Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 71
Feridas


Notas iniciais do capítulo

Olháhhhhhh! Tudo bão?! Quero já começar falando, quer dizer, agradecendo à Cutulo110 (Obrigadão ♥ Você fez meu dia hehe). Enfim, o capítulo tá bem light comparado ao do passado, então não tenho muito o que dizer. A capa do capítulo já defini Tudo! Próximo capítulo será mais treteiro, então...
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346733/chapter/71

Sentia como se tudo em sua volta estivesse contra ela. Seus passos trêmulos andavam sobre o chão com uma tremenda dificuldade, como se ele fosse afundar a qualquer momento. Sua respiração saía queimando, fazendo sentido para a fumaça que exalava. Sua consciência se apagava automaticamente de vez em quando, porém acordando quando se lembrava de algo:

– Continuar... Andando... - Murmurou.

Por causa do frio, as dores em suas feridas nem existiam mais. Sabia que tinha perdido um dos olhos, além de seu corpo completamente acabado, isso fazia a ruiva sentir dores imaginárias, criadas por sua mente. O peso em suas costas não ajudava muito, mas não poderia simplesmente deixá-lo para trás.

Lass tinha apagado desde de então, fazendo a espadachim o carregá-lo em meio àquela nevasca. Queria poder dar um de seus agasalhos para o ninja, mas o frio que sentia a fazia desejar por mais. Por mais que tenha andado, não conseguia achar um lugar para se abrigarem, tudo que via era apenas branco e mais branco. Às vezes parava de andar só para recuperar o fôlego, e durante isso, apagava em pé.

Mal sabia ela que tinha se passados mais que horas enquanto andava. Achava que o dia demorava para passar, já que via só luz, porém como Elesis apagava sem perceber nem percebia o dia passando, tendo uma sensação de que nada havia mudado.

Para sua sorte, o corpo do ninja a esquentava pelas as costas. Lass estava quente, o que era estranho para a quantidade de agasalhos que o mesmo tinha no meio de todo aquele frio. Se não fosse por seu estado, Elesis estaria questionando seriamente se fosse as chamas que estaria fazendo aquilo. Ela tinha medo de pensar.

Largou Lass de repente, logo caindo de cara na neve. Se encolheu no chão, nem se importando se o ninja teria ou não se machucado na queda. Com sua única mão boa, a tocou em suas pernas, fazendo uma grande careta de dor ao sentir dor no local. Sentia seus pés cheios de calos e, provavelmente, com cortes provocados pelos os mesmos. Sentia suas pernas dando espasmos, mostrando que estavam no limite.

Não conseguia mais levantar, e também não queria. Gostaria de desistir, ficar naquela neve para sempre. Talvez morrer congelada ou devorada por lobos, o que vier primeiro.

– ...Sis! Ele.. Sis! - Ouvia alguém chamá-la.

Em meio à sua visão turva via algo se mover pelo o branco da névoa. Lentamente se aproximava, era o que a ruiva via. Antes de apagar, viu as botas da pessoas. Bonitas botas, pensou Elesis.

***

Seu corpo balançava a cada passo que a pessoa que a carregava dava. Abriu seu olho lentamente, conseguindo enxergar o céu estrelado pela a noite. Não sentia mais frio, não como antes. Seu olhar desceu para o lado e conseguiu ver casas pela a rua que passava.

– Elesis, você consegue me ouvir? - Ouviu a voz daquela pessoa falar outra vez. - Acorde!

A pessoa que falava parecia está um pouco distante, diferente da pessoa que a carregava. Ela tinha cabelos castanhos, percebeu.

Sentiu o frio sumir de seu corpo ao entrar dentro de uma casa. A luz do lugar fez a ruiva não reconhecer onde estava. Sua mente estava tão desligada que nem sabia qual era seu próprio nome.

Sentaram a espadachim. Seu corpo estava mole, fazendo a mesma cair para o lado, porém sendo pega a tempo antes que caísse. Foi segurada pelo o rosto, dando leves tapas para que ela acordasse.

– Ela não está consciente. - Disse a pessoa que a segurava. - E quanto ao Lass?

– Ele está em um estado pior, precisa ser tratado imediatamente. - Falava a outra. - Vá na dispensa e pega a maleta!

– Certo.

Seu rosto foi solto com cuidado, o deixando caído de lado. Mesmo com a visão embaçada, conseguiu enxergar Lass. Ele estava sendo carregado nos braços da moça loira. Logo eles sumiram de sua visão quando ela subia as escadas com o ninja.

Em minutos, a moça loira desceu sem o rapaz nos braços dessa vez, indo direto até Elesis. Segurou o rosto da ruiva, a olhando seriamente.

– Elesis, acorde. - Falava ela. - Você precisa ficar acordada!

– Loyal... - A chamou ao se lembrar do nome dela. - Onde...?

– Está em casa, querida. Tá tudo bem agora. - Dizia aliviada ao ouvir a voz da espadachim. - Mas preciso que fique firme até que eu cuide do Lass, ok?

– Ele... Tá bem?

– Não. - Nega com um certo receio. - Por isso cuidarei dele até lá. Enquanto isso, Sena irá cuidar de você.

A mão da loira desencostou de seu rosto, logo ela se afastou. Sena chegou com uma maleta, entregando para Loyal, que rapidamente pegou e foi para o segundo andar. A morena tinha pego uma outra pequena maleta, assim se aproximando da ruiva perto da mesa.

– Elesis, o que aconteceu? - Perguntou Sena. - Você e o Lass estão muito feridos.

A espadachim nem ouviu a pergunta, estava concentrada em como foi parar ali. Aos poucos as memórias retornavam, porém isso não a assustava ou a deixava surpresa. Sua expressão se mantinha neutra mesmo com tudo aquilo que aconteceu.

– Loyal estava muito preocupada com vocês, sabia? - Continuou Sena. - Não parava de falar que estava tendo um péssimo pressentimento.

A ruiva olhava aleatoriamente, ainda com sua mente em outro lugar. Fez uma careta quando é tocada no pulso torcido. Parece que aquilo tinha a acordado. Olhou para Sena ainda com a expressão de dor.

– Me desculpe. - Pediu ela.

Elesis iria dizer algo, mas é interrompida imediatamente pela a voz de Loyal no segundo andar.

– Sena, venha me ajudar aqui! - Pedia a loira. - Rápido.

– Estou indo! - Olhou para Elesis. - Fique aqui, eu já volto.

Não confirmou e nem prestou atenção no que a morena disse, ficou com o olhar fixo em seu pulso roxo. Ouviu os passos de Sena subindo a escada, mas mesmo assim continuava a pensar no que tinha acontecido.

Lembrava da voz de Gerard em sua mente, de seu rosto e principalmente do sorriso. Colocou a mão em seu olho ferido, o apertando firme como se aquilo adiantasse tirar seus pensamentos. Não sentia dor no momento, talvez o frio tivesse feito aquilo com ela, ou talvez até mesmo ainda estivesse em estado de choque e não acreditasse que aquilo tinha acontecido.

Demorou um certo tempo até ouvir os passos das duas descerem. Tinha tirado a mão de seu olho, agora mantinha a atenção outra vez no pulso torcido. Levantou o olhar e viu Loyal andando até ela. Elesis ficou assustada em vê-la.

Sua roupa estava suja de sangue, não muito, mas o suficiente para deixar a espadachim tensa.

– Como que ele tá? - Perguntou a ruiva.

– Ele vai ficar bem, não sei quando, mas vai. - Sua voz parecia cansada.

– Sua roupa...

– Problema com as chamas. - Dizia enquanto pegava uma cadeira e colocava na frente de Elesis, se sentando em seguida. - Quando Lass fica nesse estado é muito provável que as chamas se libertem, e não foi diferente dessa vez.

Elesis olhou preocupada.

– As chamas tentaram se libertar?

– Estavam mais querendo tomar o controle do corpo do Lass. Eu coloquei um selo que é o suficiente para segurá-lo até lá. - Bateu com as mãos nas próprias pernas. - Então, agora é sua vez de eu cuidar. Deixe-me ver esse olho.

Quando a loira esticou a mão, Elesis deu uma recuada discreta. Com cuidado, Loyal tirou sua franja da frente, tendo uma visão melhor do ferimentos. Percebeu que não estava nada bem quando viu a expressão de nervosa da loira.

– É, não parece nada bonito. - Menciona ao solta a franja. - Terá que limpar e enfaixar antes que infeccione, e você não gostará nada de ver como ficará se isso acontecer.

