Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 133
Em busca das estrelas


Notas iniciais do capítulo

Oláááhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, chegou o dia, né? Não vou ficar falando muito aqui, deixarei para as notas finais :3 O capítulo está grande, eu acho que é o maior da fic toda, se não for, é o segundo maior. Espero que gostem do final ^-^
Capa: Editada pelo Paarthurnax. Obrigada por ter me ajudado com as capas :3
Boa Leitura!



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O tempo costumava mudar quando algo de ruim acontecia ou estava para acontecer. Elesis sentia isso enquanto olhava o céu nublado pela janela. Sentada em sua cama, as enfermeiras acharam melhor um pouco de ar fresco, mesmo que estivesse um pouco frio para deixar a janela aberta. A espadachim não se importou, permitiu que o vento invadisse o cômodo e bagunçasse seu cabelo de vez em quando.

— Ainda é incrível como você se recuperou tão rápido. – Comenta Arme. – Não sente mais dores nas pernas?

— Por incrível que pareça, não. – Diz Elesis. As pernas estavam descobertas para poder observar a pele sem cicatrizes. Todas as pequenas e grandes sumiram. – Me sinto mais revigorada.

— Isso é muito bom. – Fala Lire. – Amanhã já poderá voltar para casa.

— Sim! E vou aproveitar para treinar algumas habilidades. – Fechou os punhos, animada com a ideia. – Sinto falta de usar uma espada.

Suas amigas riem com a atitude repentina da espadachim. Energética demais para si própria.

— Não tem mais necessidade para ficar forte, Elesis. – Lembra Arme. – Tudo agora estão em... completa paz.

Esperavam uma reação contente por isso da ruiva, mas ela apenas abaixa os olhos para os punhos fechados. Lembrar da morte de Cazeaje a deixava feliz, sabendo que o mundo não estaria mais nas mãos daquela mulher. Ao mesmo tempo, lembra da morte de Gerard e das suas palavras. Ele não era culpado, de certa forma, no final, apenas foi mais uma vítima do jogo de Cazeaje.

O mundo era estranho e complexo, principalmente após todos esses eventos. Elesis se sentia bem, como uma nova pessoa. Porém, bem fundo, o desejo de lutar e ter uma aventura continuava vivo. Por onde começar? Essa era a grande questão. Estava perdida e os caminhos que tinha escolhido anos atrás foram apagados pela dura realidade. Sem vingança para fazê-la ter um objetivo.

— Sabe, mesmo sabendo que não tem nada para fazer, gostaria de comer algo. – Diz a espadachim. Seu sorriso é largo. – Que tal irmos para uma lanchonete e comermos alguns bolos?

— Parece ser bom. – Aprova Arme. – Aproveitamos que você estará melhor amanhã e iremos lanchar naquele lugar que você gosta.

— Já estou até imaginando o gosto das sobremesas. – Disse, lambendo os próprios lábios.

Arme fala o mesmo, logo as duas juntas falando sobre os deliciosos lanches. Lire permanece distante. O sorriso e o brilho no olhar da espadachim se tornou um incomodo para a elfa após saber o que tinha acontecido com ela. Ela prometeu que não tocaria no assunto com a ruiva, o mesmo para Arme. Deixariam a situação acontecer sozinha, até que chegasse o momento para poderem contar.

Não tinha visto Lass, mas sabia como estava devastado com tudo que acontecia.

***

O tempo tinha ficado mais frio, a chuva não parava de cair desde ontem à noite. Elesis não gostava do clima molhado como estava, talvez por ter um poder de chamas e isso causasse um medo de ser “apagada”. Por outro lado, a chuva a fazia se lembrar de coisas ruins, situações que gostaria de esquecer. Seu passado continuava a ser doloroso.

Esfrega as mãos geladas e assopra para que esquentasse. Tinha esquecido as luvas, suas unhas criando uma coloração roxa pelo frio. As cicatrizes em cada palma doíam toda vez que olhava, sabendo como foram formadas. Tantas vezes que colocou as mãos na frente das lâminas para se defender, o que acabou criando essas cicatrizes como grossas linhas.

Por que elas têm que demorar tanto? — Pensa Elesis.

Puxa o cachecol sobre a mesa e enrola no pescoço. Seu calor é diferente, confortante de uma maneira familiar. O tecido vermelho com alguns furos era o mais perfeito para a espadachim. Fazia tempo desde que o colocou pela última vez. Felizmente, Gerard devolveu antes de sua partida.

Seus olhos são erguidos quando o som da porta do estabelecimento se abrindo a alerta. É familiar, principalmente à cena. Elesis sorri, segurando a risada.

— Sabia que seria bom trazer um guarda-chuva. – Fala a elfa totalmente molhada pela chuva.

— Agora é tarde. – Disse Arme, a situação parecida.

Levanta a mão para que elas vejam. As duas torcem uma parte da roupa e se aproximam da mesa onde estava.

— Vocês não parecem bem. – Debocha Elesis.

— Não comece, Elesis. – Fala Lire. – Tem sorte por estarmos aqui.

— O que eu posso fazer? Vocês me amam. – Joga os braços para o lado. – É claro que viriam.

— Na verdade, só estávamos preocupadas com seu estado. Está frio e você pode ficar mais doente. – Explica Arme. Ela joga a franja molhada para trás.

— Ah, claro! A pobre Elesis precisa de companhia por causa do seu estado. – Fazia as poses dramáticas, por fim, deitando sobre a mesa. – Estou morrendo, me ajudem! Arme, me cure!

Reviram os olhos enquanto a espadachim persistia na sua atuação dramática. Se fosse no passado, elas ririam, mas após tantas vezes que viram a espadachim quase morrer, suas piadas perderam a graça. Não queriam mais ver sua amiga machucada como da última vez.

— Nenhuma risada? – Elesis pergunta. – Poxa, meu senso de humor piorou tanto assim?

— Só não estamos no clima para isso. – Diz Lire. – Está tudo bem depois... Depois de tudo isso?

— Bem, eu estou feliz pela morte de Cazeaje. Sério, estou quase fazendo uma festa. Mas... – Esfrega as mãos, sentindo a grossa cicatriz. – Tem o Gerard e mais. Me sinto culpada por estar aqui e ele não.

— Não se sinta, Elesis. – Fala Arme. – Você não teve culpa.

Ela coça a bochecha, indecisa se acreditava ou não na maga. De certa forma, a culpa era sua por não ter acreditado em Gerard desde o início. Sua única escolha certa foi ter se colocado contra Cazeaje. Sua morte não estava clara, sempre que tentava lembrar uma dor de cabeça a impedia.

— O corpo do Gerard está com o Conselho, certo? Cazeaje tomou a posse antes de me prender.

— Não sabemos, nada foi mencionado até agora. – Disse Lire, pegando o cardápio. – Talvez o Ronan saiba de algo.

Sem sucesso, a espadachim assente. Gostaria de se despedir pelo menos uma vez, de forma apropriada.

— Ronan? – Pergunta de repente, confusa. – Por que ele saberia?

Lire e Arme se entreolham, surpresas ao lembrarem desse pequeno detalhe. Elesis tinha despertado há pouco tempo e elas não conseguiram explicar tudo que aconteceu enquanto esteve fora.

— Após a morte de Cazeaje, o Conselho ficou sem um líder. – Explicava Lire. – Queriam que Adel ficasse temporariamente, mas ele recusou.

— Tá, e o que o Ronan tem a ver?

— Como o único herdeiro direto da família Erudon, Ronan foi escolhido para ser o novo líder. – Disse Arme, sem conter o sorriso.

— Quê?! – Quase derruba a mesa ao jogar as mãos sobre. A surpresa é rápida para reagir. – Ronan é o novo líder? O Ronan que a gente conhece?!

— Ele mesmo. – A elfa segura a risada com o jeito da espadachim. – Era bem óbvio, não?

— Mas todos os líderes são pessoas fortes e... velhas. Ronan pode mesmo lidar com isso tudo?

— Ronan é esperto, não como Cazeaje, mas ele vai saber lidar. – Diz Arme.

Elesis se recosta no banco e encara o vazio. O pequeno Ronan que conheceu quando criança tinha se tornado um homem, um líder como deveria ser. Havia felicidade e orgulho nos olhos da ruiva. O mesmo acontece ao olhar para suas amigas e verem como tinham crescido, como ela em si tinha deixado de ser uma garota teimosa. Após a luta com Cazeaje percebeu o valor da amizade, todos eram preciosos e não conseguiria imaginar um mundo sem eles.

Sob o cachecol vermelho, Elesis sorri.

— Por que está sorrindo? – Lire percebe a bochecha da espadachim formar um.

— Só lembrando da última vez que viemos aqui. Eu tinha pedido para me encontrar com vocês para me ajudarem a entrar como um garoto no colégio. – Elesis ri. – Vocês acharam que eu estava louca, mas aceitaram no final.

— Ainda achamos que você é uma louca. – Disse Arme. – Mesmo depois de tudo, você faria a mesma coisa.

— Não veria problema em me vestir de garoto. – Balança os ombros. – Foi bem divertido todos esses anos.

— E por quê? – Lire não tira os olhos do cardápio. – Viver entre garotos é difícil, principalmente um bando de idiotas como aquele.

— Porque... Bem... – Parecia ter certeza do que dizer, até parar e pensar. Não sabia o que responder.

É como se tivesse esquecido de algo, que era tão importante para fazê-la tentar lembrar. Ela cruza os braços, irritada consigo por não saber o que era.

— Eu estive com meus amigos, isso que importa. – Fala Elesis, sem mais paciência para continuar. – Eles são legais e divertidos.

— Só por isso? – Arme pergunta. É estranho a forma que ela a olha, como se a analisasse. – Nada mais?

Encolhe-se com os olhares das duas. O vazio entre suas memórias volta a incomoda-la. Vira o rosto para o lado, querendo evitar a pergunta. Quando percebe, seu olhar está sobre um único lugar, uma cadeira vazia no balcão. Deveria ter alguém sentado ali, sente.

Mas não havia. O frio fica maior, puxando o cachecol para mais perto.

— Já sabe que os garotos não ficarão no colégio, Elesis? – Menciona Lire. – Alguns irão embora, viajar.

— Jin me contou que iria com o Azin para Terra de Prata. – Não gosta da ideia de ter o ruivo longe por um ano, mas teve que fingir que estava tudo bem. – É bom para ele, conhecer mais lugares e pessoas. Ficar preso no colégio se torna irritante depois de um tempo.

— As coisas não serão como antes. – Fala Arme. – Não poderá mais ver seus amigos como antes e ainda terá que resolver seus problemas com o Conselho.

Abaixa o rosto. Não tinha mais Cazeaje, porém os demais líderes continuaram. Teria que cumprir alguns requisitos para eles durante um tempo, assim não seria vista como hostil aos reinos.

— Acho isso inútil. – Apoia a mão sobre a mesa e abre. – Depois que acordei não sinto mais as chamas.

— Então você perdeu as chamas?

— Eu não sei. Não consigo invocar ou senti-las. – Estala a língua. – Elas sumiram.

Deveria ser algum tipo de benção, suas amigas pensavam, enquanto Elesis sentia a falta do poder que carregava. Não sabia o motivo, mas queria poder sentir novamente as chamas.

— Mas também perdi as outras chamas. As douradas, roxas e as brancas. Todas sumiram.

— Sério, Elesis? – Lire entende a dor nos olhos da espadachim. – Mas por quê? Sabe o motivo?

Usou as chamas azuis com todo potencial que ofereciam. Quase morreu, lembra de sentir sua respiração falhar e o mundo ficar escuro em seguida. Foi estranho, o clima continua o mesmo após isso.

Seu último momento com as chamas azuis causou isso, pensa sem tirar o olhar triste da mão.

— Ao menos, suas pernas melhoraram! – Arme é positiva. – Sua saúde também!

— Sim, pelo menos isso. – Seu humor não muda.

Levanta, notando a pouca dificuldade que tinha para isso. Suas pernas estavam fracas para isso, agora não tinha o mesmo problema, como se nada tivesse acontecido. Como Arme falou, era para estar feliz, porém não conseguia.

