Silêncio escrita por KeykoSakura


Capítulo 15
A Vida Como Ela É parte II


Notas iniciais do capítulo

Costumo postar recado pelos Fanfition.net e pelo Facebook, portanto quando eu sumir, procurem esses canais pra saber os motivos.
Eu gostaria muito de agradecer aos comentários que tenho recebido nessa história e agradeço mais ainda aos que permanecem fiéis a essa fic, mesmo com todos os atrasos e afins. A única coisa que gostaria de pedir, além de paciência, é pra vocês não concluam coisas como “a fic está abandonada”.
Eu estou tendo o pior ano da minha vida até o momento e só Deus sabe o quanto tem sido difícil até mesmo conseguir encontrar as palavras pra escrever.
Acredito que em menos de 3 capítulos, essa fic estará encerrada.



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Quando a fragilidade da vida é exposta, é o momento onde todas as outras coisas perdem a importância, perdem o valor, perdem o sentido. Tudo é banal, tão mediocremente posto no caminho como se fosse realmente importante, mas não é.

Nada na vida é mais importante do que estar vivo.

As horas seguintes à notícia do acidente passaram como um borrão na memória de Sasuke. A princípio foi difícil até entender o que estava acontecendo e então a morte de Neji o abalou por completo. No primeiro momento, o garoto evitou olhar para Tenten; a idéia de perder a pessoa que você ama assim o lançou num mar sombrio onde a especulação e a possibilidade daquilo ser real eram uma coisa só – e uma coisa assustadora. De repente lhe veio a conclusão que Sakura havia passado por isso, e não há tanto tempo. Ele não havia saído do hospital nem há três meses direito e agora... Agora Neji se fora. Somos frágeis. Somos humanos e frágeis. Para piorar tudo, Kiba estava no hospital e ninguém sabia informar o estado dele. Só então, Sasuke teve coragem de erguer os olhos e olhar para Tenten.

Tudo o que viu foi um corpo vazio.

Hinata era consolada por Naruto que a abraçava, mas ele mesmo parecia precisar de ainda mais consolo do que a garota e Sakura tinha saído correndo, ele não sabia pra onde. E Sasuke, ainda não conseguia acreditar. Itachi já havia pego algumas coisas e preparado o carro para levar todos de volta e o senhor Uchiha também já estava tirando seu veículo da garagem. Konan havia sido designada a ficar com a senhora Uchiha na chácara. Então Sasuke se decidiu por procurar Sakura. Ao sair, o garoto deu mais uma olhada de relance em Tenten.

Parecia não haver mais vida nela.

Até o momento, a garota não tivera reação alguma. Isso não era bom sinal.

Mal ele havia chegado no quarto, Sakura já tinha desligado o telefone e estava arrumando sua bolsa. Sem qualquer pergunta, Sasuke também pegou sua carteira e celular e a acompanhou até a sala. Porém a garota parou ao ver Tenten. E impulsivamente correu até a garota e a abraçou no chão onde ela estava. Sakura se rompeu em lágrimas e Tenten a abraçou forte, mas ainda assim não chorou.

E quando se tornasse insuportável? Como Tenten iria reagir?

[...]

De novo na emergência do hospital, dessa vez de uma forma muito mais confusa e dolorosa. Sakura olhava para todos os cantos e tudo o que via eram mais e mais pessoas entrando e saindo confusas e chorosas. Foi difícil achar o hospital pra onde tinham levado Neji e Kiba. Haviam descoberto que Kiba estava desacordado e passando por uma cirurgia, ainda não sabiam em que condição ele se encontraria após isso, mas ele ainda estava vivo. Quanto a Neji, deu entrada já morto no hospital; ele não havia resistido aos ferimentos.

Talvez um dos piores momentos tenha sido o encontro com os Hyuuga, pais de Neji e o pai de Hinata. A garota correu de encontro aos tios e não havia nada no mundo que pudesse aliviar a tristeza. A princípio, Tenten fora deixada de lado, até Hinata levá-la de encontro a eles. Os pais de Neji também abraçaram a garota. Ela os abraçou de volta, ainda sem reação. Quando já estavam todos preocupados com ela, o pior veio. Tenten simplesmente caiu inerte no chão após soltar os Hyuuga.

Sakura e Hinata correram e uma enfermeira que estava fazendo triagem também correu até a garota. O mais estranho era que Tenten não havia desmaiado como se pensava. Ela permanecia com os olhos abertos, piscando, mas não respondia. Simplesmente... Inerte. Após um rápido exame a enfermeira deu seu parecer.

–Ela está em choque. É como se o todo o sistema dela se fechasse pra tudo que está acontecendo. Ela tem algum parente ou conhecido no acidente?

