Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 87
Grande maleta


Notas iniciais do capítulo

Oláaááááhhh! Antes de tudo, sorry pela a semana passada. Esse capítulo era para ter lançado antes, mas não lançou. Tive que escrever um roteiro para o meu trabalho e literatura, além da semana de provas que tive... Onde eu fui um bosta. Obrigada a todos que jogaram praga em mim :3
Enfim, capítulo está bem legal, espero. No próximo, acontece uma trata bem forte... Acho que duas, na verdade.
Capa: Naoto (DOGS: Bullets and Carnage. Recomendo DE VERDADE para vocês lerem esse mangá. Se gostou do Gangsta, com certeza irá gostar desse. É exatamente igual, vocês perceberão.)
Boa Leitura!



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Todas aquelas palavras ouvidas não foram o suficiente para a compreensão do pequeno garoto. Enquanto ouvia, negava a cabeça de olhos fechados. Não queria mostrar sua fraqueza, suas lágrimas. A voz daquele homem era como uma melodia arranhada, impossível de se ouvir até o final. Bem, não queria ouvia até o final.

– Você irá ficar bem. - Ele repetiu. Seu tom era calmo, sem querer machucar o garoto. - Volto em breve.

Então ele se voltou a andar para fora daquele lugar. O garoto abriu os olhos e correu, abraçando o homem pela as pernas. Sua pequena altura não ajudava.

– Por favor, fique! - Implora o pequeno. - Eu não quero ficar sozinho. Estou com medo.

– Eu vou voltar, já disse. - Se virou, mas o garoto continuou a abraçar suas pernas. - Te ensinei tudo para sobreviver. Ficará bem.

– Não vou. - Nega. - Estou com muito, muito medo.

– Não tem porquê. - Pousa a mão sobre os cabelos castanhos do garoto e os bagunçou. - Eu vou voltar e você estará aqui para me ver, certo? Você lutará, será o melhor daqui. Não tema, faço os outros o temer.

Ele soluçou e, lentamente, desencostou o rosto das pernas do rapaz. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e seus lábios ainda tremiam.

– Você promete que volta?

O rapaz se agachou quando suas pernas foram soltas. Ficou da mesma altura do menino, assim colocando sua mão sobre seu pequeno ombro. Abriu um sorriso cansado e o confortou com isso.

– Eu voltarei.

O garoto engoliu o choro e assentiu. Sentia-se mais aliviado ao ouvir as palavras daquele homem. Seu pai.

O rapaz ficou de pé e se afastou em passos tranquilos. O menino não voltou a chorar, olhava mais corajosa dessa vez.

– Você vai demorar? - Perguntou ele de novo.

Então o homem deu de costas e apressou um pouco mais os passos.

– Você ficará bem, Lupus.

Aquelas foram as últimas palavras que ouviu depois de dias, meses e anos. O pequeno esperava todo o dia parado na porta, na esperança de vê-la sendo aberta novamente e seu pai entrando com um abraço de boas vindas.

Aquele dia nunca chegou.

Os olhos vermelhos do garotinho ficaram sem vidas a cada dia que se passava. O sorriso que tanto dava quando ouvia algum barulho vindo do lado de fora, achando que era seu pai, sumiu. Nunca mais sorriu, exceto em escárnio. Suas pequenas mãos trêmulas ficaram firmes, principalmente quando seguravam as grandes armas que tinha ganhado. Sua inocência não existia como sua esperança de que alguém entrasse em casa novamente.

Depois de tudo isso, a porta que tanto esperava ser aberta, não foi. Ele mesmo a abriu e foi embora.

***

Despertou em um susto. Seus braços abaixaram calmamente sobre seu peito, seu coração acelerado sendo sentido por suas mãos tremulas. Arfava como se tivesse corrido por horas, mas na verdade esteve dormindo todo esse tempo. Aos poucos, seu corpo em alerta relaxava e sua respiração voltava ao normal.

Fazia tempo desde que teve um sonho daqueles. Teve que colocar uma das mãos no rosto, notando algo molhando. Não era suor. Rapidamente secou aquele molhado que escorria em suas bochechas. O local ficou vermelho de tanto ser esfregado.

– Você fala enquanto dorme. - Disse a voz suave.

Não soube como reagir quando se virou e viu Edel sentada na outra ponta da cama. Ao notar que ela estava mesmo ali, se assustou bruscamente. Caiu da cama e se levantou rapidamente, em ira.

– O que você tá fazendo aqui?! - Grita Lupus.

– Você estava atrasado. - De costas, ela o olha sobre o ombro. - Vim te buscar. Não o acordei porque você parecia estar em um sono bem profundo.

O caçador soltou um suspiro pelas narinas. Voltou a se sentar na cama, mas ficando de lado, diferente da garota que ficava de costas.

– Preferia que você tivesse me acordado. - Diz ele, em um tom baixo. Edel ouve do mesmo jeito.

– Você não parece ter um bom relacionamento com seu pai. - Sentiu a tensão do rapaz ao dizer isso. - Com sua mãe é o mesmo?

– Não é da sua conta. - Diz seco. - Esquece o que você ouviu.

– Tem razão. Sinto muito.

O haro abaixou o olhar, focando-se apenas em suas mãos entrelaçadas. Enquanto mexia os dedos, notou um pouco de sangue na ponta de um deles. Estranhou, mas não ficou curioso como tinha conseguido aquilo.

– Também não tenho um bom relacionamento com meu pai. - Continua Edel. - Parece que todos são os mesmos.

Lupus não disse nada. Quando foi se virar para olha-la, ela já estava de pé, indo para a porta. Não entendeu o que a capitã quis dizer com aquilo sobre seu pai, mas quando foi questionar, ela o interrompeu.

– Vá se arrumar logo. Não tenho o dia inteiro. - Diz Edel. Se virou para olha-lo sério, mas deixando o corte em sua bochecha ser visto pelo o caçador. Lupus olhou rapidamente para seu dedo manchado por sangue. - Não me faça esperar.

– Ei. - Tarde demais, a jovem já tinha saído do quarto.

Voltou o olhar para sua mão. O corte no rosto da capitã não tinha sido feito pelo o combate do dia anterior, tinha certeza. E todas suas feridas já tinham sido cuidadosamente cuidadas por ele, então não tem motivo de seu dedo estar manchado por sangue.

Como Edel tinha falado, Lupus fala enquanto dorme. Será que era só isso que ele fazia? Esse pensamento iria ocupar sua mente pelo o dia todo.

***

Os olhares admirados do trio não mudaram com aquela jovem nas suas frentes. Ela era perfeita, não havia nenhuma imperfeição. Com certeza não era humana, não podia ser. Mas ela não mostrava sinal algum de ser algo além disso.