O tempo continuava estranho como seu incomodo com a cadeira vazia perto do balcão.

— Eu vou no Conselho, talvez o Ronan saiba algo do corpo do Gerard. – Diz a espadachim.

— Quer que a gente vá com você? – Arme se prepara para levantar.

— Não é preciso, ficarei bem sozinha. Ah. – Deixa o guarda-chuva sobre a mesa. – Podem pegar um resfriado, é melhor evitarem a chuva. Até!

A antiga Elesis voltou, mas com as cicatrizes da nova. Não existia mais ódio no olhar da espadachim, porém tinha um vazio que elas sabiam o motivo. Ela tentaria desvendar e não conseguiria, não no estado que estava.

***

— Hã, como assim não posso vê-lo? – Elesis indaga.

Durante o caminho pegou a chuva por ter deixado o guarda-chuva com suas amigas. Achou que o capuz do casaco seria o suficiente para protege-la, mas estava enganada ao chegar na entrada do Conselho e ver seus cabelos molhados. O tapete do corredor sofre o mesmo por suas botas sujas e molhadas.

— O líder estar muito ocupado para te ver. – Edel repete, sorrindo dessa vez. – Volte mais tarde.

— Você não tem o direito de me expulsar. Nem trabalha aqui! – Aponta para a capitã.

— Eu posso ter me mudado para cá.

— Então eu deveria ter morrido naquele dia. O que faz ainda aqui, Edel?! Não deveria ter ido embora com o seu irmão?

— Adel ainda tem coisas para resolver ainda. Enquanto isso, continuamos aqui.

Elesis rosna. Não sai do lugar, sabendo que atacaria a capitã na primeira chance que visse. Seu sorriso sereno funciona para provoca-la.

— Ah não! – Alguém exclama atrás da ruiva.

O sorriso desaparece no rosto de Edel antes que Elesis se virasse. Ela sorri, quase gargalhando ao ver a mesma expressão no rosto de Lupus. O rapaz passa a mão no cabelo e tira a água que se acumulava entre as mechas.

— O que essa coisa continua fazendo aqui? – É a vez do caçador reclamar. – Não tinha ido embora?!

— Perguntei o mesmo, mas não adiantou. – Suspira Elesis.

— Isso é algum tipo de piada? – Edel questiona, sem o senso de humor de antes. – Entendo por que Elesis está aqui, mas você? O que veio fazer?

— Eu vim... – Para ao notar Elesis. Olhares curiosos caem sobre ele. – Vim acompanhar um certo alguém.

Edel percebe quem é quando Lupus vira o rosto para o lado. Evitava algum questionamento vindo da espadachim. O único momento de entendimento dos dois é de forma triste, aumentando entre eles para que Elesis não desconfie de algo.

— Enfim, irei ver o Ronan. – Disse a espadachim. Ela toma o caminho, desviando da capitã. – Nem tente me impedir.

Edel não tenta, nem mesmo Lupus. Havia chance da ruiva se encontrar com ele, portanto não interfeririam, tudo estava nas mãos deles. Ninguém tinha ousado de falar para a espadachim sobre isso, optaram por não se intrometerem.

***

Fazia um bom tempo que Adel segurava sua mão com um sorriso bobo.

— Que bom que veio me ver. – Ele fala. – Finalmente podemos conversar em paz.

Tenta recuar mais, percebendo que estava contra a parede para evitar o líder. Lass vira o rosto para o lado, incomodado com a aproximação do rapaz.

— Afaste-se, Adel. – Diz o ninja. – Não estou para brincadeiras.

— Pensei que já tivesse esquecido.

Encara o líder, puxando sua mão para ser solto.

— Se foi um trocadilho, não teve graça. – Afasta Adel com um empurrão.

Mesmo com o mau humor de Lass, ele ri enquanto massageava o local acertado. Tinha chamado o ninja para conversar como amigos, porém não consegue ao ver seu jeito calado voltar. Soube o que ocorreu com Elesis, por isso tentou evitar de tocar no assunto, o que não aconteceu ao falar aquilo sem querer.

— O que você quer? – Lass pergunta. – Seja breve, não estou com vontade de continuar aqui.

— Você viajará. – É direto como pedido. – Por um tempo.

— Por quê? – Cruza os braços.

— Sua situação melhorou com os demais líderes, mas isso não tirou a total desconfiança deles. Querem que você visite cada reino e prove sua honestidade.

— Não irei servir ninguém. – Olha irritado.

— Não é servir, é apenas provar que você é inofensivo. Cada líder pedirá algo em específico e você terá que fazer. – Corta o ninja. – Eu estarei presente e decidi o que será melhor para você. Não são coisas difíceis, eu prometo.

Como previa, tudo tinha um preço. Aceitaram a saída de Cazeaje com a morte, mas queriam se aproveitar de alguma forma dele. As chamas eram observadas por todos, cada um com seu desejo egoísta. Não era a liberdade que queria, mas era a paz que desejava.

— Essa viagem... – Nervoso, olhava para os lados. – vai demorar muito? Não quero ficar longe por muito tempo.

— Entendo o que quer dizer, Lass. Mas isso só dependerá de cada líder.

Muito tempo, entendeu de todo jeito. Ficará longe da cidade, de seus amigos e principalmente... Esfrega o rosto, apagando o pensamento.

— Tenho alguma outra escolha?

— Infelizmente, não.

Aceita com um breve balançar da cabeça. Se não fizesse isso seria pior, mesmo sem Cazeaje a vida continuava problemática. Mas não reclama ou pensa demais sobre a viagem, já que a todo momento que pensava em estar fora era o mesmo de deixa-la sozinha. Apesar de ser um desconhecido, queria ser o desconhecido que estivesse por perto.

— Gostaria muito de poder ajuda-lo nisso. – Adel leu sua expressão vazia. – Mas talvez seja melhor assim.

— Melhor? Por que seria melhor? – Fita o líder com indignação.

— Se a Elesis lembrasse de você, provavelmente, as chamas azuis poderiam se libertar novamente. Todos os líderes não sabem sobre ela, apenas Cazeaje e eu.

— Está dizendo que eu não posso interferir? Fazer as memórias dela voltar?

— É só um palpite. – Estica as mãos para que o ninja não entenda errado. – Talvez ela tenha feito isso por algum motivo. Pense, Lass. Se a Elesis lembrasse de você, ela insistiria em ir com você para essa viagem. Não levaria tempo até que fosse descoberta.

A teimosa espadachim faria exatamente como Adel falou. Sem as lembranças que tinha sobre ele, a ligação com suas chamas era menor. Não havia mais motivo para Elesis ter as chamas azuis e sua perda de memórias ajudava, mantendo-a longe do perigo que elas causavam. Lass viu o estado da ruiva ao usar as chamas, quase perto da morte se ele não interferisse.

Se ele não sacrificasse a si próprio.

As dores o obrigam a se sentar na cadeira próxima. Passa a mão sobre a perna e volta a olhar Adel, inseguro da decisão a tomar.

— Posso estar errado. – O líder volta a repetir. – Mas também não.

— Mesmo que eu tente, ela não se lembrará de mim. – Dá de ombros e joga o rosto para o lado. – Talvez seja melhor assim.

Pelo jeito evasivo, Adel sabe que Lass ainda está pensativo por qual opção tomar. As dores e as cicatrizes que carregava eram mais pesadas, fazendo uma grande diferença nesse momento. O ninja era frio quando havia emoções no meio, porém, com o tempo isso mudou. Lass não apenas pensar mas sente.

— Quando será a viagem? – Ele pergunta de repente.

— Por esse tempo, iremos no final da semana. Vou com você, Grandiel estará ocupado para fazer companhia.

— Então eu poderia levar alguém como acompanhante? – Não se anima muito com a ideia.

— É, não vejo problema nem os líderes. Contanto que não cause confusão.

Ele não pensa muito sobre o assunto, volta a ficar cabisbaixo, exatamente como chegou mais cedo.

Adel suspira.

— Aproveite esse tempo para fazer algo que não vá se arrepender depois. – Recomenda o líder. – Quando você for, não terá mais volta, Lass.

Teria uma volta, porém levaria tempo até que isso acontecesse. Durante toda essa viagem haveria saudade de casa, e como Adel falou, arrependimento pelo o que não teve coragem para fazer.

Seu humor não muda, o destino desde o início o aguardava isso. Aconteceu quando parou no circo, agora voltava. Não era uma mera coincidência, as Deusas desejavam assim e nada poderia mudar.

***

Ao entrar na sala, esperava ver Cazeaje sentada do outro lado da mesa enquanto a observava entrar. Um alívio preenche seu peito ao lembrar que a líder estava morta. A porta é aberta e um sorriso também.

— Não achei que fosse ficar com essa sala. – Elesis fala. – Continua com o cheiro dela.

Sentado na mesma cadeira que a líder costumava usar, Ronan ri com o deboche da espadachim. Ele larga os papeis sobre a mesa e fica de pé.

— É bom te ver, Elesis. Desculpe por não ter ido te visitar no hospital, estive ocupado. – Olha para a pilha de pastas no canto da mesa. Suspira. – Como pode ver.

— Quem diria? Rabo de cavalo subiu de cargo!

— Ainda com esse apelido?

O rapaz para na frente da mesa, sentando na beirada enquanto a espadachim rodeava pela sala e mexia em sua bagunça. Não demora até que ela note sua roupa elegante e o casaco sobre os ombros. Escondido sob o tecido estava o braço engessado de Ronan. Algumas feridas ainda restavam na sua face, principalmente um corte sobre o canto da sobrancelha.

— Você adora quebrar o braço, não? – Questiona Elesis. – O mesmo, ainda por cima.

— Não é minha culpa se meu braço gosta disso. Aliás, o que faz aqui?

— Vim ver como está o novo líder do Conselho. – Acerta um leve tapa no peito do rapaz. – E com esse cargo você deveria dar um jeito na Edel. Ela é a sua segurança, por acaso?

— É temporário. Preciso me recuperar primeiro e ver o que farei com esse Conselho. – Nervoso com os pensamentos, coça a cabeça. – É muita coisa para fazer, não deveria nem estar conversando com você.

— Eu sou VIP, tenho esse direito de te interromper. Mas como é ser o chefão daqui? – Corre até a cadeira atrás da mesa e se joga. Cruza as pernas e joga sobre os papeis importantes do rapaz. – Sem ordens, sem Cazeaje...

— Uma maravilha pela falta da Cazeaje, mas uma agonia para resolver seus problemas. Seria melhor deixar isso para o Grandiel resolver.

— Parece uma garotinha reclamando. Você é um príncipe, é o seu dever fazer isso. – Aponta, sorrindo. – Em breve, um rei.

Não fica animado com a ideia de ser o próximo rei, isso é, teria mais responsabilidades e assuntos para resolver. Sua tranquila vida sumiria aos poucos até que restasse nada além dos papeis sobre a mesa.

— Vou sentir falta das suas provocações, Elesis.

— Bem, não irei para lugar algum, nem você. – Levanta da cadeira, notando o cansaço nos olhos do rapaz. – Te visitarei sempre que puder.

— É bom ouvir isso. – Um sorriso sereno se abre.

— Ah, e indo para o assunto principal. – Seu jeito muda repentinamente. Elesis está séria. – Como o líder, você deve saber onde está o corpo do Gerard, certo? Cazeaje pegou antes, provavelmente tenha guardado em algum lugar aqui.

A surpresa de Ronan não parece ser bom sinal.

— Desculpe, mas não fui informado sobre isso. Sei que Cazeaje pegou o corpo de Gerard, mas até agora não foi encontrado. – Entende a decepção da ruiva. – Muitas coisas dela já foram retiradas do prédio, com certeza alguém encontraria um corpo no meio disso.

Estava enganada em achar que poderia entender as intenções de Cazeaje apenas por seu jeito. Ela pegou o corpo de Gerard por outro motivo, provavelmente o enterrou ou queimou com sua magia, apenas para ter o prazer de terminar com os restos. Ela era doente, não se esquecia.