Hinata e Sakura se entreolharam e a Hyuuga recomeçou a chorar. Também com lágrimas nos olhos, Sakura respondeu:

–O namorado dela morreu no acidente.

–Ah meu Deus... –A enfermeira murmurou. –Vamos levá-la pra observação.

Logo Itachi e Naruto haviam ajudado os enfermeiros a colocarem Tenten em uma maca e eles a levaram. Com isso, Sakura nem tinha tido tempo de perceber que Ino havia chegado, saída de um dos banheiros próximos. Estava péssima. A loira a viu e sem perder tempo foi até a rosada. Sakura a abraçou e ambas recomeçaram a chorar. Sasuke observou a tudo de seu canto tentando entender.

Por que são sempre os bons que morrem jovens?

[...]

O enterro de Neji aconteceu dois dias depois. Muitos estudantes da faculdade e professores compareceram para lhe prestar a última homenagem. O Hyuuga havia sido eleito o gênio da universidade por tanta inteligência, se destacando no curso de direito, mesmo estando ainda no segundo ano. Mas agora era tudo história. Enfim, a cerimônia em estilo oriental havia sido encerrada e os presentes começaram a de dispersar. Mesmo depois que praticamente todos haviam ido embora, Tenten permaneceu ali, em pé sozinha, observando a lápide, lendo e relendo o nome de Neji escrita nela; talvez assim conseguisse absorver a informação. Por fim ela se ajoelhou e tocou a pedra já com lágrimas rolando livremente no rosto.

–Seu idiota. –Ela disse quase num sussurro. –Você disse que seríamos felizes juntos. Seu destino não te avisou disso? Você não viu isso? O que vai ser do meu destino agora? –Sem mais o que dizer, Tenten se limitou a chorar.

Ao longe, Sakura e Ino observavam. Os meninos também estavam por perto tentando encontrar força uns nos outros. Após alguns minutos de silêncio, Ino iniciou uma conversa.

–Eu sinto muito.

Sakura não entendeu muito bem porque a loira estava se desculpando.

–Pelo quê?

–Por não ter entendido você antes. –Um suspiro. –Sabe... Quando você veio me falar que sairia do curso pra ser intérprete... Eu fiquei com raiva. Não de você, mas fiquei com raiva do Sasuke. Eu achei que ele estava roubando tudo de mim. Primeiro foi você, que agora vive com ele e quase não passa mais tempo comigo como era antes. Depois foi o meu sonho. Eu achei que você estava mudando por causa dele, achei que você só se importava com ele, mas... Quando me avisaram que o trem havia sofrido um acidente... –Lágrimas começaram a descer. –Quando eu achei que iria correr pra aquele hospital e encontrar Kiba morto... Quando eu vi o estado da Tenten ao perder o Neji... Eu entendi você, Sakura. Eu entendi o que você passou com Sasuke naquele hospital, entendi o medo que você teve de perdê-lo e eu entendi porque isso mudou você e porque mudou sua vida. E eu sinto muito por ter sido tão mesquinha! Tão egoísta a ponto de pensar que preferia você sem o Sasuke, porque eu queria manter o meu sonho vivo e eu não pensei em você e muito menos nele. –Finalmente, Ino desviou os olhos de Tenten para encarar sua melhor amiga. –Por favor me perdoe!

Sakura também já estava derramando suas próprias lágrimas quando abraçou sua melhor amiga lhe dizendo que estava tudo bem. É claro que ela perdoava, aquilo era tudo o que mais queria: ter sua amiga de volta. A rosada ajudou a secar as lágrimas da loira e a pegou pela mão, indo em direção à Tenten para que elas se abraçassem mais uma vez.

Algum tempo depois, Tenten trancou a faculdade e voltou para a casa dos pais em Narita. Ela não quis ficar mais no mesmo lugar onde havia conhecido e passado todos os seus momentos com Neji e todos puderam compreender. O grupo permanecia abalado e Naruto e Sasuke sentiam sua sensação de perda aumentar ao ver agora a cama do Hyuuga pra sempre vazia. Kiba recebeu alta do hospital duas semanas após o acidente, porém precisou usar muletas por mais algum tempo, até que o osso trincado de sua perna cicatrizasse completamente. O garoto ficou extremamente triste por não poder ter ao menos comparecido ao enterro de Neji.

No fim das contas, o grupo nunca mais foi o mesmo. Há coisas que acontecem na vida que nos mudam pra sempre e crescemos, amadurecemos. São as felicidades e as tristezas ocorridas que moldam quem nós somos, formam nosso caráter e nos desenvolvem como seres humanos. Somos fadados à alegria e à tristeza desde que nascemos até nosso último suspiro, num conjunto de boas lembranças, experiências amargas, lindos momentos e muitas cicatrizes que formam o quadro da vida de uma pessoa que ama, luta, sofre e vive.

