Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 84
Castigo: Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oláaahhhh, pessoal! Como vai a vida? Uma droga? Sei como se sente hehe Então, capítulo nada de grande hoje, porque eu quis fazer uma coisa mais light e calma... Mesmo que tenha algumas partes tensas nesse capítulo. O título já sugere tudo, não tem muito o que dizer.
Capa: Kaneki e... Kaneki (Tokyo Ghoul!!!! Yeeaahah. Tá, essa capa lembra a Elesis como Eléo e o Lass... É fofinho.)
Boa Leitura!



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Sentiu o peso da mochila em suas costas a incomodar, como se não desse para ficar pior. Estava com calor dentro daquele casaco e suas pernas doíam de tanto andar, e, é claro, a companhia dele a incomodava mais que tudo.

Sentiu a manga da sua camisa ser puxada levemente, assim olhando para trás. Uno fez alguns sinais com a mão, deixando a morena com um olhar mais cansado ainda.

– Use palavras. - Pediu exausta.

– Acho que ele está perguntando se você está bem. - Comenta Jin, ao seu lado. - Não está com uma cara muito boa.

Tinha esquecido que o ruivo fazia companhia. Na verdade, tinha até esquecido como havia parado ali, no meio de uma floresta enquanto andava eternamente.

Um dia atrás, Elesis tinha voltado para seu colégio como Eléo e feito algumas aulas, até que Grandiel chegou e pediu um favor a ela. "Uno não pode fazer uma missão sozinho, vá com ele", foram suas palavras muito bem educadas. A espadachim não podia simplesmente negar e dar as costas, tinha que fazer o que foi pedido, por mais que tivesse que passar horas ao lado daquela coisa, como ela julgava. Bem, talvez não pior que Zero.

Então, antes que fosse para essa missão, pediu a Jin que fosse junto com ela, para ajuda-la. O lutador não foi contra, até ficou alegre com uma missão para fazer.

– Eu estou bem. - Falou de voz arrastada. - Só estou com um pouco de calor.

– Por que não tira o casaco então? - Sugeriu.

Ela olhou zangada para o rapaz, que retribuiu com uma risada. Ele sabia muito bem por que usava aquele casaco, para esconder seu corpo feminino. Elesis mesmo tinha dito que não estava afim de ficar sem fôlego ao esconder os seios, já ficava a semana inteira, não queria ficar na missão também.

– Eléo não possui muita gordura no corpo, por isso que ele sente frio. - Diz Uno em um tom baixo. - Eu acho que essa é a explicação.

Elesis olhou nervosa para o garoto enquanto Jin gargalhava ao seu lado.

– Claro que não tenho gordura, - Comenta, em seguida levantando o braço e arregaçando a manga. Fez força em uma pequena montanha de músculo apareceu em seu braço. - porque eu tenho músculos! Forte, forte!

Jin riu mais ainda e Uno não expressou muito.

– Mais forte que você. - Debochou a morena sorridente.

Uno levantou o braço e fez o mesmo que a garota, porém tendo um músculo superior ao da mesma. Elesis olhou ferida, sentindo-se inferior.

– Eu não concordo. - Diz ele em inocência.

– Pare de se achar! Eu contínuo sendo bastante forte.

Cruzou os braços e olhou de lado, ignorando Uno. Infelizmente, Jin estava ao seu lado, erguendo os dois braços com um sorriso sem jeito. Ele é um lutador, claro que tinha aqueles enormes músculos nos braços, e pelo o resto do corpo.

– Parece que eu venci. - Sorriu contente.

– Não enche! - Gritou irritada, logo empurrando o ruivo no chão.

Era idiota querer competir com aquilo, com coisa de homem. Era uma garota, tinha que ser como uma, com um corpo delicado e sem muito exagero. Mas isso não encaixava na sua cabeça, queria ser um garoto, quer dizer, melhor que um.

– Que tal nos focamos na missão, hein? - Diz Elesis. - Se levarmos à sério, terminamos amanhã mesmo.

– É, pode ser. - Falou Jin após se levantar e voltar a acompanhar. - Mas ainda não entendi por que estamos desviando o caminho? Seria mais rápido se tivéssemos pegado aquela outra.

– Não, eu já disse que vamos pegar essa porque eu tenho uma coisa para fazer na cidade que estamos indo. - Jin e Uno olharam confusos. - E também, eu conheço alguém lá que pode nos hospedar nessa noite. Que tal, uma cama quentinha com comida e tudo de graça?

Concordaram com essa desculpa. Aliás, o dinheiro que iriam ganhar na missão não era grande coisa, por se tratar de um rank baixo. Daria nem para dividir com os três, teriam que rever isso depois.

– Certo, você nos convenceu. - Diz Jin. - Guie-nos até esse lugar.

– Ok. - Apontou motivada. - Vamos lá!

Enquanto andava um pouco mais à frente, Elesis pegou um papel dobrado em seu bolso. Era uma carta já aberta. Tirou outro papel de dentro e o abriu discretamente, tomando cuidado para não rasga-lo novamente, pois havia uma fita juntando as partes cortadas. Sua face se fechou ao ver a assinatura daquela mulher no final do texto.

Em suas mãos, lá estava o castigo que Cazeaje a dará. Tinha ido nessa semana no Conselho ao ser chamada por ela, assim recebendo sua vez de pagar. Ainda não conseguia acreditar no que tinha que fazer, vendo o que Cazeaje planejava com aquilo. Essa mulher mexia os pauzinhos conforme queria.

– Preciso ir mesmo na Guilda do Lass? - Se perguntou mentalmente. - E ter que pegar sua ficha escondida para ela?

***

Balançava a perna durante todo esse tempo, impaciente em ter que esperar. No final da semana, foi chamada para o Conselho, após tanto suspense. Pelo o que Lothos contará, Cazeaje não parecia feliz por Elesis ter fugido naquela vez, o que era de se esperar. Agora era só rezar para as Deusas e não receber um castigo crucial. Essa seria a primeira vez que veria Cazeaje depois de muito tempo.