– Nos esperando? - Elesis pisca os olhos, acordando finalmente. Aponta para a garota. - Você é a nossa cliente?!

Ela sorriu como se fosse uma resposta. Se levantou, batendo em seu vestido para tirar a sujeira.

– Sim, eu chamei vocês para me protegerem. Mas vocês já devem saber disso. - Olha para os garotos, vendo principalmente para a face surpresa de Sieghart. Ela riu outra vez. - Algum problema?

– Não, problema algum! - Dio se manifesta. Ele coça a ponta do nariz, desviando o olhar para o lado. Elesis já tinha notado aquilo fazia um tempo, que o asmodiano fazia isso quando ficava sem jeito. Era uma mania fofa do rapaz. - É que, pensávamos que seria uma pessoa conhecida, ou da nobreza.

– Não estamos reclamando de você. - Elesis complementa. - É só uma pequena observação mesmo.

A garota olhou atentamente para cada um, enquanto eles se enrolavam nas próprias palavras. Ela sorriu no final. Elesis e Dio se sentiram mais aliviados.

– Desculpe por fazer um pedido tão difícil para vocês. - Ela explica, aproximando-se como se pulasse. Ela era tão delicada. - Vim para esse continente não foi fácil, prevejo.

– Tivemos nossos problemas mas conseguimos dar um jeito. - Diz Elesis. Não teve como evitar o pensamento de Sieghart durante a viagem. - Esse é o nosso trabalho, fazer o que pedirem. Estamos aqui por você... Qual é o seu nome? Ainda não sabemos.

A garota fica surpresa, como se tivesse esquecido completamente. Pôs a mão em seu pequeno peito. A jovem não tinha um corpo tão desenvolvido assim, parecia até mais uma criança em fase de crescimento. Então era de se esperar que ela sumisse perto de Dio e sua altura exagerada de asmodiano.

– Não quis comentar sobre isso antes que você chegassem. - Abri outro sorriso. Suas expressões de felicidade nunca enjoava eles. - Sou Gaia. Vocês?

A pequena mão da jovem foi segurada pelas as de Sieghart. Finalmente ele tinha despertado.

– Sieghart, me chamo Sieghart. - Diz ele em um tom sério. Não era em ameaça, mas sim de um jeito romântico. - Prazer, Gaia.

Ela riu sem jeito com o jeito do rapaz. Elesis e Dio deram um tapa atrás de sua cabeça, assim soltando a mão da loira. Agora Dio esticava a sua, a mudando quando percebeu que tinha esticado seu braço demoníaco.

– Dio.

– Não tenho medo de asmodianos, não se preocupe. - Diz Gaia ao segurar sua mão delicadamente.

Dio assentiu ainda sem jeito. Dessa vez, escondeu ambas as mãos atrás de si. Não importava quanto dissessem aquilo para ele, continuaria a ter vergonha de estar perto de certas pessoas.

– E você? - Gaia olha Elesis curiosa. Estica a mão.

– Eléo. Espero que nossa missão dê tudo certo. - Tentou ser o mais simpática possível.

Ao tocar na mão de Gaia, os olhos da mesma se arregalaram. Uma estranha energia foi sentida por ela, uma energia totalmente assustadora. A mão da espadachim podia estar quente, mas sua aura era fria. Era como se houvesse uma coisa maior que tudo dentro de seu corpo.

Soltou sua mão rapidamente.

– Algum problema? - Elesis pergunta. A expressão de medo de Gaia a assustou. - Machuquei sua mão?

– Não, não é isso! - Escondeu seu medo com o mudar da face. - Só lembrei de algo. Me desculpe.

Elesis levantou as sobrancelhas. Enquanto Gaia se afastava, ela olhou em dúvida para Dio e Sieghart, que olhavam da mesma forma. Ela deu de ombros, sem entender. Não tinha feito nada, deixou claro para os rapazes.

– Bem, que tal irmos logo? - Gaia se vira, voltando a sorrir novamente. Ela mudava de expressão facilmente. - Explicarei tudo que vocês precisarem durante o caminho.

Concordaram e a seguiram. Acompanhavam a garota alguns passos atrás, vendo-a pelas as costas, como ela dava uma leve saltitada a cada passo. Tão graciosa com aqueles longos cabelos.

– Quero que me protejam até um certo lugar. - Começa a explicar. Permaneceu de costas. - Xênia é o continente dos Deuses, então é um lugar muito perigoso para uma pessoa qualquer, como eu, andar por aí. Tenho medo de ser atacada.

– Onde seria esse lugar que você quer ir? - Dio questiona.

– Não direi onde, irei os guiar o caminho todo. - Olha sobre o ombro. - Por favor, confiem em mim.

– Confiamos totalmente. - Sieghart continuava com o sorriso torto. - Não se preocupe.

– Na verdade, não. - Dio se intromete. - Existe algum perigo maior que você tema durante essa viagem? Algo que possa nos matar.

– Só em estarem pisando nesse continente já é perigoso. - Volta a se virar para frente. - E sim, existe um perigo. Não tenho certeza que essa coisa vá aparecer, mas não quero arriscar.

– Podemos dar conta? - Elesis teme a pergunta.

Gaia demora para responder. Diminuiu os passos, se virando para o trio. Séria.

– Espero que sim.

***

Soltou um resmungo e deitou a cabeça de lado na mesa. Sentia-se tão cansado do outro dia, queria um pequeno descanso naquele momento.

– O que foi? - Pergunta Jin com uma tigela de cereal em mãos.

Lass não respondeu imediatamente. Em meio ao refeitório, era estranho estar agindo daquela forma. Mas ele não se importava se chamaria atenção daquele jeito. Ele suspirou.

– Pensando. - É o que responde.

– Preocupado com ela? - Olha com um enorme sorriso em esperança.

– Não é isso. - Disse meio irritado. Levantou a mão, apontando para a própria cabeça. - São as chamas. Estão agitadas hoje.

Nota o silêncio incomum de Jin. O olha, percebendo a preocupação do ruivo. Ele não sabia o que dizer.

– Va-Vai ficar tudo bem, né? - O lutador gagueja. - O outro cara não vai aparecer, certo? Não gosto muito dele.

Lass deu uma leve risada pela a reação do amigo. Revirou os olhos em brincadeira.

– Relaxa, elas não vão sair. - Jin suspira aliviado. - E não fale isso das chamas com elas por perto. Elas não gostam disso. - O ruivo volta a olhar desesperado.

– Não é melhor contar para o Grandiel ou o Astaroth?

