Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 122
Curativos simples


Notas iniciais do capítulo

Oláááhhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, semana passada não teve capítulo, sorry. Fiz isso para conseguir ter tempo para escrever os caps de forma mais organizada... Porque logo vai ter o enem e eu vou ter que fazer, e não posso dedicar todo meu tempo para a fic. Então já é bom ter caps reservados para isso :3
Finalmente chegamos no penúltimo arco! Esse vai ser um pouco longo, mais que o último, porque vai ter muita treta acontecendo...
Capa: Num sei, só achei fofinha
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346733/chapter/122

Lass apoiou a mão no peito, a dor naquele local o despertando sob a chuva. O mesmo valia para seu ombro e costas, tudo por causa da queda que teve ao ser jogado ali. Não estava mais na cidade de antes, até mesmo porque o tempo tinha passado de dia para noite. Porém, mesmo estando em um lugar diferente, algo de familiar despertava nele; principalmente pela a chuva tão forte que caía.

Olha Elesis quando vê um homem de guarda-chuva se aproximar. Ele oferecia ajuda, porém a loira, como estava agora, não respondia, apenas olhava perplexa. Levantou do chão e se aproximou dela, não entendendo a expressão de dor que se abre na espadachim.

— Vocês estão bem? – O homem pergunta quando o ninja se aproxima. Ele olha Lass, esperando uma resposta dele.

— Sim, estamos. – Olha de relance para a espadachim. O que acontecia com ela?

— Sua amiga parece machucada. – Note as feridas nas mãos e joelhos em Elesis. – É melhor cuidar disso. Venham comigo, não é bom ficarem na chuva a essa hora da noite. – Entende o olhar de desconfio de Lass para ele. Solta uma risada sem graça, esticando a mão. – Sou Elscud, e você?

Então Lass entende o motivo de Elesis estar paralisada. Ela o olha, querendo não ser a única a ver aquilo. Lass volta o olhar para o ruivo e lentamente segura sua mão.

Era real. O pai de Elesis estava na sua frente e a jovem logo ao lado.

— Lass. – A voz do ninja quase some ao falar. O ruivo solta sua mão, olhando Elesis. – Essa é...

Diria mesmo o nome dela? Dependendo da época em que estavam, ele acharia estranho ver uma garota com o mesmo nome que sua filha. Espera que Elesis diga algo, finja a agir como se nada acontecesse. Ela não fez. Continuava paralisada enquanto não tirava os olhos de seu pai.

— Elly. – Fala Lass. Elscud volta o olhar para ele, assentindo. – Estamos um pouco perdidos, e machucados. Sabe algum lugar que podemos ficar?

— Claro. – Dizia enquanto tirava o próprio casaco. Apoia o guarda-chuva sobre o ombro e se agacha perto de Elesis, pondo seu casaco sobre a mesma. Ela reage mais surpresa. – Não é bom ver uma jovem no meio da chuva.

Volta a ficar de pé, apontando com o polegar.

— Vamos. – Fala Elscud indo na frente.

Se não fosse por Lass, Elesis não teria levantado. O ninja a puxava pelo braço gentilmente, sabendo o que se passava na mente da mesma. Ela devia pensar que tudo aquilo era um sonho, mas com o calor que o casaco de Elscud causava era um despertar para a realidade. Aquele era seu pai e o lugar onde estava era a cidade onde passou todo sua infância.

No escuro da noite, começou a reconhecer o caminho por onde ia.

***

O cheiro continuava o mesmo. Não conseguia parar de olhar sua casa, do mesmo jeito que lembrava ser. Simples e aconchegante. O sofá, onde estava sentada agora, era um pouco pequeno, já que quando menor, ele era gigante para seu pequeno corpo.

— Se seque, ao menos. – Pede Lass.

O ninja para na sua frente, pegando a toalha sobre sua cabeça. Não se move enquanto ele secava seu cabelo, logo o resto do seu corpo. Teve cuidado ao passar sobre as feridas, que acordaram a espadachim no primeiro contato.

— Não faça o que está pensando. – Murmura Lass. – Por favor. Primeiro temos que entender o que está acontecendo.

— Mas e se...

— Não. – Lass interrompe. – Não e não.

A seriedade estampada no rosto do rapaz é por um motivo. Elesis assente, mostrando que não faria o que estava pensando. O ninja tinha razão, tinham que saber o que estava acontecendo antes de tudo. Até lá, precisavam continuar agindo como se nada tivesse acontecido.

— Está sentindo muita dor, Elly? – Pergunta Elscud voltando do andar de cima. Ele se senta ao lado da loira com uma pequena maleta. – Se quiser, posse te dar um remédio ou uma poção.

Elesis volta a congelar com a aproximação do ruivo. Ele a olha, esperando uma resposta.

— Ela não é de falar muito. – Diz Lass com uma risada sem jeito. – É bem tímida.

— Ah, entendo. Apenas balance a cabeça se estiver com dor. – Pede outra vez a espadachim.

Uma simples tarefa com essa se torna complicada. Ela nega com a cabeça lentamente. Elscud confirma, abrindo a pequena maleta que tinha trazido. Eram curativos e remédios para suas feridas.

— Posso? – Olha para sua mão.

Ela confirma. Seu pulso é pego delicadamente, sendo o primeiro contato com seu pai. Elesis joga o rosto para o lado, querendo que a dor fosse menor; não a dor da sua ferida, mas aquela no seu peito.

— Como que vocês foram parar no meio da chuva? – Pergunta Elscud. – A essa hora?

— Um compromisso importante. – Inventa Lass. – Então a Elly caiu no chão e se machucou. – Felizmente, seu corpo já tinha se curado.

— Quando eu cheguei perto você também estava caído. – Estranha o ruivo.

— Está de noite e eu não vi o buraco na poça. – Força uma risada. – Estamos com uma maré de azar.

Elesis se encolhe com o toque do pano em sua mão. Elscud afasta no mesmo instante, olhando atento para a espadachim. A dor passa, Elesis percebendo a preocupação do ruivo sobre ela.

— Tudo bem? Só estou limpando. – Ele diz.

Não fala, balança a cabeça. Não entendia onde estava sua voz naquele instante. Tantas coisas para falar, perguntar, e não conseguia. É claro, não faria nada que mudasse a linha do tempo, como pensava, mas queria ao menos saber se ele estava bem.

