Silêncio escrita por KeykoSakura


Capítulo 5
Primeiras Vezes




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Ino se deitou naquela noite agradecendo porque o dia seguinte seria domingo. Ela já sabia que demoraria pra dormir. Não conseguia parar de pensar em Kiba e no que tinha acontecido entre eles naquela tarde.

Flashback:

Kiba se sentou na cama enquanto observava Ino arrumar seu cabelo e suas roupas de volta no lugar. Ele ainda nem acreditava que tinha mesmo ficado com ela naquela ocasião e pensava que já estava viciado nela, no gosto dela. A loira voltou seu olhar pra ele, sorriu e disse um "tchau", porém sem conseguir esconder a vontade de ficar, mas ele ainda não queria deixá-la ir. Puxou-a pela mão e cuidou para que ela caísse sentada no colo dele, uma perna de cada lado, e já engatando outro beijo daqueles. Os dois praticamente nem ouviram Sakura dizer que esperaria do lado e de fora e Sasuke também sair logo após. Kiba teve um certo receio de estar indo rápido demais, mas sua vontade dela era muito grande.

-Te quero... –ele murmurava entre os beijos que dava no pescoço dela. –Te quero muito...

Ino sorriu, estava amando aquele momento. Devagarzinho foi escorregando do colo do garoto até suas costas atingirem suavemente o colchão da cama dele. Kiba acompanhou o movimento, se posicionando em cima da garota, tomando cuidado para não a pressionar demais com seu peso. A garota também murmurou entre beijos o quanto o queria e suas mãos encontraram o caminho pra dentro da blusa dele, fazendo a pele do garoto se arrepiar. E estava tudo ficando cada vez melhor, até Ino decidir baixar a mão um pouco mais. Kiba parou de repente. A garota também parou pensando se não tinha descido mais do que deveria. O garoto fechou os olhos e encostou sua testa na dela enquanto lutava para normalizar a respiração. Ambos estavam ofegantes e vermelhos.

-Ino... –ele começou quando conseguiu falar alguma coisa. –É... É melhor a gente parar... –seus olhos permaneciam fechados.

A loira regularizou a respiração.

-Não quero parar... –ela disse num sussurro.

"Droga, Ino..." pensou Kiba; assim ficava mais difícil.

-Eu também não quero. –ele disse. –Mas... Vamos com calma. Pode ser? –ele abriu os olhos e a viu sorrir.

-Pode.

E mais um beijo, mas dessa vez calmo, doce e um tanto demorado. Se levantaram e um ajudou o outro, com algumas risadas, a se arrumarem já que os cabelos e as roupas estavam desgrenhados.

Kiba segurou-a pela mão, entrelaçando seus dedos com os dela e lhe deu mais um beijo antes de abrirem a porta do quarto. Bem, abrirem a porta e se depararem com Sasuke e Sakura abraçados. Ino poderia jurar que até já deveria ter rolado alguma coisa entre aqueles dois enquanto ela estava com Kiba no quarto. Mas Sasuke quebrou o clima soltando sua amiga e saindo pelo corredor, sem mais nem menos.

-Definitivamente, ele é de lua mesmo... –ela comentou.

-Nem... –disse Kiba. –Isso é só o orgulho dele não querendo ceder.

-Ele me odeia... –murmurou Sakura fungando enquanto ainda fitava o final do corredor.

-Não odeia não. –respondeu Kiba. –Se odiasse e iria te ignorar, mas ele não consegue te ignorar... E nem você consegue deixá-lo na dele, não é?

Sakura corou e baixou os olhos.

-Gente apaixonada é um problema mesmo... –disse ele abraçando Ino por trás e dando-lhe um beijo leve no pescoço fazendo a loira rir. Sakura olhou para o casal de cara feia.

-E vocês dois, hein? Achei que fosse virar tia hoje... –a rosada saiu pisando duro pelo corredor.

Seus amigos riram levemente da revolta dela e a seguiram; Ino pensando que até chegou a achar que ia mesmo precisar tomar uma pílula depois pra não deixar Sakura se tornar "tia".

Fim do flashback

-Psiu... –a loira ouviu um sussurro. Voltou-se para ver Sakura deitada em sua cama com um sorriso no rosto. –Não consegue dormir?

Ino retornou o sorriso.

-Por enquanto não...