Lass nega com a cabeça, com dificuldade com ela apoiada à mesa.

– Tenho isso de vez em quando, já estou acostumado. Aliás, eles estão muito ocupados no momento, não quero ocupa-los com o meu problema. - Essas últimas palavras pareceram doer para ele mesmo. Jin percebeu. - E as chamas não vão se soltar, isso que importa.

Embora não quisesse, Jin concordou. Viu Lass fechar os olhos para ter um descanso momentâneo. Não o incomodou mais; Mas acabou fazendo isso.

– Como que elas são? - O ninja abri um dos olhos, confuso. - As chamas, que forma elas têm?

– É difícil dizer. Elas não são um ser, e sim algo abstrato. Não tem forma. - Aquilo não ajudou muito o ruivo a entender. Ele levantou suas sobrancelhas grossas. Lass continuou. - Sim, elas são literalmente uma chama fora do meu corpo. Mas na minha consciência, elas têm forma.

– É algum tipo de garota? Pelo o que parece, é algo feminino.

– Não. As chamas, na consciência, ganham forma do que você mais tem medo, logo para intimida-lo. - Coça a cabeça em nervosismo. - Mas não importe qual pessoa ela pareça, sua personalidade sempre será única. Sádica, má, fria e observadora. As chamas são mais espertas do que parecem.

– Agora entendo por que Grandiel e Astaroth tiveram tanto trabalho com você. É como um jogo bem complexo de dama. - Abri um pequeno sorriso em compreensão.

– Tá mais para xadrez. - Levanta a cabeça de cara fechada. Colocou a mão no peito, sentindo-se mal naquela região. Jin percebeu a dor do amigo.

– Você deve ter muitos pesadelos de noite por causa disso. - O ruivo diz triste. Lass afirma. - Tudo bem?

O ninja afirma ainda com a cara fechada. Sua expressão só foi se amenizando aos poucos. O silêncio entre eles era o que mais incomodava Jin. Por fim, Lass bateu em seu peito fortemente, como se tivesse batendo em uma porta.

– Ei, fique quieto aí! - Lass grita, mas nada que chamasse a atenção. - Que saco.

– Tem certeza que não quer que eu chame o Grandiel?

– Não precisa. Já disse, as chamas estão agitadas, só isso. - Deu outra batida no peito, mais leve dessa vez. - Logo isso passa.

– Existe algum motivo para isso? Não é algum tipo de pressentimento ou sentimento de perigo?

Lass olhou pensativo. Nunca tinha pensado nisso antes. Mas isso não era, ele tinha certeza. Sempre que acontecia isso, nada acontecia de perigoso ou algo do tipo. Desde que era criança, as chamas se agitavam em seu corpo, então acabou sendo um costume dele. É como as mulheres e seus períodos durante o mês, normal e costumeiro.

– Se fosse algum perigo, tenho certeza que elas teriam falado comigo. - Diz sério. - Elas sabem que se eu morrer, elas vão juntas.

Fez uma careta repentina. Parece que as chamas tinham ouvido aquilo e sentiu-se ofendidas. Lass olhou nervoso para seu peito, tendo uma briga mental com as chamas. Jin só observava em silêncio.

Seus olhos dourados se abaixaram. Seu amigo tem passado por tantas coisas ruins por causa das chamas mas nunca demonstrou isso. Naquele momento, Lass tratava as chamas como se fossem algum bicho de estimação teimoso. Era tudo tão normal para ele. Jin não conseguia ver da mesma forma, ele sentia pena do ninja. Preocupação, principalmente.

Soltou uma risada boba, abaixando o rosto quando Lass o olhou.

– Lass é tão forte. - Menciona Jin. - Que inveja.

– Hã?

– Você passou por tantas coisas na vida e ainda continua bem com tudo isso. Tem um monstro dentro de você, tem que aturar Cazeaje, controlar as chamas e... - Não completou. Pretendeu não falar sobre o fato de ter deixado de amar Elesis. - Como você aguenta? Enquanto isso, eu sou um idiota que acha que é o fim do mundo quando bate o dedinho do pé na cômoda. Tão estúpido.

Lass não disse nada. Parou de bater em seu peito e prestou atenção no que o ruivo dizia.

– Você é forte, Lass. Muito forte. Queria ser como você, agir como você. - O olha com um olhar triste, mas com um pequeno sorriso na face. - É por isso que tenho medo de perder você. Você é forte, mas muito teimoso. Como a Elesis.

O ninja não reagia com tudo que ouvia. A expressão triste do lutador era o que mais chamava sua atenção. Fazia um bom tempo desde que a viu na face do lutador.

– Vocês acham que são os únicos que devem sofrer nesse mundo. - Ele continua. - Ninguém mais pode, só vocês. Exclusivamente. Por que fazem isso?

– Nunca disse que gosto disso.

– Você não entendeu! - Apoia as mãos na mesa. - Será que você fica mais cego com o tempo? Desde que chegou dessas férias com esse pensamento que superaria tudo se tornou uma pessoa cega, Lass. Elesis gostava de você, mas parece que isso não importava mais.

– Eu já disse que tenho meus motivos pa...

– Não importa! Você está tentando se tornar mais forte, mas só tá piorando. - Abaixa o olhar por um momento. - E por causa de você, Elesis está fazendo o mesmo. Você viu o estado dela, não viu? Você ver o quanto ela está se esforçando para se tornar a melhor. - Fecha o punho com força. - Mas ela é diferente de você. Elesis é forte, mas frágil. Um dia ela se quebrará e não terá mais conserto. - Esperou o ninja dizer algo, porém ele continuou em silêncio. - E você sabe que tipo de fim ela terá.

Lass tinha noção dos perigos que colocaria Elesis no dia em que a cumprimentou no colégio. Naquela época, ele fez de tudo para evita-la, para não se aproximar dela. Ele falhou, e não se arrependeu disso. Mas após o despertar das chamas, ele pensou melhor, viu que o perigo que a colocava era maior, e que podia atingir seus amigos também. Pela primeira vez, Lass se importava com alguém, portanto, não queria que essa pessoa se ferisse por causa dele.

Ele prefere se machucar do que machucar outro.

– Elesis não se machucará. - Diz Lass. Jin olha sem entender. - Ronan está ao lado dela, nada irá acontecer. Ela tem alguém que se importe de verdade com ela e que possa a proteger.

– E você não pode?

Sua mão voltou a ficar colado ao peito. Apertou a camisa fortemente, tentando não transparecer nada.

– Eu tenho outras coisas para me importar. - Não olhou para o ruivo. - E proteger.

Jin nega.