O olhar de Loyal desceu ao perceber um corte na roupa de Elesis. Colocou a mão e percebeu que estava um buraco, como se tivesse sido queimado. O abriu e ficou assustada ao ver uma cicatriz no meio do peito da ruiva.

– Isso aqui não estava antes de tudo isso acontecer. - Fala Loyal séria. Suspirou e soltou a roupa da garota, logo se levantando. - Sena, limpe as feridas da Elesis enquanto eu faço uma ligação.

A morena assentiu, em seguida se sentando no lugar onde a loira estava.

Elesis estava com um olhar vazio desde que lembrou de sua cicatriz no peito. Tinha feito aquilo, por quê? Para deter Gerard, para impedi-lo de matar Lass. Muitas coisas tinham acontecido, sua mente pesava como seu coração.

– Tudo dói. - Fala Elesis. Sena a olhou confusa. - Por quê? Como que eu faço isso parar?

Sentia seu sangue esquentar, e junto com ele a dor de suas feridas vinha. Seu olho começava a queimar, seu pulso a ficar dolorido e seus outros machucados a exclamarem em dor. Mas essa não era a dor que Elesis falava, e sim de outra.

Colocou a mão no peito e o apertou.

– Principalmente aqui. - Dizia com a voz trêmula. - Meu coração dói. Eu quero que pare! - Se levanta de repente, saindo andando em pequenos passos.

– Elesis! - Chama Sena. - Pra onde você vai?

Sem dizer nada, a ruiva saiu de casa. Loyal, que estava no telefone, olhou imediatamente para a espadachim indo embora. Iria atrás de Elesis, porém para ao ouvir a voz do outro lado da linha.

– Ah, oi, Lothos. - Falava nervosa. - Sim, sou eu, Loyal. - Coloca o telefone no peito, olhando para Sena. - Sena, vá atrás dela e a traga de volta. Se for preciso, traga à força.

– Certo!

Se levantou de seu lugar e correu para o lado de fora enquanto Loyal voltava para sua ligação. Saiu da casa e se deparou com a rua vazia. Olhou desesperada para todos os lados, até conseguir ver os cabelos ruivos de Elesis em uma direção.

– Elesis! - Gritava a morena enquanto corria atrás dela. - Por favor, volte!

Quando se aproximou da mesma a pegou pelo o pulso, a virando rapidamente. Elesis se contorceu em dor ao ser segurada em seu pulso torcido, que foi solto quando viram sua expressão de dor.

– Me desculpe. - Pede Sena. - Olha, você tem que voltar para tratar essas feridas. Vão ficar piores se não tratarem logo.

– Eu... - Nega a cabeça de forma preguiçosa. - Eu não preciso. Tenho que ir até ele.

– Ele quem? Você não pode ir a lugar algum! Precisa de ajuda.

Abriu um sorriso torto, um sorriso sujo por machucados e sangue.

– Eu tô bem.

– Não está!

Elesis a olhou por um tempo, logo dando as costas e voltando a andar sem rumo. Sena viu que a ruiva estava mentalmente instável, não estava raciocinando direito. Ela ainda estava presa no acontecimento passado, que pareceu a chocar fortemente.

Sena correu na sua frente, assim se colocando no seu caminho, a impedindo de continuar. Elesis olhou confusa.

– Você não vai a lugar algum. - Dizia séria. - Precisa de ajuda!

– Já disse que não. Tudo irá ficar bem quando eu derrotá-lo.

A morena esticou os braços, parecendo uma barreira para impedir Elesis.

– Elesis, eu não a conheço muito bem, mas pare de se importa consigo mesma! - A ruiva olhou surpresa. - Todos estão preocupados com você, mas você nem se importa com isso, não é? Só se importa consigo mesma!

Sentia seus machucados doerem mais ainda.

– Loyal não parava quieta desde que vocês foram para essa missão. - Continuou. - Falava que algo de ruim iria acontecer com vocês, e ela tinha razão! Agora ela está desesperada, o que é estranho porque eu nunca a vi desse jeito. - Pareceu com receio, mas continuou a falar. - E mesmo que não sejamos amigas, fico preocupada com você, com seu estado. Quero poder ajuda-la.

– Eu... - Segurou seu braço e o apertou firme. As dores aumentavam.

– E o Lass...! - Fechas suas mãos e abaixa o olhar de forma triste. - Eu gosto dele. Gosto de verdade. Só que ele não sente o mesmo por mim, só me ver como uma parceira. Quero que ele me note, quero que ele retribua meus sentimentos. - Abaixa os braços erguidos lentamente. Deu uma pequena fungada, afastando a tristeza que sentia. - Mas com você é diferente, ele age como se importasse com você. Só que parece que você não se importa do mesmo jeito.

Elesis tentou dizer algo, porém não conseguiu. Cruzou seus braços, mas parecendo está se abraçando pelo o frio que estava sentido.

– Então, por favor, deixe-nos ajuda-la.

– Tudo bem então. - Olha para a morena com receio. - Eu acho.

Sena abriu um pequeno sorriso de alívio. Elesis retribuiu o sorriso da mesma forma, só que envergonhada.

A ruiva se virou e andou de volta para casa com a morena ao seu lado. Pensava nas palavras que ela tinha dito, sobre Elesis sempre se importar com ela mesma e não com as pessoas em sua volta. Ela tinha razão, pensava, sempre agia como se ninguém se importasse com ela, mas ela estava enganada. Não era só Lass que se importava com ela, todos seus amigos também se importavam.

– Me desculpe. - Sussurrou a espadachim.

– Hã? - Estranhou Sena.

– Nada. - Sacode a cabeça.

Ao chegar em casa, desabou sobre a mesma cadeira de antes. Ao descansar, suas pernas começaram a doer fortemente, deixando a ruiva calada pela a dor. Viu que Loyal já tinha saído do telefone, agora ela se aproximava da espadachim.

– Obrigada, Sena. - Pede a loira. - Elesis, eu liguei para a Lothos e pedi para que ela viesse imediatamente para cá busca vocês. Ela disse que chamaria Grandiel também, então eles chegarão em breve.

Com o rosto fechado, a ruiva concordou.

– Agora, me deixe cuidar dessas feridas.

Se passou um bom tempo desde que foi tratada por Loyal. A loira mesmo disse que não faria nada que a curasse, apenas que segurasse suas dores e machucados até a chegada de Lothos e Grandiel. Em todo o momento Elesis ficou calada, mesmo quando suas feridas eram tocadas e que a forçasse a fazer uma careta. Uma faixa foi enrolada em seu olho, porém antes foi colocado um remédio para não infeccionar. Aquilo doeu muito, quer dizer, todos os seus machucados continuavam a doer depois de tudo aquilo.

Agora a ruiva estava sentada no sofá, com as pernas enfaixadas sobre o mesmo. Quando tirou sua bota ficou enjoada imediatamente com as feridas que se abriram por tanto andar. Não as sentia por causa de uma poção que tomava no momento para diminuir as dores. Pelos menos estava funcionando.

– Sena, fique com o Lass lá em cima, por favor. - Pede Loyal ao lado da ruiva. - Quando ele acordar, me chame.

– Ok. - Afirmou a garota.

Elesis continuou a tomar sua poção enquanto ouvia os passos da morena se distanciarem. Ao ficar em completo silêncio, já se preparava para começar a explicar.

– O que aconteceu? - Pergunta Loyal de braços cruzados. - E não invente, sei que algo de grave aconteceu.

– Encontramos com o Gerard. - Disse com a atenção na bebida de coloração vermelha.

Ao ouvir o nome do rapaz, seus olhos se arregalaram. Olhou em silêncio para a expressão vazia da garota, parecendo que ela estivesse contando uma piada de mau gosto.

– O quê? - Perguntou, ainda não acreditando.

– Sim, foi ele que fez isso com a gente, se é o que você quer saber.

– Espera um pouco, vocês se encontraram mesmo com ele? E como foi? - Olhava perplexa.

Elesis levantou seu olhar sério, sem emoção, o que chegava a ser assustador vindo dela.

– O que você acha? - Disse sarcástica. - Eu tentei matá-lo, falhei e é nisso que resultou no meu esforço inútil. O mesmo valeu para o Lass, mas como você viu, ele sofreu mais que eu.

