America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 11
Gato branco


Notas iniciais do capítulo

Semideusa Incompreendida, tu gosta mais do Niko que do Henri? UAUEHAUEHUAEHA ♥ ♥
Enfim, esse não demorou tanto, não é?
Mas ficou comprido, portanto, espero que gostem xDD
Boa leitura, meus amores!



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- Delilah? – perguntou uma voz ligeiramente conhecida e incrédula. – Delilah?!

Talvez meio acusatória.

Pisquei os olhos rapidamente, procurando no setor de salgadinhos o dono da voz. Jay estava com dois pacotes de Doritos debaixo do braço, me olhando com uma cara de quem afirmava: “você é louca, eu já sabia, mas você é louca”.

SE você não sabe quem é Jay, deixe-me apresenta-lo em alguns fatos extremamente desinteressantes: 1) na quinta série, um garoto magricela, de pele morena e cabelos encaracolados – ele parecia um elfo, de fato – roubou um sorvete da minha mão. 2) eu era criança, então chorei pra caramba até o pobre elfo comprar outro, o que o deixou extremamente encabulado, porque, bem, ele tinha roubado o meu sorvete para não pagar um. 3) o elfo se chamava Jay, descobri depois, e estudava comigo. 4) acabamos virando amigos, porque eu enfiei o sorvete na cara dele e ele sujou minha cara de sorvete também. 5) no ano seguinte, namoramos. 6) dois meses de namoro, eu consegui deixa-lo com uma concussão, o que causou uma rápida e escandalosa cena dos pais dele. 7) o namoro acabou, porque 1º ele estava puto comigo 2º os pais dele estavam putos comigo 3º ele acabou se apaixonando, no hospital, pela filha da enfermeira que servia comida para ele. 8) dois dias depois que terminamos e ele começou a namorar a filha da enfermeira, eu livrei ele de uma briga com o irmão dela e sua gangue, resultado: ele saiu com um olho roxo e um braço meio torto e eu com alguns hematomas, nada grave. 9) eles terminaram também. 10) Jay e eu voltamos a ser amigos porque eu salvei ele. 11) Jay namorou um dos meus irmãos, e isso realmente me deixou de queixo caído. 12) até hoje eles namoram, e eu e Jay somos melhores amigos.

Fim.

Uma história complicada, não?

- Delilah, o que você está fazendo?

E eu não tinha uma resposta. Olhei para Niko, que estava limpando as mãos no lençol e lançando olhares desesperados para o segurança, que continuava cochichando no walkie-talkie e olhando para nós.

- Compras – eu disse, por fim, sem conter um sorriso bêbado. – O que acha?

- Você não estava presa? – Jay se aproximou de mim. – Com aquele cara?

- Não – respondi rispidamente, olhando de soslaio para o segurança. – Claro que não.

Jay continuou desconfiado. Tropecei até ele, puxando sua orelha – de elfo – para baixo. Ele grunhiu e se inclinou.

- O quê é?

- Seguinte: o segurança gordo quer chamar a polícia. EU NÃO POSSO – tossi, percebendo meu tom alto. – Eu não posso ir parar na delegacia.

- Então, você está presa – Jay farejou o ar. – E cheirando à álcool. Espere – ele fungou. – Isso é tequila? Você está bêbada, Delilah?

- Não! – protestei. O cheiro dos peixes tinha mexido com meu cérebro. Eu estava um pouquinho mais desperta. – Quero dizer, acho que não, mas, JAY, POR FAVOR, você é o cara que eu amo, sabe disso né?

Ele continuou me observando, entediado.

- E...?

- Precisamos sair daqui; você já trabalhou nessa espelunca, então, antes que ele – apontei para o segurança – algeme eu e meus novos amigos.

- Novos amigos – resmungou Jay. – Quem, aqueles?

Olhei para onde ele estava apontando. Os garotos estavam brincando com os peixes e rindo, totalmente alheios. Niko ainda estava petrificado ao lado do carrinho tombado. Comecei a pensar que talvez eu estivesse exagerando, não era porque eu estava bêbada e tinha derrubado um carrinho de supermercado que eu ia ser presa...

... até que ouvi as sirenes.

- Merda – disse alguém do meu lado.

ISSO ME FEZ LEVAR UM PUTA SUSTO, acredite ou não.

- Puta merda, Henri! – gritei. – Você... o que você... você não estava brincando com os peixes?!

Ele olhou tediosamente para os peixes.