— Poderia dizer onde estamos? – Pergunta Lass. Vagava pela a casa, olhando cada detalhe. – A cidade, para ser exato.

— Pelo jeito, vocês estão perdidos. – Olha para os dois. – Estamos em Canaban, perto do castelo real.

— Perto dos Cavaleiros Vermelhos? – Lass pergunta surpreso. Sabia que Elesis faria a mesma pergunta.

— Sim, ela fica no final da rua. – O sorriso que abre aquece o peito de Elesis. Ela sente vontade de abraça-lo. – Sou o líder dela, caso não saiba.

Lass sabia, por isso de ter ficado quieto tão de repente. Em apenas olhar Elesis, sentia os milhares de sentimentos que a mesma estava tendo. Seu pai morto estava à sua frente, limpando seu machucado enquanto sorria para ela. Não podia muito bem entender sobre esse sentimento com algum familiar, mas entendia o suficiente para saber todo o desespero que a espadachim estava tendo.

— Pronto. – Fala Elscud soltando seus pulsos. – Deixe-me ver seu joelho agora.

Ele sai do sofá e se agacha na frente dela. Elesis observava o tempo todo o ruivo limpar seus ferimentos com cuidado. Era como no passado, quando se machucava e seu pai colocava curativos bonitinhos nela. Sem perceber, sorria para o mesmo.

— Desculpe a pergunta indelicada, mas vocês são o quê? – Pergunta Elscud. – Amigos?

— Eh... – Lass não sabe o que responder. Espera que Elesis conte ao seu pai sobre o namorado, mas nem mesmo ela sabia o que dizer. – Um casal. Sabe, namorado e namorada.

— Bem que parecem. – A espadachim não entende o alívio com a aprovação de seu pai. Ele não sabia quem ela era, mas continuava a valer. – De onde veem?

— Também somos de Canaban, só que em outra cidade. Quase na capital, perto do Conselho.

— Conselho? É triste saber que moram perto daquela mulher. – Não precisou falar muito para definir Cazeaje. Pelo visto, nem mesmo Elscud gostava dela. – Bem, terminei de limpar e colocar os curativos.

As palmas de Elesis estavam cobertas por fitas brancas, já seus joelhos alguns curativos com remédio. Ela fica um pouco decepcionada com a simplicidade de tudo, sem os desenhos fofinhos que seu pai costumava ter nos curativos. Mas do mesmo jeito ela agradece com o olhar.

— Como vocês não têm um lugar para ficarem, podem ficar aqui. – Menciona Elscud ao levantar. – Tenho um quarto de hóspedes.

— Não será um incomodo? – Pergunta Lass.

— Claro que não. E também, não vou me sentir bem em deixa-los ir nesse tempo. – Gesticula para a janela fechada por causa do vento forte. – Vamos, vou mostrar o quarto para vocês.

Acompanham o ruivo até o andar de cima. Elesis vinha atrás em passos lentos, sentindo o corrimão da escada. Seu pai nunca foi de enfeitar a casa com quadros ou fotos, então todas as paredes eram lisas e sem graças. Chegou no andar de cima e deixou Lass seguir Elscud para o quarto no final do corredor, como se lembrava. O que mais importava era aquela primeira porta com pequenos enfeites pendurados nela.

A pequena Elesis daquele tempo existia. Fica parada de frente a porta do seu quarto. Sabia que já era nascida pelos os finos cortes que tinha na madeira da porta, todas causadas por ela. Deveria entrar em desespero ao saber disso, mas estava calma. A pequena Elesis não estava em casa, sabia disso pela a porta encostada, o que nunca acontecia quando dormia em casa.

— Alguma coisa te incomodando? – A pergunta de Elscud a assusta.

Olha para seu pai, então para as próprias mãos enfaixadas. Fica nervosa em ficar sozinha com ele.

— Você... – Finalmente, sua voz sai. Reuni forças e olha o rapaz. – Você tem uma filha?

— Olha, você fala. – Ele diz impressionado. Seu pai sempre foi gentil com as pessoas. – E sim, eu tenho. Não sei como descobriu que é uma garota. Olha para essa porta que parece ser de um garoto. – Aponta para o quarto da espadachim.

Ela sorri, sem estar ofendida. Vindo de seu pai, tudo era um elogio.

— Qual é o nome dela?

— Elesis. No momento, ela não está, preferiu dormir na casa do pequeno príncipe.

Elesis se lembra. Algumas vez, preferia ficar no castelo de Ronan, já que eram amigos. Eram bons momentos quando criança, nada para se preocupar, como acontecia agora.

— Acho melhor deixa-la descansar. – Diz Elscud se afastando. – Deixei algumas roupas secas para vocês no quarto. Espero que caiba.

Não poderia deixa-lo ir sem falar mais alguma coisa. Precisava tomar cuidado, mas isso não impedia de ao menos falar com ele. Queria ouvir sua voz só mais uma vez antes de dormir e, provavelmente, acordar sem ele ao seu lado.

Virou-se e o segurou pelo o cotovelo. Elscud a olha.

— Obrigada. – Diz Elesis. – Obrigada por tudo.

— Não precisa agradecer, querida.

— Não, eu quero mesmo agradecer. – Não era pelos os curativos, mas por tudo. Queria poder falar quem realmente era, mas seria considerada como louca. – Obrigada.

Ele ri com a atitude sentimental da espadachim. Dá uma leve batida no ombro da mesma e se vai. Elesis espera que ele diga mais alguma coisa, mas acaba ficando sozinha no corredor por um tempo. Vira-se e vai até a última porta do corredor.

Como esperava, Lass olhava cada canto do quarto. O ninja para o que fazia com sua presença.

— Não tem problema. – Diz a espadachim enquanto fechava a porta.

— Estou olhando as coisas da sua casa, acho que tem problema. – Fala receoso. – Como você está?

Elesis vê a muda de roupa que Elscud deixa sobre a cama. Ela pega, vendo que eram roupas antigas dele. Um sorriso bobo é aberto em seu rosto. Seu pai não tinha roupas de garotas em casa, apenas as dela quando criança.

— Eu não sei. – Responde. – É um pouco difícil de acreditar, para ser honesta.

— Deve ser um pouco difícil, mas apenas te peço que não faça nada. O Saltador é um viajante do tempo, o que explica muita coisa. – Dizia sério. – Mas ele não deve ir muito longe, não com o dispositivo danificado.