— Tudo bem. Se encontrar ou ter alguma notícia é só falar. – Pede, desanimada. – Acho melhor ir, você tem muito trabalho para resolver ainda.

— Eu te acompanho.

A gentileza de Ronan nunca permitia que a espadachim ficasse sozinha. Ela sai da sala e o rapaz corre atrás para acompanhar. Diminui os passos ao ver a dificuldade do mesmo para se locomover com os machucados. Ronan não era o único ferido após a invasão ao Conselho, os rapazes foram os principais feridos quando enfrentaram Cazeaje. Ainda precisava agradecer a todos pela ajuda.

— E quanto a Arme? – Elesis pergunta de repente.

— O que tem ela? – O nervosismo toma forma rapidamente.

— Ela gosta de você e me contou o que aconteceu entre vocês. – Fita com um sorriso malicioso. – Quero saber como ficarão entre vocês.

— Fala sobre isso com você é um pouco estranho.

— Por quê? Sou uma ótima pessoa para conversar.

Ronan encara a espadachim e continua calado. Os motivos que falariam deixariam a mesma furiosa, o que faria seu outro braço ser quebrado.

— Acho que dará certo. – O rapaz fala. – Arme é uma ótima pessoa, e não posso negar minha afinidade por ela.

— Então... – Olha animada.

— Então falarei com ela depois, sozinhos. Sem você por perto.

— Eu já disse, sou uma boa pessoa! Nunca que eu estragaria o momento de vocês.

O rapaz volta a encarar. O jeito animado da ruiva atrapalharia, não importa a situação que fosse.

— Só não esteja escondida para ouvir nossa conversa. – Ronan previa isso vim da espadachim. – Será muito estranho.

— Relaxa, não aguentaria ver vocês se...

A palavra trava na sua garganta. Viram para o outro corredor, os dois olhando ao mesmo tempo para a cena que tanto o espantam. Elesis não completa a frase, o que vê já valia como uma.

Pressionada contra a parede, Edel não demonstrava a seriedade que deveria. O mesmo para Lupus à frente enquanto a beijava. Da mesma forma que demonstravam agressividade nas palavras, demonstravam no momento.

Edel é a primeira a notar a dupla espantada. Segura o rosto de Lupus e empurra, fazendo o rapaz perceber o mesmo. A capitã olha emburrada e se vai, sem desculpas ou alguma reação vergonhosa.

— Vocês estão... – Elesis tenta perguntar.

— Não viram nada! – Exclama Lupus. – Continuo odiando aquela garota.

Essa é a explicação do caçador antes de ir em direção oposta da Edel. Os dois não mostram paixão ao se beijarem, deixando Elesis e Ronan mais confusos em entender o que viram. A espadachim olha para ele à procura de uma explicação.

— Não entendi também. – Disse Ronan.

E não entenderiam tão cedo, a cena se repetiria até que se cansassem de tentar descobrir o real motivo. Por estar com a cabeça cheia de preocupações, Elesis deixa a curiosidade de lado por um momento.

— Bem, acho que já vou indo. – Diz a espadachim. – Podemos conversas depois.

— Se eu tiver um tempo sobrando, eu te ligo.

— Claro, líder do Conselho. – Brinca com o título do rapaz.

O calmo sorriso que se encontrava na expressão de Ronan some quando seus olhos se movem para frente. Ele parece ficar tenso ao voltar o olhar para ela, tentando esconder em seguida. Elesis olha sobre o ombro, curiosa. Era Adel quem aparecia no final do corredor, sorridente e brincalhão com sua companhia. Não era um conhecido, apesar de ser olhada com surpresa.

Adel se aproxima ao nota-la.

— Elesis, quanto tempo! Como vai indo? – Ele pergunta.

— Bem, melhor se sua irmã não me perturbasse. – É sincera. – O que fazem ainda aqui?

— Iremos ir embora no final da semana, não seja apressada.

— É bom mesmo!

Pronta para sair de perto do líder, Elesis se depara com o olhar do acompanhante de Adel. Seus olhos se encontram e o rapaz de cabelos pálidos fica vermelho, virando o rosto para o lado. A espadachim não questiona, já bastava Lupus e Edel, agora um estranho a olhando era demais. Joga a mão para o alto e se vai, deixando o trio em completo silêncio. Arruma seu cachecol, preparada para chuva mais uma vez.

O coração de Lass para de bater forte quando Elesis está distante. Olha a ruiva se distanciar, ignora-lo como um desconhecido.

— Lass, por que você não vai atrás? – Ronan pergunta. – Talvez...

— Não! – Grita. O olhar ferido é confundido por raiva, calando o rapaz. – Não é tão simples assim.

Elesis não se lembraria dele, as chamas tinham apagadas todas memórias. Mesmo que tentasse, doeria ouvir a mesma pergunta novamente:

— Quem é você?

***

Pela situação que passava, o nervosismo o fazia morder o lábio enquanto pensava. Quanto mais tempo ficava preso na própria mente, mais nervoso e irritado ficava. A conversa que teve com Adel era para deixa-lo mais calmo, porém o efeito foi o oposto. A viagem estava próxima, seu tempo logo acabaria.

— Lass, você precisa resolver isso. – Jin fala. – Ficar olhando não vai mudar nada!

— E falar também não! – Retruca, irritado. – Será que ainda não percebeu? Eu sou um estranho para a Elesis!

— E continuará sendo com essa atitude! Parece uma criança teimosa.

Fica calado e desvia o rosto, querendo evitar ofender o ruivo com as palavras. Jin não entendia sua situação, ele nunca passou por ela antes para entender.

— Você irá embora no final da semana e não sabe quando voltará. – O lutador não se cala. – Não sabe se a Elesis ainda estará aqui para você.

— Ela não vai se lembrar de mim, isso é certo. Falar quem eu sou não fará diferença, só vou parecer um tarado.

— Mas e se a Elesis acreditar? Todos nós podemos provar!

Balança a cabeça, seu humor sumindo aos poucos.

— Não vou conseguir conquistar a Elesis de novo. Acabou. Fim de jogo.

Jin não sabe mais o que dizer, a tristeza de Lass começava atingi-lo. Ele tinha razão, Elesis é uma pessoa difícil de se lidar, principalmente falar algo do tipo. Ela não acreditaria no ninja, criaria ódio se persistisse.

A porta do quarto se abre, sendo fechada com força. Jin pergunta o que Lire fazia ali, mas é ignorado. A elfa anda diretamente até o ninja com a expressão fechada.

Lass não se levanta da cama quando é acertado pelo tapa da elfa. Sua bochecha arde.

— Satisfeita?

Outro tapa, mais forte que o anterior. Olha Lire sem reagir ao ataque, não era preciso revidar quando a dor era a única coisa que sentia.

— Você é um idiota. – Ela fala. – Eu achava que a Elesis era egoísta, até ver você.

— O que eu fiz? – Perde a paciência ao ouvir a espadachim ser mencionada.

— Você não fez nada, é isso! Como pode deixar a situação desse jeito?!

— É isso que eu estou tentando entender. – Fala o ruivo ao fundo.

— Até você?! – Parece que todas as pessoas que encontrava tinha o mesmo pensamento. Isso não ajudava em nada para o ninja. – Parem de pegar no meu pé por isso! Já deu!

Lire recua quando ele fica de pé. Como Jin, olha confusa para o ninja que se dirigia à janela, abrindo e apoiando o pé na beirada.

— Não, não, não! – Jin avança.

Abraça Lass por trás e o puxa para fora da janela. Não deixaria o ninja fugir tão facilmente, seu amigo precisava ouvir sermões até que mudasse de ideia.

— Me solta, Jin! – As pernas do ruivo enrolando na sua cintura enquanto os braços ficavam em seu pescoço. Poderia se soltar do lutador, mas para isso teria que machuca-lo. – Estou falando sério!

— Lire, é a sua vez! – Pede o ruivo sufocado sob o corpo pesado de Lass.

Para a cena violenta, a elfa se aproxima com calma. Poderia não ser ouvida, portanto, acerta um chute na barriga do ninja. Ele para de se mexer sem fôlego.

— Elesis está sentindo sua falta.

— O quê? – Sufocado, Lass a encara. – Pare de falar besteiras.

— Ela sabe que está se esquecendo de algo, só que não sabe o quê. E é você, idiota!

Lass para de se debater, ofegante enquanto recuperava o ar perdido. Seu coração acelerado não era pelas palavras da elfa, que não fizeram efeito algum. Engole seco e nega com a cabeça.

— Sinto muito, mas não. Não posso fazer nada por ela.

— Babaca. – Diz Lire. – Por que continua persistindo nisso?!

— Por que não pergunta para a Elesis?! – Olha furioso. – Se ela sentisse mesmo minha falta, se ela me amasse de verdade não teria feito isso!

— Ela fez isso por você! Porque se importa com você!

— Não! Se ela se importasse teria dito isso. – As lembranças voltam como um flash. – Elesis se despediu de mim, mas não ousou falar para mim...

Encara o teto, fechando os olhos ao se calar. Não resistia mais, porém Jin continua a segura-lo, esperando terminar a frase.

— E é melhor assim. – Permanece com os olhos fechados. – Elesis estará longe de mim e das chamas. Ela não precisa sofrer novamente.

— Você não disse isso quando estavam juntos. Por que mudou de ideia tão de repente? – Pergunta Lire.

— Porque você não viu ela morrer nos seus braços. – A elfa se encolhe com o olhar do ninja. – Porque não foi você que teve que se sacrificar para trazê-la de volta.

A paciência de Lass acaba. É tão rápido que Jin não percebe o cotovelo voar em seu rosto. Ele gira para o lado ao ser solto, não levantando pela dor. Apoia as mãos sobre os joelhos.

— Eu tirei as chamas da Elesis. – Ele admiti. Lire não se surpreende, mas Jin olha com a mão no local atingido. – Era isso que estava a matando, então eu tirei todas e deixei as vermelhas. Só depois disso eu pude cura-la com as chamas azuis.

— Então... – A elfa entende, espantada.

— Interprete como quiser. – Apoia a mão na parede ao lado e se levanta com dificuldade. Suas pernas tremem, tendo que se segurar na cômoda para não desabar.

Um amor puro e incondicional. Lass se sentia assim por Elesis, faria de tudo para ter a espadachim bem, mesmo que isso o ferisse gravemente. Pelo que soube, a ruiva quase morreu pelas chamas azuis. Não gosta de pensar na cena, muito menos para Lass que a viu e sentiu. Era isso que ele queria, evitar viver novamente.

Evitar de se machucar.

— Se é para ouvir um “eu te amo” que seja por vontade própria dela. – Fala Lass. – Elesis decidiu me esquecer, então que ela decida lembrar de mim.

— Lass... – Caído no chão, Jin se ofende com as palavras.

— Eu estou cansado, ok? Só quero descansar.

Cansado da luta de Cazeaje, de enfrentar o Conselho e fingir ser forte. Os momentos de descansos somente aconteciam quando estava apagado após um combate, suas noites de sono eram acordado pensando no próximo dia. Mas apesar disso, esse não era o real motivo para estar exausto.

Lass sai do quarto, cansado de tanto tentar ficar junto com sua amada. Quanto mais pensava em estar próxima, mas distante ela estava.

***

O tempo tinha ficado mais frio. Não chovia mais, porém o céu continuava nublado como no outro dia. Elesis precisou levar seu cachecol mais uma vez ao sair do colégio, deixando-se bem aconchegante em volta de seu pescoço. Estava completamente coberta, a não ser pelas mãos sem luvas. No meio do caminho percebeu a falta que faziam, ignorando a dormência nos dedos enquanto seguia em frente.

Finalmente chega na entrada do colégio dos garotos. A parte da frente continuava a mesma, com diferença do jardim molhado pela chuva. Elesis olha cada detalhe antes de entrar no prédio e sentir um frio maior. Não tinha ninguém, o completo silêncio a amedronta de início. Quando esteve pela primeira vez ali a sensação tinha sido outra. Havia pessoas para todo lado, os alunos esbarravam nela pela pressa de não perder a aula. Vozes ecoavam alto pelo corredor, brincadeiras e deboches aconteciam a cada grupo que passava. Antes, o colégio era cheio de vida, agora, nem uma sequer voz é ouvida.