– Não, você não tem mais nada para proteger. Só para se importar. - Sua voz saiu seca, como uma ofensa. Lass olhou em compreensão. Era verdade, não podia negar. - O que eu tô querendo dizer é, pare com isso. Pare de achar que tudo de ruim tem que girar somente em sua volta. Por favor, pare. - Dessa vez, Jin põe a mão no próprio peito. - Eu sou seu amigo e é para isso que sirvo. Dores devem ser compartilhadas, cara.

– Você não aguentará todas minhas dores.

– Deixe-me ao menos ficar com alguma. - Se apoia na mesa. Sorri confiante. - Deixe eu tampar esse buraco.

Lass ficou sério no começo, mas logo soltou uma risada. Colocou a mão na boca, segurando a gargalhada. Jin não entendeu, olhando inocentemente.

– O quê?

– Você acabou de quebrar o clima com esse negócio de "buraco". - Diz em meio ao riso.

– Ah. - Bate na própria testa em decepção. Começava a ficar envergonhado, mas a voz de Lass o parou.

– Mas agradeço. - Para de rir, deixando o sorriso no rosto. - Só que esses são meus problemas e não quero envolvê-lo nisso, parceiro. Se alguém precisa de ajuda, esse alguém não sou eu.

O seguiu pelo o olhar quando o ninja levantou da cadeira. Lass continuava com uma dor chata em seu peito, porém ele sabia disfarçar bem. Prática durante anos leva à isso.

– Elesis, certo? - Jin adivinha de quem o ninja falava. Ele afirma. - Não acho que esse seja meu dever. - Continuou antes de Lass debater. - Nem do Ronan.

– Também não é meu. - Nega rabugento.

O lutador volta a olhar sério, em aviso. Soltou um suspiro antes de falar.

– Lass, saiba que tudo que acontecer com a Elesis de agora em diante será sua culpa. - Volta a atenção para seu cereal. Já tinha acabado, só restava uma colher. - Então se você quer vê-la segura, é melhor você mesmo consertar. Ronan pode ser bom para ela, mas ele não é capaz de fazer tudo isso. Entendeu?

Com a mão permanecida no peito, ele olha neutro. As chamas continuavam agitadas, uma sensação diferente de quando está enjoado em que a barriga parece se vira toda. Sentiu o corpo quente, porém só internamente. Embora sentisse aquela estranha coisa dentre do si, sua mente se ocupava com o que Jin tinha acabado de dizer.

Não tinha uma resposta certa para dar. Nem ele mesmo sabia o que fazer em relação à isso. Quando pretendia dizer algo, uma coisa o encosta pelas as costas. Lass olha sobre o ombro, só tendo tempo de ver os cabelos pálidos de Edel.

– O que voc...

Sua atenção estava na capitã, mas sentiu Jin do outro lado da mesa arregalar os olhos. As mãos do ruivo, que permaneciam sobre a mesa, se mancharam de vermelho. O mesmo vermelho que foi jorrado da ferida aberta de Lass.

– Sua...! - Lass rosna, e então o sangue escorre do canto de sua boca.

O ninja caiu sobre os cotovelos na mesa. Com a outra mão, a pôs sobre sua ferida na barriga. Como um tiro podia ter feito um estrago tão grande daqueles? Olhou de lado e viu Edel ainda de pé atrás dele, com seu revólver levantado. Ela havia disparado e não reagiu à isso.

– Lass! - Jin grita preocupado. O lutador olhou em volta, tentando achar todos os alunos naquele refeitório. Estava vazio, todos tinham ido embora. Como eles não tinham notado isso? - O que você tá fazendo?!

A capitã continuou com o semblante sério. Ela finalmente abaixou o revólver, olhando para Lass afundar cada vez sobre aquela mesa. Ela solta um ar pesado.

– Eu vou te matar. - O ninja diz sério para a garota. Tentou se levantar, mas voltou a caiu sobre a mesa. - O que pensa que tá fazendo? O que você fez com o Lupus?!

Jin se preparava para levantar, mas o revólver é mirado em sua direção. O ruivo congela, parado em seu lugar. Não queria ser a próxima vítima.

– Não fiz nada ao Lupus. - Enfim, ela começa a falar. - Ele ainda está se arrumando para os testes do dia.

– E quanto a mim?! - Mostra os dentes em irritação. O que havia de branco ali, agora estava manchado de vermelho. - Sua maluca!

– Você não irá morrer. - Abaixa a arma apontada para Jin. O rapaz suspirou aliviado. - Estou o testando. Fiquei curiosa ao saber que você podia regenerar grandes feridas.

– Então resolver atirar em mim?! Grande ideia.

– Pelo o que entendi, você era para está morto pela a luta que teve contra Gerard. - Olha para a ferida de relance. - Mas as chamas o salvou. O mesmo deve acontecer agora.

Era um teste. Vinha de Cazeaje, tinha certeza. Já até imaginava a cena da líder pedindo a Edel para que fizesse isso. Em troca, Lass não poderia reagir, tinha que aceitar o que tinha acabado de acontecer com ele. Isso o deixava mais irritado que tudo.

Tirou a mão de sobre a ferida, em seguida a jogando de lado em indignação. O sangue que pingava em seus dedos foram espirrados na perfeita face da capitã. Ela não expressou nada. Lass apoiou a mão suja sobre a mesa, tentando se manter de pé. Falhou nisso. Sua mão manchada de sangue escorregou e ele caiu de joelhos no chão.

Jin se levanta quando o ninja chega ao chão. Rodeou a mesa até chegar no rapaz, ficando ao seu lado para ver seu estado. Nada bem.

– Nem sempre isso funciona, sua idiota. - Resmunga Lass. Edel ouviu, erguendo as sobrancelhas. - As chamas fazem isso quando querem. No momento, elas não estão muito afim.

– Seu corpo de mestiço irá regenerar do mesmo jeito. - Diz ela em ignorância. Mas era verdade. - Não chore por um machucadinho.

– Irei eu fazer um "machucadinho" desses em você!

Fez uma careta em dor, se encolhendo sobre os joelhos. O sangue não saía tanto quanto devia, porém a dor era insuportável.

– Bem, parece que não verei as chamas em ação. - A voz da garota mostra tédio. Girou o revólver no dedo e o guardou no cinto. - Uma pena.

O ninja levanta o rosto fechado de irritação. Agora ele tinha um motivo para mata-la, de verdade. Se tivesse sua katana no momento...

– O verei ainda hoje. - Começa a se afastar, se virando e saindo do refeitório. - Até!