Lass tinha acertado o equipamento do rapaz ao ser transportado. Não entendia como tudo aquilo funcionava, mas sabia que era um aparelho delicado e qualquer problema seria complicado de resolver. Ao menos, esperava ser isso.

Olha para a Elesis e espera que ela concorde com ele. A espadachim estava de costas tirando a camisa molhada. Lass fica nervoso com a naturalidade da mesma naquela situação. Tantas coisas aconteciam e ela não se importava em tirar a roupa na sua frente.

— Precisamos pega-lo logo. – Dizia Elesis. Tira seu short, jogando de lado. – Se ele se recuperar, vai deixar a gente aqui.

A roupa íntima que usava acaba tirando a atenção de Lass. Ultimamente, tem usado roupas que garotas deveriam usar, como sua calcinha e sutiã pretas. Mesmo com cicatrizes, o corpo da espadachim era esbelto demais para uma lutadora como ela.

— Ei. – Elesis se vira, chamando sua atenção. O ninja volta o olhar para seus olhos. – Está ouvindo?

— Tentando.

Elesis bufa, aproximando-se com um olhar sério.

— É difícil dizer isso, mas quero ir embora logo. – Fala em lamentação. – Isso. – Estica os braços. – Não pertence a mim, não desse tempo. Eu só quero...

Na verdade, ela queria continuar ali, mesmo se fosse um sonho. Ver seu pai novamente era tudo que queria, e estava tendo tudo isso naquele instante. Porém, machucava saber que ter seu pai não queria dizer que poderia agir como sua filha. Era Elly, a garota que tinha encontrado em meio à chuva. Só.

Afasta-se de Lass, vendo a roupa que vestiria. O ninja sabia sua dor, mas a atenção voltava a sumir quando ela ficava de costas. Embora estivesse tremendo de frio pela a roupa molhada que ainda usava, começa a sentir um calor repentino. Eram as chamas brincando com ele. Ignora, tirando sua camisa e a jogando de lado.

— Resolvemos isso amanhã. – Diz Elesis. – Amanhã não estará chovendo como agora.

Isso é, teria a mente mais disposta para tomar alguma decisão. Pega a larga camisa sobre a cama e veste. Fica como um longo vestido que chegava até suas coxas. O short de seu pai não caberia nela nem se tentasse. Prefere como estava, deixaria que as cobertas da cama a aquecessem.

Lass faz o mesmo, troca de roupa e apaga a luz em seguida. As roupas de Elscud couberam nele, enquanto Elesis usava apenas uma camisa como roupa. Deita-se na cama e olha Elesis se encolher sob as cobertas.

— Um pedido estranho, mas continue com o cabelo assim. – Menciona Lass sobre os cabelos loiros da mesma. – Ele pode te reconhecer se deixar ruivo.

— Sem problema. – Diz Elesis. – Seria muito estranho se isso acontecesse.

— Muita coisa estranha está acontecendo. – Uma pausa. – Talvez seja por isso que Cazeaje te colocou nessa missão. Ela deveria saber sobre o poder do Saltador.

— Não é uma surpresa. Devo perguntar o porquê?

Lass nega. Cada um sabia o motivo de ela ter feito isso, ou tinham uma pequena noção. Joga-los no tempo em que ela era uma simples líder era arriscado, poderia ser facilmente assassinada por eles. Mas como sabiam, o tempo mudaria por isso, então não valeria a pena arriscar tanto.

— Onde que está a sua “eu” dessa época? – Pergunta Lass, curioso. – Não a vi aqui.

— Nesse momento, estou dormindo no mesmo quarto que o Ronan. – Sorri com os ciúmes do rapaz. – Na mesma cama.

— Isso é um tipo de traição? – Olha irritado.

— Sério? Somos crianças, nada irá acontecer.

— É o que você pensa. – Diz emburrado. Mesmo com a versão infantil de Ronan, Lass não suportaria a ideia de vê-lo na mesma cama que Elesis.

A espadachim solta uma breve risada, conseguindo se descontrair de tudo que acontecia. Quando menos percebe, a raiva de Lass tinha passado e o mesmo se aproximava. Ela espera que ele fique apenas próximo, até beija-la. Novamente, o calor que emanava do corpo do rapaz a invade. Seu corpo tremia pelo o frio, mas a pele de Lass estava quente, causando um vício na espadachim.

O ninja segura seu corpo trêmulo para mais, sua mão passando pela a pele exposta de Elesis. Aperta a coxa da espadachim e espera por uma reação de dor, ocorrendo o contrário, as pernas dela enrolando nas dele. Não podia fazer aquilo, principalmente na situação em que estavam. Mas são seus beijos no pescoço da loira que fazem a culpa sumir. Seu corpo esquentava sem notar. Ele queria. Ele queria Elesis.

A mão do rapaz passa por baixo de sua camisa. Não usava nada além da roupa intima por baixo, lembrando apenas quando sente o calor de Lass deslizar por ela. Dessa vez, não sente um incomodo com isso, sentia-se mais à vontade com Lass. Queria o rapaz só para si, que o calor de seu corpo aumentasse.

Mas algo a impede e ela sabia muito bem o que era. Rapidamente, segura Lass pelo o pulso e torce, tirando a mão do rapaz de seu corpo. Com a outra livre, segura o rosto do rapaz quando se afasta, já irritada.

— O que você pensa que está fazendo? – Pergunta Elesis, nervosa.

— Eh, tirando seu frio. – Olha confuso.

— Com meu pai por perto, sério?

— Ele nem vai saber.

— Lass! – Solta o rapaz, acertando um soco no seu peito. – Do mesmo jeito, ele continua sendo seu sogro.

— Quer que eu peça a permissão para o seu pai? É isso?

Elesis revira os olhos e se vira. Lass estende os braços, confuso. Não sabia se tinha dito algo de errado, esse era seu ponto.

Mas logo a espadachim se vira, ficando próxima.

— Eu tô com frio. – Ela resmunga.

— Agora você quer que eu tire seu frio? – Olha com malícia.

— Cala a boca e me aquece. – Rosna. Lass deu de ombros e a abraçou, deixando o calor das chamas sobre ela. Elesis finalmente fecha os olhos. – Se essa mão descer mais um pouco, eu quebro ela.

Lass suspira, trazendo sua mão de volta e apoiando sobre a cabeça de Elesis.