Ouve algumas vozes nos andares acima. Ficaria espantada se não soubesse que tinha companhia. Sorriu e correu para as escadas, seu corpo esquentando ao subir os degraus. As vozes aumentam quando chega no andar que vinham. A espadachim não se apressa dessa vez, age exatamente como agiu no seu primeiro dia ali. Andou vagarosamente até a porta na outra ponta do corredor e olhou o número de sua porta.

Número 15. Era seu quarto.

— Eu já disse que isso é meu, não ouse pegar! – Gritava Jin enquanto abria a porta. O semblante sério some ao ver a espadachim. – Ah, Elesis! Oi!

— Soube que vocês viriam para pegar o que restou, então vim atrás. Tem algum problema?

— Não, claro que não! – Ri, escondendo o nervosismo. – Só estou surpreso. Por que não disse que viria junto? Eu teria te esperado.

— Não se preocupe comigo. Já me curei por completo, diferente de você. – Jin ainda não tina tirado alguns curativos do rosto e mãos. O rapaz sempre recusava usar magia de cura, dizia ele que preferia a cura natural do corpo.

— Não se preocupe comigo também. – Abre espaço na porta. – Pode entrar, Sieghart está aqui para fazer companhia.

Ao ser mencionado, o rapaz grita ao fundo um cumprimento. Elesis ri, entrando no bagunçado e vazio quarto. Jin terminava de arrumar sua mochila dos pertences que tinha deixado no quarto. Do outro lado, olhando as revistas e as jogando para o lado quando perdia o interesse, estava Sieghart. Pelo que percebe, a mochila do rapaz já estava feita.

— Eh, nada mais me interessa. – Joga a última revista. – Elesis, se quiser uma, fique à vontade.

Ela olha as revistas sobre a cama e conhece seu conteúdo pela capa. Garotas bonitas de biquínis, todas as revistas eram da mesma forma.

— Não tenho interesse nisso, Sieg. – Diz a espadachim, enojada.

— Não disse que você precisava ler. Pode muito bem usar como tapete, guardanapo...

— E lá vai ele novamente. – Comenta Jin, revirando os olhos.

— Se você junta tudo, vira uma espada de revista. – Dizia animado, como um bom negociante.

Sem mudar a expressão séria, Elesis continua a negar.

— Também pode usar para limpar a bunda, é bem útil.

— Ok, já chega! – Grita Jin. Elesis agradece, já que faria o mesmo. – Termine de pegar suas coisas, Sieg.

O ruivo pega a mochila e joga sobre ombro, retirando-se do quarto. Elesis segue junto para o lado de fora. Após ter saído do hospital, não conseguiu mais ver Jin livre para conversar. Soube que ele viajaria com Azin, por isso de estar tão ocupado ultimamente.

— Procurando pelo Azin? – Percebe os olhares de Jin para todos os lados, procurando alguém. A pergunta o assusta, parando o rapaz rapidamente.

— É, quero ver se ele já foi. – Outra vez, parecia nervoso. – Deve ter ido na frente.

— Então vocês viajarão mesmo. – Não gosta de tocar no assunto. – Poderia ter me avisado antes.

— Desculpa, estive ocupado esses dias. – Sente pena da face triste da espadachim. Quis explicar o real motivo: tentar convencer Lass de conversar com ela, e todas as vezes foram em vão. – Mas eu pretendia te contar antes.

— Então, vão amanhã?

— É, quanto mais cedo melhor. – Isso deixa a ruiva mais cabisbaixa. – Eu acho que isso é um adeus.

Ela abaixa o rosto, evitando olha-lo. Elesis nunca foi boa com despedidas, principalmente com pessoas importantes. Não queria dizer adeus para a espadachim, se pudesse, ficaria ao seu lado e esqueceria a viagem.

Mas não pôde.

— É engraçado como nos conhecemos, né? Achei que você fosse um garoto, mas estava enganado. Nunca tive coragem para conversar com as garotas, diferente de você, Elesis. – Dizia Jin, passando a mão na nuca. Ele ria sem jeito ao lembrar. – Sem falar do meu problema com o Azin. Você me ajudou, nem sei como te agradecer até hoje.

O rapaz recua com o corpo da espadachim caindo contra o seu. Elesis o abraça, afundando o rosto em seu peito. Fica confuso enquanto a ruiva não o soltava.

— Cala a boca. – Fala a espadachim, a voz baixa contra seu corpo.

Jin estremece pela seriedade das palavras.

— Você é meu amigo e vou sentir sua falta. – Elesis continua. – Então pare de falar essas coisas, porque não está ajudando.

— Eu só queria lembrar o motivo de sermos amigos.

— Não preciso de um! – Grita, abraçando com mais força. – Você é o Jin, o mesmo que eu conheci anos atrás. É bobo, inocente e alegre, não preciso mais que isso para gostar de você.

Embora esteja diferente após a tortura de Cazeaje, para Elesis, ele continuava a ser o mesmo de sempre. A espadachim nunca conseguiu demonstrar seus verdadeiros sentimentos para as pessoas a sua volta, ela tinha vergonha. Inclusive agora, Elesis escondia o rosto corado.

Devolve o abraço, sorrindo.

— Você é como um irmão para mim. – Diz Elesis.

— Por causa do cabelo?

— Não, porque você se preocupa e me protege. Quando você está por perto, eu me sinto segura. – Toma um tempo para continuar. – Obrigada por tudo, Jin.

Ela respira fundo antes de se soltar, permanecendo com o rosto abaixado. Jin ri ao ver a espadachim passar as mãos pelo rosto, provavelmente secando as lágrimas que deixou escorrer.

— Não importa o que digam, você sempre será a pessoa mais forte para mim, Elesis.

Com as mãos no rosto, ela olha surpresa. Acha ser uma piada do lutador, mas ele fala tão sério quanto a expressão serena.

— Ninguém é mais forte que você!

— E ninguém usa um vestido melhor que você. – Retruca Elesis.

A risada do ruivo desaparece aos poucos com as memórias voltando. É desconfortável lembrar desse detalhe.

A espadachim recua, levantando a mão como despedida. O espaço entre eles é pequeno, porém se torna maior ao percebe que seus caminhos seriam diferentes a partir dali. Não haveria mais a fúria da espadachim para assusta-lo, estaria sozinho nos próximos dias e meses, provavelmente anos.

Levanta a mão trêmula.

— Adeus, Elesis. Até uma próxima missão.

— Até uma próxima missão, Jin.

Os dois ruivos se viram sorridentes e seguem caminhos opostos. Jin é o único a olhar sobre o ombro uma última vez antes de partir. A saudade já era sentida, a falta que Elesis causaria seria insubstituível. Os dias calorosos que ela causava não seriam os mesmos.

Elesis volta para o quarto. Sieghart continuava ali, como pensava. Ele tinha pego um saco de lixo preto para jogar algumas coisas foras, principalmente as estranhas revistas.

— Pensei que fosse com o Jin. – Diz Elesis.

— Eu ainda tenho que me livrar de algumas coisas. Não irei voltar mesmo.

— Deixa eu te ajudar então.

Junta as revistas e joga em outro saco separado. Faz o máximo para evitar encostar totalmente nelas, preferindo ter luvas no momento para isso.

— É um pouco engraçado como a gente se conheceu, né? – Menciona Sieghart. – Me pergunto como seria se você tivesse parado em outro quarto.

— Talvez tivesse sido descoberta por algum tarado. E expulsa, claro.

— Só entrou no colégio para ficar forte porque queria matar aquele cara ruivo. – Sabe que o assunto é delicado, mas o rapaz continua. – Parou no quarto do Jin, um cara bondoso, por isso continuou aqui. Milhares e milhares de coisas aconteceram para você parar aqui, exatamente aí. – Aponta para o lugar onde estava.

— Onde quer chegar com isso? – Pergunta, um pouco assustada.

Sieghart ri, balançando os ombros. É estranho como a mudança de humor ocorre tão naturalmente e rápido.

— Só estou falando como é engraçado. É como uma vida escrita.

— Isso é assustador. – Ri junto com o mesmo.

Fecha o saco quando joga a última revista. Sieghart também termina sua parte, chutando o saco para ele.

— Não pretende viajar como Jin, né? – Elesis não consegue segurar a pergunta.

— Ah, não! – É pego de surpresa. – Bem, pretendo fazer algumas missões que precisam de viagem, mas nada além disso. Ficarei no seu colégio até decidir o que fazer.

— Enquanto isso, baba pelas garotas de lá? – Sorri de braços cruzados.

— Mas é claro! E a sua amiga de cabelo rosa, Amy, certo? – Elesis assente. – Faremos uma parceria para um show! Ela canta e eu toco a guitarra.

A ideia louca é real quando sai da boca de Sieghart. Elesis não questiona, a dupla mais estranha tinha sido formada e ela teria que aguentar.

— Ah, e eu já tinha me esquecido! – Fala Sieghart.

— O quê?

As mãos do rapaz voam para seu rosto e o segura. Não há tempo para reagir quando os lábios da ruiva estão juntos com o de Sieghart. O beijo é breve o suficiente para deixar a espadachim ainda na surpresa.

— Só queria fazer isso antes de ir embora. – Explica Sieghart. – Estava curioso.

— Me... beijar? – Pisca, olhando furiosa. – Por quê?!

— Eu já gostei de você, o meu “eu” do passado desejou isso.

Os punhos da ruiva se fecham, mas não são usados. Diferente da Elesis do passado, essa não usaria a força bruta para resolver o problema. No final, ela acaba rindo sem jeito, esquecendo isso.

Era o Sieghart, aliás.

— O Jin estava para te entregar isso, mas parece que ele esqueceu. – Ele fala, sem o tom de brincadeira. Tira do bolso e estica para ela. – Cuide bem disso.

Era uma folha de papel, mas descobre que era uma foto ao pegar e sentir a textura. A atenção volta para Sieghart quando pega os sacos de lixo e sai do quarto. Elesis vai junto, parando ao ouvir ele falar:

— Nem tudo é o que aparenta ser, Elesis. Se eu fosse você, olhava algumas coisas com mais atenção.

— Como o quê?

Ele parou e deu de ombros, o sorriso de lado dizendo ao contrário. Elesis sabe que ele esconde algo, sorrindo no mesmo tom.

— Sieghart, você é um estranho que muitas vezes fingi ser um gênio. – Ela disse.

O rapaz ri, negando com a cabeça.

— Não, eu sou um gênio que muitas vezes finjo ser um estranho. – Pisca um olho e manda um beijo antes de ir embora.

Elesis não consegue evitar de revirar os olhos e rir com seu jeito. Sozinha no corredor, olha para a foto em mãos, virando a parte branca. Suas sobrancelhas sobem com a imagem, tão antiga que leva alguns segundos para lembrar. Estava prestes a relembrar a cena inteira, mas uma pessoa na foto não permiti.

Tinha sido na sua primeira missão, Jin estava presente. Porém, o rapaz de cabelos branco ao lado não parece familiar. Ele usava orelhas de gatinho e não parecia feliz ao tirar a foto, diferente dela que estava sorridente. É confuso.

— Quem é você? – Sussurra.

Continua o caminho enquanto olhava para a foto e esperava ter uma resposta repentina. Lembra de ter visto o rapaz de cabelos branco no Conselho. Ele tinha a olhado por um tempo, agindo estranho perto dela. Ele deveria ser um antigo conhecido que ela havia esquecido pelo tempo. Se fosse importante, alguém teria lembrado para ela.

Descia os degraus da escada com atenção, mas sem olhar para o que vinha em seguida. Seu pé escorrega em algo que a faz cair, rolando até bater contra o chão. A foto não é solta, era segurada com força pela ruiva.

— Mas que droga? – Os cabelos cobriam seu rosto. Joga para o lado, olhando para trás, séria.

Tinha pisado na revista de Sieghart. Ele deve ter deixado cair no meio da escada e esqueceu de pegar. Elesis olha furiosa para a falta de atenção que teve e tenta se levantar. Ao apoiar o pé no chão, a dor do tornozelo torcido é maior. Fica erguida com um pé, olhando o outro com o rosto fechado.