Loyal olhava assustada para Elesis. Suas palavras saíam de uma forma tão... Fria. Via no olhar da espadachim que aquilo não era cansaço nem nada do tipo, e sim frieza. Pensava no que tinha acontecido com ela para ter ficado assim.

– Como que ele deixou vocês vivos? - Perguntou, voltando o foco do assunto. - Ou como vocês conseguiram fugir dele?

– Lass conseguiu e me tirou à força de lá. - Apertou com firmeza o copo de vidro. - Quando eu escapei, Gerard o impediu que fosse junto. Ele fez algo com o Lass, tenho certeza.

– Pelo o que eu vi no corpo do Lass nada de incomum aconteceu, apenas os graves ferimentos. - Dizia pensativa. - Não encontrei nenhuma magia estranha.

– Gerard conseguiu quebrar o selo de Cazeaje nele. - O copo trincou quando o apertou com mais força. - Ele queria ver as chamas azuis.

– Bem, por mais um pouco ele veria. - Suspirou cansada. - Que sorte que vocês tiveram.

– Como que você nos encontrou? E como sabia que estávamos em perigo?

– Lass tinha dado uma aviso antes de partir. - Lembrava do ninja a pedindo esse favor. - Senti que algo iria acontecer, então eu chamei para a Sena ir comigo até vocês. Como eu disse, sorte.

Elesis a olhou em silêncio, logo largou o copo no chão e se deitou no sofá, cobrindo seu corpo com o lençol. Segurou a coberta com firmeza ao sentir um peso no peito.

– Me desculpa, Loyal. - Dizia com a voz trêmula. - Eu coloquei o Lass nessa e agora ele está desse jeito. Fui incapaz de protegê-lo.

– Não foi sua culpa. - Nega com um olhar triste ao ver a culpa nos olhos da ruiva. Elesis estava sofrendo por dentro, mas parece que ela não conseguia expressar isso, somente com a voz seca. - Você não poderia prever isso.

– Mas eu perdi para o Gerard. - Cobre seu rosto com o coberto, escondendo sua expressão de tristeza. - Eu jurei que iria matá-lo, mas nem conseguiu fazer cócegas nele. Se não fosse pelo o Lass, provavelmente eu estaria morta. Eu sou tão inútil.

E Elesis não falou mais, nem Loyal também. Olhava a espadachim escondida sob a coberta com suas mãos trêmulas. A loira queria poder conforta-la, porém não tinha nada em mente para dizer.

Queria ao menos entendê-la.

***

– Obrigada por vim, Lothos.

Loyal deu espaço na porta para a loira passar, em seguida vinha Grandiel e Astaroth, para a surpresa da mesma. O trio tinha chegado de manhã, por isso dos olhares cansados, de tanto terem pegado trem até lá.

– Onde eles estão? - Perguntou Grandiel.

– Lass está lá em cima, descansando no seu quarto. - Aponta. - Já a Elesis está na sala. Acho melhor vocês verem ela primeiro.

Os três olharam confusos, mas acabaram afirmando ao seguir a loira. Ao chegarem no cômodo, se depararam com a ruiva sentada no sofá, olhando para o vazio. Olharam para Loyal, esperando uma explicação.

– O que aconteceu com ela? - Perguntou Astaroth. - Ela não parece nada bem.

– É uma história difícil de contar.

Lothos se aproximou lentamente da ruiva. Chegou perto e viu com mais clareza seu olhar sério, e seu outro olho enfaixado. Lothos ficou rapidamente preocupada ao ver seu estado.

– Elesis, querida, tudo bem? - Perguntava.

Pode parecer não está ouvindo, porém negou com a cabeça do mesmo jeito.

– Quer me contar o que aconteceu?

Aos poucos, a expressão de Elesis se fechou em medo. Abraçou suas próprias pernas encolhidas e escondeu seu rosto nelas. Não respondeu.

– Irei contar. - Avisa Loyal, dando as costas e indo para outro cômodo. - Venham comigo.

Seguiram ela, menos Lothos. Olhava preocupada para Elesis, querendo entender o que tinha acontecido. Viu os machucados dela, seu olho enfaixado como suas pernas também. Seu pulso também estava enfaixado, porém dando vista para o roxo da torção. Nunca a tinha visto tão ferida assim, mesmo quando teve a confusão com as chamas azuis.

Deu as costas e seguiu Loyal para outro cômodo.

– Gerard? - Perguntou Grandiel surpreso.

Ouviram a explicação da moça atentamente, ficando perplexos com o acontecimento. Queriam negar que o ruivo tinha se encontrado com eles, mas seus machucados diziam claramente que era verdade.

– Então por isso que a Elesis está assim. - Menciona Lothos. - Bastante abalada. Parece que ela não conseguiu o que queria.

– Ela estava pior quando chegou, tanto dos ferimentos quanto mentalmente. - Aponta para a cabeça. - Mas quando ela acordou hoje de manhã, parecia que nem estava consciente, ainda parece. Acho que ela não sofreu só fisicamente.

– Gerard sabe manipular as pessoas. - Diz Grandiel sério. - Ele deve ter feito a Elesis chegar no seu limite.

– Talvez. - Aponta para cima. - Venham ver o Lass, ele está bem pior que ela, isso é, muito machucado.

Seguiram a loira para o segundo andar, no entanto, Astaroth ficou parado olhando para Elesis no sofá. O rapaz estava tenso, com medo do que Gerard deve ter falado com ela.

Foi até a ruiva, esperando que ela o olhasse quando se aproximasse, porém estava enganado.

– O que ele disse para vocês? - Perguntou seriamente.

Elesis ergueu o rosto, levantando um olhar frio para Astaroth. Sua boca estava com alguns cortes, percebeu o professor.

– Espero que todos vocês morram da forma mais dolorosa o possível. - Dizia com a voz seca. - Mentirosos.

Com aquelas poucas palavras, Astaroth entendeu o que ela quis dizer. Gerard tinha contado para ela sobre as chamas, e Elesis parecia nada contente ao saber disso.

– Elesis...

– Sai daqui! - Gritou de repente. Olhou furiosa para Astaroth. - Sai da minha frente, vai embora.

A ruiva virou o rosto para frente novamente, o ignorando. O rapaz ficou um tempo a olhando, logo se virando e saindo dali. Subiu as escadas, indo para onde o trio tinha ido.

Elesis tinha direito de ficar furiosa com eles, pela as mentiras que disseram para ela e Lass. Deviam ter contado a verdade antes que fosse tarde, mas agora não adiantava mais. Eles estão com raiva deles, e se tiverem sorte, poderão convencer eles.

Chegou na porta do quarto onde o trio estava. Se aproximou e viu Lass deitado na cama, inconsciente, pelo visto. Grandiel estava próximo a ele, olhando seus ferimentos. Percebeu o braço do ninja com bastantes faixas, mas mesmo desse jeito conseguiu ver o roxo da pele. Estava quebrado, pensou Astaroth.

– Gerard não parece ter pegado leve com ele. - Menciona Lothos de braços cruzados. - Será que ele sabia que o Lass tinha as chamas azuis?

– Provavelmente. - Diz Grandiel. - Acho que ele quis força-lo a usar as chamas, e pelo o que parece, não conseguiu.

O loiro encostou a mão na testa de Lass, sentindo o calor da pele do mesmo. Diferente de Elesis, o ninja estava doente pela a friagem que pegou.

– Desculpa pelos os curativos improvisados. - Fala Loyal. - Eu só fiz o suficiente para segurá-lo até a chegada de vocês.

– Tá tudo bem. - Disse Grandiel. - Fez certo. Se não fosse por você, eles estariam mortos.

Loyal nega.

– Vai ser estranho o que eu vou dizer, mas... - Fica com receio de continuar. - Acho que Lass só ficou vivo por causa das chamas azuis.

Os três olharam confusos, achando que era mais uma das piadas de Loyal, porém não.

– Quando Lass chegou aqui ele estava em um estado bem sério, mas seu corpo parecia está reagindo bem para tantos machucados. - Passa a mão na nuca. - É como se as chamas tivesse o protegendo.

Não disseram nada, direcionaram o olhar para o ninja.

– Será que ele conseguiu aprender a usa-las? - Se questionou Astaroth.

***

– Consegue levantar sozinha? - Perguntou Lothos.

Esticou as mãos para a ruiva levantar, mas ela negou a ajuda e mandou a loira se afastar. Elesis colocou as pernas para fora do sofá, mostrando com mais clareza as faixas enroladas na mesma. Encostou o pé no chão, em seguida fazendo força para se levantar.

