemos é os cassinos abrindo, as luzes fracas indo ficando mais fortes e brilhantes – e coloridas, e dançantes, e loucas, e compridas... Bem, é um pôr-do-sol ao contrário, porque tudo clareia quando o sol vai embora sem nós vermos ele desaparecer no horizonte, mas é o pôr-do-sol, porque quando os cassinos se iluminam quer dizer que a noite já chegou, e isso é depois do pôr-do-sol, que nós não vemos, e... é. Você entendeu.

Las Vegas é uma merda.

Olhei para Delilah. Os olhos dela ficavam dourados na luz assim. Dependendo de como ela virava a cabeça.

– Tá olhando o quê? – ela perguntou, delicada como um tijolo.

– Eu? – puxei um fio verde-metálico do cabelo dela. – Cara, seu cabelo é muito estranho no sol. Tipo um para-choques ou aqueles refletores de energia solar.

Ela ficou me encarando. Hehe, às vezes eu acho que eu sou idiota demais. É sem querer... não. Na verdade, é totalmente por querer, acho bom vocês saberem disso. Só que eu penso em uma resposta idiota mas eu não testo ela, o que resulta em um monte de merda falada da boca pra fora.

– Uau. Foi o melhor elogio da última semana – ironizou Delilah, revirando os olhos e se deitando na areia. Ela começou a cantarolar alguma coisa. Eu juro que não estava escutando porra nenhuma, porque ela estava falando pra dentro e um tanto desafinada.

– Você deveria ver um ensaio – eu disse, me inclinando sobre ela.

– Ensaio? – o tom foi debochado. Ela ainda estava de olhos fechados. Acho que não percebeu que eu estava próximo o suficiente pra...

É... hm, esqueça.

Voltei a me sentar na areia, do lado dela, encarando o mar.

– É, ensaio – abracei os joelhos – e isso é uma frase totalmente gay, embora o GESTO NÃO SEJA – e enfiei os pés debaixo da areia. Os grão entraram imediatamente embaixo das minhas unhas. Legal. Odeio unhas. Unhas! É tão feminino! Se bem que eu ficaria estranho com dedos sem unhas. Qualquer pessoa ficaria. Enfim! – Não sei se você sabe, mas eu sou cantor.

– Deixa eu adivinhar – ela abriu um dos olhos, sorrindo. – E tem uma boy-band de garagem. Você e os integrantes se embebedam e jogam stripp-poker. Depois vocês pagam b...

Não – interrompi. Eu realmente não queria saber o que ela estava pesando que boy-bands com os integrantes bêbados faziam. – Eu não tenho uma banda.

– Mas tinha – adivinhou.

– Sim.

– Boy-band? – ela perguntou, segurando uma risada.

– Não, a vocalista era minha irmã. Eu era do apoio e do baixo.

Delilah assobiou ironicamente. Não sei se isso é humanamente possível, mas eu posso dizer que ela estava, sim, sendo irônica ao assobiar.

– Maneiro, hein? – ela se virou para mim, agora com os dois olhos abertos. – Certo. Quero ouvir um ensaio quando chegarmos em Vegas.

Gemi.

– Ahhnn, ainda tem Vegas... – rolei na areia também. Ótimo. Agora tinha areia nas minhas unhas das mãos, dentro da minha camiseta e na minha cara. Porque eu me esqueci que não se deve rolar na areia? – Eu quero morrer – murmurei contra a areia. Agora tinha areia na minha boca, hehe! Ok, admito que estou fazendo de propósito, só que sem querer.

Entende?

– Só eu posso matar você – afundei na areia, sentindo um peso quente nas minhas costas. Hm... não é o que eu estou pensando, é? Expirei um bocado de areia e tentei me virar, mas dez dedos empurraram minha cara de volta pro chão. Ughh. – Sufocado com areia não seria uma má ideia, mas...

E ela continuou falando. Só que eu não conseguia prestar atenção. Eu só conseguia entender que: 1) Delilah, pequena e inquieta, estava sentada na base da minha coluna 2) Delilah, diaba e infeliz, estava fincando as unhas nas minhas costas enquanto falava nas inúmeras formas de me matar antes de eu morrer de desgosto em Las Vegas 3) Delilah, inocente – ou talvez não – e sabiamente irritante – você sabe porque, hehe! –, estava pressionando os joelhos contra as minhas costelas, os tornozelos contra meu quadril e as mãos nas minhas costas e... hm... 4) ela se abaixou e falou alguma coisa, que eu também não entendi – ME PROCESSE, estou sob efeitos tardios de G.A.R.O.T.A.S –, perto da minha nuca. Ah, meu Deus. Deus. Cadê Deus quando a gente precisa? Ah-ahm, 5) ela se apoiou nas minhas costas, com os cotovelos, e puxou meus cabelos – com os dentes, supostamente.