— Só o que me faltava.

Não tinha apoio além das paredes, portanto, Elesis andou com leves mancadas. Não poderia ir embora ainda, estava ali para ver o colégio por uma última vez. Não seria uma dor pequena como essa que a faria ir embora.

Quanto mais prosseguia para os fundos, mais a destruição ficava visível. A luta contra Gerard causou grandes estragos, felizmente, ninguém tinha se machucado por isso. Não gosta de pensar muito sobre o combate, era estranho lembrar de Gerard sem o ódio que sempre teve. Agora tudo que restou foi saudade e um grande peso de arrependimento.

Ao chegar no lado de fora, guarda a foto no bolso da calça e fecha com mais força o casaco. Para em meio ao pátio e percebe a destruição do prédio, algumas paredes destruídas além do jardim sem mais flores ou grama. Um cenário triste e acinzentado. Sem vida, como seus olhos.

— Não era para ter terminado assim. – Murmura.

O vento aumenta. Seus cabelos batem nos olhos, passando a mão pelo rosto para tirar os fios. O rápido vento faz seu cachecol desenrolar por completo e voar. Elesis estica a mão e pega o ar quando erra. Corre atrás até apoiar o tornozelo torcido e cair ajoelhada, encolhida pela dor. Os cabelos voltam a cobrir seu rosto.

— Droga! – Irritada, joga o cabelo para trás.

Em meio ao acinzentado pátio, o vermelho de seu cachecol se destacava. Elesis fica aliviada em vê-lo próximo.

Mas foi preciso olhar bem para notar o cachecol pendurado na mão do rapaz pálido. Os olhos azuis era a única cor que se destacava em meio ao cinza. Ele a olha por um tempo, paralisado enquanto escondia a surpresa. Logo o rapaz pisca e volta para a realidade, abaixando-se à sua frente.

— Acho que isso é seu. – Estica o cachecol, mantendo uma distância entre eles.

— Valeu. – Pega o cachecol sem conseguir desviar a atenção dos olhos azuis do rapaz.

Ele se levanta, olhando para o lado. Parecia querer ir embora, mas algo o prendia no lugar. Elesis tenta não questionar, apoia as mãos no chão e se levanta com dificuldade. A careta que faz é inevitável ao pisar com o pé ferido. Não gosta do rápido olhar de preocupação do mesmo ao vê-la assim.

— Está machucada? – Lass pergunta.

— Eu torci o tornozelo na escada, não é nada. – Força a risada. – Estou bem!

— Não parece bem. – Mais preocupação em sua face. – Deixe-me te ajudar.

Ele se agacha e puxa sua perna, tirando o equilíbrio. Quase cai para frente, apoiando-se sobre a cabeça de Lass. Os macios fios do rapaz são sentidos, causando uma estranha sensação em Elesis. Era familiar.

— Está começando a inchar. – Disse o ninja. – É melhor colocar um gelo.

— Não preciso disso. Acho que só uma enfaixada e está bom. – Fala positiva.

Lass levanta de repente. Elesis solta sua cabeça, recuando com o susto. Ele olha para os lados, apontando para o banco por perto.

— Senta ali. – Pede.

Sabendo que Elesis negaria uma ajuda, deixa que a ruiva vá sozinha para o lugar. Pega a bota da espadachim enquanto a seguia pular até o banco. Quando se senta, Lass larga o calçado de lado e se abaixa perto do pé da mesma.

— Você é aquele garoto do Conselho, não é? – Elesis pergunta, lembrando. – Não achei que estudasse aqui.

— Estudava. – Dizia, pegando um lenço do bolso para usar como bandagem. – Só vim aqui para ajudar o Jin, mas me separei dele caminho.

Elesis se contorce quando o lenço é amarrado em seu tornozelo. O nó não é tão forte, não há tanta pressão quanto esperava. A dor diminui, podendo mexer a perna sem fazer uma careta.

— Posso te fazer uma pergunta? – Elesis fala.

— O quê?

— Já nos conhecemos antes? Sinto que já te vi em algum lugar, mas não no Conselho. – Fala sem jeito.

Lass não consegue manter o olhar fixo ao ouvir a pergunta. Vira o rosto, fechando os punhos sobre o chão. Queria ter forças para levantar e sair dali, deixar Elesis sem olhar para trás.

— Não, não nos conhecemos. – Ele fala sem ter a coragem de olha-la. – Já se falamos algumas vezes, mas nada disso.

— Sério? – Fica surpresa. – Qual é o seu nome?

— Lass.

— Lass. Hum, nunca ouvi falar. – Disse pensativa. – Mas me parece familiar. Talvez seja um nome parecido com de outra pessoa.

— É, talvez.

— Ah, desculpe. Sou Elesis. – Estica a mão, sorridente.

Olha para a mão da espadachim, levantando em seguida. Ela permanece com a mão aberta para cumprimentar, porém Lass enfia os punhos no bolso e abre um sorriso pequeno.

— Bem, Elesis, deveria colocar o cachecol para não pegar um resfriado.

Esquece do cachecol sobre o colo. Com uma risada desajeitada, Elesis coloca o cachecol em volta do pescoço e o mantem firme para que não voe novamente. Não gostaria de perde-lo novamente.

— Tome cuidado com as escadas. – Diz Lass. – Na próxima, a queda pode ser maior.

— Tomarei.

— Você vai ficar bem. É melhor eu ir.

— Mas já?! – O rapaz olha confuso. – É que eu precisava de uma ajudinha até poder me acostumar sozinha.

Um sorriso se abre sem Lass percebe. Ele ri brevemente.

Finalmente reuni um pouco de coragem e tira o objeto do bolso. Quando viu Elesis, pretendia não entregar, mas se lembra que pertencia a ela. Pega a mão da espadachim e puxa para perto, assim deposita a esfera vermelha na palma da mesma.

— Você não precisa da minha ajuda, Elesis. – Era sincero.

A mão quente do ninja se afasta, dando lugar à esfera que causa um estranho sentimento em Elesis. Havia um calor confortador dentro do objeto, sua cor se movendo como um brilho solar. Era belo. Não consegue desviar o olhar, a energia contida ali dentro a puxava para um abraço.

Lass estava prestes a ir embora. Porém, permanece no lugar ao ver as lágrimas descerem dos olhos de Elesis. Ela seca rapidamente, envergonhada de ser vista assim.

— On-Onde você conseguiu isso? – Elesis pergunta.

Lass não responde.

— Por que todos estão agindo tão estranho ultimamente?

Silêncio.

— Por que me sinto tão estranha estando perto de você?!

Lass dá as costas e se vai. Não deveria ter continuado ali, arrependia-se. As perguntas começam a afoga-lo, sendo mais difícil de se afastar da espadachim.

Elesis fica de pé, os punhos fechados para evitar que a tristeza repentina a tomasse conta.

— Quem é você, Lass?! – Ela grita.

A pergunta o prende no lugar. Precisa ir embora, estar longe. Mas ele é teimoso consigo mesmo, vira-se para olhar a espadachim.

Elesis tira a foto do bolso e estica para o rapaz. Estava amassada, mas visível para ele.

— Quem é você para mim? – Ela volta a pergunta. – Por favor, me conte.

A pessoa que te ama, quis dizer. Ficou calado e olhou dolorosamente para a ruiva. A distância entre eles é cruel, ignorando completamente ao andar até ela. Elesis não se espanta com sua aproximação, encara quando próximo, tendo que erguer o rosto para isso.

Lass leva o rosto para perto do seu, a mão do rapaz apoiada na sua cabeça. Ele pretenda se aproximar mais, porém para. O azul de seus olhos está mais perto, mais reluzente que antes. A respiração próxima era quente como o calor de uma chama. Pela primeira vez, não sentia tanto frio.

Lass comprime os lábios, então um sorriso forçado é aberto.

— Eu não sou ninguém importante. – Ele diz. – Apenas o Lass.

O ninja se afasta, dessa vez, parti sem parar ou olhar para trás. Seu caminhar é lento e desajeitado, os passos não são firmes. É como se precisasse de ajuda, como Elesis precisava agora. Ela volta para o banco em pequenos pulos. Não deixa de olhar o rapaz até que sumisse.

Pega a esfera vermelha e encara. O mistério sobre ela permanecia, a curiosidade surgia ao lembrar quem tinha entregue a ela: Gerard. Ele arriscou a vida para conseguir isso e entregar para a espadachim.

Estava na hora de descobri o que era.

***

Calçou a bota quando a dor no tornozelo não a incomodava tanto, ficando de pé e seguindo para o centro do pátio destruído. Não havia ninguém por perto, tinha feito um tempo desde que Lass partiu. O mesmo deveria valer para Sieghart e suas revistas.

Segurava a esfera com ambas as mãos, de uma forma que mostrava cuidado. Não sabia o que fazer, se a partia ou apenas esperava algo acontecer. A primeira opção parecia arriscada demais e a segunda demorada, portanto pensou em outra.

A estranha sensação que a esfera causava era familiar, não sabia como descrever além disso. É como se segurasse as mãos de uma pessoa. A única que vinha em mente era ele.

— Pai? – Ao falar, a sensação se intensifica. – É você?

A ligação que tinha com ele era a chave, percebe Elesis. Ao encostar na esfera sentia suas chamas vermelhas aumentarem, querendo ser usadas. A ruiva não pensa duas vezes antes de invoca-las.

Sem força-las, as chamas circulam a esfera e um barulho é ouvido. Antes que entendesse o que era, o brilho da esfera a cega por alguns segundos, assim o peso das suas mãos sumindo. Pisca rapidamente para ter a visão de volta. O cinza do pátio surge diante dela, mas como seu cachecol, os cabelos ruivos também se destacam. Elesis arregala os olhos, recua um passo e volta.

A imagem de Elscud aparece à sua frente, o brilho contornando o mesmo. Ele está de olhos fechados, que são abertos lentamente. Ele demora a notar que estar despertado, olhando em volta, então para Elesis.

— Pai? – A espadachim fala. Suas mãos tremiam junto com seu corpo. – É você?

Ele fica confuso, olhando atentamente para Elesis. Os cabelos ruivos da mesma são o que chamam sua atenção. O sorriso largo e o jeito desajeito de se vestir continuava o mesmo. O rapaz não consegue conter o sorriso.

— Elesis? Filha? – Como a espadachim, um sorriso largo é aberto.

— Sim, sou eu! Elesis! – Diz animada. – O senhor está... Aqui... Mas como?!

— Calma, querida! – Evita que a ruiva se aproxime. – Eu preciso saber o que está acontecendo antes.

— Eu também não sei o que está acontecendo! – Falava agitada, nervosa. – Tinha uma esfera de energia então você saiu.

— Uma esfera?

— Sim! Eu acho que você estava dentro dela.

A felicidade de Elscud desaparece ao entender a situação. Olha para as próprias mãos, transparentes e com um brilho, como todo seu corpo. Solta um suspiro.

— Estou morto, não estou? – Pergunta, quase como uma afirmação.

— Há anos atrás, sim. – Seus olhos perdem o brilho. – Gerard te matou.

Não fica surpreso, apenas assente como aceitação.

— Co-Como que você sabe?

— Isso é coisa da Cazeaje. Ela tem uma magia parecida, pega a alma das pessoas e transforma nisso. – Cruza os braços, tenso enquanto explicava para sua filha. Elesis não escondia a surpresa, e a tristeza. – Como você conseguiu me tirar? Cazeaje não te entregaria minha alma.

O objeto de tanto valor que Gerard arriscou a vida para pegar era nada além de seu pai. Entende por que ele quis tanto a entregar, porque seria uma forma de se redimir, de pagar uma parcela dos seus pecados. A alma de seu pai pertencia a ela, não às sujas mãos de Cazeaje.

— Gerard conseguiu pegar. Ele me entregou, disse que era muito importante.

— Ele conseguiu? Mas como? Cazeaje é muito forte.

— Gerard é forte, pai. Todos de Ernas sabe quem ele é. – Fica constrangida em continuar. – Ele é o homem mais procurado.