– Aliás, por que você está aqui também? - Perguntou Elesis.

Do seu lado, de pé, Lass não parecia muito paciente pela a demora de ser atendido. Diferente da ruiva, o rapaz não estava ali para receber outro castigo, e sim para dar detalhes de como foi a missão dada a ele. Nada bem, só um gato preto me seguindo, era o que queria dizer.

– Fui chamado também, não me culpe. - Dizia sério. - Cazeaje quer saber se eu entreguei mesmo a carta. Parece que as palavras de Adel não são o suficiente.

Elesis o olhou por algum momento, tentando descobrir quem é esse Adel. Não conhecia ainda, para sua sorte. Quando voltou o olhar para frente, rangeu os dentes com a dor em seu braço. Pôs a mão delicadamente sobre a ferida enfaixada, a mesma que Lupus tinha piorado. Após aquela facada, suas noites tem sido difíceis. Dormir, tomar banho e até mesmo treinar são tarefas duras quando preciso usar esse braço. Tomar remédio ou poções estão fora de questão, por simplesmente não fazerem efeito.

– Não faça aquilo novamente. - Menciona Lass. Elesis o olhou, mas o rapaz continuou com o olhar fixo para frente. - Achei que estivesse mesmo precisando de ajuda.

Estava falando da tarefa de Astaroth que teve essa semana. A espadachim havia fingido por um momento estar ferida só para que Lass se aproximasse, no que deu certo. Ainda não se sentia culpada, mas o ninja não parece ter gostado muito de ter sido enganado.

– Eu não podia ficar parada e deixar Lupus ganhar. - Diz ela, voltando a olhar para o braço ferido. - E você virou o jogo, não reclame.

– Esse não é o problema.

– Então qual seria?

– Você está olhando para ele agora.

Ele ainda não tinha esquecido do braço queimado da garota. Ela passou o dedo sobre as faixas, um toque delicado para não sentir dor. Queria esquecer sobre aquilo mais que tudo, porém parecia impossível toda vez que suas feridas doíam.

– Irá sarar. - Garante a ruiva. Passou a mão no rosto, tentando esconder o corte em sua bochecha que ainda se curava. - Todos os machucados sempre somem.

Não disse mais nada. A olhou por um segundo e soltou um suspiro. Encostou-se na parede atrás e se agachou lentamente, até que ficou da mesma altura que Elesis sentada ao seu lado. A ruiva o olhou em estranheza.

– Então, você e o Ronan. - Diz Lass, agora a olhando.

– É, estamos juntos. - Ficou sem jeito ao falar, como ficaria com qualquer um. - Mas não me obrigue a falar disso com você.

– Me senti um pouco ofendido agora. Mas já contou isso para a Lothos?

– Por que para ela?

– Não sei, só acho que ela deveria saber. - Encosta a cabeça na parede. - Ou até mesmo Cazeaje.

– Não irei contar isso para ela. - Olha com nojo. - Ela deveria nem saber meu nome, muito menos isso.

– Pode ter razão, mas ela não ficará muito feliz em saber disso por outra pessoa. Do jeito que ela é, pode matar o Ronan para querer te atingir. - Soltou uma pequena risada quando viu a ruiva olhar assustada.

– Ela não faria isso! Ronan é o sobrinho dela, ao menos ela tem que ter uma humanidade. - Por mais que fosse difícil de acreditar, continuava a torcer por isso.

Com aqueles tipos de pensamento, Elesis afundou o rosto sobre os próprios joelhos colados. Seus cabelos cobriram sua face, escondendo o cansaço da mesma ao pensar naquilo.

– Queria que as coisas pudessem ser como antes. - Lass comenta.

Ao virar o rosto de lado, Elesis ver o ninja com os olhos fechados. Somente naquele momento que notou uma pequena marca roxa sob um de seus olhos. Devia ter tomado uma baita pancada ou caído em algum lugar. Mal sabia ela que aquilo tinha sido feito por Astaroth, após Lass ter tanto persistido em saber mais sobre a mãe dela. O professor ficou nervoso e em um momento de fúria, atingiu o ninja com o punho fechado. Não se desculpou, ele nunca se desculpava quando Lass fazia algo que merecia; Diferente de Grandiel, que chegava a ajuda-lo em momento assim.

– Quando diz antes, quer dizer quando?

– No começo de tudo. O único problema que tínhamos era esconder você no colégio, e só. - Suspirou. - Hoje temos que nos preocupar com as chamas, Cazeaje, Conselho, mais chamas e, é claro, Gerard.

– Eu me preocupava com Gerard muito antes disso, então... - Não continuou.

Lass abriu os olhos e virou o rosto de lado. A feição da ruiva mostrava tristeza, não só em lembrar do seu encontro com Gerard, e sim por tudo que aconteceu antes. O ninja sabia o que tinha acontecido, mas nunca sentiria a dor que ela sente.

– As coisas eram muito boas. - Diz, abrindo um largo sorriso. Se fosse antigamente, aquele sorriso nunca se abriria. - Até mesmo zoar o Jin era engraçado.

A ruiva não segurou, riu por um momento. Não se esqueceu de todas as vezes que o lutador sofria nas mãos deles, desde de se vestir de garota até... Até infinitas coisas.

– Você era muito frio com as coisas, demorou um certo tempo até ganhar confiança própria. - Falava Elesis. - Acho que até mesmo eu. De um tempo pra cá, consegui controlar minha raiva.

– Eu percebi. Meus hematomas têm desaparecido com o tempo. Você me batia por tudo.

– Você merecia! Tratava as pessoas como se fossem nada. - Se pudesse, apontava no meio do rosto do rapaz. - Mas fico feliz que isso tem acabado, principalmente sua relação com o Jin melhorou. Antigamente, você não aguentava olha-lo.

– As coisas não são diferentes de hoje. - Ainda não conseguia aguentar o lutador.