Antes mesmo de ficar de pé fez uma expressão de dor. Caiu de joelhos no chão, apoiando as mãos, o que fez solta outro gemido de dor. Recolheu sua mão com o pulso torcido, ficando um bom tempo daquele jeito.

– Astaroth, leve a Elesis. - Pede Lothos. - Ela não consegue andar.

O rapaz foi se aproximar da ruiva, mas parou os passos imediatamente ao ouvir Elesis gritar.

– Não! - Levanta o olhar sério para ele. - Não quero sua ajuda, não preciso. Posso andar sozinha.

Apoiou a única mão boa no chão, se erguendo com uma face fechada pela a dor. Ficou de pé com muita dificuldade, tentando manter suas pernas trêmulas firmes. Não aguentou e desistiu do esforço inútil, mas sendo pega por Lothos antes que caísse.

– Venha, eu te levo. - Disse a loira. - Você não pode fazer muito esforço.

Elesis não concordou nem negou, apenas olhou vaziou para algum canto da casa. Enquanto isso, viu Grandiel descendo as escadas com Lass em seus braços. O albino continuava apagado.

– Elesis.

Sena a chamou, a tirando dos pensamentos. A morena se aproximou dela, esticando um tecido branco para a mesma. Elesis olhou bem e reconheceu o cachecol de Lass.

– Estava um pouco sujo, então eu limpei. Pode entregar para ele depois?

Olhava fixamente para o cachecol, lembrando do seu vermelho. Gerard tinha o pego, deixando um grande vazio no pescoço da ruiva.

Seus lábios tremeram com os pensamentos. Sem questionar, acenou e pegou o cachecol.

– Obrigada. - Agradeceu Sena com um pequeno sorriso. - Espero que ele fique bem.

– Ele ficará. - Respondeu com sua voz rouca.

Se despediu de Sena e Loyal antes de partir. Agradeceu de forma mais breve o possível, não querendo muito olha-las e ficar envergonhada ao agradecer. Loyal disse que não era para ela se importar com isso e, se possível, visitá-la outra vez. Elesis confirmou com um sorriso forçado, já que doía até mesmo para fazer uma expressão. Já Sena foi de maneira amigável, porém olhando triste ao ver Lass. Aquilo machucava Elesis.

Seus sabres e a katana do ninja eram carregadas por Grandiel, enquanto o albino era carregado por Astaroth e Elesis nas costas de Lothos, mesmo ela tendo negado que não precisava. Suas mochilas pesadas foram perdidas ao fugirem de Gerard, o que nem importava num momento desses.

– Quando chegarmos no colégio, teremos muitas coisas para conversar. - Fala Lothos com o rosto reto.

– Eu sei. - Disse com a voz seca.

– Principalmente sobre Gerard.

– Eu sei.

– E é melhor escutar com atenção tudo que iremos dizer.

Elesis afundou o rosto sobre as costas da loira, fechando os olhos.

– Eu sei.

***

Virou-se de lado, tentando ficar mais confortável, mas acabou ficando com o corpo para cima. Tentou mover seus dedos, assim gerando uma dor por todo seu corpo. Tudo doía mesmo que tivesse parado.

Abriu os olhos aos pouco, demorando um bom tempo até reconhecer onde estava. Um quarto branco, que logo percebeu que era um quarto na enfermaria.

– Finalmente acordou.

Virou o rosto de lado, tentando se conter para não soltar um gemido pela a dor. Seus olhos ficaram entreabertos pela a iluminação do lugar, conseguindo ver somente uma silhueta parada na frente da janela.

Grandiel se virou, mostrando sua expressão calma para o ninja. Lass continuou a olhar sem expressão, tentando reconhecer o loiro.

– Como está se sentindo? - Perguntou Grandiel, se aproximando da cama.

– Mal. - Falou com a voz bem fraca. - Muito mal.

– É de se esperar.

– Quantos dias foram dessa vez? - Perguntou pelo o justo motivo de ter passado quase 3 meses apagado após ter perdido o controle das chamas azuis.

– Uma semana contando com hoje. - Cruza os braços. - Espero que se lembre bem do que aconteceu antes de apagar, porque precisamos de você para entendermos o que aconteceu.

Ergueu uma sobrancelha, olhando confuso. Sua mente estava ainda retornando aos poucos, precisaria de um tempo até se recuperar mentalmente.

– Sabemos que vocês se encontraram com o Gerard. - Continua o loiro. - Mas gostaríamos de saber os detalhes, já que a Elesis se rejeita a contar.

O olhar do ninja se despertou por um pouco ao ouvir o nome da ruiva. Por um momento, tinha esquecido dela.

– A Elesis, cadê ela?

– No outro colégio com a Lothos. E não, ela não está bem, se é isso que quer saber. Ela está em um estado bem difícil de se explicar, o que se resume em ignorar todos em sua volta. - Ergue a mão, impedindo de que Lass falasse. - E você vai ficar aí! Seu estado é pior que o dela, precisa se recuperar até lá.

– Até lá quando?

– Até o encontro com a Cazeaje. - Seu olhar calmo some ao falar dela. - Ela já sabe sobre o estado de vocês, e ela adoraria vê-los quando se recuperassem. Então, fique bem até lá.

– Deixe-me ver a Elesis primeiro. - Dizia com a voz cansada, ignorando totalmente o que ouviu. - Eu vi o que ela passou com o -- É interrompido.

– Não. - Isso faz o albino olhar indignado. - Você irá descansar até ficar, pelo menos, recuperado.

Quando o loiro iria se preparar para se mover, Lass se sentou bruscamente. Seu corpo gritou em dor com aquele movimento, mas parece que ele ignorou com o seu sangue fervendo. A coberta caiu de seu corpo, mostrando-o todo enfaixado. Seu peito estava enrolado com a fita sobre seu ferimento no ombro, o mesmo que foi feito quando a espada de Gerard que o atravessou. Seu braço quebrado engessado o incomodava, mas a dor com os ossos partidos continuava a doer. Embora estivesse coberto por curativos, os hematomas eram visíveis, principalmente em seu rosto.

– Foi Cazeaje que planejou tudo, sabe disso! - Fala Lass ainda com sua voz rouca. - Ela nos mandou logo para o lugar onde Gerard estava.

Grandiel parou o passo e se virou para Lass com um olhar sério. Se aproximou do ninja, o olhando mais de perto.

– O problema não é esse. - Disse com a voz do mesmo jeito. Lass olhou sem entender. - Você usou as chamas, não é?

– O quê? Claro que não.

– Não as usou diretamente, mas pegou uma parte delas para lutar.

O albino tentou debater, porém não conseguindo falar. Grandiel se afastou ainda com o olhar para Lass.

– Quando que você aprendeu a extrair as chamas?

– Grandiel...

– Responda! - Elevou a voz, deixando o ninja surpreso por sua raiva. Nunca o tinha visto daquele jeito.

Tentou ergue a mão e passa-la em seu cabelo bagunçado, mas a dor falou mais alto. Desviou o olhar para o lado.

– Tecnicamente, eu não uso as chamas. - Fala Lass. - Eu consigo tirar uma parte "neutra" delas que não me fere ou faz mal. Não tem a mesma potência que ela mas é bem útil em momentos desse tipo.

– Você está errado. - O albino o olha. - Isso faz mais mal do que usar as chamas azuis por completo.

O ninja sentiu um apertou no peito enquanto ouvia as palavras do loiro. Deu uma leve tossida, logo aumentando até colocar a mão na boca. Ao afastar a palma olhou assustado. Tinha tossido sangue e agora o vermelho manchava sua mão.

A fechou discretamente para que Grandiel não visse.

– Não adianta esconder, essa não é a primeira vez que isso acontece. - Diz o loiro. - Você pode parecer bem por ter usado as chamas assim, porém por dentro está pior.

– O que quer dizer com isso? - Olha sério.

– Você está colocando as chamas contra a grade, que é o seu corpo, e extraindo os poderes dela. O que você acho que isso pode resultar?

Lass não respondeu, continuou a olha-lo esperando que continuasse.

– Você pode ser um mestiço, ter um corpo resistente, mas irá pagar de um jeito ou de outro. Então é melhor parar com essa técnica agora mesmo, ouviu?

Ainda com sua mão fechada encostada em seus lábios, confirmou com um certo receio. Não se importava se teria que pagar por usar as chamas, finalmente tinha achado uma forma de usá-las e, para o seu azar, foi proibido de usar.