[...]

5 meses depois

–Você nervosa.

Sakura observou os gestos curtos de Sasuke absorvendo a mensagem. É, ela estava nervosa naquele momento, bem ansiosa, mas não poderia contar ao seu namorado surdo, já que o motivo de tamanho nervosismo era... Sua sogra. O casal estava em um restaurante japonês tradicional aguardando a chegada do Sr. e da Sra. Uchiha para jantarem juntos. Desde o começo de sua relação com Sasuke, a Sra. Uchiha não vinha sendo muito amável com a garota. Era impossível não se sentir pra baixo por causa disso. Sakura sempre sonhara com o relacionamento perfeito: namorado lindo e carinhoso com uma família amorosa que a receberia de braços abertos, porém seu namoro com Sasuke havia saído totalmente diferente do que ela tinha imaginado pra si enquanto ainda estava no colegial.

A garota suspirou e sorriu para Sasuke sinalizando que não era nada demais. Sasuke sabia que deveria sim haver algo, mas preferiu deixar a namorada quieta e esqueceu o assunto. Algum tempo depois, o casal Uchiha chegou ao restaurante e Sakura começou a suar frio. Na verdade, a rosada não sabia exatamente qual era o problema que sua sogra tinha com ela; toda a evidência que ela tinha eram as alfinetadas indiretas que Mikoto soltava vez ou outra perto da garota.

“Sasuke não está bem cuidado.”

“Esqueceram o remédio dele de novo?”

“Sasuke não deve ficar saindo à noite. Cinema? Restaurante? Mas que coisa...”

Parecia que tudo o que havia de errado na vida de Sasuke era culpa de Sakura de alguma forma. Agora, ela tentava de todas as formas fazer tudo certo pra que sua sogra começasse a gostar dela, no entanto, nada que a garota fizesse parecia surtir efeito. Era incrivelmente frustrante. Ainda por cima, Sasuke não notava nada de errado entre a namorada e sua mãe, mesmo quando o clima ficava estranho entre as duas. Por esse motivo, Sakura não estava muito ansiosa para aquele período em família no restaurante.

Mikoto Uchiha chegou e logo foi abraçar o filho fazendo um comentário sobre a súbita perda de peso dele (perda essa que ou não existia ou só Mikoto podia ver, já que Sasuke estava perfeitamente saudável), em seguida cumprimentou Sakura com um aceno de cabeça. Mais do que depressa, a garota se levantou e se curvou pra cumprimentar seus sogros; ainda tremia de nervoso. Fugaku Uchiha cumprimentou a nora com um pouquinho mais de simpatia, embora também fosse naturalmente seco em seus tratamentos.

O jantar transcorreu como de costume, Fugaku e Sakura quietos enquanto Mikoto fazia suas observações e Sasuke reclamava que sua mãe estava exagerando e que ele não era mais um bebê. Até que o garoto fez um gesto que solicitava a atenção de todos. Sakura ficou instantâneamente apreensiva já que não fazia a menor ideia do que é que Sasuke queria falar. O garoto parecia bem calmo como sempre e começou a sinalizar.

–Eu querer fazer pedido. –Ele falou com seus sinais.

Fugaku acenou com a cabeça indicando ao filho que continuasse.

–Natal estar perto. Eu querer passar na chácara com mãe, pai, Itachi, Konan e Sakura... –Nesse momento, Mikoto interrompeu o filho acenando à sua maneira.

–Tudo bem querido, mas acho que a Sakura tem a família dela. Ela não pode deixar a família dela em pleno Natal para ir conosco, não é mesmo Sakura?

O olha de Mikoto era inocente, mas trazia um ar de desaprovação que Sakura conseguiu sentir bem. Claro que a Sra. Uchiha não iria querer a garota por perto no Natal; na verdade, ela não deveria a querer por perto nunca. No entanto, Sasuke pediu atenção de novo.

–Eu saber. –Ele sinalizou. –Por isso eu querer família Sakura com a gente também no Natal. Esse ser meu pedido. –E então ele se voltou para sua namorada.

Um silêncio constrangedor se abateu sobre a mesa. Sakura não sabia o que responder e permanecia de boca aberta sem reação. Se ela dissesse que tudo bem poderia parecer intrusivo demais e se dissesse que não... Bom, ela estaria rejeitando os Uchihas? Tremenda saia justa. No entanto, ela logo percebeu que a pergunta não era de fato pra ela. Logo Sasuke desviou o olhar para seu pai num claro pedido de permissão para levar a segunda família com eles. Fugaku Uchiha conseguia sentir que sua esposa não estava plenamente de acordo, porém ele não via problemas, nem em sua nora, nem em ter a família dela com eles no Natal. Enfim, o patriarca dos Uchihas balançou a cabeça curta e levemente concordando com o que seu caçula pedia. Sasuke sorriu de canto e se voltou para Sakura sinalizando, um pouco mais rápido que o normal, se a família dela poderia ir junto com eles. A garota não pôde deixar de sorrir e disse que iria precisar perguntar, mas provavelmente eles aceitariam.