-Vem pra cá, vamos conversar. –disse a rosada mantendo o volume baixo.

A loira deu uma risadinha baixa enquanto andava nas pontas dos pés para não acordar Tenten e Hinata que dormiam tranquilamente. Sakura se sentou um pouco mais para a beirada de sua cama pra dar para a amiga se sentar com ela; as duas logo puxando as cobertas de volta.

-Pode contar. –disse Sakura assim que as duas estavam acomodadas.

-Contar o quê? –Ino perguntou sorridente.

-Oras... Me contar os detalhes do que você aprontou com Kiba hoje. Ninguém esperava que vocês fossem ficar...

Ino suspirou ainda sorrindo.

-Ele é perfeito, Sakura! –a dita garota não pôde deixar de também sorrir. –O beijo dele é tão bom! E a pegada é ma-ra-vi-lho-sa! Tenho certeza que ele consegue me levar pro céu fácil, fácil... –Sakura teve que se esforçar pra não rir muito alto do comentário com duplo sentido da amiga.

-Ino! Você realmente não presta!

A loira continuou a rir baixinho.

-Eu sei... Mas ele presta!

-Como assim?

-Bom, ele estava com a faca e o queijo na mão e ainda assim disse que é melhor irmos com calma. Ele não é lindo?

Sakura sorriu e concordou. Era realmente difícil encontrar um cara assim. A maioria deles só queria sexo mesmo e até ficavam bravos se a garota recusava, mas Kiba parecia gostar mesmo de Ino. Essa atitude dele tinha sido muito fofa. A garota de cabelos rosados ficou pensando se um dia encontraria alguém assim e se sua primeira vez seria tão romântica quanto ela queria que fosse.

[...]

As monitorias de LJS começaram na primeira semana de março. Sakura, Ino e Tenten se inscreveram. A rosada e Tenten escolheram o mesmo horário; já Ino escolheu um diferente pra poder conciliar seu tempo livre com Kiba que fazia outras monitorias. Naquele fim de tarde, porém, todos os inscritos e os professores estavam reunidos para dar início ao ciclo de aulas. O segundo auditório do térreo, menor do que o utilizado nas boas-vindas na primeira semana, estava consideravelmente cheio. As três amigas escolheram seus lugares e se acomodaram. A professora Kurenai se arrumou na ponta do palco e ia começar a falar quando algo, ou melhor, alguém, lhe chamou a atenção.

-Mas olha só quem resolveu aparecer...

Todos os presentes se voltaram na direção da entrada para ver Sasuke entrando, mãos nos bolsos e expressão aborrecida. Ele andou sem prestar atenção em ninguém e foi até a coordenadora. Os dois conversaram por um momento e quando Sasuke concordou com algo, Kurenai assentiu e indicou o local onde ele deveria se sentar. Ela sorria, o que era meio estranho. Começou a explicar como funcionavam as monitorias, os horários, presenças e em seguida começou a apresentar os professores responsáveis e os surdos supervisores. Aparentemente, a linguagem não poderia ser ensinada sem a supervisão de um surdo e alguns deles se voluntariaram para a posição. Numa média de dois a três alunos surdos por turma; eles ganhariam horas extras como monitores.

-Na turma de terças e quintas às 17:20... –Sakura se remexeu inquieta na cadeira, a coordenadora estava falando da turma em que ela estava inscrita. –o professor responsável é Hatake Kakashi. –o dito homem usava uma máscara parecida com aquelas que pessoas gripadas usam e acenou animadamente. Ele não parecia doente. –Os alunos supervisores desse horário são: Himura Kenshin, Oosaki Nana e... –pausa estratégica. –Uchiha Sasuke que, milagrosamente, agora decidiu que quer participar.

Os olhos de Sakura se arregalaram por um instante e custou toda a sua força de vontade não pular para a conclusão de que a santa responsável pelo milagre de Sasuke era ela. Entretanto, Ino e Tenten deram umas apertadas nos dois braços de Sakura, uma de cada lado, de tanta animação provavelmente pensando o mesmo que ela e ficou mais difícil tentar ser realista o suficiente pra pensar que ele poderia ter outros motivos.

Kurenai terminou as apresentações e os dispensou dizendo que as aulas começariam no dia seguinte. As garotas se levantaram a tempo de ver Sasuke olhar para Sakura e dar seu pequeno sorriso, sua marca registrada, antes de sair do auditório.