- Eu? Claro que não. Não sou tão – pausa para o soluço – retardado assim.

As sirenes estavam mais altas. Meu senso de auto-proteção – acabei de inventar, dane-se – estava me deixando surda. Agarrei Jay pelos ombros.

- Eu juro que te dou um beijo se tirar todos nós daqui e levar para um lugar bem longe da minha casa e desse supermercado.

Henri, subitamente interessado na conversa, se virou para mim.

- Como é que é? Você vai beijar ele se te der uma carona?! Eu te salvei do velho da loja de bebidas! Como eu fico?!

Revirei os olhos.

- Você me beijou quando nos conhecemos, e você é um babaca – virei-me novamente para Jay. – Por favor, eu te dou presentes no Dia dos Namorados!

- Tenho seu irmão pra quê? – ele perguntou, retoricamente, mexendo os pacotes de salgadinho, meio desconfortável. – Tudo bem, tudo bem. Quantos são?

(...)

Eu não sei o que Jay tem na cabeça, mas deve ser algo muito próximo de merda.

Ele tinha uma van roxa que, antigamente, era do meu pai – e, quando meu pai deu aquela coisa para Jay, eu não sabia o que era pior: meu pai já ter tido uma van hippie roxa, ou Jay, no auge dos seus 16 anos, ter ganhado uma van roxa, antes de se tornar gay. Agora, com dezoito anos, Jay ainda tinha aquela coisa horrível, toda quebrada, com cheiro de maconha e corante de pipoca.

Em defesa de Jay e do meu pai, a van tem esse cheiro desde que meu pai comprou de um casal de hippies na estrada para Kentucky, quando nosso carro – um jipe amarelo – quebrou na estrada, nove anos atrás. Eu fiquei muito aliviada quando ele disse que ia se livrar da perua, mas meu queixo caiu quando descobri que quem ia adotar a bugiganga era meu melhor amigo.

Agora, eu estava tentando não ficar surda.

Por sorte, a perua estava estacionada no estacionamento subterrâneo do supermercado, o que nos possibilitou fugir pelas escadas de trás. O segurança tinha corrido para nos seguir, mas Dinho – com seus superpoderes de ex-presidiário – prendeu a porta com um cabo de vassoura. Jay, resmungando e choramingo que estava ferrado, que ia ser preso, que não ia poder entrar pro FBI e muitas outras baboseiras, enfiou todo mundo para dentro da van – depois, é claro, de nos fazer esperar enquanto ele manobrava a perua para longe de dois carros e espirrava a água do chão em nós ao dar ré muito rapidamente.

E, agora, estava todo mundo conversando muito alto, na parte de trás, molhados. Eu estava sentada no banco do carona, molhada de água suja, puta e morta, com o banco para trás, esmagando as pernas de alguém.

Jay estava dirigindo em direção à uma rua que eu conhecia; a 1072, onde eu e Henri fomos encarregados de roubar as bebidas e ele era para estar fingindo ser meu namorado. Olhei para Jay de rabo de olho.

- O que estamos fazendo aqui?

- Longe da sua casa, longe do supermercado. Vocês não querem desaparecer? Criminosos tendem a querer desaparecer depois de fazerem merda.

- Você quer nos enfiar em um puteiro?

Alguém, na parte de trás da van, soltou um ruído.

- Quem disse puteiro? – perguntou Douglas, pondo a cabeça entre o meu banco e do de Jay.

- Delilah, não que eu esteja reclamando, mas que história é essa? – indagou Niko, suavemente. – Você quer nos levar para um puteiro?

Eles não pareciam mais tão bêbados, não sei se foi por causa do susto ou por causa da quantidade absurda de água que eles beberam dentro da perua, surrupiando o frigobar com estampa de tigre roxo e preto de Jay. Quero dizer, dos hippies. Mas Jay não quis mudar o visual. Ou talvez eles estivessem assim também por causa do banho de água fria que o jumento do Jay deu em nós.

- Foi modo de dizer – retruquei. – A festa não acabou há quatro dias?

- Cinco – corrigiu Jay, subindo a calçada e estacionando três casas antes da festa, que era fácil reconhecer, com todo barulho, pessoas andando no pátio, nas janelas e na piscina. Também tinha muito lixo, carne na churrasqueira, fumaça e papel higiênico no telhado. – O voo dos pais do Jems atrasou muito, acho que teve uma nevasca, algo assim, aí ele tá fazendo festa direto. Ele sentiu sua falta, sabia?