O que caralhos estava acontecendo ali?

– Você não escutou absolutamente nada do que eu disse, né? – foi a última coisa eu escutei. Hehe! Que irônico!

– Desculpa – falei contra a areia. – Não foi por querer.

Quase pude sentir ela revirando os olhos.

E senti, infelizmente, o peso dela saindo de cima de mim.

– Oi, eu estou aqui – chamou Delilah. Rolei e apertei a batata da perna dela.

– Eu sei, você não cala a boca – comentei, erguendo a sobrancelha. Ela tentou erguer uma só também, o que ela sempre fazia para me imitar. Na verdade, ela não só tentou, como fez uma dúzia de caretas e danças de sobrancelha diferentes. Ri. – Para com isso, vou ter pesadelos.

Ela me deu um soco no braço. Bem mais fraco do que normalmente.

– Vai se foder, McClay.

Me sentei, surpreso.

– Você sabe meu sobrenome.

– A 21 faz questão de repetir em todas conversas.

– A... delegada?

Delilah me encarou como se quisesse meu cérebro. Encolhi os ombros. Eu não era obrigado a decorar o número das madrastas dela.

Ficamos daquele jeito por uns três minutos, um encarando o outro; ela deitada, apoiada no cotovelo, e eu sentado, com o braço sobre o joelho.

– Então, eu vou ter que salvar você em Las Vegas – ela disse.

Eu vou salvar você em Las Vegas – corrigi. – Eu morei lá.

– Foda-se, você tem pavor dessa cidade – retorquiu. – Então, eu vou salvar você.

– Cala a boca, Duende – ameacei, puxando o pé dela. Delilah riu, encolhendo as pernas, mas eu insisti. – Você já pode parar de me lembrar que vamos pra Las Vegas, ou seja, fique quietinha – puxei seus pés novamente, agora pelos tornozelos, e me dobrei todo para coloca-los sob mim. – Viu? Quieta.

– Me obrigue – ela desafiou, firme e sorrindo. Os olhos dela estavam dourados de novo, o sol deixando os cabelos metálicos e o rosto brilhante. Ela estava com a cabeça levemente inclinada e o queixo erguido, com as duas sobrancelhas arqueadas e os pés sob os meus joelhos.

E você não sabe como eu queria obrigar! A boca dela ficava mais vermelha no sol. Isso atraiu minha atenção quase instantaneamente, me fazendo perceber que eu estava totalmente caído. QUERO DIZER, pelo PÔR DO SOL, isto é! Ele deixa tudo mais lindo! Note a diferença!

Delilah arqueou mais as sobrancelhas, como se esperasse alguma coisa. Percebi que eu estava olhando pra boca dela há alguns segundos muito longos. Isso deve tê-la deixando com pensamentos sexys ao meu respeito, hehe! Sentei sobre os joelhos e a encarei. Ela piscou. E não digo piscar de incrédula por alguma coisa ou derivados, ela piscou lentamente. Sério, estou dizendo. Tinha alguma coisa errada ali. Ela abriu a boca para falar alguma coisa, colocando uma mecha verde-metálica pra trás da orelha, e antes que ela falasse qualquer asneira – asneira, adoro essa palavra! – eu a puxei, pelos tornozelos novamente, mas dessa vez eu arrastei a garota da areia. Ela era leve. E pequena. Acho que o apelido Duende realmente fazia jus à cidadã. Parei de arrastar ela quando estávamos há dois palmos um do outro. Ela bufou outra mecha de cabelos pra longe da cara.

– Eh – murmurou ela. Hehe! Ela não sabia o que dizer, porque isso me deixa tão orgulhoso?! Sorri e me inclinei pra perto dela.

– Eh? – provoquei. As bochechas dela ficaram vermelhas. Ela comprimiu os lábios.

– Cala a boca.

– Agora?

– De preferência, sim – respondeu, olhando para o outro lado e apoiando as mãos no chão, na tentativa de se arrastar pra trás. Tive que pensar rápido, não me culpe! Ela não podia simplesmente fugir assim depois de... querer me arrastar pra Las Vegas – hehe, olha só eu pensando em uma desculpa rápido; percebe-se que não é uma das coisas que eu manjo.