[...]

Ele olhou para ela enquanto ela entrava no refeitório com as amigas e acenou para que elas se juntassem a ele, Shino e Naruto para o jantar. Ele fingiu não perceber que todos deram um jeito de fazê-la se sentar ao lado dele na mesa. Ele também fingiu não perceber o nervosismo dela e como ela evitada olhar pra ele. Tentou ignorar a sensação que existia dentro dele, mas já sabia que não seria possível. Estava escrito; já decidido quando nasceram: ela seria dele. Mas... Ele deveria dar um passo à frente? Seria já a hora? Ele não pôde deixar de admitir que a caixa de chocolates giri que recebera dela no mês anterior o deixara confuso. Talvez ela ainda não sentisse nada por ele, por enquanto...

-Não é, Neji? –perguntou Shino, tirando o dito cujo de seu fluxo de pensamentos.

Neji não fazia a menor ideia do que estava no tópico da conversa, mas decidiu concordar.

-É. É sim.

-Então... –continuou Shino. Mas Neji tinha voltado ao seu mundo interior; suas decisões o aguardavam.

Após o jantar os meninos foram deixar as meninas no dormitório delas, mas ao irem embora, Neji deu um jeito de segurar o pulso de Tenten disfarçadamente e ambos saíram discretamente do grupo, Neji guiando Tenten para um local onde poderia conversar com ela. A garota ficou nervosa sem saber o que ele queria com ela. Pararam. Neji sorriu pra Tenten para dizer que estava tudo bem.

-Não tive oportunidade de te agradecer direito pelos chocolates. Muito obrigado.

-Ah... –disse Tenten num misto de alívio e decepção. –Tudo bem. De nada. Não deveria ter se incomodado.

-É outra coisa que me incomoda, na verdade.

-O quê?

-A caixa que você me deu... Era giri.

Tenten pensou que mal poderia haver em uma caixa giri.

-Você preferia uma honmei? –ela perguntou hesitante; não queria criar muitas expectativas.

-Talvez. –ele respondeu. –Você acredita em destino?

Tenten não sabia o que Neji queria com aquela conversa, mas resolveu não questionar.

-Não sei. Acho que sim. Só "destino" é capaz de explicar o inexplicável que acontece em nossas vidas.

Neji gostou da resposta dela.

-Eu acredito, Tenten. Ainda mais porque eu soube, na primeira vez que te vi, que meu destino é você. Soube que eu nasci pra ser seu e você pra ser minha. Nossas almas já foram seladas juntas antes mesmo de nascermos.

A garota estava com os olhos bem abertos, arregalados e congelada em seu lugar. Ela nunca esperou ouvir palavras tão bonitas de Neji. Não sabia o que responder.

-Mas confesso que sua caixa giri me deixou confuso. Se você ainda não sente por mim o mesmo que eu sinto por você, eu entendo. Você talvez precise de mais tempo e...

-Neji. –ela interrompeu. Ele parou de falar e a olhou meio confuso, meio curioso. –Você está certo. A caixa era pra ter sido honmei.

Ambos sorriram com a declaração e logo em seguida seu primeiro beijo aconteceu. Segundo dizia o destino de Neji: o primeiro de muitos.

[...]

As semanas foram se passando no mesmo ritmo agitado. Abril já estava na metade e o único dia mais relaxado que tiveram foi quando o grupo se reuniu para irem à cidade em um domingo, por ocasião do aniversário de Sakura. A saber: dia 28 de março. Após isso, praticamente todo mundo se afundou na rotina.

Sakura se manteve assídua na monitoria de LJS; estava determinada a aprender. Sasuke também não faltava. Ele se portava como os outros supervisores; dava notas e parecer aos alunos e fazia pequenos diálogos-modelo com o professor-monitor Kakashi.