Já Mikoto... Essa sorriu gentilmente antes de tomar mais um gole de sakê.

[...]

Tsunade franziu as sobrancelhas enquanto observava a cena à sua frente. Ela se lembarava bem dos protagonistas daquele caso; uma garota de cabelos cor-de-rosa e um rapaz antipático. No momento, o garoto estava ainda mais antipático que o normal e a rosada sinalizava frenéticamente o que deveria ser uma bronca. Bom, com certeza era uma bronca, já que o rapaz estava se recusando a fazer um simples exame de sangue.

Sakura havia levado Sasuke ao hospital para passar no clínico geral e fazer um check up. Sasuke brigou muito pra não ir, mas no fim das contas lá estava ele, emburrado, em frente a Tsunade. A loira não costumava atender pacientes assim, mas quando viu o cabelo cor de rosa de Sakura em um dos corredores ela logo correu até a garota e se prontificou a examinar Sasuke.

Era muito bom para a médica chefe do hospital ver que o rapaz que tinha estado à beira da morte, agora estava bem e recuperado. Na ocasião, Tsunade tinha mesmo duvidado que o garoto fosse sobreviver; são poucos os que levam um tiro na cabeça e vivem pra contar a história. Além do milagre de sua cirurgia ser bem sucedida e de o rapaz se recuperar, a loira havia sido marcada também pelo enorme amor de Sakura por Sasuke. Ela havia aguentado tudo naquele hospital e Tsunade nunca se esqueceria de tamanha dedicação. Por isso, lá estava ela esperando o rapaz deixar de birra pra ela poder fazer o exame.

Finalmente, Sasuke concordou em estender o braço e deixar que coletassem seu sangue. Enquanto isso, Tsunade decidiu iniciar uma conversa com Sakura.

–Como vocês estão? –Ela perguntou com um sorriso.

Sakura sorriu de volta.

–Muito bem, obrigada! E vo... a senhora?

Tsunade ergueu uma sobrancelha.

–Ah... Chame de “você” por favor, ainda não sou senhora. Eu vou bem. Fico feliz em vê-los novamente. Sasuke se recuperou muito bem. Ainda estão na faculdade?

–Sim! Eu troquei de curso. Agora estou estudando pra ser intérprete de sinais e Sasuke está indo bem, ainda tem mais dois anos de curso pra ele. Ele está vivo graças a Deus e à senho... er... Você! Eu nem sei como agradecer...

–Fico feliz por saber que vocês estão bem. Aliás, Sakura, eu gostaria de conversar um pouco com você, podemos?

Sakura hesitou um momento, mas se decidiu por seguir a loira quando viu outra enfermeira assumir pra dar continuidade nos exames de Sasuke. A garota sinalizou para o rapaz o que ia fazer e logo se viu andando pelos corredores brancos até chegar à sua tão conhecida sala da diretora.

–Sente-se. –Tsunade ofereceu mostrando-lhe a cadeira em frente à sua mesa. Sakura se sentou e aguardou. –Eu fiquei muito ocupada nesses últimos meses e nem consegui dar uma olhada na ficha de Sasuke aqui no hospital, mas eu queria ter feito isso antes e conseguir uma forma de entrar em contato com você. –Uma pausa. –Eu sei que você está estudando em tempo integral, mas eu gostaria de te perguntar se você não estaria interessada em um estágio.

–Er... Estágio?

–Sim. Como você pôde ver, não temos intérpretes de LJS no hospital e isso de fato é uma falha muito grande. Como você já tem experiência na área médica, acredito que você seja capaz de ser nossa intérprete estagiária; adoraria poder contratar você mais tarde. O que me diz?

Um enorme sorriso se abriu no rosto da garota dos cabelos cor-de-rosa.

[...]

Dezembro chegou trazendo frio intenso. Os estudantes já se encontravam novamente naquela enorme confusão de malas e bagagens nos pátios da universidade, se preparando para ir pra casa passar o fim de ano com a família. Hinata tinha sido a primeira a ir embora naquele ano; os Hyuugas estavam sofrendo bastante pois aquele seria o primeiro Natal sem Neji. As garotas também haviam combinado de fazer uma chamada de vídeo pela internet no dia 25, incluindo Tenten, para poderem se desejar um feliz Natal.