Jin olhava assustado enquanto a capitã ia embora. Se arrependia por ter feito nada para ter ajudado seu amigo, mas mesmo que fizesse, não seria o certo. Só pioraria a situação. Como Edel tinha dito, era um teste.

Quando voltou a atenção para Lass, o ninja se levantava rapidamente e pegava uma faca sobre a mesa. Se preparou para arremessar como uma kunai, mas sua mão suja foi segurada pelo o lutador. O ruivo se colocou em sua frente, o impedindo que atacasse a capitã.

– Não faça isso, Lass! Ela está o testando.

– Então é minha vez de testa-la!

– Você não pode!

Consegue retirar a faca da mão do rapaz. Jogou o talher manchado por sangue para longe do ninja. A mão do lutador também agora estava manchada. Lass o olhou cansado, assim voltando a cair de joelhos. Apertou em dor sua ferida, evitando a careta que fazia.

– Maldita. - Rosna olhando para o chão. Tirou a mão lentamente da ferida para ver como estava, e ela continuava do mesmo jeito. Voltou a tampar a ferida. - Preciso fechar isso.

– Agora faz sentido sobre eu fechar o buraco, né? - Rir sem jeito. Engole a risada quando o olhar sério do ninja o mira. - É melhor irmos para a enfermaria.

– É, vamos. - Com bastante esforço, consegue ficar de pé. Deu uma rápida olhada para a mesa suja de sangue. Rir rapidamente, logo cuspindo um pouco de sangue. - Imagino a cara do Grandiel ao ver isso.

– Isso não é hora para se preocupar com sujeira. Precisa de ajuda?

– Estou bem, estou bem. - Sacode a mão.

O ninja segui o caminho em passos atrapalhados. Quando ia cair novamente de joelhos, Jin o segura pelo o braço. Olhou em reprovação para o amigo e enrolou seu braço em seu ombro. Lass precisava de ajudar, mas preferia se mostrar como forte.

– Dividir as dores, não se esqueça. - Diz o ruivo.

– Entendi. - Dar um forte tapa no abdome do ruivo. Ele se encolhe em dor por um momento, mas consegue continuar o caminho o ajudando. - Dividir as dores.

***

Elesis se jogou para frente, rolando pelo o chão. Sua expressão de medo era o que mais definia sua situação. Olhou para trás e viu Sieghart e Dio se encarando mortalmente após terem tentando acertarem um ao outro. A espadachim, que estava no meio, se afastou antes que fosse acertada por eles.

– Você está bem? - Gaia se aproxima dela em passos saltitantes.

– Ficaremos se nos afastarmos. - Fica de pé e estica o braço, afastando a garota da confusão. - É melhor não se intrometer nisso.

– Tem certeza? - Olha preocupada para a dupla. - Eles vão acabar se matando desse jeito.

– Espero que não. - Diz com um sorriso torto.

Elesis não se lembrava quando começou a confusão, mas notou que a coisa tinha ficado perigosa quando as auras dos rapazes ficaram pesadas. Não podia simplesmente entrar no meio e separa-los, tinha medo de perder um braço no processo.

– Gente, vamos parar com isso. - Elesis ergue as duas mãos em sinal de paz. - Estamos em uma missão, se vocês se esqueceram. O verdadeiro perigo não começou ainda.

– Eu já disse que isso não funcionará, idiota. - Dio ignora o que a espadachim diz, encarando somente Sieghart à sua frente. - Pare de achar que é dono da verdade.

– Você nunca deixa eu liderar algo numa missão! - Sieghart fala claramente irritado. - Deixe ao menos dessa vez.

– Porque se eu deixar, você vai acabar com tudo! E a responsabilidade vai ser toda minha. - Como um gato raivoso, mostra seus dentes pontudos, principalmente seus caninos. Devia ser algo de asmodiano. - E a do Eléo. - Dá uma rápida apontada para Elesis.

– Você fala como se eu fosse falhar. - Bate a mão no peito. - Confie em mim!

– Melhor não arriscarmos. - Se vira, seguindo em frente. Dio estava se controlando por causa da missão, ao contrário, já tinha iniciado uma briga com Sieghart. - Vamos continuar o caminho.

Em todo o momento, Elesis pensou em não interferir, porém sentia uma pontada de vontade. Não gostava de ver os dois brigando, não importava o motivo. Se tivesse algum jeito, já teria o feito.

– Espera, chifrudo!

Dio se virou nervoso ao ser chamado daquele jeito. Mas antes que olhasse para Sieghart, um de seus chifres foi segurado pelo o mesmo, o puxando para o lado.

– Solte! - Grita furioso.

Fechou seu punho, o mesmo do braço demoníaco, e jogou em direção a Sieghart. Acertou o peito do rapaz, que o arremessou para trás facilmente. O moreno colocou a mão onde foi atingido, erguendo o olhar sério.

– Não faça mais isso. - Diz Dio, passando a mão na cabeça. - Ou eu quebro sua cara.

– Digo o mesmo. - Sieghart não parecia brincar.

Elesis olha tensa para a situação. Aquilo deveria acabar antes que piorasse, se ao menos ela tivesse alguma ideia. Poderia usar a força bruta, porém seu estado não estava o melhor para isso.

Quando segurou o cabo da espada, um barulho de piso a chamou a atenção. Olhou para os lados em alerta, sentindo que Gaia fazia o mesmo. Olhou rapidamente para a garota, vendo sua expressão séria para aquela direção.

– Gente... - Elesis tenta avisa, mas é interrompida.

O vulto preto salto do arbusto próximo em direção a Gaia. A loira fechou os punhos em medo, mas mantendo a face séria. Elesis conseguiu ser mais rápida que a criatura. A morena pareceu deslizar pelo o chão enquanto corria, tirando sua espada da bainha. Salto na frente de Gaia já com um ataque preparado.

O vulto escuro voou após o ataque da espadachim. Elesis encarou até ver realmente a forma do ser. Era um pequeno monstro com uma máscara de madeira vestida, com um machado em mãos. Não demorou para perceber que aquilo era um dos guardiões de Xênia.

O silêncio se estabeleceu. Sieghart e Dio tinham parado a briga, olhando sérios para a pequena criatura. Gaia solto um pequeno suspiro em alívio, abrindo suas mãos trêmulas.

– Querem parar de discutirem e me ajudarem com isso aqui. - Elesis comenta. - Agradeceria.

Outros barulhos foram ouvidos e mais pequenos guardiões foram aparecendo. Alguns com machado, outros com arcos e cajados. Eram criaturas bem fortes para suas estruturas.

– Desculpe. - Pede Dio. Fechou sua mão e uma energia aparece nela, assim sua foice foi se formando. Andou para perto da espadachim. - Não irá acontecer novamente.