– Deixarei você descansando agora. - Dizia o loiro enquanto ia até a porta. - Mais tarde virei para te fazer algumas perguntas sobre a missão. Até lá, nem ouse levantar ou fazer algum exercício físico.

– Se eu ao menos pudesse. - Voltou a deitar em uma rápida queda.

O albino virou o rosto de lado, vendo seu celular sobre a mesinha do lado. Esticou o braço para pegá-lo, porém Grandiel foi mais rápido e pegou primeiro. O ninja olhou irritado.

– Sem ligações, só descanso. - Avisou antes de sair do quarto.

Lass continuou a olha-lo, mesmo quando saiu. Olhou para cima e bufou em resposta.

Ouviu a porta se fechar e deixar o silêncio se espalhar pelo o local. Durante esse tempo ficou pensando em tudo que aconteceu antes de chegar ali. Lembrava de Gerard e de sua voz irritante. Nunca o tinha visto antes, mas agora que tinha, sabia como Elesis se sentia quando falava dele. Com muita raiva.

– Elesis deve está nada bem depois disso tudo. - Pensava. - Gerard brincou com ela, a provocou e riu de sua cara. Me pergunto como ela está agora? - Aperta o olhar ao lembrar de algo antes de fugir. Gerard tinha o pego, aproximado dele e... - O que foi que ele disse mesmo?

A porta do local se abriu novamente. Lass ignorou, não querendo saber sobre o que Grandiel iria dizer para ele. Estava cansado dos sermões dele e do Astaroth, e de vez em quando de Lothos.

– Olha só você!

Estranhou e olhou na direção da voz irritante. Ficou surpresos ao ver os seus cabelos vermelhos que chegavam a ser nostálgicos para o ninja.

– O que faz aqui, Jin? - Menciona o ninja fingindo um olhar emburrado.

O lutador abriu um largo sorriso ao ouvir a voz de Lass. Fazia um bom tempo desde que o viu pela a última vez. Queria poder ter o visitado antes, mas Grandiel disse que era melhor deixa-lo acordar primeiro. Então o ruivo teve que esperar um bom tempo até lá.

– Você me machuca desse jeito. - Diz o lutador com uma risada sem graça. - Só vim ver como você está, e pelo o que eu vejo, um caco.

O ninja o olhou com um olhar cansado.

– Então, poderia me contar o que aconteceu? - Pergunta Jin se aproximando. Se sentou na cama ao lado, olhando curioso para o rapaz. - Não sei sobre muita coisa, só que você voltou de uma missão muito ferido.

Percebeu o olhar de Lass mudar. Ele ficou incomodado com a conversa.

– Foi as chamas novamente? - Olha preocupado.

– Não, quem dera que fosse. - Jin olha confuso. - Foi algo pior que isso.

Quanto mais Lass falava mais o lutador ficava sem entender. Antes que fizesse outra pergunta, deu uma rápido olhada em volta do quarto.

– Então a Elesis não está com você. - Diz com um olhar triste. - Cadê ela?

– No outro colégio. E pelo o que me disseram, ela está do mesmo estado que eu. - Soltou um breve suspiro, em seguida colocando a mão no rosto. - Que burro que eu fui.

– Quer parar logo com o suspense e contar o que aconteceu? - Diz impaciente.

– Nos encontramos com o Gerard. - Dizia ainda com a mão no rosto. - O cara que a Elesis tem mais ódio no mundo.

Jin olhou tenso. Já tinha ouvido falar dele algum tempo atrás, sobre ser a pessoa mais procurado por todas as dimensões. Não sabia que ele tinha alguma ligação com Elesis.

– E o que aconteceu exatamente quando vocês se encontraram?

Tirou a mão da frente e olha fixamente para o teto. Um rápido flash de memórias se passa em sua mente, resumindo tudo que aconteceu. Dores e gritos era o mais que se lembrava, deixando o ninja com uma expressão fechada. Embora tivesse apagado após ter fugido de Gerard, sentia a presença de Elesis ao seu lado o tempo todo, além do medo e o desespero da mesma.

– Muita coisa. - Falou com a voz sem emoção.

***

Permaneceu com seu olhar reto por horas, olhando a mesma paisagem: O céu cheio de nuvens. O tempo parcialmente nublado definia perfeitamente suas emoções, tão vazias quanto seu olhar. Não se lembrava de quando mudou a direção da visão, só sabe que estava perdida em seus pensamentos profundos.

Ouvia a porta no fundo se abrir, passos delicados até ela com a porta se fechando em seguida. Não se importava com quem entrava ou saía, nem consigo mesma estava se importando no momento.

– Então, como está se sentindo, Elesis? - Ouvia a doce voz atrás dela. - Aposto que melhorará em breve.

Logo a moça entrou em seu campo de visão, impedindo que a ruiva continuasse a olhar o céu. Seu cabelo preto preso por um rabo de cavalo caiu sobre seus ombros, chamando um pouco da atenção da espadachim. Os olhos da mesma era bem chamativos com um tom rosada, onde havia uma espécie cruz no meio delas. Ela usava roupa branca, mostrando seu trabalho como enfermeira.

Ela sorriu.

– Quieta outra vez? - Questiona a moça. - Nenhuma palavrinha hoje?

Elesis não disse nada, voltou a olhar reto. A moça colocou as mãos na cintura e suspirou.

– Não se preocupe, a Tammy irá cuidar de você. - Falou ela, chamando-se pelo o próprio nome. - Lothos pediu para eu ver seu olho, já que só tá com um curativo desde que você chegou. Vai doer um pouco, então me fale se sentir algo.

Desde que Elesis tinha chegado no colégio, teve que ficar na enfermaria com os cuidados de Tammy. Algumas de suas feridas começavam a cicatrizar, já outras continuavam do mesmo jeito, que era o caso de seu olho. Seu cabelo estava solto, tão bagunçado que cobria sua expressão vazia. Chegava a ser preocupante seu estado, ignorando todos e sem dizer uma única palavra. Lire e Arme faziam de tudo para chamar sua atenção, para ao menos fazê-la sorrir, porém falhavam nisso.

Nem parecia a Elesis que conheciam.

– Venha para cá, Elesis. - Pede Tammy.

Segurou a ruiva pelo o braço e a ergue, a ajudando a andar até a cama. Continuava com as dores nas pernas, mas felizmente, elas estavam se recuperando aos poucos.

– Prontinho. - Diz ao colocar a espadachim sentada na cama. Pegou um tesoura e cortou uma das fitas enrolas em seu olho, assim começando a desenrolar. - Saiba que você não ficará sem o olho, ok? Existi uma magia, que a Tammy conhece, que poderá regenerar seu olho. Mas não poderei usa-la agora pois é uma magia que exigi muito do paciente, portanto esperaremos você se recuperar mais um pouco até lá.

Elesis tinha até esquecido o fato que estava sem um olho. Sua mente estava tão ocupada que nem percebeu esse "pequeno" detalhe.

Tirou as fitas por completo, conseguindo ver somente quando pegou a franja da ruiva e colocou para trás. Era um corte perfeito no seu olho, parecia que nem tinha sido feito por uma mãos em vez de uma lâmina. Tammy fez uma careta de nojo, mesmo que fosse acostumada com aquele tipo de coisa.

– Vou passar um remédio e enfaixar novamente. - Dizia a morena. - Sorte a sua não ter infeccionado.

Lembrou de Loyal falando palavras parecidas para ela. Estranho, não sentia falta dela, mas queria sentir. Não tinha mais emoções, tudo se definia em um grande vazio em seu peito. A cicatriz que tinha feito nele continuava lá, o que deixava as pessoas que visse com muitas dúvidas. Elesis ainda não tinha contado que tinha um problema em uma das artérias do coração, e talvez não pretendesse contar do jeito que ela estava agindo.

Sentiu um certo incomodo quando Tammy passava o remédio em seu olho. Se fosse antes, se contorceria em dor, mas parece que nem dor a atingi mais. Foi enfaixada outra vez, assim acabando o procedimento. Não demorou muito, percebeu.

A porta da enfermaria se abriu. Elesis precisou nem olhar para saber que era Lothos. A loira veio na direção delas, olhando primeiramente a ruiva ao chegar perto.

– Como está se sentindo, Elesis? - Pergunta Lothos. - Tammy já deve ter falado o negócio do olho para você, não é?

A espadachim abaixou o olhar, a ignorando.