Sorri e encolhi os ombros.

- Eu fui buscar as bebidas e fui presa. É a pura verdade.

- O quê? – Henri empurrou Douglas da fresta entre os dois bancos e enfiou a cabeça ali. – Essa não é a casa que... ei! – ele olhou para Jay. – Você deu aquela jaqueta pra Duende! Você que nos pediu para roubar as bebidas! A culpa é sua!

- O quê? – Jay destravou as portas da perua. – Não, a Delilah sempre foi competente. Se vocês foram presos, a culpa é sua.

- Mas você que...!

- A culpa é sua – eu disse. – E sem mas.

Descemos da perua.

(...)

Eu sempre gostei de festas.

Verdade. Normalmente havia festas em vários lugares de Cocoa Beach, nas praias, nas casas, parques, piscinas públicas... era um lugar incrível. Sempre tínhamos algo para comemorar, e eu sempre era uma presença ilustre nas festas! – talvez porque eu fosse uma das únicas garotas que gostasse e se saísse bem roubando bebidas.

Enfim, quando entrei na casa, com aquele bando de macacos atrás de mim, houve algo como uma “paralisia temporal”. As pessoas – garotas, em grande maioria – se viraram para eles. Olhei por cima do ombro e entendi porque. Tudo bem, eles eram bonitos. Principalmente Henri, Niko e Dinho. Mas eu não sentia esse tipo de coisa por eles. Deveria ser porque eles me irritavam, na convivência desses últimos dias. Por um momento, eu cheguei a pensar até que a música tinha parado, mas isso foi pura impressão, porque, de repente, quando eu parei no meio do caminho que alguém trombou comigo, a música eletrônica espancou meus tímpanos.

Acho que a paralisia temporal tinha se aplicado a mim também. Quem sabe. Acho que não era por causa da beleza deles. Podia ser também porque estavam todos cheirando a peixe e vestidos com pijamas.

Niko, à propósito, estava descalço, ao passo que Eli estava de pantufas.

- Tudo bem aí? – perguntou Niko, e eu percebi que tinha sido ele à se chocar contra mim. – Você empacou. Tipo uma... mula.

Arqueei as sobrancelhas.

- Uma mula?

Ele pareceu encabulado.

- Não foi o que eu quis dizer.

Talvez não tivesse, mas eu só revirei os olhos.

- Bem... se vocês quiserem... podem se espalhar por aí – eu disse, para os garotos. Não que eles precisassem de minha permissão, mas com ela foi praticamente instantâneo. Quando eu terminei de pôr o acento no “aí”, eles já tinham se retirado.

Menos Niko.

E Jay.

Só que Niko olhou para Jay, e Jay rapidinho se mandou dali.

Merda.

- Então, onde eu posso pegar alguma coisa pra beber? – ele me perguntou, sorridente. Dei um sorriso que saiu tão amarelo quanto cínico.

- Cozinha – apontei para o arco pintando com alguma coisa vermelha – que eu esperava ser qualquer coisa menos sangue! – e encolhi os ombros. – Não tem nada mais óbvio.

- Dói pra você ser educada? – ele perguntou, escorando-se no sofá. Eu tinha parado perto de um sofá?

- Porque eu seria educada? – devolvi. Ele sacudiu a cabeça, e eu tentei não observar o jeito que o cabelo preto dele caía por cima dos olhos, ou como o piercing da sobrancelha brilhava, ou como o sorriso desgostoso dele fazia aparecer ruguinhas no canto dos olhos. Caham. E também tentei não perceber como a tatuagem de serpente se enroscava na clavícula e no pescoço expostos pela camiseta branca de pijama. – Eu... é... eu não sou educada.

- Se você quiser, você pode ser qualquer coisa.

- Se você quiser, você pode ficar quietinho.

Niko revirou os olhos e se inclinou para o lado para pegar um copo. O líquido tinha uma cor esquisita – e com esquisita eu quero dizer nojenta, marrom e pastosa – e Niko cheirou o copo antes de beber. Quando bebeu, fez uma careta e soltou o ar sonoramente pelo nariz. Foi quase engraçado.

- O que foi isso?

- Acho que licor de café com whisky – ele respondeu, estalando a língua. – Ou com tequila.

Me virei para o lado.

- Ah, por favor, não me fale em tequila. Odeio mexicanos.

Ele riu.

