-- Becky! – Amber gritou, e disparou em direção à garota, que também corria em sua direção, de braços abertos. Mas uma labareda de fogo irrompeu da boca da criatura, criando uma linha permanente, uma coluna que separava as duas.

Amber olhou para o dragão, que já havia parado de cuspir fogo, mesmo que a coluna ainda estivesse ali. Por trás das chamas que lambiam o ar, Amber conseguiu ver Becky, que cambaleava de um lado para o outro, parecendo zonza. Rebecca conseguiu gritar ‘Amber’ e então desmaiou.

‘Não se preocupe, ela acordara dentro de alguns minutos.’ A voz sibilante falou na cabeça de Amber, que voltou sua atenção para a criatura, que estava com uma aparência terrível. Os ossos salientes, o couro desgastado e mais claro, uma aparência horripilante. Onde deveria ser a barriga da criatura, algo se remexia.

‘Sim, está na hora. Não faça esta cara, Amber, você não precisa temer tanto, lembre-se, é apenas um dragão, não?’ a voz calou-se por algum tempo, dando à garota tempo suficiente para colocar os pensamentos em ordem. A coluna de fogo havia diminuído, e agora ela podia ver Becky desmaiada no chão cinzento da caverna.

-- Por que Becky também está aqui? – perguntou, ainda com a atenção voltada para a garota ruiva no chão, os cabelos cor de fogo cobrindo-lhe parte do rosto. Àquela luz, Rebecca parecia tão frágil. A pele pálida, os olhos fechados, o corpo estirado de qualquer maneira.

‘Ela está aqui porque também é uma peça importante neste quebra-cabeça. Há algo que ambas precisão saber, algo que fora escondido de vocês durante toda a vida.’ Neste momento, Becky começou a recobrar os sentidos, sentando-se no chão, retirando os cabelos da testa agora suada. A caverna tinha um ar quente e pesado, e a coluna de fogo agora já não mais existia.

Amber correu até a garota e ajudou-a à se levantar. Becky ainda estava um pouco tonta, o que significava que Amber tinha de segurar seu braço para que ela não caísse. A criatura levantou-se, e com passos pesados e arrastados, chegou mais perto das garotas.

‘Uma guerra terrível se aproxima, e um mal ainda maior chegará antes. Esta guerra poderá ser impedida, por você Amber, e mais ninguém. Não há mais ninguém que possa pará-la, apenas você. Isto deve soar como um grande fardo, e por isto, sinto muito. Mas não há outra opção.’

Becky agora agarrava o braço de Amber com força agora, e a garota tremia. Amber percebeu que ela estava com medo, pois também sentia isso. Algo naquela caverna, naquela criatura ali parada diante seus olhos, algo até mesmo no ar, a incomodava. Era um desconforto estranho, pois ao mesmo tempo trazia a vontade de ficar ali.

‘Esta sentindo isto, não esta Amber? Esta estranha vontade de deixar-me, mas ao mesmo tempo a vontade de permanecer. Este é o enorme mal que poderá desencadear a guerra, a sua tentação e o sentimento que criará com a criatura. Caberá à você, no final, decidir entre o que é certo e o que é fácil, não à mim, pois meu dever em seu mundo esta terminado.’

As palavras, de alguma forma estranha, afetaram Amber, que correu até a criatura e jogou os braços ao redor do pescoço duro e ossudo do dragão. A criatura desabou, fazendo com que Amber caísse também.

-- Não pode partir, não pode me deixar! Eu nem ao menos sei seu nome! – Amber agora recuava um pouco, voltava para o lado de Becky, que cobria a boca entreaberta com uma das mãos.

‘Meu nome Amber? E de que isto adiantará à você saber? Nomes são lembranças, e guardar as lembranças de algo perdido é o melhor jeito para se machucar. Mas, em minha opinião, você merece conhecer-me melhor. Arkeys, este é o nome pelo qual sempre me chamaram. Ao meu povo, significa ‘chama acesa’. A criatura que carrego irá se chamar...’

-- Pathaun, ‘força poderosa’. – as palavras simplesmente saíram dos lábios da garota, que arregalou os olhos ao ouvi-las em eco nas paredes lisas da caverna.