– Ela continua sem falar. - Diz Tammy.

– Elesis, você está deixando suas amigas preocupadas com esse jeito. - Fala Lothos do mesmo jeito. - Fale pelo menos alguma coisa.

Não ouviu resposta. Suspirou cansada, já que tinha dias que tentava fazer a espadachim dizer alguma coisa.

– Soube que o Lass acordou. - Menciona a loira. - Vamos esperar vocês dois se recuperarem para depois irmos ver Cazeaje, entendido?

Mesmo quando ouviu o nome do ninja, Elesis continuou a manter um olhar aleatória. Nada parecia fazer ela se importar.

– Acho que isso é um sim. - Falou Tammy. - E não se preocupe, até o final da semana ela vai está em boas condições para sair andando sozinha se quiser.

– Eu espero. - Abri um pequeno sorriso de alívio. - Cuide bem dela, Tammy. Já vou indo. Mais tarde eu venho aqui te ver, Elesis.

Outra vez, sem resposta. Lothos não persistiu e foi embora. Tammy iria junto com ela, porém antes ajudou Elesis ir até sua cadeira de frente para a janela. A ruiva se sentou e sua visão foi rapidamente dirigida para o céu nublado.

Ouviu a porta se fechar, significando que estava sozinha novamente. Moveu suas mão sobre seu colo, logo dirigindo uma delas até seu peito. Sentiu sua cicatriz sob a camisa. Sabia como ela tinha se formado, lembrava de quando isso aconteceu. Seu olhar sem vida desceu em direção a cicatriz. Não a viu, óbvio, mas sabia que ela estava ali, marcada para sempre.

Apertou com força sua camisa junto com seus dentes, querendo conter aquela raiva incomum dentro de seu corpo. Inclinou seu corpo para frente, ficando encolhida sobre suas pernas.

Dói, queria dizer, dói muito. Não sabia como expressar os sentimentos que sentia, era milhares. Tristeza, raiva e, principalmente, ódio por si própria. Tinha nojo quando via Lothos, Grandiel e Astaroth, mas ficava pior quando viu seu reflexo. Se odiava por tudo que aconteceu desde que se encontrou com Gerard.

– Será que eles sabem que você está sofrendo tanto assim?

Soltou sua camisa e abriu seu olhar neutro novamente. Levantou o corpo lentamente, voltando a ficar sentada com a postura reta e olhar para o lado de fora.

Não precisava se virar para saber que Eléo estava sentado no chão, atrás dela. Já fazia um bom tempo desde que via o rapaz em todos os lugares que estava. Sempre o ignorava, como todas as pessoas em sua volta. Infelizmente, ele não parava de falar como suas amigas.

– Pretende começar a falar quando? - Continua Eléo. - Todo mundo já está ficando cansado de fazer você falar. Imagino o quão desesperado eles estão em descobrir o que aconteceu com você.

Não se importava com as provocações do rapaz, continuava a manter-se calma, mesmo que fosse difícil com ele por perto.

– O que você acha que eu sou? Às vezes pensa que eu sou uma alucinação ou coisa da sua cabeça, mas receio dizer que você está errada. - Abri um sorriso provocador. - Sou algo mais forte que isso.

Se levanta do chão, ficando de pé atrás da ruiva. A segurou pelos os ombros, levando até sua mão até o seu pescoço. O toque em sua pele era real demais para ser alguma alucinação, mas Elesis preferia continuar a achar que aquilo não era real.

– Então, o que eu sou?

Seus dedos deslizaram pelo o rosto da ruiva, parando perto de seu olho enfaixado. Eléo se abaixou, se aproximando do rosto da espadachim. Ficou bem perto de seu ouvido, assim ela ouviria com clareza tudo que diria.

– Me diga, minha querida Elesis. - Sussurrou, em seguida alargando um sorriso maior ainda, mostrando seus dentes pontudos.

Sentiu algo quente escorrer por sua bochecha e uma dor aguda em seu olho ferido. Apertou as mãos rapidamente sobre seu colo e mordeu seu lábio.

Por quanto tempo teria que aguentar aquilo?

***

– Essência das chamas? - Perguntou Astaroth. - Interessante.

Andava com Grandiel em um dos corredores do prédio. O loiro já tinha o contado sobre Lass ter usado as chamas de uma forma diferente, o que deixou o professor interessado sobre o assunto. Pensava que poderia ser um bom modo de ir contra a regra de Cazeaje e deixar Lass forte ao mesmo tempo, porém seu pensamento foi interrompido quando ouviu Grandiel falar que era perigoso.

– Não podemos colocar o Lass em risco. - Menciona o loiro. - Será arriscado se ele continuar com isso, então pode tirar essa ideia da cabeça.

– Mas esse é um modo maravilhoso de usa-las. Podemos treinar o Lass.

– Mais do que já nos treinamos? - Olha cansado. - Não podemos fazer mais nada por ele.

– Claro que podemos. Que tal ensina-lo outras magias? É uma boa ideia!

Grandiel olha em reprovação, já sabendo o que o rapaz queria dizer com aquilo. Cruzou os braços e olhou reto, tentando ignora-lo.

– Grandi, o único modo de deter fogo contra fogo é usando...? - Esperou uma resposta.

– O fogo. - Completa. - Mas essa frase está errada. O único modo de deter o fogo é usando a água, - Olha zangado. - não o fogo!

– Não leve para o literal. E pelo o que sabemos, a única coisa que pode parar o Gerard são as chamas azuis, então o que estamos esperando? - Ergue os braços em impaciência. - Taca álcool no Lass e jogo ele no Gerard!

– Não seja ridículo. - Nega com a cabeça. - Já falei, pode esquecer essa ideia.

Astaroth bufou, mais parecendo uma criança emburrada, fazendo até bico com a boca.

– Vou pensar mais um pouco sobre essa ideia, depois eu te conto quando achar uma solução. - Fala o professor sem está satisfeito.

Grandiel olhou do mesmo modo, irritado para o rapaz. Queria que ele esquecesse logo essa ideia.

Pararam quando chegaram numa porta, que ficava praticamente no final daquele corredor. Era onde ficava o apartamento do Astaroth, em um prédio no campo do colégio. Para a felicidade do professor, era um bom lugar de vive, longe dos alunos.

– Você pode me ajudar a achar os papeis? - Pergunta Astaroth. - Tá meio bagunçado o lugar, então...

– Como sempre. - Diz sério.

O professor riu sem jeito enquanto abria. Iria inventar mais uma das suas desculpas, porém é interrompido. Parecia ser um colega de Grandiel que se aproximou e começou a falar com o mesmo. Astaroth não quis interromper e entrou dentro de casa, esperando o loiro terminar a conversa e entrar em seguida.

Como Grandiel tinha falado, o lugar estava uma bagunça. Entrou sem ter ligado as luzes, mas conseguia ver do mesmo jeito com a luz vindo das janelas. Durante o caminho até o cômodo principal foi limpando as coisas que encontrava no chão. Ao chegar no lugar ficou paralisado no lugar, pensando que o que via era coisa da sua imaginação.

Sentado à mesa estava Gerard, enquanto tomava uma xícara de café. O ruivo viu o professor e deu uma rápida acenada.

Astaroth correu de volta para a porta com uma expressão de desespero. Quando iria fecha-la, Grandiel entra, parecendo cansado pela a conversa que teve. O professor congelou quando o rapaz entrou, assim ficando parado na sua frente.

– O que foi? - Pergunta Grandiel ao ver o sorriso forçado do mesmo.

– Nada! - Diz imediatamente. - Só tava pensando que talvez os papeis não estejam aqui.

– Para de bobagem e vamos procurar logo. Tá com preguiça de fazer um esforço?

Quando o loiro foi andar, Astaroth se colocou mais ainda na sua frente.

– E se eu disser que sim? - Abri um sorriso bobo.

– Então eu vou te bater. Saí da frente.

Não saiu do lugar, continuou parado enquanto suava frio. Grandiel olhou impaciente e empurrou Astaroth para o lado, assim seguindo o caminho até o fundo do lugar.

Fechou os olhos quando viu Grandiel chegar no cômodo onde Gerard estava. Não ouviu nada, nenhum barulho de algo explodindo. Abriu os olhos lentamente, vendo o loiro vagando pelo o lugar à procura dos papeis que tanto falavam.

Nada de Gerard, percebeu.

– Então, onde você guardou? - Pergunta Grandiel enquanto olhava a bagunça sobre a mesa. - Espero que não seja no banheiro.