Ah, sim, Kakashi. Sakura tinha descoberto que ele era professor de História da Guerra no curso de Hinata e se prontificara a ser monitor naquele horário, embora sempre chegasse atrasado. Hinata dissera que nas aulas dela sempre acontecia o mesmo. O engraçado era vê-lo tentando enrolar seus alunos com alguma desculpa esfarrapada que justificasse sua falta de pontualidade. Nunca funcionava, mas, por via das dúvidas, a cada dia a desculpa era diferente. Ele com certeza não era um professor convencional. Muitas eram as teorias sobre os motivos de Kakashi pra ter aprendido LJS. Segundo ele foi para seguir a sorte que havia tirado em um biscoito chinês que dizia para ele aprender uma nova língua. No entanto, rezava a lenda que a verdade é que ele teria ficado fascinado por uma surda e aprendeu o idioma pra tentar seduzi-la. Sakura achava a segunda opção mais plausível.

Voltando a Sasuke, ele estava conseguindo deixar Sakura cada vez mais irritada. Depois que ele havia aceitado o pedido de desculpas dela, há dois meses atrás, ela achou que talvez ele fosse ficar mais próximo dela, mas o tiro pareceu ter saído pela culatra. O garoto a cumprimentava normalmente, mas não passava disso. Até mesmo no aniversário dela ele se manteve distante. Já na monitoria ele parecia fingir não vê-la. Os supervisores ajudavam o professor a inspecionar se os alunos estavam fazendo tudo certo e muitas vezes eles corrigiam quem errava segurando-lhes as mãos e as posicionando de forma correta. Sakura já tinha sido corrigida assim duas vezes; uma vez por Kenshin e outra por Nana, ambos muito gentis, mas Sasuke fingia nem prestar atenção nela pra ver que ela tinha errado. E ela sabia que era de propósito pra tirá-la do sério. E mais coisas a estavam tirando do sério naquela monitoria. Era fato que 90% dos alunos naquele horário eram garotas e pra piorar tudo parecia não lhes bastar toda a tietagem em cima de Sasuke, elas ainda se fingiam de burras, claramente errando de propósito só para que Sasuke as fosse corrigir. Mas nem tudo estava perdido, afinal o garoto não parecia perceber os esforços de suas fãs ou se por acaso percebia, fingia não ver e só ia ajudar se Kenshin e Nana estivessem ocupados. A menos que quem precisasse da ajuda fosse Sakura. Sendo esse o caso ele simplesmente ignorava. Sakura podia sentir uma veia saltar em uma de suas têmporas. Fechou os olhos e respirou fundo pra tentar aliviar a raiva.

-Se me permite dizer, Sakura-chan, acho que você está indo muito bem.

Sakura abriu os olhos com suas sobrancelhas franzidas imaginando quem estaria falando com ela. Se deparou com um cabelo preto bem escuro num corte estilo tigela e sobrancelhas extremamente grossas. Acompanhando o conjunto havia um enorme e brilhante sorriso.

-Obrigada, Lee. –ela respondeu com um sorriso. –Você também está indo bem.

Rock Lee era um dos poucos garotos que faziam aquela monitoria. Ele era expansivo, amigável e gentil e já se sentia amigo da garota. Sakura não se sentia tão amigável para com o garoto, mas era fácil ser gentil com ele. Sakura voltou sua cabeça para a frente novamente para prestar atenção. Seus olhos pegaram de relance um par de olhos ônix olhando pra ela. Desviaram-se no mesmo instante. A garota ficou pensando no que teria dado nele pra ter olhado pra ela naquele momento.

Ao final da monitoria, Sakura pegou suas coisas e rumou para a saída. Lee deu uma corrida e conseguiu alcançá-la antes que saísse da sala. Iniciou uma conversa sobre um assunto qualquer e a garota não se incomodou em continuar. Mesmo sendo alguém que ela não conhecia direito e um pouco estranho, Sakura estava gostando de receber atenção.

Ela sorria pra ele. Aquele lindo sorriso que ela tinha estava sendo dirigido àquele cara estranho que surgira do nada. Isso não estava certo. E o que aquele cara, intrometido, tinha para fazê-la sorrir? Sasuke baixou os olhos pra tentar não se focar demais naqueles dois conversando. Afinal, não havia problema ela conversar com as pessoas. Mas, então, por que ele não tinha gostado? Ao focalizar seus olhos na carteira logo à frente ele viu papel e canetas. Teve uma ideia.

-Então, por que decidiu aprender LJS, Sakura-chan?

-Ah... –a garota hesitou. Não dava pra dizer que era por causa do idiota do Sasuke que por acaso era um dos supervisores deles. E por falar nele...