Elesis concordou. Quando ia dizer alguma coisa, o toque de seu celular a chamou a atenção.Levantou o corpo e pegou o aparelho, precisando nem abrir a mensagem para saber quem era. Fingiu ser nada de importante e guardou no bolso.

– Não vai respondê-lo? - Pergunta Lass. Sabia quem era só pelo o olhar da garota.

– Não no momento. Não quero que ele saiba que eu estou no Conselho. - Olhou para o lado e soltou um suspiro. - Ele iria vim e eu não quero coloca-lo no meio disso tudo.

– Uma decisão esperta. - Sentiu o olhar confuso da garota sobre si. - Quanto menos pessoa, melhor. Se bem que, Cazeaje só se importa com nós.

– Infelizmente. - Saiu como um sussurro.

Só o dois serem notados por Cazeaje não era uma coisa boa, pois ela só se importava com eles. Ela possuía um grande ego e desejo por todos poderes do mundo, como Gerard. Ambos não são diferente um do outro, possuem objetivos iguais e atitudes semelhantes. A única diferença era que cada um se odiava mais que tudo.

Lass se arrastou pela a parede e se levantou. Esticou as pernas enquanto andava para o corredor à frente.

– Vou tomar uma água. - Avisa já sumindo.

Elesis o impediria, dizendo que Cazeaje poderia chegar a qualquer momento, mas não fez. A demora que estava tendo para ser chamada a deixava em dúvida. Ela e Lass, seus favoritos, estavam ali para a ver, mas parecia que ela não se importava. Talvez tivesse um trabalho para se fazer no momento.

Para passar o tempo enquanto isso, pegou seu celular e o ficou olhando, decidindo se lia a mensagem ou não. Não sentia curiosidade no momento para saber o que Ronan tinha a dizer a ela. Pensava no que Lass tinha dito, em mantê-lo fora disso. Ele tinha razão, Elesis não queria colocar o rapaz nesse problema que pertencia a ela e o ninja.

– Parece pensativa, minha querida.

Um arrepio gelado passou por seu corpo. Ao levantar o rosto, se deparou com Cazeaje ao seu lado. Como sempre, tão alta e com um sorriso que provocava qualquer um no rosto.

– O-Olá, Dona Cazeaje. - Não sabia como reagir. Aquela sensação de medo tinha voltado. - Só estava pensando em uma coisa, nada de mais.

– Nada de mais? - Juntou as mãos perto de sua expressão graciosa. Ela agia assustadoramente estranho. - Como querer me matar?

Elesis ficou de pé em instante.

– Não, claro que não! - Já tinha pensado sobre isso, mas é claro que não iria admitir. - Nunca pensaria isso da senhorita.

– Mesmo? - Continuou a olha-la, testando a ruiva. Elesis afirmou e Cazeaje soltou uma rápida risada. - Estou brincando, só estava vendo se diria isso mesmo.

– Ah, entendo. - Força uma risada.

Sentiu uma forte vontade de se virar e sair correndo e não parar mais. Cazeaje a assustava com aquele jeito, fazia-a se perguntar por quê. Mas não demonstrou isso, fingiu uma expressão calma e firme. Não sabia o que ela pretendia, mas não iria cair no seu plano.

– Achei que o Lass viria com você. - Menciona ela. - Onde ele está?

– Ele foi tomar uma água. - Aponta na direção que o rapaz foi. - Já está voltando.

– Que pena, gostaria de falar com ele primeiro. Não vou perder tempo, depois o chamo. - Saiu andando. - Vamos, conversaremos na minha sala.

– É um pouco estranho vê-la fora de sua sala. - Diz Elesis ao segui-la. - É difícil a ver pelos os corredores.

– Minhas meninas estão de folga hoje, então tenho que sair andando por aí se quiser pegar algo que quero.

Estava tudo explicado. Devia ser ruim para a líder do Conselho ter que ficar fazendo esses trabalhos idiotas. Elesis deu uma risada interna, pelo menos a via sofrer por um pouco. Tinha intenção de perguntar por que deu folga para as garotas sendo que tinha ninguém para substituí-las, mas só em ver o jeito coitado que a mulher fazia, entendeu tudo. Queria ser uma boa líder, mostrava como era ser uma.

Sua língua coçou para sair da boca e ser mostrada para Cazeaje, mas se conteve.

– Você parece diferente. - Falou a Dona. - Algo de tão sério aconteceu?

– Nada, só estou um pouco cansada. - Segurou seu braço ferido. - A senhora que parece diferente. Algo aconteceu?

– Caçar o queridinho do Gerard é algo cansativo, você sabe disso mais que todo mundo, não é? - Um sorriso de lado apareceu ao sentir a ruiva soltar um pequeno rugido. Estava de costas para ela enquanto andava, mas sabia que a espadachim a olhava torto. - E também, comandar Canaban é outra coisa que cansa. Você e o Lass são outro problema, mas não os vejo assim. - Parou o passo e se virou para a espadachim, que quase se esbarrou na mesma. - Vocês são muito preciosos para mim.

Elesis deu passo para trás com um olhar tenso. Cazeaje sorria de forma convencida para ela, como se gostasse mesmo deles. Essa mentirosa, interpretava quantas faces quisesse.

– Preciosos, você diz. - Olha de lado. - Agradeço, acho.

Ela soltou uma risada em agradecimento. Elesis se segurava para não partir para cima da líder e arrancar a cara dela com os dentes. Porém, seu pensamento foi interrompido ao se lembrar de quando tentou fazer isso, no mesmo dia em que Cazeaje mostrou suas verdadeiras intenções. Ao tentar ataca-la naquele dia, uma rajada de vento voou contra si, que apagou suas chamas facilmente. Ela se sentiu vazia depois daquilo, sentiu medo do que mais poderia vim de Cazeaje.

– Eu quero o bem de vocês, meus queridos. - Continua o convencimento. - Se eu quisesse, as chamas azuis seriam livres, mas não posso fazer isso. O mundo estaria destruído se certas coisas não fossem proibida por mim.