— Mais procurado? – Não gosta do tom usado pela espadachim. – O que ele fez?

Relembrar o passado não estava nos planos de Elesis. Olha sem o brilho nos olhos de antes, voltando a reviver os tempos ruins que passou até ali. Ela conta de forma breve, observando seu pai reagir a cada notícia. Fala sobre tudo, menos da última luta que teve com o ruivo.

— Não sabia que o Gerard se tornaria tão problemático. – Fala Elscud. – Então, onde ele está agora?

A pergunta que tanto evitava surge. Elesis se segura firme para não voltar a lamentar.

— Gerard não está aqui, pai. – Continua com o desentendimento do ruivo. – Eu matei o Gerard. Ele está morto.

A notícia de seu amigo morto é o que mais deixa paralisado, encarando o chão. Ele fingi não se importar tanto, porém Elesis sabe que isso o deixa triste.

— Gerard precisava ser parado, e eu tomei esse trabalho. – Dizia a espadachim. – Ele feriu e matou muitas pessoas, inclusive você, pai! E eu me arrependo de ter feito isso, então sinto muito!

— Está tudo bem, querida.

— E depois disso precisei matar Cazeaje também. Eu... – A dor voltava, desconhecida para a ruiva. Não gosta de lembrar desse momento. – Nunca quis que as coisas chegassem nisso.

— Elesis! – Chama a atenção da ruiva. – Está tudo bem. Vejo que passou por muitas coisas, mas todas tiveram suas consequências, boas ou ruins.

Arrependimentos, principalmente esses.

— Gerard não te culpa, apesar disso. Ele já esperava por isso, senão teria te matado antes que tentasse. Como eu sei? – Sorri de lado. – Eu conheço esse cara há muito tempo.

— Mas como pode dizer isso com tanta tranquilidade? Ele te matou!

— Eu acho que não. Gerard pode ter matado todos nossos companheiros de Guilda, mas a mim... – Olha para si. – Ele deve ter pensando que me matou, mas se enganou. Para Cazeaje ter pego minha alma é preciso que eu estivesse vivo.

Mesmo diante o feitiço de Cazeaje, Gerard conseguiu evitar a morte de seu amigo. A visão de ver Elscud caído no chão e coberto por sangue deve ter o atingido, o medo o tornou irracional. Consegue imaginar a reação do mesmo ao descobrir que a alma de seu amigo estava presa por Cazeaje. Esse deve ter sido o motivo que o transformou nessa pessoa fria.

Elscud volta a olhar para suas mãos. O brilho diminuía, conseguia enxergar o chão através das suas transparentes palmas. Elesis não percebia, estava presa nos pensamentos.

— Mas vamos mudar de assunto. – Consegue chamar a atenção da espadachim. – Conte-me sobre você. Como está?

— Eu... – Não sabe o que dizer. Seu pai queria ouvir notícias boas, saber se ela estava bem. – Eu tenho amigas. Uma é elfa e outra uma maga. Elas são muito legais.

— Amigas? Que surpresa você ser amiga de garotas. – Disse brincalhão.

— Ainda tenho outros amigos. O Ronan, o príncipe, agora é o líder do Conselho! Em breve ele será o rei de Canaban. – A conversa a anima. – Tem o Jin! Ele é o último Cavalheiro de Prata, é um ótimo lutador e amigo. Ele é um pouco tímido, mas é muito corajoso!

— Parece ser uma ótima pessoa.

— Sobre as garotas, tem a Amy, uma cantora bem irritante. Você se acostuma com o tempo. A Mari é uma garota estranha, é bem séria e aparece de repente. Sempre me assusto quando ela chega. – Solta uma rápida risada. – Ah, o Sieghart seria um cara que você não gostaria de conhecer. Ele tem um Soluna e as chamas roxas, é um babaca, mas muito amigável. Arriscaria a própria vida por outra pessoa.

— Babaca como uma certa pessoa. – Não fala sobre Astaroth, mas Elesis entende da mesma forma.

— O Dio é um asmodiano como a Rey, minha amiga. Eles são bem parecidos, sérios e se acham muito. A diferença que o Dio é mais esperto e a Rey mais metida. É engraçado, eles não se entendem muito mas são bem apegados.

— É normal asmodianos serem assim.

— O Lupus é um haro e um caçador de recompensa. Vive falando de dinheiro, um ganancioso idiota! – Fica emburrada ao descrever o mesmo. – No fundo, ele só é um garoto complicado de entender. Que nem o Azin, não tenho muito sobre o que falar dele, só do estranho sorriso dele. Parece uma máscara.

— Uau, você tem muitos amigos. – Elscud sorri junto com a ruiva. – Mais algum em especial?

Gostaria de falar de mais pessoas, tanto as distantes quanto as próximas. Falaria de Lothos ou Edel, até mesmo de Ryan, que não tinha visto um bom tempo. Mas nenhuma das opções foram escolhidas. Olha para seu pé ferido, erguendo o rosto com um sorriso sem jeito.

— Lass.

— Hum, o que tem sobre ele? – Olha curioso.

— Eu não sei. – Dá de ombros, sem tirar o sorriso. – Tem o Lass e é isso.

— Parece ser um rapaz encantador.

Elesis concordar, mesmo estando insegura se essa era mesmo a resposta que procurava. Mas não leva muito tempo para que sua felicidade suma como o corpo de Elscud. Suas pernas tinham desaparecido, sobrando seu torso que passava pelo mesmo. Elesis fica desesperada, aproximando-se.

— Não se preocupe com isso. – Fala seu pai.

— O que eu faço? Eu posso te reviver com isso, não é? – Olha esperançosa.

— Não é assim que funciona, Elesis. Só quero que me ouça daqui em diante, ok?

Confusa, não sabe o que responder. Assente, trêmula pelo que viria a seguir.

— Estou orgulho de você. – As primeiras palavras são pesadas para a espadachim. – Não importa o que digam, você sempre será a mais forte de todos. A pequena Elesis é a grande Elesis por algum motivo. Digo isso não por ter matado Cazeaje, mas por ter aguentado tudo até aqui.

Elesis perde as forças que seu pai tanto mencionava. Os lábios tremem, colocando a mão sobre os olhos. Tinha que segurar por mais alguns segundos.

— Prometa que continuará sendo assim, a minha querida ruivinha.

— Eu prometo. – Sua voz falha.

— Eu te amo, filha.

Sua mão desliza do rosto junto com as lágrimas. Os vermelhos olhos transbordam as densas lágrimas, passando por seu sorriso forçado. Não gostava de chorar, a tristeza a deixava fraca, exposta. Mas agora era diferente, a dor que sente é a única e última ligação com seu pai. Isso era a prova de seu amor por ele.

— Serei a guerreira mais forte desse mundo! – Grita Elesis, determinada. Aponta para seu pai. – Todos me temerão, porque ninguém poderá me vencer! Eu, Elesis, a última Cavaleira Vermelha, serei a melhor espadachim! A mais esperta! A mais ágil! A MELHOR DE TODAS!

A surpresa no rosto de Elscud é temporária, dando lugar a um sorriso orgulhoso.

— Você não será. – Ele corrigi. – Você é.

Um soluço escapa de sua boca. Elesis assente, como uma grande orgulhosa que era.

— Adeus, querida. – Disse Elscud enquanto era despedaçado em pequenos focos de luz.

O brilho não dura por muito tempo, apagam-se enquanto subiam como leves penas. Quando o cenário volta a ficar cinza, a mão de Elesis se abaixa junto com seu corpo. Cai ajoelhada no chão, apoia as mãos e deixa as lágrimas escorrerem intensamente por seu rosto. Fecha os punhos sobre o áspero chão e grita. Sua garganta dói, seu corpo estava no limite.

Mas ela não poderia continuar assim. A dor precisava partir. Elesis respira fundo e espera que todas as sensações ruins passem.

— Adeus, pai.

Cumpriria a promessa, para isso, precisava ficar de pé e encarar o mundo. Elesis levanta, seca as lágrimas e olha por uma última vez para o acinzentado colégio. Ele contribui para o que era hoje, mas agora era parte do seu passado. Ela precisava seguir em frente.

Ser a Elesis forte que seu pai tanto falava.

Deu as costas e saiu do local. Mancava de leve, usando a ponta do pé como apoio. Ao passar pelo portão principal, impaciente, Elesis usa seu berserk para correr, assim a dor não era notada. Ela queria chegar logo em seu colégio e se sentir em casa, protegida.

Na velocidade que corria, logo a espadachim chega e atravessa o pátio. As pessoas observam ela passar, surpresas ao verem a durona Elesis com o rosto manchado pelas lágrimas secas. Elesis ignora a todos, isso até chegar em seu quarto e fechar a porta. Lire e Arme estavam presentes, assustando as duas com a batida da porta.

— Elesis, está tudo bem? – Pergunta Arme, notando as lágrimas secas.

A espadachim não responde, seus olhos se dirigem para perto de sua cama. Ela corre, pulando com o pé machucado. Puxa debaixo da cama uma maleta de ferro, dentro estava seus sabres. Pega um e vai para frente da luz da janela.

— Elesis, o que você vai fazer? – Lire questiona, assustada. Sem resposta, levanta. – Elesis!

O sabre se move mais rápido que qualquer movimento das duas. Elas olham surpresas, paradas enquanto assistia o vermelho atingir o chão.

O ruivo de seus cabelos. Em uma mão, o sabre, na outra, os cabelos cortados de Elesis. Alguns fios se soltam e caíam no chão, dançando no ar até atingir o piso. Aqueles que sobraram batiam no ombro da mesma, um corte um pouco agressivo, mas reto como qualquer ataque da espadachim.

Ela solta o sabre de lado e se vira. Sua aparência muda quando é vista com os cabelos curtos. Os fios cortados em sua mão são largados, até que sobrasse nada em sua palma.

Elesis sorri.

— Então, querem comer alguma coisa? Estou com fome. – Ela fala.

***

A neve caía sobre seus cabelos e desapareciam antes de derreterem. A cor era a mesma, o branco se misturava em meio ao tempo congelante da estação. Assistia os pequenos flocos caírem do céu e terminarem no chão, acumulando-se dessa forma.

— Que tempo ótimo, não? – Fala Adel. – Adoro neve! É tão bonita e silenciosa.

Lass não escuta seu comentário. O líder percebe isso, suspirando ao ver o ninja distraído.

— Isso não é tempo para ficar lamentando, você teve a chance e jogou fora. – Diz Adel.

— Não quero falar sobre isso agora, Adel. – Vira o rosto.

— E quando vai querer? Quando estiver voltando e perceber que fez a escolha errada? – Continua a ser ignorado. – Astaroth não aprovaria essa sua atitude.

— O que ele tem a ver? – Olha irritado. – Não o coloque no meio disso.

— Acho que eu preciso para chamar a sua atenção. Mas se não quer falar, certo! – Joga as mãos para o alto. – Quem sou eu para te forçar? Ninguém além de um líder do Conselho.

Adel se afasta, puxando sua mala de rodinhas junto. Lass bufa, voltando a encarar outra direção que não tivesse o rapaz. Felizmente, Edel tinha ido mais cedo, assim não o perturbaria durante a viagem.

A neve se agita pelo vento que o trem causa ao passar. Adel, já parado no local de embarque, não se espanta com os longos fios voando de um lado para o outro. Os vagões lentamente param e as portas são abertas. O líder se vira para ele, esperando entrar. Lass não protesta, pega sua mochila e fica de pé. O momento que toma para entrar no trem faz Adel ir na frente.

Quando atravessasse aquela porta não haveria volta, lembra para si. O caminho parece mais distante que o comum, não tendo um fim. A fumaça que saía de sua boca se torna mais intensa como seus pensamentos.

Lass para no meio do caminho. A estranha sensação não sumiria até que ele encarasse de vez. Vira o rosto para a figura parada em um canto da estação. Não tinha como ignorar a pessoa vestida de gato preto o observando o tempo todo. Lass não se espanta, a expressão continua neutra.

— Lass, vamos! – Adel chama.