Então eu segurei os braços dela e me joguei na areia, de costas, puxando ela sobre mim. Delilah soltou uns dois palavrões, dez exclamações de surpresa e alguns protestos, mas eu só consegui rir dela, erguendo o pescoço do chão o suficiente pra sacudir a cabeça e tirar o excesso de areia que se alojaram no meu cabelo.

– Você é...

– Demais? Lindo, incrivelmente sexy?

Delilah, meio deitada, meio sentada na minha barriga, me deu um soco, que doeu razoavelmente, por causa dos ossos duros da mão dela. E revirou os olhos.

– Eu ia dizer babaca.

– Você sempre diz babaca.

Ela cruzou os braços e se ajeitou. Hm. Não sei se ela não tinha percebido realmente que estava em cima de mim, ou se ela realmente não se importava.

– Cala a boca – repetiu.

Arqueei a sobrancelha.

– Você disse isso antes, olha onde acabamos – comentei, tocando os pés dela. Ela tinha uma tatuagem no pé direito, na lateral. Era a silhueta preta de um bicho. Parecia uma raposa, pra mim. Ela estava “correndo”, e era pequena, mas comprida. Bem simples. – Você só tem animais pretos como tatuagens?

– Você não viu todas tatuagens – disse ela, firmemente, encarando-me de cima. Pareceu pensar alguma coisa e, depois de alguns segundos, se inclinou por cima de mim, colocando as mãos nos meus ombros pra se equilibrar. – E não, eu não tenho só animais pretos.

– Posso ver as outras? – perguntei. E eu juro que não tinha sido maliciosamente, embora Delilah tenha me induzido a pensar nisso! Ela estava, novamente, há um palmo do meu rosto. Pude ver que os olhos castanho-claros dela realmente tinham pontinhos dourados. E verdes, raiando em volta da pupila. Ela mordeu a boca e... merda, puta merda, ela estava fazendo de propósito! Dava pra ver no brilho cruel dos olhinhos dela. Aquela diaba! Trinquei os dentes. Ela colocou todo o cabelo sobre um ombro só e voltou a apoiar as mãos em mim, para não cair. Suspirei.

– Eu acho... que tá ficando escuro – ela murmurou.

– Não me diga – murmurei de volta. E realmente estava! O céu azul estava dando os doces, ficando laranja e púrpura, com uma lua, é... uma lua... fatiada – eu não sei o nome das fases da lua, me processem, astrônomos! – pendurada no céu, no lado oposto de onde o sol havia desaparecido atrás do mar, naturalmente.

Percebi que a respiração dela estava lenta. Não a da lua, é claro! Da Duende. Eu rastejei um pouco embaixo dela, para me apoiar nos cotovelos, e ela usou aquilo como desculpa pra chegar alguns centímetros mais perto. Hm. Quatro dedos de distância. Que interessante /CHUPA ESSA MANGA, NIKO/, hehe!

– A gente devia ir pra casa – sussurrou novamente. Eu gostei do jeito que ela falou “pra casa”. Não sei por quê. Foi bonito de ver. Dava a impressão que dividíamos alguma coisa boa, além de xingamentos e perseguições furiosas pela casa.

Então eu me inclinei mais para cima e beijei ela.


(...)



Eu podia gritar pra vocês com vocês e ficar falando sem parar e sem respirar e sem vírgulas e sem pontos mas com muitas muitas muitas muitas e acrescente muito mais muitas exclamações de surpresa felicidade e hm acho que preciso desligar o negrito


Enfim. Eu estava falando sério sobre não colocar vírgulas e pontos. E percebi que a palavra “muitas” fica esquisita se escrita muitas vezes seguidas.

Eu poderia contar pra vocês também que eu gostei de beijar o Henri. Poderia dizer que éramos só nós dois naquela praia, nos beijando e rindo um da cara do outro, mas seria mentira. O beijo durou uns treze segundos, porque era lento, e bom, e...

Bem. Ele foi um beijo que começou lento E FOI INTERROMPIDO!

Por quem? Adivinhe.

– Bipe, bipe, bipe, alerta de ar esquentando por aqui, alguém tem um ventilador portátil? Bipe, bipe, bipe.

Niko. Agachado nas dunas, com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso de escárnio na boca. Rolei rapidamente para longe de Henri, que fuzilou o garoto com os olhos antes de rosnar calma e sutilmente:

Eu vou matar você.


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Notas finais do capítulo

E então?! Não ficou tão ruim, vá dizer auehauehauheuahe Eu comecei a gostar de escrever o ponto de vista do Henri, o que vocês acham? Mais narrações do Henri ou nem pensar? uaheuaheauhe
:3



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