A ruiva fez uma força e a olhou enquanto falava. Era tudo mentira, suas intenções sobre a magia dos outros eram outras. Se ela pudesse, já teria as chamas azuis em mãos, mas como não podia fazer o papel de pessoa má, fingia dar uma chance para Lass se redimir.

– Entendo seu pensamento. Tem toda razão. - Sua voz saiu fria e sem emoção, mas forçou uma expressão que disse o contrário. Cazeaje assentiu com um sorriso. - Há muitas coisas que devem ser apagadas do mundo.... - Sua expressão convincente se apagou, deixando a seriedade no lugar. - Como você, Dona Cazeaje.

O sorriso da mulher não se desmanchou, continuou após ouvir o comentário. Ficaram sem dizer nada por um tempo, uma olhando a outra com expressões opostas.

– Possui lindos cabelos, Elesis. - Diz de repente. - Nunca reparei nisso.

– Como? - Levantou a sobrancelha.

– Há tantas coisas que nunca reparei em você, como seus braços machucados. - Olhou de forma preocupada. - Algo de sério aconteceu?

– Foi só um machucado, nada para se preocupar. - Continuava a estranhar.

– Deixe-me ver.

Elesis continuou a desconfiar da atitude da líder.Não tinha ideia do que ela pretendia, então ergueu um dos braços para ela ver. Cazeaje olhou atenta, até esticar a mão para toca-la. A ruiva quis recuar, a líder nunca a tocaria sem motivo, alias nunca a tocou desde que a conheceu, sempre evitava isso.

Quando os dedos iam encostar nela, a mão da moça é parado ao ser segurado pelo o pulso. As duas olharam confusas, logo para Lass ao lado. O ninja exibia um semblante sério para Cazeaje, como se fosse uma ameaça. Não largou o pulso até que dissesse uma palavra.

– Ora, meu querido Lass. - Disse Cazeaje. - Achei que não o veria.

– É bom revê-la também, Dona Cazeaje. - Largou o pulso como se jogasse algo fora. Ela não o reprimiu por isso, só passou a mão onde foi segurada. - O tempo não a mudou, pelo visto.

– Agradeço o elogio, querido. - Aquilo não foi um elogio, mas ela fingiu ser. - Mas é uma pena, não poderemos continuar nossa conversa, tenho uma com a Elesis agora.

– Eu vou junto.

– Não, - A expressão da mulher mudou rapidamente. Disse seca. - você não vai.

Elesis não falou nada entre os olhares perigosos dos dois. Ela abaixou o rosto para seus braços enfaixados. Tentava entender o porquê de Lass ter a impedido de toca-la, além de ficar muito sério com aquilo. Queria perguntar, mas a voz da líder a chamou a atenção.

– Venha, Elesis.- Disse já indo na frente. - Lass, seja um bom garoto e espere aqui.

Ele não concordou com nada. A ruiva o olhou antes de ir, vendo sua expressão ainda de ameaça. Achou que receberia algum aviso do rapaz, mas tudo que ele fez foi olhar quieto e sair andando em direção oposta. Ele estava bem nervoso para dizer qualquer coisa.

– Lass está ficando mais teimoso a cada vez que o vejo. - Comentou Cazeaje ao entrar na sala, deixando a porta aberta para Elesis logo atrás. - Isso não é muito bom.

– Por que diz isso? - Perguntou a ruiva ao fechar a porta atrás de si. Sentiu-se incomodada em um cômodo fechado com aquela mulher

Após se sentar em sua mesa, Cazeaje disse:

– Você gostaria de um cachorro que roei a própria coleira?

– Hum, bem... - Não soube o que responder.

– Mas deixe isso para lá. - Se recostou na cadeira. - Sente-se, querida. Lhe darei o castigo.

A garota enrijeceu o corpo em tensão. Teve que dar uma beliscada discreta em si para acordar e andar até a cadeira. Ao se sentar, Cazeaje mexeu na gaveta em sua mesa.

– Não se assuste, não será nada físico ou doloroso. - Garante ainda procurando o que queria.

Não agradeceu, esperou receber o castigo antes de festejar. Cazeaje podia muito bem feri-la só com palavras. Manipuladora era uma espécie de brincadeira para ela.

– Dona Cazeaje. - A chamou de rosto abaixado. Apertou as mãos sobre seu colo, sentindo-se arrependida em começar aquilo. - Gostaria de pedir desculpas por ter fugido meses atrás. Estava passando por alguns problemas, como você tinha percebido, e acabei fugindo sem pensar.

– Lothos e eu já resolvemos isso, não se preocupe. - Tirou uma carta da gaveta e a pôs sobre a mesa. - Talvez essa fuga tenha sido bom para você. Sabe, esvaziar a mente.

– É talvez.

– Mas não vamos discutir isso agora. - Estica a carta para a garota. - Vamos falar sobre seu castigo. Como deve saber, Lass já recebeu e fez o dele. Agora só falta você.

A ruiva pegou a carta e a abriu quando Cazeaje deu um sinal de permissão. Leu o papel e abriu uma face em confusão. Olhou para a líder, em explicação.

– Aqui tem um lugar para eu ir. - Menciona Elesis. - O que tem nele?

– Esse lugar é a Guilda do Lass. - A ruiva olhou surpresa. - Quero que você vá lá, escondida, e pegue uma certa coisinha para mim.

– E que coisa seria? - Perguntou com receio.

– A ficha do Lass, é claro. - Jogou a mão de lado. - Não a tenho aqui, e se tenho, não possui informações que procuro dele. Nessa Guilda, com certeza tem o que eu quero. - Sorri. - Então, você, como uma boa garotinha, irá lá sem ser vista e pegará essa ficha para mim.

– Você tá falando sério? Eu não vou fazer uma coisa dessa! - Olha indignada. - Se quer saber algo do Lass, pergunte a ele mesmo.

– Você acha mesmo que ele diria? - A reprovou com o olhar. - E também, não quero levantar suspeitas quando colocar meu plano em ação.