Sasuke entrou no meio dos dois sem qualquer cerimônia, dando as costas à Lee e não se importando em ao menos cumprimentá-lo. Sakura ficou num misto de surpresa e irritação, enquanto Lee tentava entender o que aquele garoto estava fazendo e o que ele queria com a flor de seu jardim. Sim, seu jardim. O garoto surdo não se incomodou com nada disso. Apenas abriu uma folha de sulfite que estava dobrada ao meio e a mostrou à Sakura como se fosse uma plaquinha. Se Sakura não estivesse irritada com o moreno à sua frente, ela provavelmente teria rido do recurso dele. Era meio cômico vê-lo segurando a plaquinha. Sua irritação por ele ter interrompido a conversa deu lugar a mais surpresa quando ela leu o conteúdo escrito na folha.

Vou ensinar você LJS. Amanhã horário igual monitoria. Dormitório meu. Eu esperar.

Sasuke ergueu uma sobrancelha num olhar questionador. Esperou Sakura anuir em concordância para dobrar a folha novamente e entregar a ela. Assim que a garota pegou o papel, ele se virou para ir embora, não sem antes avaliar Lee de cima até embaixo e dar-lhe um pequeno sorriso descaradamente forçado. Lee respondeu estendendo a mão para ele. Sasuke aceitou e a apertou, porém sema maiores gentilezas. Então saiu da sala.

-Me desculpe, Lee. Ele é meio rude assim mesmo...

-Tudo bem, Sakura-chan. Não sabia que vocês se conheciam. Vocês são amigos?

-Sim... Somos amigos...

[...]

O dia seguinte veio acompanhado de nervosismo. Sakura sabia que no fim do dia iria encontrá-lo, no dormitório dele, pra que ele lhe ensinasse LJS. No entanto, os outros meninos estariam lá? Ou eles estariam sozinhos? Será que ele queria mesmo só ensiná-la ou quem sabe passar um tempo com ela? Ou... Aquilo tudo não passava de brincadeira. Talvez ele só tenha feito aquilo pra interromper a conversa dela com Lee e a irritar... É. Provavelmente.

Mesmo sem conseguir decidir se queria que as horas passassem ou não, o horário marcado eventualmente chegou. Sakura se despediu de Ino e saiu o mais depressa que pôde antes que sua amiga lhe enchesse a mente de planos sedutores. Ela ainda tinha em mente que Sasuke não gostava dela. Se ele realmente falara sério ao dizer que a ensinaria, deveria ser porque provavelmente ele levara um esporro de Kurenai por não estar cumprindo com o combinado. De qualquer forma, não deixou de passar em um banheiro pra conferir seu visual e se certificar que estava tudo no lugar.

Chegou até o dormitório dele e parou ante a porta fechada. Respirou fundo. Não poderia bater na porta, ele não iria ouvir. No entanto, ao prestar mais atenção, a garota pôde distinguir uma música tocando dentro do quarto. Parecia rock. Ela concluiu que ou Kiba ou Neji deveriam estar no quarto. Então bateu. Um momento depois, Kiba aparecia pela fresta da porta, sorrindo ao vê-la.

-Sakura! O que faz aqui? –ele perguntou enquanto dava passagem pra ela entrar. Ao fazê-lo a garota percebeu que a música vinha do computador sobre a mesa do canto e era um heavy metal de uma banda que ela conhecia e gostava. Bom, Sakura poderia ter o cabelo rosa, mas não exatamente fofinha apesar de ser tímida e corar com facilidade. Sua tendência ao alternativo logo se via pelas suas roupas. Gostava de rock.

-Sasuke resolveu me ensinar LJS. Ele pediu que eu viesse aqui hoje.

Kiba assentiu e foi até o computador desligando a música que estava um tanto alta. Só então Sakura viu que Sasuke estava atrás das portas abertas do armário embutido e concluiu que por isso ela não o tinha visto antes. O moreno a cumprimentou com um aceno e se dirigiu até seu amigo, batendo-lhe de leve no ombro. Começou a falar quando Kiba olhou pra ele. Falava rápido e parecia meio bravo. Seu amigo lhe respondeu alguma coisa, mas ele voltou a falar do mesmo modo. Sakura desejou poder entender a conversa.

-Tá bom, tá bom... –disse Kiba em voz alta, colocando a música pra tocar novamente. Isso deixou a garota confusa.