***

Elesis acordou mais cedo do que esperava. O dia continuava monótono com o tempo nublado, sem chuva, ao menos. A espadachim se levantou da cama vagarosamente, observando cada canto do quarto até saber onde estava. Seus pés descalços encostam o chão gelado e deslizam até a janela. Empurrou uma parte da cortina para o lado, vendo o lado de fora. Sim, era a rua da sua casa ainda.

Deixou Lass dormindo ao sair do quarto. Quando chega no corredor o cheiro que vinha do andar de baixo a paralisa. Fecha os olhos com um sorriso se formando. Quando pequena, sempre acordava com o cheiro do café de seu pai. Todo o dia, a mesma coisa. A nostalgia a faz se mover para a escada e descer com o olhar curioso. Chega na sala e para perto da porta da cozinha, segurando-se na parede ao lado quando vê a cena.

Elscud estava de costas para ela. Parado de frente à pia, esperava o café coar enquanto uma fumaça branca dançava à sua frente.

— Gosta de café, Elly? – O ruivo pergunta.

Elesis quis se esconder atrás da parede ao ser chamada, porém não sai do lugar. Tinha esquecido que seu pai poderia sentir sua presença.

— É-É, um pouco. – Responde Elesis, nervosa.

O ruivo fecha a garrafa do café e se vira para a espadachim.

— Venha tomar um pouco. – Ele balança a mão para ela. – Está frio, um bom café quente te fará bem.

Não recusa, indo até a pia. Seus olhos analisam o rosto de seu pai enquanto o mesmo colocava seu café numa caneca. Seu olhar só muda quando a caneca é esticada para ela.

— Obrigada. – Segura com ambas as mãos, o calor da caneca aquecendo sua pele.

— Onde está seu namorado? – Pergunta Elscud, tomando um pouco do café. – Dormindo?

— Ele teve um dia pesado, mas daqui a pouco está de pé.

— Espero não ser intrometido, mas o que vocês fazem? Vi os sabres e a katana que estavam com vocês.

— Ah. – Entende o receio que seu pai tinha naquela manhã. – Nós fazemos missões. Tipo mercenários. Mas não somos perigosos, se é isso que está pensando.

— Eu sei. Nenhum mercenário perigoso se feriria como você ontem. – Ele ri com a vergonha estampada no rosto da espadachim. – Ou talvez você seja desastrada demais.

— Talvez. – Olha o café com um sorriso bobo. Sentia falta disso, do carisma de seu pai e suas piadas bobas.

Os passos apressados que ouvem fazem olhar para a entrada da cozinha. Lass surge com a respiração ofegante, apoiando-se na parede quando vê Elesis. Seu coração acelerado se acalma com a espadachim ali.

— Não saia assim. – Fala Lass. – Achei que tivesse saído.

— Eu não tenho motivo para sair. – Seu pai estava ali, era bem óbvio que não o deixaria.

Lass fica feliz por Elesis ainda não ter notado algo em particular, que logo descobriria. Passou a noite pensando nisso, como aconteceria quando a espadachim visse Gerard do passado, vulnerável para qualquer ataque dela. Pelo o que sabia, o ruivo só tinha ficado forte depois de toda tragédia, portanto, até mesmo Elesis sem as chamas poderia derrota-lo.

— Vocês irão para algum lugar agora? – Pergunta Elscud. – Irei para minha guilda, então não posso deixa-los sozinhos em casa.

— Sua guilda? – Elesis olha surpresa.

— Eu disse que era líder dos Cavaleiros Vermelhos. Sem mim, a guilda fica uma bagunça.

— Teria algum problema se eu o acompanhasse? – Pergunta, nervosa. – Gostaria de ver como é.

— Sem problema. – Termina o café, colocando a caneca sobre a pia. Afasta-se. – Mas antes, coloque alguma roupa adequada.

Elscud sai da cozinha sem olhar para o estado da espadachim. Ela percebe que usava apenas uma camisa para se cobrir, ficando envergonhada em ter aparecido assim na frente de seu pai. Puxa as pontas do tecido para cobrir suas pernas nuas, andando apressada para o andar de cima.

— Eu não vejo problema nas suas roupas. – Lass comenta quando passa por ele.

A espadachim para e se vira. Um chute é acertado na barriga do ninja, que ajoelha sem ar. Ela gostaria de repetir o fato de Lass falar aquilo com seu sogro por perto. Mais envergonhada, Elesis sobe para o quarto.

***

A cada três passos, Lass parava para esperar Elesis voltar de algum canto que ela corria quando via. Tinham saído de casa com Elscud como companhia, que ia bem à frente. Porém, a espadachim começava a se recordar das casas e lojas perto da sua casa, o que a transformava em uma criança.

— Todo final de semana eu ia ali comer alguns bolinhos que a dona da loja fazia pra mim. – Dizia Elesis apontando. Lass ouvia tudo que ela falava, sorrindo com a animação da mesma. – Ali fica o parquinho que eu brincava. Foi onde eu conheci o Ronan.

— Como consegue se lembrar de tudo tão bem? – Pergunta Lass.

— Eu não sei. – Diz com um sorriso. – Eu só lembro. E fico feliz por isso.

E que ela continuasse assim. Lass ainda não tinha mencionado Gerard, nem pretendia tão cedo. Seu corpo estava tenso na possibilidade de acha-lo e não poder explicar o motivo de ter uma pessoa querendo ver ele morto. Mas antes, precisava se manter calmo.

— Chegamos. – Fala Elscud, parando. – Podem entrar.

O ruivo entra primeiro na grande casa que Lass para perplexo. Sobre a porta principal tinha uma placa falando o nome da guilda. Cavaleiros Vermelhos. Olha Elesis, o olhar de admiração na mesma o toca. Ela é a primeira a se mover para entrar.

A espadachim paralisa outra vez. O interior da guilda era como lembrava, o cheiro e a sensação continuavam presentes no local. Ela coloca a mão no peito, sentindo seu coração bater, mostrando que estava viva. As pessoas no salão olham para ela, curiosos, mais ainda com a entrada de Lass.

— Eu lembro disso. – Murmura Elesis. Tantas emoções em tão pouco tempo. – De cada um, eu lembro deles.

Consegue apenas dar um passo à frente. Segura o braço de Lass, puxando para perto.