– Que plano? - Se levantou da cadeira bruscamente. - O que você fará com o Lass?

– Não te interessa. - Sua aura se tornou ameaçadora. - E mesmo que interessasse, você não colocaria um dedo nesse plano, porque eu o quebraria. E lembre-se: Você fará o que eu mandar, sem questionamento.

Os dentes da espadachim ficaram à mostra quando a raiva tomava conta de seu corpo. Amassou a carta que segurava quando sua mão se fechou nela. Continuou de pé a encarando.

– Se continua com esse comportamento, terei que falar com a Lothos de novo. - Menciona dramática. Apoio o rosto sobre a mão. - Não quer que eu fale com ela, não é mesmo?

O que Cazeaje se referia a conversa, com certeza não era. Elesis já sabia disso, não por ver o estado da comandante, e sim pela a intensidade da ameaça que sentiu.

Ajeitou a cadeira atrás de si e voltou a se sentar. Tentou controlar a raiva quando Cazeaje voltou a falar.

– Nessa carta há tudo que precisa saber sobre a Guilda, onde fica e os integrantes que ela possuí. - Continuou. - Qualquer dúvida, é só consulta-la. Algo que queira saber?

– O que pretende fazer com essa ficha? - Não a olhou, se focava em suas mãos fechadas contra a carta.

– Já disse que não é da sua conta. Se não tiver mais perguntas, pode ir. - Sacudiu a mão. - Tenho que falar com o Lass ainda.

Elesis se levantou e foi até a porta. Se fosse dizer mais alguma coisa, seria palavras feias e sujas; Então preferiu não dizer. Ao tocar na maçaneta, a voz da líder a fez olhar sobre o ombro.

– Não conte para o Lass sobre isso. - Pôs o dedo indicado em seus lábios. - É segredo meu, seu e do Conselho, ninguém além disso pode saber. Não quero problema para resolver por causa de uma mal entendido.

– Certo, não contarei. - Rosnou e saiu da sala.

Sentiu um sorriso se formar nos lábios de Cazeaje quando saiu da sala. Era tudo que ela precisava, mais sobre Lass. Elesis não tinha nenhuma ideia de por que ela querer a ficha do rapaz, não sabia nem que ele tinha uma ficha. Talvez fosse feita por Grandiel ou Astaroth, que a escondeu em um lugar onde nem mesmo Cazeaje acharia; Mas ela achou. A ruiva começava a se sentir arrependida pelo o castigo que tomará, que agora fazia sentido porque se chamava assim.

Parou os passos lentamente até ver Lass sentando na banco, à espera de ser chamado. Ele a olhou rapidamente, logo se levantando para se aproximar. A espadachim quase recuou com isso.

– Já recebeu o castigo? - Perguntou o ninja. Elesis afirmou. - Então parece que não foi nenhuma surra.

– Cazeaje não gosta de fazer seus trabalhos com as próprias mãos, então é claro que não seria uma surra. - Forçou uma risada. Continuou sem olha-lo.

– Então, o que foi? - Não esperou uma resposta, viu a carta amassada na mão da jovem. Teve uma mínima noção do que poderia ser. - Parece que ela fará o mesmo com você. Ela vai te mandar para onde?

A carta se amassou mais ainda.

– Eu... Eu tenho que ver ainda.

– Sabe pelo o menos sobre o que é?

– Desculpe. - Lass estranhou. - Não posso contar. É pessoal.

Ficou um longo silêncio entre eles. Elesis não viu a expressão do rapaz, mas com certeza ele estava nada feliz por ouvir aquilo. Não sabia se era porque ela não queria contar ou se Cazeaje tinha a proibido.

– É perigoso? - Ela negou. - Bem, então você conseguirá fazer.

– Acho que sim. - Balançou os ombros. Algo dizia que ela conseguiria nem se mover para sair do Conselho. - É melhor você ir ver ela logo, não a deixe esperando.

– É melhor mesmo. - Passou por ela, mas parando. - Se quiser, pode me esperar para a gente voltar junto para o colégio. Talvez Grandiel ou Astaroth possam te ajudar com esse castigo.

– Não precisa, tenho muita coisa para fazer. - Forçou a voz em animação. Permaneceu parada e de costas para ele. - Ajudar as garotas, ver a Lothos, fazer alguns deveres. Enfim, tenho que ir logo. - Outra risada forçada.

O olhar de Lass sobre suas costas a pesava a consciência. Não queria olha-lo, nem ver sua expressão.

– Tudo bem. - Ouviu a voz dele, finalmente. - Tome cuidado no caminho.

Ela assentiu. Os passos do ninja se distanciaram conforme ele seguia o corredor, até o silêncio tomar conta do lugar. Elesis não disse, não se moveu e nem respirou direito. Os pensamentos dela estavam ocupados demais sobre o castigo que tomará. Só em pensar que estaria entregando informações perdidas do ninja para Cazeaje, de bandeja, a enjoava. Ainda não tinha pensado em nada para ela querer aquela ficha, mas o olhar dela dizia que não era boa coisa. Elesis sentia isso.

Tudo bem que seu relacionamento com Lass não ia bem como sempre foi no passado, mas isso não quer dizer que poderia trair o amigo. Ambos tinham criado um laço que os protegia de qualquer ameaça que viria para eles. E lá estava Elesis quebrando totalmente o laço ao fazer aquele castigo, o mesmo que enfiar uma faca nas costas do rapaz. O pensamento de que aquela fichar poder mudar todo o rumo da história fazia a ruiva se desesperar. Não era uma pessoa de traição, nunca foi. Preferia ser traída do que fazer isso. Bem, ela já tinha muita experiência com traição.

Segurou a carta com ambas mãos e a amassou, logo a rasgou no meio em raiva. Seus dedos apertaram com força o papel, fazendo-o sumir entre eles. Começava a ranger os dentes, evitando que gritasse em fúria. O plano de Cazeaje não saía de sua cabeça, e nunca sairia depois que as consequências viessem.