O gato preto não sai do lugar, ele também não sairia. Olha para Adel dentro do vagão, sacudindo a mão para que ele viesse. O ninja volta para o gato, que tinha desaparecido.

— Lass!

Não olha para Adel, dá as costas e corre em direção oposta. As portas do trem se fecham ao fundo, o grito do líder fica abafada em seguida. Ele não voltaria atrás, estava cansado de correr para longe.

Seu destino sempre mudou quando alguém pisou naquele trem e as portas se fecharam. Isso não aconteceria novamente, não mais.

***

Não havia neve como pensava que teria. O frio continuava, porém sem nuvens ou chuva, o céu estava limpo. Soube que a maioria das nuvens foram para o norte, onde estaria nevando. Elesis ficou curiosa em como deveria estar o local, ela gostava de neve e sua cor branca. Apesar de preferir o calor, a ambientação coberta por neve era mais bela que uma praia. Era o que pensava.

Tinha passado alguns dias desde que se despediu de Jin e o viu partir. Sentiu uma parte de si ir junta. Além do ruivo, outros rapazes partiram para uma viagem, que demoraria ou não. Dio foi o único a não dar uma data certa de sua volta, já que iria para Elyos, sua casa. Lupus também partiu, dizendo que tinha alguns problemas pendentes para resolver, mas que voltaria o mais rápido possível.

Era estranho como tudo ficou após esses dias. Sozinha. Os dias voltam a ficar sem cor. Entediantes. Exatamente como nos dias anteriores de sua maluca ideia de entrar no colégio dos garotos. Mas isso não a deixava triste, e sim ansiosa para vê-los voltar. Os sorrisos e as brincadeiras logo voltariam a se repetir.

Menos algo. Não sabia o que, estava preso na sua cabeça. Por isso saiu para tomar um ar, precisava de um descanso. Andou pela cidade até entrar em uma rua festiva, mercadorias a cada canto dela. Não estava tão cheio pelo frio, porém isso não tirava os sorrisos das pessoas.

Talvez eu compre algo na volta. ­— Pensa.

Arruma o cachecol para cobrir sua nuca. Agora sem o longo cabelo não poderia coloca-lo por cima para esquentar seu pescoço, uma parte ficava de fora. Elesis ainda se acostumava com o novo visual, mas sabia que isso passaria rapidamente. Quando se vestia de Eléo não era um problema ter o cabelo picotado, muito menos assim.

A dor no tornozelo tinha diminuído com os remédios que tomou, preferiu assim em vez da cura de Arme. Ela mesmo não entendia por que negou a ajuda da maga, que seria instantânea. A dor a deixava acordada, o mundo parecia mais claro para a espadachim. Não sabia como explicar, mas a dor no tornozelo era confortador.

O pano que o rapaz tinha amarrado nele tinha sido guardado, Elesis se lembrava sempre que pisava no chão e uma pequena dor passava por seu corpo. Não conseguiu devolver, então amarrou no pulso para sempre estar com ele e poder devolver.

De novo com isso? — Pensa, irritada.

A dor a levava aos mesmos pensamentos com ele. Continuava sem entender por que disse ao seu pai sobre o Lass, sentia que era necessário, mesmo não sabendo o motivo. Fecha os punhos, cansada de se prender aos mesmos pensamentos sempre.

Quem ele era e por que parecia tão triste na última vez que se viram? Ela não sabe e pretende continuar assim. Queria prosseguir até o final da feira, até perceber que estava parada. As pessoas passavam por ela, confusas pela espadachim no meio do caminho.

Após ter resolvido tantos problemas, como Gerard e Cazeaje, Elesis continuava ali. O mundo continuava o mesmo, onde estava as cores que tanto desejou ver depois disso? Era como ter chegado à superfície, mas não conseguia se manter ali, continuava a se afogar.

Quão grande são seus problemas?

Arregala os olhos. A pergunta surge de repente.

Eles são o bastante para alcançar as estrelas? Se sim, como é a vista daí de cima?

Então Elesis ergue o rosto. O céu estrelado esteve ali o tempo todo, mas nunca foi notado. As pessoas à sua volta ignoravam a beleza sobre elas, suas vidas estressantes eram o que mais importavam, seus problemas não tinham um fim no ponto de vista de cada. Como Elesis.

Mas não eram tão grandes quanto o céu. Estira a mão até que seu braço esteja totalmente esticado para o alto. As brilhantes estrelas estavam distantes, inalcançáveis. Pequena e longe como uma estrela, isso era a Elesis.

Não importava como era a vista de cima, a espadachim tinha certeza que ela era bela de onde estava, não importando onde.

Fecha a mão ao sentir algo de errado. A multidão tinha aumentando onde estava, precisava se locomover para não esbarrar nas pessoas. Ouve o chamado mais uma vez, bem baixo. Aparentemente, somente ela notava. Continua a procurar até acabar esbarrando em alguém.

— Me desculpe!

Seus olhos arregalam. As macias e peludas mãos do gato preto a soltam. Elesis recua quando uma pessoa passa por entre eles. Ao voltar a atenção para o gato, o mesmo tinha se distanciado, sumindo em meio à multidão.

— Ei, espera! – Grita Elesis.

Corria atrás da pessoa misteriosa, desviando da multidão durante o caminho. De repente, está fora do amontoado de pessoa, a rua estava mais livre naquela área. Elesis vira à procura do gato preto.

Ele sumiu.

Confusa, olha para a carta em mãos que ele tinha entregue. Não a abre, guarda no bolso ao sentir novamente a sensação. Olha para o lado, certa como pensava.

O gato branco estava adiante, andando enquanto olhava para os lados. Ele deveria estar à sua procura. Elesis não pensou duas vezes antes de correr em sua direção com os punhos cerrados.

Com o berserk ativo, ela chega rapidamente no gato e o soca no peito. A força que usa joga a pessoa para longe, assustando aquelas que passavam perto. A espadachim avança mais uma vez contra o gato caído.

— Já chega! – Berra.

Acerta um chute na barriga do mesmo para que não se levantasse, assim caindo sobre seu corpo com os punhos erguidos.

— Cansei de você e seu irmão! Sempre aparecem, falam algo e vão embora! – Dizia irritada contra a face fofinha da fantasia. – Para mim, já deu!

Segura bruscamente a cabeça do gato pelas orelhas e a puxa. Não se importa se estava fazendo o errado ao ver quem era debaixo da fantasia, apenas queria terminar de vez com o mistério. O capacete do felino desliza para fora, Elesis quase cai para trás ao retirar.

Abre a boca para continuar a gritar, porém se cala. A cabeça de gato cai de lado e rola até estar distante do alcance do dono. Elesis fecha os lábios, contendo as palavras, as quais não saberia que usar. Sua cabeça dói.

Sempre que imaginou esse momento, nunca achou que seria assim, tão confuso.

— Lass? – Ela fala.

O rapaz continuava caído, sem reação ou qualquer tentativa de fuga. Ele encarava o céu, olhando para ela ao ser chamado. Havia um vazio em sua expressão que não soube descrever.

— Oi. – Diz o ninja.

— O que... O que você faz aqui? E por que está vestido de gato?

— Por quê? Essa é mesmo sua pergunta?

— Eu não sei, estou confusa. Em todo esse tempo era você, só que não faz sentido.

Lass não pergunta, sabia por que não fazia sentido. Isso o irrita, apoiando-se nos cotovelos para olha-la melhor.

— Você lembra de mim vestido como gato, mas não de mim em si? – Ele pergunta.

— Você sempre aparecia e dizia algumas coisas para mim, mas você, Lass. – Ela não completa.

— Então não sabe quem eu sou?

A pergunta parece machuca-lo mais que a resposta. Elesis nega.

— Sabe por que eu me vesti assim? Para estar perto de você quando eu não podia. Tinha momento que você queria estar sozinha, mas acompanhada ao mesmo tempo. Eu não tinha coragem de ir pessoalmente e te confortar, então me vesti assim. – Estica os braços. – É por isso que eu voltei, porque o Lass não fazia mais sentido para você, e sim o gato branco.

A cada palavra, a cada desabafo do ninja, Elesis sentia uma dor na cabeça. Ela se encolhe.

— Eu só queria trazer a pessoa que amo de volta! Ela me deixou, e nem sequer deixou alguma justificativa. – Dizia Lass. – Queria, ao menos, tentar por uma última vez. Queria ter a certeza de que eu era nada para ela.

Enquanto o rapaz falava, Elesis ouvia uma voz. Era rouca e grave. Olha para o ninja, a voz vinda dele, não diretamente.

Venha.

Conhecia a estranha voz, pois lembra de ter sido a última a ouvir antes de apagar. Seus olhos cerram, séria.

Lass continuava a falar, sendo breve para que a dor não aumentasse. Desvia o olhar por um instante, sentindo em seguida as mãos quentes de Elesis pousarem no seu rosto. É calado próprios lábios da espadachim. Ela está assustada de início, logo retribuindo o beijo.

— Lass Isolet. – Elesis fala contra seus lábios.

— Hã?

Ela volta a beija-lo, as mãos passando por seu cabelo. O toque é familiar, seu jeito desajeitado entre os fios brancos.

— Você me prometeu que cantaria para mim. – Elesis fala. Próxima, Lass a olha surpreso. – E que escolheríamos um nome para o gatinho.

A espadachim fala o que vinha na mente. Perto do calor que Lass emanava as imagens surgiam como um flash na sua mente. Não demora para entender tudo que acontecia.

— Eu lembro quem você é, Lass. – Disse, sorrindo. – Agora eu sei.

— Mas como?

Da mesma forma que Elesis tinha dado suas lembranças do ninja para as chamas, ele tinha as mesmas para si. Todos os momentos que estiveram juntos, quando se viram pela primeira vez, quando brigaram ou se despediram diversas vezes. Elesis lembrava, apesar dos sentimentos sempre estiveram ali.

— Eu vendi minhas memórias de você para as chamas. – Ela dizia, afastando o rosto. – Eu fiz isso para ganhar força, assim derrotaria Cazeaje. E funcionou.

As memórias tinham sido apagadas, mas não as de Lass. As chamas poderiam ser transportadas para Elesis facilmente, junto delas, as memórias que o ninja guardava com tanto carinho. Ambos estavam ligados de forma única: A dona das chamas e o portador delas. Um laço inquebrável.

— E por que você fez isso? – Lass pergunta, sério. – Como sabia que poderia ter uma volta?

— Eu não sabia.

— Então por que fez?! – Grita. – Apagar tudo tão facilmente! Dizer aquelas coisas e achar que tudo ficaria bem depois!

— Porque eu te amo, seu babaca! – Grita de volta. O ninja se cala. – Eu fiz isso porque Cazeaje me mataria e te prenderia. Eu não poderia lidar com isso, eu... Eu... – Abaixa o rosto. – Eu não queria te perder.

— Você me ama? – Lass pergunta, perplexo.

— É claro! – Olha irritada enquanto o rosto era tomado pelo vermelho. – Eu fiz isso porque gosto de você! E nunca deixaria Cazeaje ou qualquer mulher no mundo colocar as mãos em você!

Seu rosto esquenta com o sorriso do ninja. As palavras que tanto queria ouvir foram ditas. A espadachim esquiva a face para o lado, mais envergonhada.

Lass se aproxima, os olhos azuis intensos como de uma criança.

— Repete. – Ele pede.

— O quê? Não!

— Repete.

— Não vou repetir. Tem algumas pessoas passando por aqui. – Olha para algumas que passavam, sem dar atenção.

— Por favor. – Chega mais perto.

— Lass.

O ninja a beija, então se afasta como uma provocação. O olhar volta.

— Eu te amo. – Elesis diz, encolhida.

— De novo!

— Eu te amo.

— Mais uma vez. – O sorriso cresce.

Elesis acerta um soco em meio a face do rapaz. Ele volta ao chão, sem tirar o sorriso com a bochecha vermelha.

— Me arrependo. – Ela disse, o punho ainda erguido.

O ninja volta a se aproximar, as mãos peludas da fantasia encostam em seu rosto. O beijo é rápido, como um lembrete. Lass encosta a testa contra a dela, então consegue notar o rosto do rapaz corado.

— Mas eu não.