Já Sakura iria primeiro para sua casa e dali a três dias iria para a chácara da família Uchiha levando seus pais. É claro que Kizashi e Mebuki quase fizeram um escândalo de alegria ao saberem que tinham sido convidados pela família do genro para passar o Natal com eles. A garota só esperava que eles não a fizessem passar vergonha; não que seus pais não soubessem se comportar, eles sabiam, mas ambos eram muito enérgicos e o casal Uchiha era totalmente o oposto; calmos e quietos. O estômago da garota até revirava de nervoso durante a viagem para a chácara, só de pensar em ter sua relação com sua sogra piorada. Imagine só se Mikoto ficasse horrorizada com os pais dela e tivesse um treco! E seus pais ainda estavam mais ansiosos porque seria a primeira vez que eles veriam Sasuke. Sakura estava quase fazendo promessas pra Deus só pra garantir que tudo desse certo.

Ver Sasuke era um alívio, um alívio pra tudo. Vê-lo ali, parado em frente o portão da chácara, mãos nos bolsos do casaco de inverno, com seu pequeno sorriso de canto de boca tão familiar trazia a sensação de estar em casa, de estar segura. Sakura correu até ele e se atirou em seus braços pra ser abraçada bem forte e sentir o cheiro dele, então ergueu o rosto para o beijar, mas Sasuke desviou olhando por cima do ombro dela. Logo Sakura entendeu que ele não queria beijá-la na frente dos pais da garota, que por sinal já estavam observando a cena à distância. Então a rosada deu uma risadinha pensando que era besteira dele; seus pais não eram tão neuróticos assim, mas Sasuke havia sido criado com uma porção de códigos de conduta e respeito; não era de se admirar que ele procurasse agir respeitosamente na frente de seus sogros. Sakura o pegou pela mão e o levou até seus pais.

Mebuki se mexeu nervosamente e sussurrou para seu marido.

–É agora Kizashi. Vê se não estraga tudo! Sakura não vai te perdoar se você a envergonhar!

–Ora, mulher! E quem disse que sou eu que faço nossa filha passar vergonha? Vê se você não erra os sinais que ela ensinou nem fica em cima do garoto igual uma coruja doida.

Mebuki iria responder, mas sua filha já havia chegado com o namorado. Sasuke também estava nervoso. E se os pais de Sakura não gostassem dele? Ele sabia que os sogros já estavam cientes de sua surdez, mas na teoria é uma coisa e na prática é outra totalmente diferente. O garoto também pensava que seria complicado pra ele já que ele não sabia falar e os pais da garota também não sabiam sinais. Que ótimo, ele nem teria como falar que suas intenções eram boas...

Assim que chegaram em frente ao casal Haruno, Sasuke se curvou. Mebuki e Kizashi também se curvaram respondendo ao cumprimento. Sakura então começou a sinalizar e falar em voz alta.

–Pai, mãe, este é Sasuke. Sasuke, Mebuki e Kizashi, minha mãe e meu pai.

O casal Haruno sorriu abertamente para Sasuke e Kizashi tentou fazer os sinais que Sakura havia lhe ensinado, porém se atrapalhou completamente e Mebuki começou a rir.

–Do que está rindo, mulher? Quero ver se você consegue fazer melhor do que eu!

–Mas é claro que eu consigo. Vamos ver... Como é mesmo “oi”?

Mebuki também tentou, mas seus sinais saíram tão tortos quanto os do marido que também gargalhou ao vê-la fracassar. Sakura observou com desânimo o primeiro desastre da noite de véspera de Natal e se virou para Sasuke que observava a cena sem reação, até ele se voltar para ela e lhe oferecer seu pequeno sorriso de praxe, sinalizando em seguida. Sakura abriu um enorme sorriso ao entender a mensagem.

–Sasuke disse que seus esforços foram louváveis e ele agradece muito. Vamos entrar, está bem frio aqui fora.

Sasuke ajudou seus sogros a pegarem a pequena bagagem que haviam trago e sentiu um tapinha amigável em seu ombro dado por Kizashi que lhe sorriu gentilmente antes de entrarem na chácara. Sasuke até parou por uns segundos para absorver a informação de que parecia que seus sogros haviam gostado dele. Sorriu por dentro.

Deus provavelmente gostava muito de Sakura. Foi essa a conclusão na qual a rosada chegou ao perceber que tudo estava acontecendo lindamente bem. Seus pais estavam se comportando dentro dos conformes e nenhum Uchiha havia surtado com eles até o momento. A garota estava encostada na grade da varanda do segundo andar da chácara, sentindo o vento gelado em suas bochechas e observando o tempo que parecia prometer neve a qualquer momento. Após algum tempo sozinha ali, Sakura sentiu dois braços a envolverem pela cintura e o cheiro do perfume preferido de Sasuke logo preencheu o ar ao seu redor. No mesmo instante o frio cedeu um pouco. Aquela sensação sempre chegava junto com ele – a certeza de que apesar dos contratempos e de tudo o que as outras pessoas fizessem pra separa-los, eles pertenciam um ao outro e se amarem não estava errado. Era como se tudo fosse como tinha que ser, como se Sasuke nunca pudesse se apaixonar por outra pessoa e Sakura nunca pudesse ser feliz senão com ele. Se você nunca sentiu isso ao estar com alguém, um dia sentirá. O amor quando é perfeito não deixa espaço para as dúvidas. O lugar de Sakura era nos braços de Sasuke – e não importava o que o resto do mundo achava disso.