‘Então é mesmo você. Você está e sempre esteve predestinada, Amber. Sempre fora você. É chegada a minha hora de partir, mas antes que isto ocorra, há algo que vocês precisam saber, o motivo pelo qual Rebecca também tivera os sonhos, o motivo pelo qual ela está aqui. Fora predestinado, à muitos e muitos anos atrás, que uma garota com apenas um dos pais bruxo, seria a escolhida. A profecia deixava claro que a garota apareceria no século no qual nos encontramos, e logo senti que seria você, Amber. Mas, algo curioso aconteceu.’

‘Na profecia, não havia nada que falasse sobre outra possível escolhida, era claro que apenas uma garota poderia escolher o rumo que está prestes à ser seguido. Mas algo curioso aconteceu, algo realmente inesperado. O que aconteceria, se a garota predestinada, tivesse uma irmã?’

Amber e Becky se olharam no mesmo momento, as duas com os olhos arregalados e os queixos pendendo. Amber nunca, em toda a sua vida, ao menos um dia, imaginara que pudesse ter uma irmã. Tudo bem que Becky seria uma meia irmã, pois Amber sabia que sua mãe não era ruiva, e seu pai também não. Mas seus pensamentos foram interrompidos com um barulho ensurdecedor e agonizante.

Arkeys estava completamente jogada no chão, a carcaça inerte, esparramada no piso cinza e frio, contrastando com a cor roxa escura da couraça. O barulho que escutaram lembrava o de pano sendo rasgado, e logo em seguida um guincho agudo atingiu seus ouvidos.

E então, Amber apagou por completo. Conseguia ainda ouvir alguns barulhos, como um gotejar incessante, mas estava apagada, jogada no chão de uma caverna fora dos terrenos de Hogwarts, e fora da caverna, enquanto estava desacordada, o dia corria.

-- Amber, você finalmente acordou! – Eleanor estava sentada na ponta de uma das camas da Ala Hospitalar, ou pelos menos fora isto que Amber conseguira enxergar com uma vista embaçada e opaca. A garota parecia ter chorado recentemente, pois seus olhos estavam vermelhos e inchados.

-- Onde eu estou? Onde está Becky? O que aconteceu? – a garota perguntou, sentando-se rapidamente, o que não fora uma boa idéia, pois logo fora atingida por uma forte dor de cabeça. Becky, aparentemente, não estava ali.

-- Na Ala Hospitalar. Quem diabos é Becky?? Bem, ao certo, não sabemos o que aconteceu. Você foi encontrada na orla da Floresta, completamente apagada, e com um enorme corte na parte de trás da cabeça. Trouxeram você para cá, e você acordou agora. Esteve desacordada por três dias, não faz idéia do medo que tive de te perder! – Eleanor agora chorava, e as lagrimas rolavam rápidas e incessantemente por suas bochechas rosadas. Passou os braços ao redor de Amber, que continuou parada, tentando absorver tudo o que vira e ouvir nas ultimas horas nas quais estava consciente.

-- Eu preciso encontrar a Becky! – exclamou tentando se levantar.

Neste mesmo momento, Scorpius e Alvo entravam conversando baixinho. Potter foi o primeiro a notar que Amber estava acordada. Correu de braços abertos até o local onde ela estava, e então fez algo que deixou até mesmo Amber confusa. Abraçou Eleanor.

-- Alvo, não era eu quem estava desacordada? Por que está abraçando Eleanor, então? – Amber perguntou confusa, antes de Malfoy correr e abraçá-la.

-- Sim, mas Eleanor tem chorado e passado todos os dias aqui, e vê-la mal não me faz nada bem, então tive que abraçá-la, me desculpe! – Potter então abraçou Amber, que já começava a sentir tontura, e então se deitou novamente.

-- Eu preciso encontrar Becky. – sussurrou uma última vez.

-- Não, você precisa descansar. – rebateu Malfoy, fazendo-a continuar deitada.

Antes de dormir devido algum xarope que como efeito colateral a dava sono, a última coisa que viu foram os sorrisos de Eleanor, que a cobria com cobertas grossas, o de Scorpius e o de Potter, e então, dormiu.