— Aquele é o Jaret. Ele sempre foi o mais esperto da guilda. – Apresentava Elesis. – Ali está o Simon. Sempre dormindo. – Ri. – Ah, Ah, e aquele...!

Elesis não sabia por onde começar, eram tantas pessoas do seu passado que não estão mais vivas no seu presente. Todos são especiais e possuem suas próprias peculiaridades, o que tornavam únicos. Amava chegar na guilda e ser recebido por todos com carinho. Agora, como uma desconhecida para todos, era apenas olhada e ignorada. Doía um pouco.

— Você parece impressionada. – Comenta Elscud. – Nunca viu uma guilda?

— Já, mas... Essa é bem legal. – Diz Elesis, envergonhada.

— Fiquem à vontade. Eu vou ver uma coisa, já volto.

Elesis volta a ficar agitada com a ida de seu pai. Ela sai correndo na frente, obrigando a Lass ir atrás dela. A espadachim parava em um canto do salão e corria para outro, assim voltando a lembrar cada parte da guilda. As espadas coladas nas paredes, as armaduras jogadas no canto do salão e o chão escorregadio pelo o suor era tudo tão fascinante para a mesma.

— Não querendo acabar com a sua felicidade, mas precisamos ir. – Diz Lass quando a espadachim finalmente para. – Achar o Saltador.

Elesis olha triste. Nunca achou que voltaria a viver tudo isso novamente, ter seu pai vivo e a guilda inteira. Lass tinha razão, não podiam demorar para achar o Saltador, logo ele consertaria seu equipamento e os deixaria presos naquele tempo. Para Elesis, não tinha problema, porém Lass via um e bem grande.

— É que... – Não sabia como dizer. – A guilda é bem legal.

Lass entende o nervosismo que Elesis demonstrava. Ela não queria sair dali, deixar seu pai.

— Fique então. – Fala Lass. Elesis olha confusa, receosa. – Aproveite essa oportunidade.

A espadachim quis negar, falar que o ajudaria na procura. Mas ela não fala, apenas assente com um sorriso de agradecimento. Não teria muito tempo naquele lugar, então que aproveitasse o máximo que pudesse.

— Não tente nada. – Pede Lass já se afastando. – Por favor, não faça nenhuma besteira.

Quando abre a porta para sair, é pego de surpresa por uma pequena garota de cabelos ruivos entrando correndo para dentro. Lass reconhece, parado na entrada com a mesma expressão de Elesis.

— Papai! – Grita a pequena Elesis.

Elscud a ergue no ar com um largo sorriso. A atual Elesis sente uma pontada de dor com aquela cena.

***

— Não me sinto bem fazendo isso. – Murmura Jin no silêncio do corredor.

Havia se recuperado a tempo de acompanhar Ronan e Arme até o Conselho, para finalmente colocarem seu plano em ação. Estava de noite, o Conselho estava vazio, porém havia guardas em alguns cantos do lugar. Esse era o principal motivo de fazerem silêncio e tomarem cuidado com cada corredor que viravam.

Por sorte, Arme tinha usado uma magia que fazia seus passos ficarem silenciosos.

— Tem certeza que não tem ninguém aqui? – Pergunta a maga. – Inclusive Cazeaje?

— Geralmente Cazeaje só fica até tarde nos finais de semana. – Diz Ronan.

— Geralmente? – Jin olha indignado. – Você não tem certeza?

— É uma suposição. – Isso não deixa o ruivo mais calmo. – Tenho 80% de certeza que ela não está.

— E os outros 20%? – Quase grita, impedindo-se a tempo.

Ronan não responde, nem Arme. Jin não conseguia entender a calma que ambos tinham em um local como o Conselho, onde trabalhava a pessoa mais cruel. O ruivo era covarde demais e sabia disso.

— Não estamos indo para a sala de arquivos? – Questiona a maga quando tomam um caminho diferente.

— Não. Os arquivos que queremos estão na sala da Cazeaje. – Explica Ronan.

Jin assopra e respira profundamente para continuar o caminho.

— E se ela pegar a gente? – Pergunta com a voz trêmula. – A gente morre, né?

Ronan olha de sobrancelhas erguidas, sem saber o que responder. Como não andava muito com o rapaz, não tinha o costume de ouvir suas conversas estranhas. Apenas Lass e Elesis entendiam.

Continuam a andar pelo o corredor que era apenas iluminado por velas. Pela a escuridão que ficava em alguns cantos, Jin fica colado com Arme, que também estava tendo o mesmo pressentimento ruim. Logo acham a porta para a sala de Cazeaje e param para analisar.

— Trancado. – Diz Ronan. Cruza os braços pensativos. – Só ela deve ter as chaves.

— Você não pode arrombar? Ou fazer aquelas técnicas com um grampo de cabelo? – Pergunta Jin.

— Cazeaje perceberia. – Olhava fixamente para a maçaneta. Qualquer arranhão naquela porta e a líder notaria facilmente. Suspira nervoso.

— Eu posso usar minha mágica. – Sugere Arme. Olham para ela. – É como usar um grampo, só que sem contato na fechadura.

— Isso pode dar certo. – Afasta-se da porta, dando espaço a maga.

Arme se agacha de frente à fechadura, as mãos se erguendo com uma energia azul as contornando. Jin olha curioso para a calma que a maga tinha em fazer aquilo, enquanto Ronan fica impressionado com a magia que era desconhecida para ele. O barulho da fechadura se movendo por dentro era sinal que estava funcionando.

— Quase... Pronto! – A luz some de suas mãos. Ela fica de pé quando gira a maçaneta e abre a porta. – Não foi tão difícil.

Os dois sorriem com positividade para ela. Ronan é o primeiro a entrar, logo sendo acompanhado com passos cuidados. A sala está escura, mas é iluminada quando o abajur da mesa é ligado.

— Jin, fica na porta e avise se tiver alguém chegando. – Pede Ronan. O ruivo faz o que é mandado. – Preciso da sua magia novamente.

Vão para trás da mesa, onde tinha uma gaveta com fechadura. Arme se abaixa e permite sua magia fazer o resto. Pensava que seria fácil como a porta, porém a gaveta tinha uma certa dificuldade para ser aberta tão facilmente.

— Tem certeza que está aqui? – Pergunta a maga. Começava a suar pela a dificuldade.

— Cazeaje sempre guarda seus documentos importantes nessa gaveta. – Explica o rapaz. – Algo ela está escondendo aí.