– Maldita. - Murmurou com a voz arrastada.

Se agachou no chão e o fitou furiosa, até que sua expressão ganhasse um tom de tristeza. A ficha que entregaria a Cazeaje poderia fazer ela ganhar o poder que queria: Ter as chamas para si, ou fazer Lass logo seu soldado. Se fosse uma boa amiga, teria contado a ele sobre isso, avisado, mas nem isso ela prestava. O ninja, futuramente, poderia ser morto por causa daquilo, e Elesis era a única que podia evitar... Mas se não fizesse, Lothos pagaria por isso novamente.

Cazeaje mexia os pauzinhos conforme o jogo avançava. Se ela quisesse, colocaria Elesis contra Lass e vice versa. Ela adoraria ver uma briga entre eles.

***

Elesis e os dois rapazes continuaram o caminho sem questionarem, por mais que tivesse que desviar do caminho. Durante isso, continuaram a conversar para se distraírem um pouco. Elesis queria algo para ocupar sua mente em vez de ficar pensando em Cazeaje. Desde aquele dia, a ruiva fez o possível para evitar Lass e ter que contar sobre o que era seu castigo. Até mesmo deixou de contar para Lothos, tendo que ter contado a desculpa de ser pessoal.

A garota foi segurada pela a ponta do casaco, olhando para trás e se deparando com Uno. Pararam de andar ao verem o olhar atento do rapaz para todos os cantos da floresta.

– O que foi? - Perguntou a espadachim.

Ele não respondeu. Não precisou de uma resposta quando teve um sentimento de ser observada. Sua face mudou rapidamente, como a de Uno. Sua mão automaticamente foi para o cabo da espada, a apertando com firmeza.

Não demorou até que os arbustos se movessem com a saída das pessoas escondidas. Homens com aparências nada agradáveis, além das armas nas cinturas. Elesis os viu e soltou um leve suspiro em alívio, parando de apertar o cabo da espada. Achava que era alguém mais preocupante.

– Vocês são muito idiotas para virem por uma rota dessas. - Comenta um dos rapazes, parecendo ser o líder do grupo. - Há muitos ladrões por aí, crianças.

– Não nos importamos com isso. - Fala Jin de sobrancelhas sérias. - Não temos medo de ladrões como vocês.

– Não somos ladrões. - Olhou insultado. - Caçadores é um nome mais bonito.

Era uma raça similar a de Lupus. Elesis fechou o punho em raiva, lembrando-se do seu machucado no braço quando ele deu.

– Vamos encurtar o nosso papo e ir direto no assunto. - Falava o líder. - Passem tudo quem têm e ninguém sai ferido.

Um longo silêncio até Jin e Elesis começarem a gargalhar alto. Uno não riu, mas também não se sentiu ofendido com a ameaça. A dupla continuou rindo, não conseguindo acreditar no que ouviam. As mesmas pessoas que já encararam as piores coisas do mundo e sobreviveram, como as chamas e a Gerard, estavam sendo ameaçadas por caçadores. Realmente, era um piada.

– Por que estão rindo?! - Gritou o líder nervoso. Apontou para Uno. - Diga, o que eles acham tanta graça?

Uno nem mesmo sabia. Deu de ombros.

– Vocês querem enfrentar a gente? - Pergunta Elesis após rir. Um sorriso sádico tomou conta de seu rosto. - Tem certeza?

– É claro, criança. - Sorriu também. Fez um aceno com a mão e seus parceiros pegaram as armas em ameaça. - Temos certeza. Pelo visto, vocês não cederão.

Elesis não usou palavras para provocar o líder. Ele se irritou e deu um rápido sinal para todos avançarem. A morena se animou ao ver todas aquelas pessoas vindo em sua direção com armas bem afiadas.

Como um passo para dançar, Elesis tirou a espada da bainha e avançou contra os rapazes. Jin e Uno não precisaram de ordens para fazerem o mesmo.

Em giros graciosos, a espadachim fazia cortes necessários para fazerem os caçadores rugirem de dor e caírem no chão. Enquanto continuava a avançar, percebeu o lutador acertando golpes únicos e apagando como ela fazia. Elesis sorriu com a sincronia que possuíam, mesmo depois de muito tempo. Com isso, olhou para Uno preocupada, achando que ele estaria tendo problema em se defender; Estava errada.

O rapaz permanecia com um olhar tristonho enquanto lutava. Ficava parado enquanto seu sangue cortava a todos que se aproximavam dele. Os caçadores pararam de avançar contra Uno, assim correndo para longe dele. Suas fugas não seriam fácil quando ele correu até eles, usando o sangue para ataca-los. Não sobrou nenhum consciente após o ataque do rapaz.

– Olha só! - Exclama Elesis. Apoiou a lâmina da arma sobre o ombro e levantou e mão livre, mostrando todos os caçadores apagados. - Parece que vencemos.

O líder tinha sido o único a não ser atacado, ele tinha ficado fora da luta, observando assustado para o trio. Suas pernas tremeram quando a direção dos três foram para ele. Não sabia o que fazer, se corria ou lutava.

Elesis esticou a espada para o lado, fazendo um arrepio passar pelo o corpo do rapaz.

– Peguem os dinheiros de todos . - Manda a garota. Jin e Uno olharam confusos. - Agora!

Não sabiam o que a espadachim pretendia fazer, mas fizeram. Foram nos corpos de cada caçador abatido e tiraram suas moedas de ouros deles. Enquanto isso, Elesis apontou a ponta da lâmina para o líder.

– Passe o seu também.

– Você por acaso ficou maluco, garoto?! - Gritou indignado. - Não vou passar nada!

– Então diga adeus para o seu braço. - Sorriu.

O rapaz recuou rapidamente, dando tempo de fugir da lâmina que passou perto de seu corpo. Estava tão assustado que tropeçou nos próprios pés, caindo de bunda no chão. Tentou se arrastar, mas a ponta da espada sendo enfiada na terra, quase entre suas pernas, o paralisou. A espadachim se apoiou na arma e o olhou bem.