Na sala no andar de baixo, os Uchihas conversavam com os Haruno. Fugaku Uchiha principalmente estava curioso a respeito dos pais de sua nora, queria conhecer melhor a família da moça. A conversa transcorria tranquilamente, mesmo com Mikoto quieta em seu canto sem realmente participar do diálogo.

–Nós gostaríamos muito de agradecer pelo convite. – dizia a senhora Haruno. – A gente sabe o quanto isso é importante para a Sakura. E também agradecer por a terem aceitado na sua família.

–É sim. – concordou o Sr. Haruno energicamente. – E também pedimos desculpas porque nós não sabemos muito sobre surdez, então nos perdoem se fizermos algo errado.

–Estamos aprendendo! – A Sra. Haruno emendou rapidamente sorrindo, sendo logo copiada pelo esposo.

Surpreendentemente, Fugaku Uchiha soltou uma pequena risada. Até mesmo mikoto ergueu o rosto para fitar o marido, já que isso foi totalmente inesperado.

–Nós também não sabíamos nada sobre surdez antes do Sasuke ficar surdo. Tivemos que aprender na prática. Sasukemelhorou muito desde que conheceu essa moça. Ele costumava ser bem fechado e mal humorado, mas agora está participando mais, se abrindo um pouco mais. Melhor mesmo que não fique ranzinza como eu.

–Sakura também mudou. – comentou Mebuki. – Ela até mesmo trocou de curso por causa de Sasuke.

–Como? – essa foi a primeira intervenção de Mikoto Uchiha na conversa.

–Sim. Ela fazia design, mas agora está cursando Tradutor/Intérprete pra se tornar intérprete de LJS. Ela disse que quando Sasuke foi baleado ela percebeu o quanto intérpretes fazem falta e os órgãos públicos não estão preparados pra atender as necessidades dos surdos. Então ela decidiu que mesmo sendo apenas uma garota, ela poderia ajudar um pouco mais se fosse intérprete. Não tivemos nem palavras pra expressar o que sentimos, mas agora que conhecemos Sasuke e entendemos como são as coisas com ele, também entendemos a decisão de Sakura e não poderíamos deixar de apoiá-la nessa escolha. Nós pensamos que o senhores soubessem...

Mikoto e Fugaku se entreolharam.

–Não sabíamos... – murmurou a Sra. Uchiha.

–Estamos muito orgulhosos da nossa filha. Sabemos o quanto ela e Sasuke se amam. Os dois tem a nossa aprovação. – finalizou Kizashi.

Fugaku ficou em silêncio por uns minutos. Bebericou seu chá verde quente sem açúcar e pigarreou.

–Sakura tem se provado uma boa moça. Se percebe que ela é esforçada e dedicada. – uma pausa. – Se algum dia Sasuke se decidir por trazê-la de vez para nossa família, posso garantir que ela será bem recebida.

O casal Haruno comemorou discretamente. Mikoto ofereceu um pequeno sorriso sem graça.

[...]

Dois anos depois

O auditório do térreo da Universidade de Osaka estava lotado, mas dessa vez a maioria dos presentes não eram alunos, mas sim pais de alunos e familiares procurando os melhores assentos. No meio da confusão, Sakura tentava encontrar os amigos e ainda tentava não amassar o vestido de gala que usava, nem desarrumar seu penteado. Até que por fim a garota conseguiu localizar uma cabeleira loira bem familiar em uma das primeiras fileiras do lado esquerdo. Correndo até o lugar e se espremendo no meio dos traseuntes, a rosada finalmente conseguiu chegar.

–Até que enfim testa de marquise! Achei que fosse perder o início do evento e o lugar também. Tem noção de quantas pessoas eu tive que espantar pra não sentarem aqui?

–Ai, desculpa, porquinha. Eu me atrapalhei com esse vestido e demorei pra achar um sapato que ficasse bom com ele.

–Por que não trocou o vestido?

–Porque... foram meu sogros que me deram de aniversário esse ano... Fiquei sem jeito de não usar nunca e a Mikoto já tava perguntando...

–Esse vestido não te favorece muito, né...

–Por isso acho que foi coisa da Sra. Uchiha de propósito...