Sasuke voltou ao armário e Kiba foi de encontro à garota vendo duas interrogações em seus olhos.

-Ele ficou bravo porque eu desliguei a música.

Os olhos de Sakura se arregalaram.

-Como assim?

Kiba riu.

-Também tive essa reação quando percebi que ele gostava de heavy metal. Você tinha que ter visto os pais dele correrem pra levá-lo no fonoaudiólogo quando o viram usando um fone de ouvido.

-Mas como ele gosta se ele não pode ouvir?

-Não pode ouvir, mas pode sentir as vibrações do som. Você deve saber que o som se propaga em ondas, não é? Um barulho que fazemos agora se propaga eternamente no Universo. Nós ouvintes não conseguimos sentir essas ondas, mas surdos conseguem. A gente até tentou outros tipos de música, mas ele não gostou muito. Hip Hop ele até ouviu um pouco, mas disse que a batida era muito repetitiva. Foi aí que concluímos que metal era o melhor pra ele por causa da batida forte da bateria e dos riffs pesados das guitarras. Por mais que ele não ouça exatamente, ele gosta dos estímulos. Faz bem pra ele. Pode parecer meio irônico, mas a parte mais sensível de Sasuke são justamente seus ouvidos. Então, se você quiser pegá-lo de jeito, já conhece o ponto fraco. Não que eu esteja sugerindo coisas, mas enfim... –Kiba sorriu ao ver o rosto branco de Sakura se avermelhar gradativamente.

A garota acompanhava Sasuke andando pelo quarto com o olhar. A cada nova descoberta sobre ele, ela pensava em como ele era fascinante. Realmente, era essa a palavra; ele a fascinava. Ela teria feito mais algumas perguntas sobre isso, mas Sasuke se aproximou naquele momento e segurando delicadamente sua mão, ele a levou até a cama dele e a fez se sentar, sentando-se à frente dela. Kiba permaneceu por perto pra observar a cena. Foi até o computador e desligou novamente a música, pra ajudar Sakura a se concentrar e dessa vez Sasuke não fez objeções. Ele começou a falar com Sakura utilizando sinais que ela já tinha aprendido na monitoria.

-Meu nome U-C-H-I-H-A S-A-S-U-K-E. –ele soletrou. –Entender?

Sakura anuiu. Ele indicou que ela fizesse o mesmo. Mas a garota estava tão nervosa que acabou confundindo o sinal de H e K, que são parecidos, e acabou dizendo que seu nome era Sahura Karuno.

SLAP!

-Ai! –disse Sakura levando a mão à testa onde Sasuke tinha lhe dado um tapa de leve, mesmo não tendo doído. Ela o olhou num misto de confusão e raiva.

Kiba também não esperava essa reação dele e se aproximou dos dois, perguntando à Sasuke o motivo do tapinha que dera nela. Quando o garoto terminou de se explicar, Kiba começou a rir.

-O que ele disse? –perguntou Sakura ainda esfregando a testa.

-Ele disse que vai te dar um tapa sempre que você errar.

-Isso não é justo! Eu sou iniciante!

Kiba riu ainda mais.

-Bom, você quis que Sasuke fosse seu professor, agora aguente seus métodos de ensino. Digamos que ele é um professor meio rígido. Mas veja pelo lado bom, ele também disse que vai te dar um abraço quando você acertar.

Sakura arregalou os olhos ao ouvir essa e encarou Sasuke que estava com seu famoso sorrisinho de canto. Ficou sem saber como responder.

-Sakura, -ela ouviu Kiba dizer. –Ele está jogando com você. Não deixe suas emoções transparecerem tanto que ele vai te ler como um livro aberto. Aprenda a jogar com ele.

A garota olhou de volta pra Sasuke sem saber o que queria mais: beijá-lo ou socá-lo. Kiba se afastou novamente pra deixar as coisas rolarem. Sasuke mostrou onde Sakura tinha errado e na segunda tentativa ela soletrou seu nome corretamente, agora que não estava mais tão nervosa. Ela ia mostrar pra esse garoto que não era tão boba quanto ele achava.