Não disse nada, ainda estava pensando se Gerard tinha sido uma imaginação sua. Mas acabou sendo tirado dos pensamentos quando é tocado no ombro. Olhou para trás e se deparou com Gerard. Quase gritou em susto, mas se controlou e olhou tenso para o ruivo.

Gerard ergueu um papel, estando escrito: Onde é o banheiro?

– Ali. - Sussurrou enquanto apontava. Olhou sem expressão para o rapaz, o vendo entrar na porta para onde tinha apontado.

– Astaroth, quer me ajudar aqui? - Pede Grandiel nervoso.

– Eu já disse, talvez não esteja aqui. - Passa a mão na nuca e rir sem jeito. - Que tal você voltar depois quando eu tiver limpo tudo isso?

O loiro olhou sério.

– Acho meio difícil de isso acontecer.

– Ah, confie em mim! - Implorava. - Amanhã eu te entrego sem falta. Se eu não trouxer, eu te pago um lanche.

– Se você está apostando dinheiro é porque está levando à sério. - Olha um pouco surpreso. - Tudo bem, você entrega amanhã. Pelo menos não terei que ficar nessa bagunça procurando.

Astaroth confirmava alegremente enquanto o loiro ia em direção à porta. Foi junto com ele, se despedindo na saída, permanecendo com um sorriso bobo no rosto. Ao fechar a porta, um olhar tenso se abriu no seu rosto, logo o rapaz correu até o cômodo principal.

A porta do banheiro se abriu quando Gerard saía. Naquele momento, Astaroth percebeu algo de diferente do ruivo. Um de seus olhos estavam enfaixados, mas não parecia ser tão sério assim.

– O que faz aqui? - Pergunta o professor.

– Não lembro de ter me proibido de vim aqui. - Dizia enquanto ia à mesa, assim se sentando na cadeira próxima. - Só estou de passagem.

– Você quase matou eles. - Disse de repente, olhando sério. - Gerard, eu pedi para ficar longe da Elesis e do Lass e você faz o oposto do que eu disse. Tava com a cabeça aonde?

O ruivo abriu um pequeno sorriso brincalhão. Deu de ombros.

– Eu queria ver como era as chamas azuis, não te disse? Uma pena o garoto não ter colaborado. - Fingi a voz melancólica.

– Você já viu o estado da Elesis? - Gerard negou com a cabeça. - Ela se nega em ter perdido, está ignorando tudo em sua volta. Tá presa em sua confusão mental, por sua causa!

– Não me culpe por ela ser tão infantil. Eu não a ataquei, ela que me atacou e eu só me defendi. - Coloca a mão no peito. - Eu sou a vítima desse ataque.

– Por favor, Gerard. - Olha cansado. - Sabe muito bem que ela seria inofensiva para você.

O ruivo não pareceu concorda, cruzou os braços e ficou pensativo. Aquilo deixou Astaroth curioso.

– Hum, até que ela não está tão ruim assim. - Menciona Gerard. - Achei que estivesse pior, sabe, sem as chamas douradas.

– Então você viu.

– Muito belas, tenho que dizer. - Sorri. - Fiquei orgulhoso em ver minha Elesis lutando daquela forma. Ah, o seu garoto também é impressionante, parabéns! Ele é muito bom, mas não para as chamas azuis.

Astaroth olhava sério enquanto Gerard sorria de forma encantadora, o que não irritava o professor. Estava acostumado, já que o mesmo fazia isso sempre.

– Você contou para eles sobre as chamas. Inacreditável.

– O quê? - Fingiu um olhar culpado. - Eles iriam descobrir de qualquer jeito.

– Mas tinha que ser por você? - Se conteve para não gritar.

– Desculpa, não foi intencional. - Astaroth sabia que era. - Só acho que estava na hora de eles saberem, e de crescerem de uma vez. Qual é, seu garoto pode ser muito melhor que aquilo, você sabe disso. - Aponta com um sorriso provocativo. - Ele pode sacrificar mais uma coisinha.

– Deixe o Lass em paz. - Suspira. - Ele já sacrificou muita coisa, se ele fizer isso só será mais uma máquina de matar sem vida. Como você.

Gerard riu sem jeito. Se virou para frente, se encolhendo sobre a cadeira e abraçando suas pernas. Apoiou o queixo sobre o joelho e continuou com o sorriso no rosto.

Astaroth se aproximou, se apoiando na mesa. Olhou para o ruivo e o viu com um olhar baixo. Sentia como se tivesse o ferido, mas era coisa de sua cabeça.

– Eu fiz alguma coisa de errado? - Pergunta Gerard, parecendo mais uma criança.

O professor olhou sério, não acreditando na pergunta.

– Quer que eu responda mesmo?

– Não estou falando disso. - Olha para ele. - Tudo que eu fiz foi algo ruim? Eu matei muitas pessoas, mas deixei a Elesis viva. Isso me faz uma pessoa ruim?

A expressão séria de Astaroth some ao entender sobre o que ele dizia. Virou o rosto para frente, logo dando de ombros.

– Não pergunte isso para mim. Julgar não cabe a mim, nem para outra pessoa. Acho que ninguém te entenderia.

O ruivo continuou a olhar de forma triste. Virou o rosto de lado, deitando-se sobre seus joelhos.

– Você me entende.

Astaroth passou a mão na nuca, continuando com o olhar cansado.

– É, eu te entendo.

Permaneceu o silêncio entre os dois. Gerard ajeitou seu cachecol vermelho no pescoço, o deixando mais confortável. Tinha pego de Elesis e não pretendia devolvê-lo, para ele era algo especial, algo que devia estar com ele há um bom tempo atrás. Ficou aliviado ao saber que estava com a espadachim esse tempo todo.

– Elscud me entenderia. - Disse Gerard.

***

Tinha feito 3 dias que Elesis continuava a ficar calada e olhar para o nada. Sempre recebia notícias de Tammy dizendo o estado da ruiva, que não parecia melhorar muito por causa da depressão da mesma. A aparência da espadachim piorava com os dias que passava, ficando pálida, magra e com olheiras. Elesis não parecia dormir bem, ficava sentada o dia todo, presa em seus profundos pensamentos. Nada ela se expressava.

No momento, Lothos estava indo buscá-la para levar à sua sala. Já tinha avisado para a espadachim que Grandiel e Astaroth viriam no colégio para ter uma conversa com ela, que era óbvio que seria sobre as chamas azuis.

– Elesis, tudo bem? - Pergunta ao abrir a porta.

Seus olhos se arregalaram ao se deparar com o quarto da ruiva. Um cheiro de ferro circulava por lá, porém não havia nenhum. A comandante ficou paralisada na porta, ainda segurando a maçaneta fria com um olhar incrédulo.

Matá-lo. Essa palavra estava escrita em todos os cantos do quarto. Nas paredes, chão e tetos, até mesmo nas janelas. É uma tinta vermelha, Lothos quis acreditar. Não é sangue, pensava.

– Elesis. - A chamou com a voz trêmula.

A ruiva estava sentada no chão, bem no centro. Continuava de costas para a porta, mostrando apenas seus longos cabelos vermelhos bagunçados. Lothos andou até ela, tomando cuidado para não pisar onde estava escrito. Chegou perto da espadachim, conseguindo a ver melhor.

Continuava com seu rosto sem expressão, porém agora fazia algo além de olhar para o vazio. Seu dedo manchado pela a coloração vermelha escrevia algo no chão, que devia ser a mesma palavra em volta do quarto.

– Elesis. - Chamou Lothos. - O que você está fazendo.

Sem resposta, outra vez. A loira olhou preocupada para o estada da ruiva, querendo entender o que se passava em sua mente.

– Venha, temos que sair daqui.

Pegou a espadachim pelo o braço e a ergueu com cuidado. Elesis não lutou contra, se levantou também. O único lado bom era o fato da ruiva está conseguindo a andar novamente, mas continuava a ter dificuldade.

Enquanto a levava para o lado de fora, Lothos viu o que ela tinha escrito no chão: Pai. Seu coração apertou ao ver aquilo.

Tinha limpado a mão suja da garota, agora andavam pelos os longos corredores do colégio. Elesis segurava o braço de Lothos como apoio, assim conseguindo andar tranquilamente sem quedas. Sua aparência foi um pouco melhorada, desse jeito não deixaria os rapazes preocupados.

– Elesis.