- Odeia mexicanos?

- Odeio – confirmei. – Odeio tacos, doritos, tequila, o Texas...

- Doritos não é mexicano – comentou Niko, franzindo a testa.

- É, sim.

- Não, nachos são mexicanos. Doritos é americano.

- Bem – continuei –, eu odeio nachos – agora, eu franzi a testa. – Mas nachos não é Doritos?

- Doritos são nachos. Mas não americanos – suspirou Niko.

- Mas você disse que...

- Ah, cala a boca – Niko pegou mais um copo e me deu. – Vira isso aí.

Remexi o conteúdo marrom do copo.

- Não quero beber nunca mais – murmurei.

- Bebe logo.

Fiquei olhando para os lados, tentando achar uma desculpa para não beber, quando vi... uma coisa. Que me atingiu de um jeito bem estranho. Tinha uma garota, com cabelos cor de chocolate, cheios e cacheados. Ela estava subindo a escada, em direção aos quartos, puxando um garoto loiro e alto com ela, pela mão. Loiro, de cabelos cacheados também, enrolados na nuca, cor de areia. Eles estavam rindo.

As pessoas só subiam em direção aos quartos por um motivo, e eu sei que você sabe qual é.

E eu não sabia quem era a garota, mas sabia quem era o cara.

Era Henri.

Então, eu peguei e virei o copo.

(...)

- Vira, vira, vira, vira! – gritavam, uhm, todo mundo. Eu estava de pé em cima da mesinha de centro, com uma mão apoiada no ombro de Niko e a outra segurando uma garrafa já pela metade de... alguma coisa. Eu juro que não sabia o que era, nem por cheiro, nem por sabor. Eu na verdade nem conseguia ler o que estava escrito na garrafa, então não me importei. Minha garganta estava queimando e meu estômago parecia dar voltas. Além disso, meu pescoço estava doendo de tanto que eu inclinava a cabeça para trás, e meu pulmão parecia que ia explodir, então, quando senti a última gota da bebida escorrer para minha boca, eu soltei a garrafa no chão.

Ela explodiu em vários pedacinhos.

E as pessoas na minha volta gritaram, de alegria, olhe só!

Comecei a rir, extremamente bêbada.

- Isso foi demais! – gritei. – Vocês são um ótimo público, eu amo vocês – pausa para o soluço – mas acho que eu preciso – soluço – deitar ou... ou de um médico!

- Delilah, você tá bem? – sussurrou Niko, com a mão por cima da minha. Soltei um ruído, entre uma risada e um soluço, e assenti freneticamente.

- Sim, sim, ótima! – mas eu assenti freneticamente demais. Cambaleei para fora da mesinha e os outros gritaram, ainda animados demais com meu estado deplorável. Errei o pé, achando que a mesa era mais baixa do que realmente era, e fui como um saco de batatas para frente, mas Niko foi mais rápido e me empurrou de volta. Consegui achar um meio-termo de equilíbrio, e sorri para ele. – Oi.

Ele sorriu, encabulado de novo.

- Olá – e me ajudou a descer, direitinho, dessa vez. – Você tem certeza que está bem?

- Absol... absod... – franzi as sobrancelhas. – É... sim, eu tenho certeza – e dei um sorriso amarelo. Ele me tirou do meio da roda de várias dúzias de pessoas, que abriram espaço e depois se dispersaram. Fomos pra cozinha, ele me apoiando e eu cambaleando. Bêbada pela segunda vez no dia, que legal.

- Quer água? – ele abriu a geladeira.

- A-ham – sentei na bancada, com alguma dificuldade, e quase caí pro outro lado, dando com a base da coluna no mármore e achando que o peso da minha cabeça ia influenciar para eu despencar do outro lado, mas aparentemente, de algum jeito, eu consegui me içar novamente e me sentar, antes que Niko percebesse. Olhei para cima, assobiando. – Com açúcar.

- Não sei onde tem açúcar... – ele bateu a geladeira e veio até mim, me entregando uma caixinha com um canudinho. – Mas tem água de coco. Serve?

Balancei as pernas e suguei o canudinho, fazendo barulho. Niko reprimiu uma risada.

- Isso tem gosto de água suja – murmurei, mas continuei tomando, até fazer um barulho contínuo de sucção. Foi quando eu percebi que não tinha mais nada dentro da caixinha, e a estendi para Niko. – Tem mais?

- Era a última – ele riu. – Você é maluca.