— Pode ter razão. Essa é bem complicada.

Usa mais um pouco de esforço e ouve um barulho. Abaixa as mãos com a fechadura destrancada. Ronan toma seu lugar, abrindo a gaveta. Puxa uma cadeira para se sentar e tirar algumas pastas, colocando sobre a mesa.

— Certo, vamos ver o que dona Cazeaje está planejando. – Fala ao abrir a primeira pasta.

— Alguma coisa? – Pergunta Arme depois de um tempo.

— São contratos e pagamentos. – Diz em confusão. Passa as folhas, todas parecidas. – Cazeaje contratou alguns mercenários.

— Por que ela faria isso? Ela tem os melhores guerreiros do reino, não faz sentido.

Pega outra pasta. Mais contratos. Ronan coloca a última pasta sobre a mesa, pensativo. Não via sentido em guardar tudo isso tão secretamente.

— Acharam alguma coisa? – Pergunta Jin entrando na sala.

— Eu não sei. – Responde Ronan. O rapaz parecia perdido nos próprios pensamentos.

Jin se aproxima da mesa, olhando as pastas. Pega uma e folheia, então parando de sobrancelhas erguidas. Aponta.

— Eu conheço esse cara. – Mostra a folha com a foto de um mercenário contratado. – Ele estava na missão que eu estive.

Ronan levanta da cadeira, perplexo. Seus lábios se movem para formar palavras, porém não sabe o que dizer.

— Isso faz sentido. – Ele fala, movendo-se de um lado para o outro. – Então o que Lass tinha dito era verdade. Cazeaje quer provocar uma guerra para usa-lo. É óbvio!

— Então ela contratou esses mercenários para atacarem outro reino? – Questiona Arme. Ronan confirma.

— É, pode até ser. – Menciona Jin. Seu tom quebra o clima. – Mas não é esse que eu estou falando. Esse aqui é o príncipe Gareth.

— Príncipe Gareth? – Ronan estranha. – Nunca ouvi falar dele.

Jin devolve a pasta. Estava perdido, um frio passando por ele. O medo o atingi junto com a realidade da situação. O tempo todo, os mercenários que atacaram Elizabeth eram uma distração.

O verdadeiro jogador estava na frente deles o tempo todo e somente agora, já tarde, percebem suas verdadeiras intenções.

— Elizabeth está em perigo. – Murmura. Olha desesperado para os dois. – Precisamos salva-la.

— Antes, temos que sair daqui. – Diz Arme. – Já temos o que precisamos.

Ronan não debate. Coloca as pastas na ordem que pegou e põe na gaveta com todo cuidado. Deixa para Arme tranca-la enquanto ia para o corredor com Jin. De repente, o ruivo fica alterado com a notícia.

Até mesmo a crueldade de Cazeaje o atingia.

Arme sai da sala e faz o mesmo com a fechadura da porta. Dessa vez, não demora como na gaveta. Segue os dois à frente, com passos longos, mas silenciosos. Tinham que sair daquele local o mais rápido possível, principalmente Jin com a preocupação o guiando.

Nunca tinha desconfiado de Gareth para fazer isso. O príncipe se mostrou do lado deles o tempo todo, não fazia sentido fazer isso após tudo. Bem, isso era o que Jin pensava.

— O que vocês estão fazendo aqui? – A voz ecoa pelo o corredor.

Congelam no lugar. O barulho dos saltos de suas botas para quando Mary examina cada um. Ela usava seu uniforme branco como sempre, que parecia cinza pela a escuridão do corredor. Como eles, ela parece assustada, mas pela a surpresa de encontrar pessoas a essa hora da noite.

— Olá, Mary. – Fala Ronan. Ele fica na frente, agindo naturalmente. – Eu estava cumprindo uma hora extra. Tinha muito trabalho pra fazer.

— Cazeaje não gosta dos funcionários dela até tarde no Conselho. – Estreita os olhos. – E o que faz com companhia?

— Como eu disse, muito trabalho. – Ri sem jeito. Não estava funcionando. – Precisava de uma ajuda. Então trouxe alguns amigos.

Mary olha Arme e Jin, que desviaram os olhares no mesmo instante. Volta a Ronan, sempre calmo quando o via. O rapaz não é de demonstrar nervosismo nas piores situação, disso ela sabia. Encara o rapaz com a mão indo lentamente ao cabo da espada na cintura.

Antes de todos se moverem, Arme é a primeira a ativar sua magia. Ela gira e cria uma barreira a tempo de se defender de Vegas que vinha por trás. A ruiva atinge o martelo na proteção, recuando irritada pela a falha. Logo Mary é a próxima a avançar contra Ronan, que recua sem uma arma para poder se defender.

Sem precisar de uma espada ou um bastão, Jin surge ao lado de Mary. A loira não o nota, só quando é chutada com força na costela. É jogada para trás, levantando-se rapidamente. Ergue a lâmina da espada em ameaça, o mesmo Vegas do outro lado com o martelo.

— O que você pensa que está fazendo, Ronan? Ficou louco?! – Exclama para o rapaz.

— Apenas tirando a coleira que Cazeaje colocou em mim. – Diz com frieza. – A mesma que vocês continuam usando.

— Como ousa falar de dona Cazeaje assim? – Grita Vegas ao fundo. – Tenha mais respeito com ela.

— Tenha respeito próprio. Vocês duas! – Não aguentava mais ver as duas agirem assim. – Cazeaje está usando vocês para fazer coisas ruins, será que não perceberam ainda?

— Você é o único a fazer coisa errada aqui, Ronan. – Diz Mary. – O que pretende com isso? Sabe que se dona Cazeaje descobrir, irá prendê-lo. O mesmo para os seus amigos.

— Já vivemos numa prisão com Cazeaje no comando mesmo. – Fala Arme.

Mary entende as intenções de Ronan. Sem falar, avança contra o mesmo em sincronia com Vegas, que faz o mesmo contra Arme.  Ronan recua dos ataques de Mary, ela era rápida, quase como Lass com uma katana. O rapaz precisava de uma arma ou de espaço para usar sua magia.

Ao lado, Arme pulava para os lados para escapar do martelo de Vegas. A maga levanta a mão e deixa o gelo voar contra os pés da ruiva. Ela é congelada no chão, em seguida, Jin avança com um pulo, então afundando seu pé no cara da mesma.