– Não repetirei. - Elesis falava com toda graça do mundo. - Passe todo seu dinheiro, por favor.

Demorou para que suas mãos trêmulas se movessem até seu bolso e tirasse um bolo de notas douradas. A morena olhou surpresa ao ver o brilho do dinheiro. Aquelas notas eram raras de se verem, eram foliadas a ouro e outro elemento caro, portanto, uma dela valia mais que um boco de moedas. Elesis não se conteve e pegou bruscamente de sua mão.

– Uau, você é um belo de um bandido mesmo. - Olhava com olhos brilhando para as notas. Desenrolou o bolo e começou a passar uma por uma pelos os seus dedos. - Quantas pessoas que sofreram para ganharem só uma disso e você faz questão de rouba-las. É uma pena.

– Você já tem o que quer, agora vai embora.

A morena riu baixo, pondo o leque de notas douradas na frente da boca. Abaixou o rosto, para que ele a visse melhor. Tinha fechado os olhos enquanto ainda ria, mas parando ao mostrar seu olhar avermelhado e sério. Berserk assustava muitas pessoas, e ele não seria diferente.

– Quem disse que eu quero seu dinheiro sujo? - Sua voz saiu em nojo, quase cuspindo na face do líder.

– Se você não quer, porque o pegou então?

Um sorriso se abriu novamente na face da garota. Ela se desapoiou da espada e a tirou do chão, assim, andando para perto dos rapazes.

– Responda!

– O que fazer com tanto dinheiro? - Provocou o rapaz. Deu um giro e continuou a se abanar com as notas. - Bem, sempre quis fazer uma coisa.

Antes que pudesse ser julgada, Elesis arremessou as notas para cima. A garota se divertia com a chuva dourada de dinheiro sobre ela e os rapazes. Ao mesmo tempo, passou a espada rapidamente sobre ela, fazendo as chamas vermelhas consumirem as notas que continuavam a cair. Todas pegaram fogo imediatamente, até mesmo as que tinham caído no chão.

Tcharam! Elas sumiram. - Riu com as cinzas caindo ao seu lado. - E nunca vão aparecer novamente.

O caçador olhava incrédulo para as notas se queimarem até restarem nada. Quanto trabalho que teve para conseguir tudo aquilo, e lá estava Elesis destruindo todo o esforço que teve. A risada da garota também o irritava, olhava para ela como se a mesma fosse insana.

– Eu vou matar você e seus amigos. - Disse o rapaz furioso. - Vão ter que pagar por cada nota dessa.

– Uhh, que medo. Jin, corda.

O ruivo tirou de sua mochila uma corda que levava, caso precisassem. A espadachim pegou e andou em direção ao caçador, dando chance nem de ele fugir. O jogou contra uma árvore e o amarrou ali mesmo, com os braços imobilizados pelos os nós da garota.

– Boa sorte se conseguir sair daí. - Debochava enquanto se afastava. Ao se aproximar do rapazes, apontou para eles pegarem as sacolas de moeda. - Estamos de partida!

Quanto mais se afastavam, menos ouviam a voz do caçador ao fundo. Ele queria a qualquer custo ter seu dinheiro de volta, mas não iria conseguir com aquele trio por perto.

Felizmente, nunca iriam se encontrar novamente.

***

– Achei que íamos ficar com o dinheiro. - Diz Jin.

Andaram um longo caminho até que chegassem perto da cidade que Elesis tinha falado. Quando estava passando por uma ponte sobre um rio, a espadachim apontou para a sacola do ruivo, pedindo para que ele a desse. A garota pegou e abriu, assim despejando todas as moedas naquele mesmo rio.

– Esse dinheiro não é nosso, e com certeza não é deles. - Comenta ao balançar o saco, tirando as últimas moedas que restavam. - Então eu deixarei essa parte para as Deusas decidirem o que fazerem. - Olhou sorridente para seu reflexo na água.

– Nunca achei que fosse abrir mão de dinheiro, mas fico feliz que pense dessa forma.

Elesis olhou ofendida. Arremessou a sacola para fora da ponte, soltando um ar pesado de alívio. Voltou a andar.

– Já é tarde, temos que chegar logo na casa que eu te falei. - Menciona a espadachim à frente.

Não ouviu os rapazes discutirem, felizmente. O caminho todo foi silencioso, principalmente na parte da Elesis. A garota passava pelas as ruas agitadas da cidade e automaticamente se lembrava da tragédia que teve meses atrás. Sangue, dor, vozes preocupadas e muitas coisas vinham em sua mente, lembrando daquele dia. Teve que se segurar para não cair no chão em depressão novamente.

Seus pensamentos foram interrompidos quando Uno a puxou pela a manga do casaco. Já tinha até se acostumado com o jeito quieto do rapaz.

– O quê? - Ele apontou para a sacola que segurava. Elesis não tinha jogado aquela no rio. - O que eu vou fazer com ela? Hum, estava pensando em passarmos num restaurante muito caro que tem aqui para comermos. Sempre quis ir em um lugar desse.

– Comida cara? - Jin babava só em pensar. Afirmou sem pensar duas vezes. - Vamos, vamos!

Uno também concordou. O trio rapidamente tinha ficado animado com a ideia de comer algo delicioso, mas pararam ao ouvirem algo estranho. Era uma voz de choro em meio a toda alegria da cidade naquela tarde. Logo o sol iria embora e aquela alegria sumiria.

– Ali. - Sussurra Jin, apontando para um beco escuro.

Sentada em meio a sujeira, uma garota encolhida abraçava seus pernas e chorava com o rosto abaixado. Ninguém tinha percebido ela ali, e se perceberam, a ignoraram. Seus braços à mostra tinham arranhões e hematomas grandes, sem falar de suas pernas do mesmo jeito.

Jin foi na frente, logo Elesis e Uno atrás.

– Eh, tudo bem? - Perguntou preocupado.