– Espero que sim.

Sieghart, um pouco distante, tirou sua simples espada da bainha. A grande maleta em suas costas foi retirada, sendo colocada no chão. Não parecia impaciente, apenas sério pela a briga que ainda tinha com o asmodiano. Aquele era um péssimo dia para lutar contra Sieghart.

As criaturas se moveram e eles fizeram o mesmo. Dio e Sieghart avançaram como um trovão, fazendo os pequenos voarem com seus ataques. Os guardiões atacavam ao mesmo tempo, sendo a magia o mais efetivo contra eles. Quando os acertavam, algumas feridas eram abertas em seus corpos. Já Elesis ficou ao lado de Gaia, atacando ferozmente quem se aproximava dela e da loira.

Sua respiração já começava a ficar ofegante. Tinha se passado minutos desde que começou a lutas, mas a quantidade de guardiões que apareciam se multiplicavam cada vez mais. Em um rápido relance, viu Sieghart e Dio juntos lutando. Eles eram uma dupla formidável, um protegia as costas do outro. Podiam estar em briga, mas isso não parecia importar no momento.

A espadachim continuou fazendo sua parte distante, por mais que tivesse dificuldade nisso. Passa as costas da mão na testa. Não conseguiria continuar naquele ritmo por muito tempo, não com todos aqueles machucados em seu corpo. Seu pulso e tornozelo começavam a doer, precisaria de outra poção se quisesse melhorar.

– Devia ter rejeitado essa missão. - Pensa exausta.

***

Suas pernas penduradas balançavam de um lado para o outro em impaciência. Esteve na enfermaria por quase meia hora. Tudo isso só para fazer o curativo e tirar a raiva que sentia da capitã do peito. A sensação das chamas pularem dentro de seu corpo não tinha passado, o que o deixava mais irritado ainda.

– Não tem aula hoje? - Pergunta Lass.

Jin, encostado na parede ao lado, olha para o ninja. Negou.

– Não estou muito afim de participar hoje. - Explica.

– Sei como se sente. - Volta a balançar as penas. Sentado sobre aquela alta cama fazia o rapaz se sentir pequeno. - Acho que vou passar o dia inteiro aqui, dormindo.

– Acho que o Grandiel brigaria com você.

– Ele briga comigo por tudo. - Resmunga com o rosto virado de lado.

O relacionamento que Lass tinha com o direto não era nada mais que de mestre e aprendiz. No dia em que Grandiel e Astaroth apareceram em sua vida para salvá-lo, ele soube que teria que dever muitas coisas a eles futuramente. Eles o protegeram e cuidaram, ensinaram tudo que tinha que ensinar. Além do fato de terem escondidos as chamas de Cazeaje. Só que isso não era o bastante para o ninja, ele queria mais. Ele queria algo que nunca teve, e nunca poderá ter.

Atenção.

– Pronto. - O médico saiu dos fundos da sala, carregando uma prancheta em mãos enquanto a lia. Suas mãos que antes estavam sujas por sangue, agora estavam limpas. - Acho que não precisará se preocupar com o ferimento, Lass. A bala que o atingiu passou direto, e mesmo que tivesse alguma magia ou veneno, já teria se manifestado.

– Tem certeza? Está doendo bastante para uma bala normal.

– Tem um buraco na sua barriga, é claro que tem que doer.

– Posso tomar ao menos uma poção ou remédio para passar?

É esticado em meio a sua face um pirulito. Não reclamou e pegou o doce, o colocando na boca em meio a um resmungo.

– Finja que isso tem remédio. - Diz o médico. Jin rir no seu canto. - Bom garoto. - Passa a mão nos cabelos do rapaz, que se encolhe nos próprios ombros. - Agora o deixarei descansando. Não faça muito esforço, Lass.

– Entendi.

O médico deixa a prancheta ao lado do ninja, caso ele queira ler, em seguida saindo da sala com uma breve despedida. Lass olha para suas informações nos papeis, parando de balançar as pernas enquanto lia algo, logo voltando a balançar novamente.

– As chamas se acalmaram? - Jin pergunta.

– Não. - Diz naturalmente enquanto lia.

– Pretende fazer algo?

– Não.

– Você me dará outra resposta além de "não"?

– Não.

O ruivo suspira sem paciência. Desencostou da parede, se colocando na frente do ninja. Lass o olha, logo continua a ler.

– Você tá muito quieto. - Menciona o lutador. - Pensando em quê?

– Em matar aquela vaca. Não preciso de ajuda, fique fora.

– Você não pode tocar nela. Cazeaje te mataria.

Olha para Jin.

– Quem você acha que é mais importante? Ela ou eu? - Põe os braços de lado. - Cazeaje terá que decidir.

Cruzou os braços. Lass dizia tudo aquilo normalmente, mas ele falava sério. Ele iria mesmo matar Edel, sem trocadilho. Jin olha incrédulo para a firmeza que seu amigo tinha.

– Diga que está brincando.

– Não estou. Edel foi enviada aqui não só para testar o Lupus, e sim a mim também. Cazeaje quer mais que tudo que eu desperte as chamas, para que perca o trato. - Fica sério. - Não estou afim de ser o soldadinho dela.

– Mas você estará matando uma pessoa inocente. Edel é outra vítima dela.

A única coisa que o ninja faz é dar de ombros. Pegou sua prancheta e a colocou no chão, assim se deitando na cama.

– Deixe-me dormir. - Resmunga Lass já de olhos fechados. - Esse pirulito tem mesmo remédio. Estou ficando com sono.

Jin o olhou em silêncio. Não iria debater com o rapaz sobre aquele assunto, também não estava levando muito à sério o que ele tinha dito. Se afastou, esperando que algo fosse dito.

Nada foi ouvido.

***

– Isso é tudo. - Diz Elesis.

Jogou todos os pedaços de madeira que achou pela a floresta no chão. O combate contra os guardiões tinha acabado faz um tempo, agora, já com o sol indo embora, o grupo precisava descansar. A espadachim desabou no chão após sua tarefa.

– Vocês estão bem? - Pergunta Gaia, sentada sob uma árvore. - Posso ajuda-los com isso.

– Isso é trabalho para homem, minha querida. - Diz Sieghart, tentando não perder sua pose elegante. Seu corpo estava coberto por arranhões e cortes, não tão profundos assim. - Descanse.

– Então por que você trabalha, Sieg? - Debocha Elesis. Abre um sorriso largo.

– Não enche!

A garota rir, logo Gaia junto. O moreno olhou surpreso para a fofa risada que ela soltava, ficando envergonhado. Ela era tão perfeita.