— Deixa ela comigo. – Fala Jin. Aponta para Ronan. – Ajuda ele.

Arme obedece, deixando a furiosa Vegas apenas para Jin enfrentar. Ele ergue os punhos fechados, sem as chamas. Os ataques dela eram lentos demais para atingi-lo, porém se acertasse, sofreria um grande dano.

Vegas o ataca, sem aumentar tanto seu martelo pelo fechado corredor. Não se esquecia que estava no Conselho e qualquer destruição seria um prejuízo para ela. Apesar da irritação que demonstrava, estava no controle para continuar o combate. Jin era um oponente complicado, escorregadio na sua visão.

Quando o rapaz pretende revidar, Vegas encolhe seu martelo e se esquiva rapidamente, o que não era para acontecer no plano de Jin. Ela dá um rápido giro e cresce o martelo, que acerta o lutador pelas costas. Ele bate com a cara no chão durante a queda, o que não é o bastante para a ruiva. Ela continua a avançar.

Distantes, Ronan troca de lugar com Arme, que vem disparando sua magia de paralisia. Mary joga o corpo para o lado, porém não conseguindo esquivar seu braço. Recua com uma parte do seu corpo adormecido, que acaba sendo um peso desnecessário.

— Quais são os planos de Cazeaje, Mary? – Pergunta Ronan com seriedade.

A loira olha com indignação, não aguentando este tipo de pergunta. Dá um passo à frente e um fino fio de raio atinge seu outro braço. Sente a pele queimar, soltando a espada quando recua da maga. Ronan toma seu lugar velozmente, acertando um forte chute contra seu peito.  Ele pega sua espada e corre até ela. Mary recua e bate com as costas contra a parede.

Aproveita a chance da jovem encurralada e joga seu antebraço contra o pescoço dela, a prendendo com mais força contra a parede. Levanta a espada com a ponta apontada para seu peito.

— O que você vai ganhar com isso? – Ela pergunta irritada. – Será morto, no mínimo.

— Então que eu morra fazendo algo bom. – É sincero. – Estou cansado de servir a Cazeaje. Quero servir ao meu reino, não a ela.

— E você acha que o mundo continuará bonzinho com a saída da dona Cazeaje do poder? – Balança a cabeça. – Apenas ela pode lidar com isso, o medo que ela impõe sobre todos é absoluto.

— Nem tudo precisa ser lidado com medo. – Seu tom é sutil, nota Mary. – Meus pais morreram, o que me torna o herdeiro de todo o reino. Mas não posso controlar porque Cazeaje está no comando. Eu quero ser o rei que precisam.

— Boa sorte com isso. – Joga os ombros, colocando o rosto de lado. – Porque mesmo sendo a braço direito da dona Cazeaje, ela não me conta nada. Sirvo ela, apenas isso.

— Então não sabe o propósito daqueles arquivos na gaveta? – Ameaça com a ponta da espada. – Diga!

Seu corpo é empurrado violentamente para o lado, caindo no chão. Percebe Jin ao seu lado, o motivo de ter caído. Fica de pé e vê Vegas se aproximando. Com apenas um golpe, ela arremessou o ruivo como uma pequena bola, atingindo Ronan, o seu alvo.

A ruiva pretende avançar. A mão que para na sua frente a prende no lugar. Olha confusa para Mary, que tinha se colocado ao seu lado. A jovem estava séria, cansada.

— Não vale a pena. – Solta uma vaga explicação para Vegas. Volta a olhar Ronan. – Sobre esses arquivos, o que eles dizem?

Ronan recupera a respiração, abaixando a lâmina. Arme e Jin fazem o mesmo.

— Resumindo, uma provocação de guerra. – Explica o rapaz. – Cazeaje não se importa com o seu povo, ela só se importa consigo mesma. E as chamas, é claro.

— Por que tem tanta certeza sobre isso? Que ela quer uma guerra?

— Porque eu conheço minha tia mais tempo que qualquer funcionário aqui. Sem ofensas. – Deixa Mary ingerir a informação. – Acredite em mim, por favor.

Ela pensa. Vegas nem tanto, parecia perdida na conversa toda. A jovem capitã queria eliminar seus inimigos de vez, diferente de Mary que começava a acreditar nas palavras de Ronan.

— Sendo verdade ou não, isso não mudará nada aqui. – É realista, olhando firmemente. – Vegas e eu continuaremos trabalhando para dona Cazeaje como se nada tivesse acontecido.

A ruiva olha indignada enquanto o trio sorria. Mary acreditava neles, mas não poderia se juntar a eles tão cedo. Era esperta e sabia que Cazeaje era mais. Precisava ser cuidadosa em andar pelo o caminho de olhos abertos, poderia acabar vendo algo que não queria.

— Sejam mais discretos da próxima vez. – Ela avisa. Tira do casaco de seu uniforme um papel dobrado. Arremessa para Ronan. – Essa é a minha parte. Acidentalmente, deixei cair e vocês pegaram, ok?

Ronan pega o papel. Ele desdobra, revelando a planta do Conselho inteiro. Fecha o mapa e entrega a Arme enquanto sorria em agradecimento para Mary.

— Seja sensata, vocês duas. – Diz Ronan antes de partir.

***

Elesis não conseguia parar de olhar sua “eu” criança, alguns metros à frente. A pequena ruiva abraça seu pai com tanta animação que fazia a atual Elesis sentir inveja. Tinha sentado em um canto do salão quando Lass foi embora. Antes de ir, viu a expressão que o mesmo fez ao ver ela do passado. Também estava assim, porém pior. Era estranho ver si próprio sem ser um reflexo do espelho.

Volta a fechar os olhos. Forçava sua mente a lembrar desse dia quando criança. Queria descobrir se realmente existia uma garota loira naquele momento ou se apenas estivesse alterando o tempo nesse instante. Nada vinha, muitas coisas eram lembradas, coisas bobas na maioria, mas nada do que queria.

— Quem é você?

Demora a abrir os olhos. A fina e inocente voz a chama, tão próxima que sente a respiração perto. Abre um olho depois o outro. Era difícil encarar a pequena Elesis à sua frente.

— Papai disse que você é uma amiga. – Volta a falar a garota. – Você é amiga do meu pai?

Elesis não sabe o que dizer. Nunca achou que uma vez na vida teria que responder a si mesma. Incerta, olha para o lado ao responder.