A conversa continuaria se não fosse o apresentador do evento pedir a atenção de todos para o incío da cerimônia.

Após dois anos de idas e vindas da vida, Sasuke Uchiha estava oficialmente se formando em Psicologia pela Universidade Federal de Osaka. Para os outros ainda havia mais um ou dois anos até a formatura. Por incrível que pareça, o garoto ainda sofreu muito nesses anos com pessoas que duvidavam não só da sua capacidade de se formar, mas também de excercer sua profissão. Sakura arrumou muitas brigas por esse motivo e uma delas até rendeu mais um boletim de ocorrência na ficha do casal há três meses. Mas mesmo com todos os empecilhos, Sasuke provou sua capacidade e também sua teimosia; ele nunca aceitaria ser diminuído por ser surdo e agora o até então mal humorado estudante estava sorrindo fácil, um evento – quase – inédito.

E Sakura? Não poderia estar mais orgulhosa. Entrar pra faculdade tinha sido completamente diferente do que ela esperava. O sonho era de cursar design com Ino e depois terem sua agência de comunicação visual, mas no meio do caminho estava Sasuke quieto em seu canto, isolado nos próprios problemas internos e sem saber que precisava de amor tanto quanto ela. Dois perdidos que se esbarraram em uma esquina pelo mundo. Mas quando tem que ser todos os passos, mesmo tortuosos, não conseguem trilhar outro caminho e o coração não aceita outro nome. No fim das contas, lá estavam eles três anos após o primeiro beijo no meio de uma platéia no pátio da Universidade quando tudo tinha ido por água abaixo.

A colação de grau começou e Sakura ficou ansiosa esperando o grande momento: Sasuke seria o orador de sua turma, havia sido escolhido por unanimidade de votos. A princípio o garoto não gostou nem um pouco da ideia, mas depois se acostumou e puxou a namorada pra ajudá-lo a escrever um bom discurso – tarefa que durou várias semanas. Enfim, havia chegado a grande noite.

Os primeiros a receberem o diploma, com muita festa dos presentes, foram alunos do curso de Física. Em seguida, seriam os alunos de Psicologia e a última turma era de Turismo. A noite transcorreu normalmente, muita festa e comemoração. Da turma de Física uma garota foi oradora e fez um belo discurso. Por fim, os alunos de Psicologia foram chamados. Um a um eles receberam seu diploma, e então chamaram o nome de Sasuke. O garoto entrou no palco e caminhou até os oficiais que estavam distribuindo apertos de mão. Ao invés da tão recorrente barulheira, todo o público presente, incluindo os do palco, ergueram as mãos e as agitaram no ar – o sinal para “bater palmas”. Sasuke parou para olhar o auditório inteiro fazendo o sinal – a cena era quase surreal. Havia silêncio, somente um ruído ou outro era ouvido enquanto todos os ouvintes prestavam sua homenagem ao único aluno surdo presente. Sakura já se sentia com vontade de chorar. Sasuke então se voltou na direção dos presentes e se curvou em sinal de agradecimento. Outros colegas vieram após ele e então veio o momento: Sasuke iria discursar.

O professor/intérprete Iruka logo se pôs ao lado de Sasuke no pequeno púlpito onde os oradores poderiam se apoiar e pegou o microfone para si. O garoto surdo teve um pequeno problema para se acomodar direito de uma forma que desse para sinalizar e ver bem seu rascunho do discurso ao mesmo tempo. Assim que conseguiu, começou a sinalizar com Iruka interpretando em voz alta o que era sinalizado pelo rapaz.

–Boa noite a todos! Meu nome é Sasuke Uchiha e fui escolhido pela minha turma para ser o orador. Gostaria de agradecê-los por terem escolhido um aluno tão tagarela como eu.

Aqui vieram alguns risos, obviamente Sasuke poderia ser tudo menos tagarela.

–Como os presentes já sabem, eu sou surdo. Não nasci assim, mas essa foi a sequela de uma menigite aos dois anos de idade. Felizmente eu fui abençoado por nascer em uma família compreensiva e que tinha condições de cuidar e me criar apropriadamente. Muito obrigado ao meu pai, minha mãe e meu irmão – vocês são responsáveis também por essa minha conquista. Eu cresci aprendendo que as pessoas me julgavam um incapaz. Diziam que eu nunca teria uma vida normal, que eu não era capaz de aprender coisas complexas ou abstratas. Porém, senhoras e senhores, acabo de me formar em Psicologia.

Nesse momento as mãos se ergueram novamente e até palmas mesmo e uivos de aprovação puderam ser ouvidos. Sasuke fez uma pausa e olhou o público.