Não consegue conter o sorriso, o mesmo fazendo Lass. Ficam assim por um tempo, apenas o silêncio da feira com alguns passos das pessoas. Voltam a se olhar, afastando-se para levantarem.

— Foi mal pelo soco. – Fala Elesis. – Se eu soubesse que era você, teria atacado com mais força.

— Graciosa como sempre. – Diz Lass.

Ajuda o rapaz a ficar de pé, entregando sua cabeça de gato para ele. Olha o mesmo na fantasia por completo, percebendo como se encaixava bem no mesmo.

Lass se incomoda com sua risada.

— Espera um pouco! – Diz a espadachim de repente. Encara a vestimenta do ninja e sua cor. – Se você é o gato branco, quem é o gato preto?

— Eu não sei. Ele aparece para mim algumas vezes, só que nunca falou nada. – Fala da mesma forma, confuso. – Por acaso, ele apareceu novamente?

— Sim, ele até me entregou uma...

Arregala os olhos e leva a mão para o bolso. A carta continuava ali. Suspira aliviada. Não perde tempo e rasga o envelope, revelando um papel dobrado. Lass se junta a ela para ler.

Ambos reagem da mesma forma: confusos.

— Eu não sei o que significa. – Fala Elesis.

— Muito menos eu.

Lass desisti, deixando a espadachim encarando o papel. Ela se esforçava para entender, pelo menos descobrir de quem era a letra. Era desconhecida, conclui.

— Pense nisso depois. – Diz Lass. – Vamos embora antes que fique mais frio.

Elesis lê por uma última vez, assim guardando a carta. Deixa Lass pegar sua mão e a conduzir. Abre um sorriso, juntando-se ao mesmo com animação.

No entanto, antes de dizer algo, olha sobre o ombro e espera ver o gato preto. Ele não estava mais ali, talvez tivesse sido uma brincadeira que as chamas fizeram com eles. No final, apenas tinha que seguir em frente.

Mas não esqueceria as estranhas palavras da carta: Quantos cubos de açúcar vai querer no seu café?

***

Nunca deixou de observar Elesis, o mesmo agora. Viu a espadachim confusa procurar por ele, mas acaba achando Lass dentro da fantasia de gato branco. Riu com a cena, então ficou olhando até que eles levantaram e foram embora. Embora distante, viu a espadachim procura-lo, confusa pela carta que deixou.

Riu mais uma vez.

Escala o prédio pelas janelas, logo chegando nas telhas. Sua mão escorrega ao agarrar em uma, mas é pego pelo pulso e puxado. Rola sobre as telhas, aliviado de ser pego.

— Eu já disse para você tomar mais cuidado.

O gato preto balança a mão, então ele acerta um tapa pela teimosia. Volta para seu canto onde estava sentado, tirando um maço de cigarro do bolso e acendendo em seguida. A fumaça que exala é de puro prazer.

— Eu senti falta de você, bebê. – Fala Astaroth.

— Obrigado.

— Não falei com você.

O gato preto se move, demorando a ficar de pé. Ele quase cai da telha, assim tirando a cabeça de gato que tanto o atrapalhava. Solta um grito abafado, jogando os suados cabelos ruivos para trás.

— Eu deveria ter lavado essa coisa antes de usar. – Diz Gerard para si.

— Então, - Astaroth levanta, parando próximo de uma caixa de madeira. – quando poderemos disparar os fogos de artificio? Quero comemorar a morta de Cazeaje.

— Espere mais um pouco!

— Qual é! Vamos, eu não fui enterrado vivo para isso! – Fala indignado.

— Só mais alguns segundos, cara. Você não estava apressado quando te desenterrei.

— Na verdade, eu estava! Não ouviu meus gritos para você se apressar?!

Gerard ri, concordando.

Um plano sofrido e arriscado, mas que valia a pena. Demorou para conseguir a poção que usaria para morrer por dentro, mas vivo para poder ser curado como se nada tivesse acontecido. Deu a poção a Astaroth, que misturou às cervejas para que o gosto fosse menor. O professor foi o primeiro a tomar, já que faria o ataque ao Conselho e precisava desaparecer em seguida. Tudo funcionou como devia, todos acreditaram, inclusive Cazeaje. A notícia de Astaroth ter enfiado uma bala na cabeça se tornou real, quando na verdade, era uma bala mágica que foi usada apenas para enfatizar sua morte.

— Sabe, deveria ter te deixado naquele necrotério do Conselho. – Fala Astaroth. – Por que não morreu de vez?

— Ora, eu fiz a mesma coisa que você! Não seja chato, Asth!

Ao enfrentar Elesis, tomou a mesma poção e torceu para que o tempo estivesse ao seu favor. Achou que seria impossível quando as chamas azuis foram despertadas, mas tudo ocorreu bem no final.

Ambos estavam mortos, isso é, livres.

— Tô nem aí, vou acender os fogos. – Disse Astaroth, impaciente.

Não o impede, seu olhar e foco estava só em um lugar. Elesis se distanciava com Lass, ambos se divertindo com alguma conversa aleatória. Acreditava no ninja para protege-la, e na própria força da espadachim. Viu ela desabar ao ver seu pai, querendo ter feito o mesmo por seu amigo. Mas não fez. Estava feliz, ferido, porém contente.

Sacrifícios eram necessários, mas nem todos. Essa era sua frase, que sempre permaneceu incompleta por ele.

— Adeus, ruivinha. – Murmura. – Ainda nos veremos por aí.

O céu escuro é rapidamente iluminado pelos fogos que Astaroth dispara. Gerard se assusta enquanto o rapaz ria em deboche, soltando mais e mais fogos.

— Ei, não solte todos sozinho! – Grita o ruivo. – Quero também comemorar a morte da Cazeaje!

***

Elesis corre para uma barraca que vendia acessórias e pega um em especial. Vira para Lass com o arco de orelhinha de gatos, que não parece tão importante perto do rapaz vestido daquele jeito.

— Acho que você não precisa disso. – Ela fala, devolvendo o produto.

— Eu gostaria muito de tirar essa roupa. É muito calorenta. – Abanava com as grandes e fofinhas luvas da fantasia.

— Então tira.

— Estou sem roupa por baixo, caso não saiba. – Isso deixa a ruiva surpresa. – Quer ver?

— Não, obrigado. – Afasta-se com a mão esticada. Por dentro, estava envergonhada em pensar como o ninja deveria sob o traje de gato. – Hum, uma curiosidade. – Volta a se aproximar.

— Sim, estou sem nada. Eu posso tirar para você.

— Não é sobre isso! – Grita, irritada. – Como que você era o gato branco se estava em outros lugares ao mesmo tempo? Tinha outra pessoa por trás.

— Ah, isso era apenas uma ilusão que eu criava. – Isso deixa a espadachim confusa. – Bem, você usa uma poção que tenha fumaça, então...

— Já entendi! Ilusões e... Clones também?

— Eram temporários, só para ninguém desconfiar do meu sumiço.

Algo tão complexo e trabalhoso que Lass criou somente para ver e conversar com a espadachim. Ela se envergonha enquanto pensa, escondendo o rosto rubro.

— Aliás, você não estava de viagem? – Elesis pergunta. – Por que não foi?

— Ah, era a visita aos outros Conselhos. Acho que isso pode esperar. – Disse sem a preocupação que assustava a ruiva.

— O quê? Mas você não pode ser preso por ir contra?

— Acho que vai dar um problema, mas vou ficar bem. – Abre um sorriso largo. – Valeu a pena.

Mais vergonha. Encolheria, porém Lass passa a mão em seu cabelo curto. Ele percebe como a espadachim estava, olhando confuso para ela.

— Por que cortou e não cresce mais?

— Eu só queria me decidir de vez. Agora que não tenho mais as outras chamas, poderei ser eu mesma. – Explicava enquanto segurava as pontas cortadas. – Sem mais cores ou penteados diferentes, quero apenas ser eu, a nova Elesis. – Sorri, sem jeito.

Sem mais Eléo ou fingimento, era o que Elesis queria dizer. Lass sorri junto, feliz pela decisão da espadachim. Ela continuava bela com o cabelo cortado, não importava, sempre se sentiria assim pela mesma.

— Eu acho que me apaixonei pela nova Elesis. – Fala o ninja. – É mais feminina.

Elesis acerta um soco contra seu peito. Lass ruge, recuando em dor.

— Mais continua com a força de um homem. – Sussurra Lass.

Com toda sua graciosidade e orgulho, principalmente deboche, ela joga o cabelo para o alto e faz uma pose delicada.

— Fale o que quiser mas sou uma garota. – Disse sob o estrelado céu, que é iluminado pelo brilho dos fogos de artificio.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Lá vamos nós. Foram 4 anos, ou mais, que seja! Quando eu comecei essa fic nunca achei que seria grande desse jeito, eu esperava chegar aos 50 caps no máximo. O final que eu tinha em mente era simples, bobo nem Gerard estaria envolvido. Comecei a perceber que isso não era apenas uma história, eu queria fazer algo marcante, e eu acho que consegui. Coloquei muitas coisas que penso nessa fic, coisas que eu gostaria de compartilhar com vocês :3 Eu agradeço do fundo do coração por todos que acompanharam, não importa o tempo, apenas obrigada! Vocês fizeram eu ter outra percepção, e descobri minha paixão por escrita.
Então, apenas agradeço a todos do fundo do meu coração.
* Sim, Gerard e Astaroth estavam vivos. Não vou explicar o motivo, quero deixar para vocês entenderem por que eles fizeram isso.
Quando eles viram Cazeaje morta, a comemoração deles foi bem tipo:
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* Elesis e Lass terminaram juntos :3 Podem comemorar.
* Acho que o plot twist dos gatos tinha outro plot hahaha Era o Lass e o Gerard o tempo todo! Faz muito sentido se lerem de novo sabendo que é eles, principalmente da parte do Gerard.
* Nesse cap final eu queria trazer algumas coisas nostalgicas, talvez eu tenha conseguido, não sei. O que acharam?
* Desculpe aos fãs do Ryan por não ter o colocado como principal nessa fic. Eu não consegui encaixar ele, como o Uno ou o Veigas. Então sorry
* O final não foi um final feliz, muito menos triste, mas necessário. Teve algumas coisas que precisaram ficar assim, foi a melhor forma de terminar a história que achei :3
* Não tenho mais o que falar, só a agradecer a todos. Não continuarei mais essa fic, talvez, TALVEZ, tenha um especial um dia, mas não será junto a essa fic. Estarei finalizando ela, e quando eu escolher essa opção não tem como mais mudar ou adicionar capítulo. Sobre minhas outras fics, pretendo, eu acho, continuar somente Um Nerd e Um Gangster. Somente essa está na possibilidade.
Esse ano estarei começando minha faculdade e meus projetos de livros, porque tenho diversas histórias como essa, porém originais, para lançar. Talvez no futuro eu não seja conhecida por Risadinha mas outro nome, só espero poder encontra-los novamente.
Uma personagem que criei e gosto bastante é a Lesis Hess, que é meio inspirada na Elesis, mas ela tem suas diferenças. Vai que um dia vocês ouvem esse nome e descobrem que a história pertence a eterna Risa-chan :3
*Não irei negar, chorei na parte final, quando a Elesis fala o título da fic. Eu me senti muito triste em terminar essa fic, mas tudo isso valeu a pena.
* Se bem que ultimamente estou bem chorosa por causa do FFXV. Quem me conhece sabe que eu sou surtada por esse jogo, então passei o cap final todo ouvindo a música, uma delas, e me inspiro totalmente. Deixa o link do vídeo para quem quiser assistir e ouvir a música:
https://www.youtube.com/watch?v=pIyfWSrw_FQ
* Como estarei partindo agora, deixou nas mãos de novos e antigos escritores esse site. Boa sorte para todos. NÃO DEIXEM QUE A HISTÓRIA DO GC MORRA!
* Agora, me despeço a todos. Foi bom quanto durou! Comentem, por favor, ou mandem mensagem no privado. Só quero saber se gostaram ou não.
Daqui para diante, não haverá mais um "tehh a próxima".
Bye



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