Pisquei, ainda sacudindo as pernas.

- É culpa do Henri – eu disse. Niko não pareceu entender exatamente o que eu quis dizer, acho que achou que era porque eu agora morava com ele, e se aproximou de mim, depois de jogar a caixinha fora.

- Você gosta dele? – ele perguntou, ficando de frente para mim e colocando as mãos nos meus joelhos, para eu parar de balançar as pernas. Não reclamei. Acho que eu estava bêbada demais para isso. – Delilah?

- Não – respondi automaticamente, rápido demais. Niko ergueu a sobrancelha. Tentei imitá-lo, mas não consegui. Àquela altura, eu não conseguia nem erguer as duas direito. Eu tinha quase certeza que, quando eu piscava, eu estava piscando um olho antes do outro, e não os dois ao mesmo tempo. – Não, não, não. – cantarolei.

Niko cruzou os braços.

- Não? Você não parece certa – ele se inclinou para perto de mim, e subitamente eu me senti encabulada por ele sentir o cheiro de álcool do meu hálito. Merda, porque eu não tinha chicletes?

- Hm?

- Ah, esquece – ele se virou. – Você está bêbada. Vou procurar o Jay e...

- Não ouse sair daqui – eu rosnei, puxando o pulso dele. Ou esperava ter rosnado. Meu estado não parecia muito bom de fazer ameaças. – Volta aqui ou vai comprar mais água de coco.

Niko sorriu e se voltou para mim de novo, dando um passo para mais perto. Fui perceber, dois minutos depois, de puro silêncio, que ele estava no meio as minhas pernas.

- Não posso ir em nenhum supermercado, lembra?

- A culpa é sua e do peixe beijoqueiro.

Ele riu, e eu pensei que ele era mais bonito rindo do que sendo cínico, como quando ele chegou na casa do Henri. Cutuquei a ponte do nariz dele, lembrando que ele tinha um óculos de sol. Niko pareceu surpreso.

- Delilah?

- Cadê seus óculos?

- Eu não saí com eles.

- Seus olhos são verdes.

- Eu já sabia disso.

Inclinei a cabeça para o lado. Niko franziu as sobrancelhas, provavelmente com os próprios pensamentos, e se aproximou de mim. Eu só fiquei olhando, porque, bem, bêbados não se dão conta das coisas antes que elas aconteçam. Por isso, quanto mais perto ele chegava, eu olhava para os lados, percebendo algumas coisas como... oh, o mármore da bancada estava lascado. E, oh, tinha formigas mortas no mármore. E farelos de pão. Uhm... a pia estava gotejando. E tinha um gato branco comendo ração no chão...

Virei o rosto para falar do gato para Niko e, quando percebi, o nariz dele encostou no meu. Por um momento, observei ele normalmente, olhando como seus olhos tinham pontinhos azuis e castanhos. Pude ver onde o piercing da sobrancelha furava a pele e também a barba começando a crescer. Ele estava com uma mão do lado da minha, apoiada na bancada. Fui batucando o braço dele no ritmo da música – que era horrível, por sinal, minha percepção de bêbada percebia bastante coisa – e parei em seu ombro.

- Acho que eu vi um gato – murmurei.

- Eh? – ele sussurrou.

- Um gato branco – sussurrei de volta. Hehe, eu juro que não estava entendo o que estava acontecendo. Ou o que ia acontecer.

Porque alguma coisa puxou Niko muito rápido de mim, e eu fiquei encarando o vácuo por um tempo indeterminado, com a mão apoiada em um ombro invisível.

Hã?

- Eu disse pra não mexer com ela – rosnou alguém. Henri. Era o Henri! Henri! Espera.

Eu não estava brava com ele?

Não deu tempo pra perceber nada. Vi Henri puxar a gola da camisa do Niko e minha cabeça caiu para frente. Vi, com os olhos semicerrados, Niko olhar para mim de olhos arregalados. Ele disse alguma coisa e Henri o largou. Depois, ele veio correndo na minha direção.

- Ei, ei, Delilah, você não pode dormir, ouviu?

- Não fecha os olhos! – exclamou Henri.

- Não quero dormir – murmurei. Niko pegou meu rosto.

- Ei, acorda.

- Delilah...

- O que aconteceu com ela?

- Delialh, acorda!

E aí, eu caí no sono.

Hehe. Que merda.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Vale mais reviews que o anterior? auehuaehauheuahe



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