–Eu não costumo gostar de histórias de incentivo ou até auto-ajuda, mas essa é a minha história e é o que eu tenho a oferecer aos presentes hoje. A vida acontece para todos nós de formas diferentes – eu não nasci surdo, mas fiquei depois. Da mesma forma eu vejo meus amigos ali no canto direito e sei que um deles não está mais entre nós. Neji Hyuuga faleceu naquele acidente de trem, dois anos atrás, quando mais três alunos da nossa Universidade também morreram. E eu gostaria de citá-los porque nunca serão esquecidos. Sempre tive uma vida mais difícil por causa da minha surdez, mas é através de iniciativas como a da Universidade de Osaka que eu estou segurando um diploma na mão.

Foi então que Sasuke se virou na direção da bancada com o reitor Sarutobi e outros oficiais.

–Agradeço muito por lembrarem de nós. A maioria das pessoas passa pela vida sem parar para pensar nos portadores de deficiência. Passam por surdos na rua e não fazem ideia. Mas os senhores lembraram de nós e abriram essa porta. E é para continuar ajudando os outros que são surdos como eu que eu escolhi esse curso e consegui me formar. Muito obrigado.

Mais palmas.

–Agradeço também aos meus colegas pela paciência comigo. Sei que não sou muito amigável de qualquer forma. – pequenos risos – mas vocês foram fundamentais para eu chegar até aqui. E então... – Sasuke fez uma pausa. – Me resta agradecer uma pessoa que fez todo o meu mundo mudar. Ela chegou de uma forma bem ruim e essa história por pouco não se torna uma tragédia. Mas ela, que assim como muitos, nunca havia parado para pensar em nós deficientes, de repente percebeu que o mundo é bem diferente do que pensamos trancados em nossos sonhos particulares. Eu não sabia o quanto eu precisava dela, até ela mudar minha vida.

Nem é preciso dizer que Sakura estava lutando muito contra as lágrimas nesse momento. Mesmo sabendo que Sasuke diria tudo aquilo, afinal ela fez o discurso com ele, era bem mais emocionante ali, ao vivo e com toda aquela plateia.

–Sakura, a garota do cabelo cor-de-rosa que se perdeu do laboratório de informática para me encontrar quando nenhum de nós dois estava se procurando. Mas nos encontramos e eu sei que consegui chegar mais longe porque você sempre esteve do meu lado, mesmo em um hospital, você não saiu do meu lado e mesmo eu sendo surdo você diz que me ama. Eu acredito e eu também te amo.

Estouro de palmas (normais e em sinais), uivos e gritos no auditório.

–Você e orgulha muito Sakura e é por isso que peço para que você fique em pé.

Sakura congelou. Isso não estava no discurso. Sim, ela tinha certeza, essa parte não havia no discurso que ela e Sasuke tinham escrito. O que ele ia fazer? Mal a garota havia levantado, Sasuke voltou a sinalizar.

–Senhoras e senhores, orgulhosamente apresento Sakura Haruno, minha namorada.

Salva de palmas vindas do público.

–Eu devo muito a você e sei que isso não estava no roteiro que você conhece, mas no nosso do evento está. Sakura, é clichê, mas você foi a primeira mulher na minha vida que chegou tão longe; a única que foi tão fundo e que me marcou de uma forma que eu cheguei à conclusão que meu lugar é com você. Parece certo escolher você e é por isso eu gostaria que você viesse até o palco.

As pernas bambas quase fizeram Sakura cair. Como assim ir até o palco no meio da colação de grau do namorado? Que loucura era aquela? E os professores sabiam disso? Trêmula a garota chegou até a frente de Sasuke. Este saiu de detrás do púlpito e pegando uma das mãos da rosada, se ajoelhou em um joelho. Isso foi demais para Sakura que no mesmo instante começou a chorar. Sasuke passou a sinalizar com uma mão só e Iruka continuou ao microfone.

–Sakura, você chegou e me fez entender porque nunca tinha dado certo com ninguém antes. Eu te amo. Você aceita se casar comigo?

Sakura não conseguiu falar, sua garganta estava completamente embargada pelo choro. O máximo que a garota conseguiu foi balançar a cabeça frenéticamente ao que se seguiu uma enorme salva de palmas e outros sons so auditório, enquanto Sasuke sorria de satisfação e colocava um anél maravilhoso no dedo de sua agora noiva. Se levantou e logo puxou-a para um beijo incrível, sem se importar com o local, o momento, os presentes.

Ali o mundo era só deles.


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Notas finais do capítulo

Eu me forcei e consegui terminar esse capítulo, mas com isso uma resumida na história foi inevitável. Peço desculpas pelos dois saltos no tempo. Mais uma vez obrigada pelas mensagens de apoio que recebi. Vocês não têm noção do quanto me ajudaram e fizeram eu me sentir melhor, muito obrigada de corção pelo carinho!



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