O moreno bateu palmas pelo acerto de uma forma um tanto debochada, mas a rosada não deixou barato: abriu seus braços junto com um sorriso meio sarcástico. Sasuke entendeu que ela queria o abraço que ele disse que daria. Bom, ele não tinha mesma essa intenção quando disse aquilo, mas já que era assim... Ele se inclinou em direção à Sakura e ela fez o mesmo. Ela pensava em se aproveitar um pouco da situação, mas tão logo como veio o abraço logo se foi; Sasuke era mesmo escorregadio. No entanto, a garota estava decidida a acertar o máximo possível. Ela iria tirar uma casquinha dele... Ah, iria...

Sasuke então propôs uma nova atividade: ele iria soletrar uma palavra e ela deveria mostrar o sinal, baseado no que ela já tinha aprendido nas monitorias. Sakura assentiu mostrando que tinha entendido. Ela estava confiante, mas logo na primeira palavra veio uma situação inusitada. Sasuke soletrou:

-F-A-C-A.

A rosada entendeu e fez o sinal, mas de repente, Sasuke riu. Não somente riu, gargalhou. Sakura não entendeu porque ele estava rindo. Kiba se aproximou novamente. Estava chocado.

-O que você fez, Sakura?

-Eu não sei.

-Fazia anos que eu não o via rir assim... –Kiba observava Sasuke se contorcer enquanto ria e sua era de admiração e um pouco de tristeza. Sasuke não costumava sorrir. Kiba e Sakura continuaram a observar o garoto rir até que se acalmasse e começasse a limpar as lágrimas dos olhos. Sakura nunca o tinha visto dar um sorriso aberto sequer, quanto mais rir daquele jeito. Ainda que ele estivesse rindo dela, a garota se sentiu feliz por saber que o tinha feito rir.

-O que ela fez, Sasuke? –perguntou Kiba

-Pergunta ela sinal F-A-C-A. –Sasuke respondeu ainda rindo.

-Sakura, faça o sinal de faca.

A garota repetiu o sinal que tinha feito antes. Sasuke começou a rir de novo e Kiba o acompanhou na gargalhada. Sakura corou e continuou sem entender o que estava acontecendo. Então Sasuke, ainda rindo, se inclinou até ela novamente e lhe deu mais um tapa na testa.

-Eu errei? Como assim?Eu tinha certeza que tava certo!

-Sakura, -começou Kiba. –Tá quase certo. Só que você não pode mexer as duas mãos, só a de cima. Quando você mexe as duas, você tá falando outra coisa...

-Que coisa?

-"Masturbação".

Se houvesse como ficar mais vermelha do que o possível, ela ficaria. Que besteira tinha falado!

Kiba riu mais um pouco.

-Que pena eu não poder ficar pra assistir isso...

Os olhos de Sakura se arregalaram.

-Como assim? Aonde você vai?

-Combinei de passar o resto do dia com a Ino... E já estou ficando atrasado. Tchau, Sasuke, tchau Sakura. Vê se não vai fazer nada engraçado enquanto eu não estiver, hein?

-Mas, Kiba! Eu ainda não sei falar muito... Como vou ficar aqui com Sasuke sem você pra me ajudar?

O garoto já estava na porta quando falou de novo.

-Sakura, os melhores professores de linguagem de sinais são os surdos. Você vai aprender muito mais rápido sem a ajuda de ouvintes. Vai ter que ser na raça, Sakura, faça-o te entender! –tendo dito isso, Kiba saiu do quarto e fechou a porta.

A garota refletiu sobre o que tinha ouvido e percebeu que tinha eu tentar fazê-lo entender não só o que ela dizia, mas também o que sentia. Olhou pra Sasuke novamente. Este esperava pacientemente o fim do fluxo de pensamentos dela. Até porque, não parecia, mas ele também estava tendo o dele. Seu próprio fluxo de pensamentos se assemelhava a um turbilhão. A cada minuto, cada gesto, cada expressão, cada olhar dela ele a avaliava. Sasuke nunca tinha tido interesse em ensinar ouvintes, mas ela era diferente por alguma razão desconhecida e ele estava gostando da experiência. Ainda mais agora que Sakura parecia ter entrado no jogo com ele. Ele admitiu pra si mesmo que estava ansioso pra ver como ela agiria dali pra frente.

Fim do cap. 5


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Notas finais do capítulo

Não estou recebendo muitos comentários nessa história... Fico imaginando porque...
Mas agradeço muito a quem comentou e quem favoritou! o/