Pararam de andar e se viraram. Lire vinha em sua direção, claramente com um olhar preocupado. Arme não a acompanhava dessa vez, a maga se sentia mal toda a vez que via Elesis assim. Ela estava sofrendo de uma certa forma.

– Elesis, por favor, fale comigo. - Pediu a elfa ao se aproximar. Olhou firme para a espadachim, que a olhava sem emoção. - Sei que está sofrendo muito por dentro, por tudo que aconteceu, mas deixe-nos te ajudar. Você é minha amiga, uma irmão, então conte o que está te incomodando. - Coloca a mão no peito. - Quero poder entende-la!

A ruiva continuou a olha-la de forma neutra. Não disse nada, não pretendia. Aquilo incomodou Lothos.

– Por favor! - Sua voz começava a falhar junto com seus lábios tremendo. - Por favor, fale com a gente. Uma hora você não vai aguentar e vai se quebrar sozinha, e eu quero estar ao seu lado antes que isso aconteça. - Fechou sua mão contra o peito. - Então...

Elesis deu as costas, continuando a andar sem Lothos. A elfa abaixou o olhar, apertando com mais força sua camisa. A comandante queria poder dizer algo, mas não conseguiu. Fez o mesmo, deu as costas e acompanhou os passos da ruiva, assim a ajudando a andar pelo o caminho.

Lothos não quis ter feito aquilo.

Logo as duas chegaram no lado de fora, no grande pátio do colégio. Estava vazio, tendo somente Grandiel e Astaroth ali esperando pelas as duas. Eles acenaram quando a viram, voltando seus olhares para o estado da espadachim. Não pareceram surpresa, já esperavam vê-la assim.

– Olá, Lothos, Elesis. - Fala Grandiel. Olha para a ruiva e abri um pequeno sorriso. - Como vai?

A espadachim não respondeu, desviou o olhar.

– Nos ignorando novamente. - Menciona Astaroth com um sorriso sem jeito. - É compreensível.

– Então, vamos para a minha sala? - Pergunta Lothos.

Confirmaram e seguiram a loira.

Elesis continuou a manter um olhar baixo, até ficar sério de repente. Sentiu seu olho ferido lacrimejar, as cicatrizes de suas costas queimarem e seu coração ficar mais pesado que o comum. Seu sangue esquentava, a deixando irritada de uma maneira que nem ela mesmo compreendia.

Por que tudo em sua volta parecia ir contra ela?

– Traidores. - Murmurou com a voz arrastada.

Parou de andar, fazendo o mesmo Lothos e logo Grandiel e Astaroth também. A ruiva abaixou o rosto, colocando suas mãos na cabeça.

– Elesis, tudo bem? - Perguntou a comandante preocupada. - Está sentindo dor?

Nada doía, somente um sentimento estranho que crescia dentro dela. A raiva que teve quando se encontrou com Gerard é similar com o que está sentindo agora. Era uma coisa descomunal.

Sentiu a mão de Lothos pousar sobre seu ombro, deixando a ruiva incomodada com aquele peso.

– Mentirosos! - Berrou Elesis.

Lothos voou pelo o pátio quando um soco foi acertado em sua barriga. A espadachim a atingiu tão rápido que nem teve tempo de se defender. Quando se levantou, viu Elesis descontrolada avançando contra Grandiel e Astaroth.

A ruiva pulou contra o professor, erguendo os punhos fechados. Astaroth se defendeu do ataque, fazendo uma careta, e desviou do ataque seguido. Elesis escorregou pelo o chão, logo voltando a correr e soltar seus gritos abafados.

– Elesis, pare! - Grita Lothos.

A espadachim ergueu seu rosto, mostrando sua face tomada pelo o ódio. Perceberam algo de diferente nela, o que deixaram o trio atento. Elesis tinha ativado o Berserk, fazendo somente seu único olho ficar vermelho pela a técnica. Por isso de ter machucado Astaroth quando o atacou.

Elesis ignorou o pedido de Lothos e avançou contra Grandiel. O loiro rapidamente levantou uma barreira mágica, tendo uma coloração azulada. A ruiva socou a parede, a trincando com um único ataque. Quando preparou outro ataque, Grandiel expandiu a barreira rapidamente, jogando a espadachim contra o solo.

– Não a machuque. - Pede Lothos ao se aproximar. - Ela está ferida, não se esqueça.

Elesis se levantou outra vez, agora se cobrindo pelas as próprias chamas vermelhas. As arremessou contra o trio, o que fazia efeito algum quando eles desviavam.

– Morram! - Gritavam furiosa.

– Elesis.

Parou os ataques ao ouvir aquela voz calma. Se virou ainda com o rosto fechado, assim vendo Arme com um olhar assustado. A maga estava passando por ali até ver a confusão entre eles, onde tinha Elesis envolvida.

A ruiva avançou contra a roxinha, a deixando mais assustada ainda. Preparou suas mãos como garra, pronto para perfurar a carne da baixinha. Quando executou o ataque, quase a acertando, algo a puxa violentamente.

Astaroth a pegou pela a camisa e a arremessou para longe. A ruiva caiu de pé, sem perder tempo, avançou contra ele. Tentou acertá-lo com os punhos, mas ele desviou. Passou direto e, sem perceber, foi empurrada contra o solo. O rapaz agarrou um de seus braços e torceu, assim a jogando contra o chão e a imobilizando.

Elesis tentava se soltar enquanto rosnava em raiva. Era inútil com Astaroth a prendendo daquele jeito.

– Isso é um pouco nostálgico, não? - Fala Astaroth com uma risada sem graça.

Lothos soltou um suspiro de alívio, Grandiel olhou em reprovação e Arme ainda olhava assustada para sua amiga no chão, a encarando com um olhar assustador. Nem parecia a Elesis que conhecia.

Verdade, aquela era uma cena nostálgica para a maga também ao ver a ruiva daquele jeito, nervosa e usando o Berserk.

***

Seguia o albino por aqueles corredores elegantes com passos apressados. Tentou convencê-lo que era um péssima ideia estar ali, principalmente em seu estado. Ele não ligou e continuou o caminho do mesmo jeito.

– Lass, se o Grandiel e o Astaroth descobrir que você veio ver Cazeaje eles ficarão furiosos. - Avisava Jin nervoso. - E também comigo! Eu vou tomar um castigo por sua causa.

– Quer parar de falar e ficar calmo? - Pede o ninja sério. - Antes que eu me arrependa de ter te trazido.

Como o lutador tinha dito, ambos estavam no Conselho à procura de Dona Cazeaje. Como já tinham feito alguns dias que Lass tinha se recuperado um pouco, isso é, já podia andar, mesmo que precisasse de ajuda de vez em quando. Continuava com o corpo cheio de curativos e enfaixado, e seu braços engessado era apoiado por uma fita em seu ombro. Alguns movimentos que fazia eram dolorosos, mas parece que a raiva que sentia por Cazeaje falava mais alto.

– Vamos voltar. - Pedia Jin. - Deixa pra ver ela depois, tipo num dia em que eu não irei me ferrar por causa disso!

Lass revirou os olhos, abrindo a porta à sua frente com determinação. Seu olhar sério se direcionou para todos os cantos daquela sala, procurando por ela. Cazeaje não estava em sua sala, o que era estranho.

– Ela não está, que maravilha. - Menciona Jin aliviado. - Agora vamos.

Antes que Lass pudesse dizer para o ruivo se calar, ouviu passos vindo naquela direção. Se virou seriamente, vendo aquela pessoa andar no mesmo corredor que passaram. Jin fez o mesmo, se virou e engoliu seco ao vê-la.

Cazeaje, acompanha por Vegas, sorriu ao ver o ninja parado na porta de sua sala. Ela continuou a andar de forma graciosa, até parar alguns metros antes. Ajeitou sua postura e alargou mais ainda seu sorriso, que chegava a irritar o albino.

– Ora, ora. - Dizia ela. - O que temos aqui? Finalmente veio se juntar a mim?

Lass fechou os punhos, controlando a raiva que sentia. Queria poder dizer milhares de palavras sujas para ela, mas se conteve. Respirou fundo e suspirou, falando em seguida:

– Sua maldita. - Falou friamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Review?
*O que será da Elesis agora? Veja no próximo capítulo! Os próximos serão bem tensos, não com lutas mas com cenas sérias! Elesis irá mudar um pouquinho, acho que já dá para perceberem isso.
* Nada para dizer, só torçam para a nossa querida ruiva ficar bem ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.