Os soluços diminuíram ao ouvir a voz do rapaz. O rosto da garota demorou a se levantar para olha-los. Quando finalmente tiveram visão da face dela, olharam assustados. Mais hematomas e machucados por seu rosto que já foi belo. Elesis se conteve para não olhar brava.

– Quem são vocês? - Ela perguntou com a voz fraca.

Jin iria responder, mas Elesis o repreendeu com um olhar.

– Quem fez isso com você? - A espadachim perguntou.

– Nin-Ninguém. - Olhou para os pés descalços. - Eu só caí.

– Foi uma queda e tanto. - Deu uma rápida olhada para o lados e viu nada que podia ter feito isso àquela garota. - Tudo bem, não precisa nos contar se quiser.

Ela não respondeu imediatamente, ficou fitando o chão em silencio.

– Foram uns homens... Acho que eram bandidos, mas diziam serem caçadores. - Abraçou com mais força suas pernas. - Eu disse que não tinha dinheiro, mas eles persistiram...

A garota voltou a chorar. Suas grossas lágrimas machucavam quando escorriam sobre seus hematomas.

Elesis a olhava séria, sem dizer uma única palavra. O corpo daquela garota era frágil para se defender e lutar, foi covardia daquelas caçadores fazerem isso. A espadachim imaginava o que podia ter acontecido de pior, mas parou quando a raiva aumentou o suficiente. Sempre foi de proteger suas amigas não importa o que fosse, e ver aquela garota daquele jeito a apertava no coração.

Esticou a mão e tirou a sacola das mãos de Uno. Se aproximou dela e jogou o saco cheio de moedas aos pés dela. A menina parou de choramingar e olhou confusa.

– Isso é mais que suficiente para você sair dessa cidade e ter uma vida boa. Aqui é lugar de guerreiros e magos, e não para uma pessoa como você. - Sem notar, ofendeu a menina com as palavras rudes. - Recomponha-se e vá viver sua vida.

– Você irá me dar todo esse dinheiro? - Olhou surpresa, por mais que fosse difícil expressar. - Não posso aceitar, nem ao menos o conheço.

– Não precisa. Aceite o dinheiro e o use como quiser, não me importo. - Deu alguns passos para trás. - Lute pelo o que quer, ficar chorando aí não a trará nada. - A garota ia persistir, mas Elesis continuou. - Não agradeça, você não precisa.

A garota assentiu lentamente. A morena deu meia volta e saiu andando, sem falar nada. Ela não estava bem ao ver o estado daquela garota, por isso que foi breve com as palavras, para evitar qualquer emoção fora de controle.

A garota puxou a sacola para mais perto e deu uma breve abertura, vendo o brilho das moedas reluzirem contra ela. Se pudesse, sorriria, mas sua face machucado não permitia. Antes que dissesse algo, uma coisa quente ficou sobre seus ombros. Ela olhou para Jin, que tinha tirado seu casaco e colocado sobre as costas da mesma.

– Você terá uma longa viagem, então é melhor levar algo para se aquecer. - Falou o ruivo sorridente. - Boa sorte.

Ela acompanhou com o olhar o ruivo correndo atrás de Elesis, logo à frente. Puxou o agasalho para mais perto e sentiu o calor que ainda restava no tecido pelo o lutador. Olhou para o lado e viu Uno a esticar um pequeno pote quieto. Pegou o objeto sem jeito, o abrindo e percebendo que era uma pomada para feridas. Quando voltou o olhar para o rapaz, ele já estava longe com a dupla.

– Obrigada. - Disse ela em um tom baixo o suficiente para que não machucasse sua garganta. Então sorriu.

***

– Ah, e lá se vai nossa chance de comer naquele restaurante. - Lamenta Jin.

Continuaram o caminho em silêncio, somente depois de um tempo que a ficha caiu.

– Mas fizemos o certo. - Diz Elesis tentando não se sentir triste. - Ela precisava mais do que a gente.

Os dois concordaram, embora quisessem negar. Estavam sem dinheiro, apenas com alguns para poderem voltar da missão. E o dia já estava quase terminando, logo o céu ficava alaranjado.

– Então, quando chegamos nessa casa que você falou? - Pergunta o ruivo.

Deram alguns passos à frente e pararam quando Elesis parou de frente para uma casa... De bolinhos. Jin e Uno olharam confusos, mas não julgaram, esperaram alguma resposta da garota.

– Chegamos.

– Então é aqui mesmo. - Sussurra o lutado ainda sem acreditar.

A espadachim bateu na porta e esperou por um longo momento. Achou que tinha ninguém em casa, até já estava desistindo de esperar, porém a porta se abriu. Quando viu a pessoa do outro lado da porta, abriu seu maior sorriso convincente.

– Posso ajudar? - Perguntou Royal, confusa ao ver aquelas pessoas que nunca viu na vida.

– Sim, sim, você pode nos ajudar! - Falava animada. - É que gostaríamos de ficar uma noite aqui, Royal.

A loira olhou mais confusa ainda, ficando sem o que dizer.

– Desculpe, eu o conheço?

– Chega a ser uma ofensa para mim. - Esticou o rosto, pondo a mão sobre um de seus olhos, o mesmo que ficou enfaixado por semanas. - Você até salvou a minha vida um tempo atrás.

A face sem compreensão da loira logo sumiu, deixando a surpresa tomar conta. Ela tinha notado quem era a pessoa sob aqueles cabelos pretos. Mas continuava sem entender muita coisa, principalmente pela a presença de Jin e Uno.

– Então, - Elesis riu sem graça, mas permanecendo com a mão no olho. - podemos ficar aqui essa noite?


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Notas finais do capítulo

Review?
* Cazeaje pode provar que é uma desgraçada de marca maior com muito estilo. Sim, o castigo que ela deu é algo... Sério!
* Royal voltou, mas não pretendo deixa-la muito tempo, ok?
* Esse castigo não vai demorar muito, garanto! Ele já acaba no próximo por ser bem simples, mas problemático no futuro.
* Sem muito o que dizer.... Issae!