– As armadilhas estão montadas. - Dio fala enquanto aparecia. - Poderá passar a noite tranquila, Gaia.

– Agradeço. - Sorri.

Elesis se sentou no chão, já tinha dado uma boa descansada sobre a grama. Jogou sua mochila de lado para tirar aquele peso de suas costas. Arrumou as madeiras juntas, em seguida se colocou de joelhos. Suas mãos foram esfregadas rapidamente, as aquecendo. Inspirou profundamente antes de socar o ar com o mesmo punho coberto por suas chamas vermelhas. A lenha foi acertada em cheio, se queimando aos poucos até que o fogo fosse criado. Não podia esquecer que as chamas eram magia em forma de labaredas, portanto, não queimariam da mesma forma.

– Oh, chamas vermelhas. - Gaia diz impressionada. - São tão comuns mas tão difíceis de se achar. Que tola que eu sou.

– Não são tão legais assim. - A espadachim explica. - São as mais fracas, então nem vale a pena tê-las.

– É, Eléo tem as chamas mais ridículas. - Menciona Sieghart. Aponta para si com o polegar. - Eu tenho uma das melhores.

– Eu não diria desse jeito.

O rapaz ignorou o comentário da garota e deu alguns passos à frente. Tirou sua camisa, a deixando de lado. Gaia e Elesis olharam constrangidas, sem entender o que estava acontecendo. Dio apenas observava sério em um canto.

– O que você tá fazendo? - Pergunta o asmodiano.

– Fui atingido por muitas flechas com veneno hoje. Então... - Se vira de costas, apontando para as mesmas. Em sua pele, uma coloração verde se acumulava. Como ele tinha dito, era veneno. - Isso fica marcado em minhas costas. Tô meio tonto até.

– Tá explicado.

– Posso tirar esse veneno do seu corpo. - Fala Gaia preocupada. - Permita-me.

– Não precisa. Já disse, tenho chamas incríveis comigo.

Elesis mexe a sobrancelha nervosa. Aquilo tinha sido uma indireta para ela. Só não debateu com o rapaz porque as chamas roxas começaram a contornar seu corpo, chamando a atenção de todos. Por onde elas passavam, as marcas do veneno desapareciam. Aquilo fez as sobrancelhas da espadachim se erguerem.

Quando foi questionar, Sieghart explica:

– Elas queimam venenos e maldições em meu corpo. Maravilhosas, não?

Disso ela não sabia. Tinha estudado por muito tempo sobre as 5 chamas, mas não sabia sobre aquilo. Na verdade, Elesis sabia quase nada sobre elas. Sentia-se tão idiota por Sieghart saber e ela não, logo a dona das verdadeiras chamas azuis. Deveria saber!

Logo Sieghart teve que ser obrigado a vestir a camisa novamente por uma bronca de Dio, que quase levou a uma briga. O acampamento foi montado em poucos minutos, onde Gaia teve que ficar apenas olhando, pois foi proibida de ajudar em qualquer coisa. Ela era a cliente e tinha que se sentir como uma.

– Por que os guardiões de Xênia tentaram a atacarem hoje? - Dio pergunta de repente. Todos pararam de comer seus lanches para olha-lo.

– Como assim? - Gaia pisca os olhos, confusa.

– Aqueles seres só atacam quando se sentem ameaçados. - Dá uma pequena pausa. - Você é algum tipo de ameaça?

– Não sou. - Fica um pouco séria. - É claro que aquelas criaturas nos atacariam, estamos entrando sem permissão deles. Eles se sentem ameaçados.

– Ou talvez tenha sido por causa de você, Dio. - Sieghart comenta bem baixo.

O asmodiano não olhou ofendido para o moreno. Ele negou sério.

– Se fosse eu, teriam me atacado primeiro. - Olha para a loira. - Mas eles a atacaram primeiro. Ainda gostaria de saber do que se trata sua vinda aqui.

– É pessoal. E minha vinda aqui não é nada que seja proibido, se é isso que quer saber. - Volta a comer seu lanche.

Então Dio se cala. Volta a comer também, deixando Elesis tensa pela a situação. Não entendia por que tanta desconfiança que o asmodiano estava tendo com a garota. Ela achava que ele era o tipo que aceitava uma missão e não questionava. Estava enganada.

– Estamos muito longe do objetivo? - Pergunta Elesis para quebrar o clima.

– Creio que sim. Se pararmos para nos defender de um ataque acaba levando muito tempo. - Explica a loira. - Mas chegaremos lá se continuarmos nesse ritmo.

– Algum perigo maior irá aparecer?

– Veremos. - Ela responde calmamente.

***

Coçou o olho sonolento. Elesis não teve uma boa noite de sono sobre o gramado duro da floresta. Ficou a noite toda virando de um lado para o outro, tentando achar uma posição boa para dormir. Mas não encontrou nada além do incomodo. Ao contrário de Sieghart e Gaia, que adormeceram facilmente. Já Dio permaneceu despertado por alguns momentos, outros cochilando, tudo para não ser atacado de surpresa. Ele chegava a lembrar Lass desse jeito.

Agora o grupo voltava a seguir seu caminho. Gaia, como de costume, andava um pouco à frente, guiando o trio. Ela ainda preferia não dizer onde era esse lugar que tanto queria ir, e isso acabava deixando Dio nervoso. Às vezes, Elesis sentia ele encarar a loira.

– Meus pés estão me matando. - Diz Sieghart com a voz arrastada. - Vamos dá uma pausa!

– Não podemos. - Dio rugi.

– Por quê? Estou cansado.

– Isso não é por causa dessa grande maleta nas suas costas? - Elesis aponta. O rapaz carregava mesmo uma caixa bem grande nas costas.

– Bem, também. Mas estou mesmo cansado!

– Cala a boca! - Grita o asmodiano.

Elesis deu uma pequena risada ao ver Sieghart engolir o choro. A maleta em suas costas chamava sua atenção. Até agora não sabia o que havia ali dentro. Quando foi perguntar, é interrompida.

Os pássaros nas árvores voaram em susto ao ouvirem o estrondoso rugido. Elesis se agachou no chão em medo, Sieghart olhou em volta e Dio se aproximou de Gaia. Seus corpos tremeram por alguns instantes por aquele som. Então, o silêncio.

– O que foi isso? - Pergunta a espadachim, ainda agachada.

– Um... Rugido. - Diz Sieghart.

– Não diga! Quero saber de onde isso veio.

Ninguém respondeu. Elesis pretende se levantar, mas continuar em seu lugar quando uma ventania atingi onde eles estavam. Colocaram os braços cruzados na frente, se protegendo daquela ventania fraca. Só abaixaram as mãos após alguns segundos.

Seus olhares se voltaram para uma mesma direção. Subindo lentamente com suas enormes asas, aquele dragão olhava ferozmente para o grupo. Ele era grande, bastante grande, mas nada que fosse impossível de matar.

– Não sabia que existia dragões em Xênia. - Elesis comenta após ficar de pé.

– Não existia, mas de um tempo para cá, eles vieram para este continente. - Gaia explica. A pequena garota estava tensa com a situação. - E aqueles que vieram, não são qualquer um.

– Parece que esse cara não vai deixar a gente passar tão fácil assim. - Dio percebe só pelo o olhar da criatura. - Não teremos outra escolha.

– Tá falando sério? - Elesis olha surpresa. Pode ter enfrentado muitas coisas perigosas durante esses anos, mas um dragão nunca tinha acontecido. E se foi, era do seu tamanho.

Outro rugido foi solto. Dessa vez, o dragão avançava em suas direções. Se jogou contra o solo, o rachando em alguns cantos por seu tamanho. O trio grupo foi obrigado a recuar imediatamente, sendo Sieghart mais lento.

– Eléo, fique com Gaia! - Grita Dio, já de foice em mão. - Sieghart e eu damos conta disso!

– Certo!

Correu na direção da loira, aproveitando para tirar sua espada da bainha. Quando voltou a atenção para a garota, viu o rabo do dragão arrastando tudo pela frente em uma rasteira. Gaia seria acertada, Dio já tinha se distanciado para perto de Sieghart. A espadachim sentiu o coração acelerar ao máximo.

– Gaia! - Gritou pela a garota.

Antes de ser pega pela a enorme cauda da criatura, o corpo da loira é erguido de repente, escapando de ser pega. Elesis olhou confusa, logo percebendo que eram raízes que a puxava pelos os braços. Mas aquele não era momento para isso, agora era a vez da espadachim ser atingida.

Elesis deu o máximo para seu salto. Ela fez uma careta no processo, ainda sentindo seu tornozelo torcido. Por sorte, desviou à tempo, porém sendo acertada nas pernas de raspão. Seu mundo girou junto com seu corpo até cair de face no chão.

– Droga. - Murmura em dor.

Diferente da morena, Dio e Sieghart esquivaram à tempo, em seguida atacando. O asmodiano invocou suas pequenas esferas de energia e disparou contra o dragão. Pareciam que não iriam fazer efeito, mas funcionou de uma certa forma.

– Sua pele é coberta por uma dura escama. - Comenta Sieghart sério. - Cortes e magias não serão o suficiente.

– Alguma ideia em mente, então?

– Acho que sim. Mas seria mais fácil se tivéssemos o Lupus aqui.

– Mas não o temos. - Olha para Elesis caída no chão, ainda se levantando. - Eléo, tudo bem?

A espadachim faz um sinal positivo com a mão. O asmodiano volta a atenção para o dragão.

– Vamos impedir que ele voe. - Diz Dio de repente. Segura firme sua foice. - Eu cuido disso, você de feri-lo.

A grande maleta cai das costas de Sieghart. Ele abri um largo sorriso, botando a mala de lado. Dio disse mais alguma coisa para ele, porém o rapaz não ouviu, estava bem focado em como faria aquilo. O asmodiano se afastou para executar o plano.

– Pode vim, grandão! - Grita Sieghart. Aponta para o dragão em desafio. Conseguiu chamar a atenção dele. - Vou fazer picadinho seu.

O dragão rugiu outra vez. Ele ergueu sua pata, a jogando contra o moreno. Tudo que conseguiu atingir foi o solo, fazendo a poeira se erguer. Os reflexos daquela criatura eram lentos, então demorou um certo tempo até ver Sieghart alcançar sua boca e bater com sua maleta nela. Aquele foi um ataque apenas para provocar o dragão.

– O que esse idiota tá tentando fazer? - Elesis questiona de longe. Ficou de pé, mas demorou até voltar a andar normalmente.

Sieghart voltou ao chão, ainda com a maleta em mãos. Seu sorriso aumentou ao ver a criatura mais nervosa ainda. Finalmente, colocou a mala na sua frente, quase tendo seu mesmo tamanho, e assim a abrindo.

– Você parece um pouco nervoso. - Comenta em deboche. - Deixe-me o ajudar nisso, por favor.

Elesis parou de andar ao ver algo sendo retirado daquela maleta. Sieghart segurou com muita firmeza, usando bastante força para tira-lo de dentro. Com um pequeno chute, a mala é jogada de lado. Agora ele se sentia completo.

Os olhos da espadachim se arregalaram ao verem o tamanho daquela lâmina, da espada em geral. Era como uma montante, só que maior e mais detalhada. Preto, branco e azul eram as cores que tinha naquela arma, o que deixou a garota mais intrigada. Sua mente se clareou ao perceber que tipo de espada era aquela.

– Soluna. - Murmura sem reação.

Uma das três espadas lendárias estava ali, na mão do maior idiota que Elesis conhecia na vida. A espada a qual tinha duas lâminas em uma, algo totalmente absurdo para se usar por qualquer um. Sieghart era qualquer um em seus olhos.

Apoiou a espada sobre seu ombro e com a outra mão provocou o dragão. Seu sorriso não saiu do rosto, e sua pose desleixada não ajudava muito. As chamas roxas começaram a circula-lo sem fazer nenhum movimento.

– Tá esperando o quê?! - Grita Sieghart. - Tá com medido, é?


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Notas finais do capítulo

Review?
* Sim, Sieghart tem a Soluna nessa história, mas só agora que apareceu :3
* Lass quer mesmo matar a Edel, só para deixar claro.
* Gaia é uma boa pessoa... Acho.
* E nessa semana lançou os animes da temporada! EBA! Os animes que eu recomendo ver é a segunda temporada do Haikyuu!! (Kuroo, Akashi e Bokuto, só isso que eu digo. Quem leu o mangá sabe do que eu tô falando) e do Noragami (Também já li o mangá, então sei o que esperar :D). E, é claro, One Punch Man que vai lançar ainda. LEIAM E VEJAM, é muito bom. É muito sem sentido, mas é bem engraçado. Também lançou um spin off do Shingeki no Kyojin, que é bem fofinho. Vou ver.
Espero sair da depressão depois que o Gangsta acabou... Tisti! Felizmente, o mangá da Gangsta lançou! CARAI, É TETRA! Prometo que quando tiver essa delícia em mãos, tirarei uma foto e mostrarei a vocês :3



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