— Sim, eu sou amiga. – Com o silêncio, olha a pequena. Nota que tinha um pequeno nariz achatado quando criança, algo que nunca tinha percebido. – Me chamo Elly. E você?

— Elly? – Os olhos vermelhos brilham em admiração. – Que nome bonito. O meu é Elesis. Papai disse que significa bravura. – Sorri em orgulho.

— Bravura? – Elesis lembra. Seu pai uma vez disse que seu nome possuía um significado muito importante, que era a cara dela. Sorri como sua “eu” fazia, em orgulho. – É bem legal.

— Né? – De repente, a atenção da ruiva muda rapidamente. Seu jeito agora é curioso. – Papai disse que você é uma guerreira, que sabe lutar. É verdade?

Ao longo da conversa, Elesis esquece que aquela era ela e continua a conversar com uma pequena garota ruiva com o olhar faminto de curiosidade. Ela solta uma risada sem graça e responde.

— A melhor que você já conheceu. – Começava a deixar o orgulho falar por ela. Ambas agiam da mesma forma. – Me dê qualquer espada e eu te mostro como se faz.

— Então mostra! – Pede animada. Elesis olha confusa. – Eu quero ver! Nunca vi uma garota lutar, então me mostra!

Quando não dá uma resposta definida, a pequena ruiva a puxa pela a mão. Fica de pé, sem jeito quando ver a garota correr em direção às espadas e pegar uma que era pesada demais para ela. Traz arrastando, quando próxima, estica o pesado cabo da arma para que ela pegasse.

Elesis ergue a espada com uma mão, a leveza quase sumindo pelo o material da lâmina. Deu alguns passos até o centro do salão vazio, grande demais quando percebe que não ninguém além dela mesma observando.

— Bem, a primeira coisa que você precisa saber é nunca desistir. – Diz Elesis para ela. – Se alguém disser que você não pode lutar porque é uma garota, dê um grande soco na cara dele e diga que pode sim. Não se importe com as opiniões dos outros.

A pequena ruiva assente, sorridente.

Elesis gira a espada na mão, ganhando uma pose de combate. Conta mentalmente e pensa em um inimigo imaginário. Com a leveza da espada, seus ataques são mais rápidos, parecendo letais para que via. Elesis estava apenas mostrando o básico, sem chamas para não ter os cabelos trocados de cor. Rodopiou e pulou, como uma dança com espada. Quando termina, sua respiração está normal pelo o pouco esforço que fez.

Aplausos altos. A pequena Elesis olhava admirada, não parando de bater as mãos freneticamente. Ela tinha amado, nunca tendo visto isso antes.

— Você gostou? – Pergunta para a pequena.

— Se eu gostei?! Foi super legar! – Sacudia os braços em agitação. – Você fez voosh e depois pash e aí terminou um bang! Muito, muito legal!

Elesis ri com os comentários que ela fazia. Eram inocentes e apaixonantes por algo tão simples. Sentia falta disso, dessa paixão por qualquer coisa, pela a descoberta do desconhecido que a fascinava. Atualmente, poucas coisas a impressionam, e quando acontece é de forma negativa.

— Posso fazer com duas espadas. – Diz ela. – Quer ver?

A pequena balança a cabeça rapidamente. Elesis pega outra espada, um pouco mais pesada que a outra. Volta ao centro e joga os braços para o lado em posição. Lembra das palavras de Depas, de seus ensinamentos. Quando prepara para se mover, algo encosta no seu pulso, erguendo um pouco a espada. Olha para trás, vendo Elscud com um olhar cuidadoso.

— Está usando uma espada mais pesada desse lado, então precisa elevar mais o braço. – Ele explica. Elesis continua a olha-lo. – Sei que sabe usar aqueles sabres que eu vi ontem, mas não será a mesma coisa com essas espadas. – Aponta.

Elesis abaixa os braços. Seu pai a ensinava algo, como sempre tentava quando criança. Mas agora era diferente, ele falava de um jeito que seria complicado demais para uma criança entender, mas que ela entendia. Sorri com serenidade.

— Obrigada. – Agradece. – Tem mais alguma coisa que eu faço de errado?

— Hum. – Ele olha pensativo. Tinha visto os movimentos rápidos da espadachim, o que fez ficar admirado como a pequena Elesis. – Deveria mover mais as pernas. Você fica presa no lugar e quando se move é com um passo largo demais.

Tudo que ela faz é assentir. Não fala do problema nas pernas, tinha medo que seu pai ficasse preocupado, mesmo na visão dele, ela sendo uma desconhecida.

***

Lass passou horas andando pela a cidade para achar o Saltador, mas nada conseguiu achar, nem rastros. Sabia que ele ainda estava naquele tempo, porém bem escondido. Não gostava de pensar na ideia de ficar preso para sempre nessa época, embora seja isso que Elesis esteja desejando.

Volta para a guilda, esperando achar Elesis quieta enquanto observava seu pai. Estava enganado, ela chamava atenção até demais. A espadachim estava no centro do salão com todos os membros em volta dela. Teve que se aproximar para ouvir as histórias que ela contava a todos.

— Leviatã é mesmo uma criatura gigante! – Continuava ela. – Eu consegui enfrentar e não foi tão difícil assim. – Falava com grande orgulho de si.

Era engraçado como Elesis conseguia tornar a situação favorável a ela. Conseguia fazer todos gostarem dela, sem exceção. Não sabia como tinha acontecido, mas imaginava que ela tinha dado o seu jeito de sempre.

— Ela tem boas histórias para contar. – Fala Elscud ao seu lado. – Parecem ser mentiras, mas eu acabo acreditando no final.

— Ela sabe como convencer.

— Eu gosto dela. Se deu bem com a minha filha e lembra o jeito da minha mulher. – Olha nervoso para Lass. – Não pense errado.

— Não estou. – Volta olhar Elesis, vendo que ela estava distante. – Onde está a sua mulher?

— Ela morreu faz tempo. – Suspira, tirando o peso do peito. – De uma doença. Não conseguiu resistir.

Ele mentia. Lass fingi acreditar. Era difícil para Elscud contar isso para um desconhecido, por isso não contaria a verdade. Via nele o medo de alguém descobrir sobre as chamas através dessa história.

— Tem algum familiar além de você e a Elesis? – Olha para o ruivo.

— Não, apenas a gente. Se bem que tem...

Os cabelos ruivos de Elesis chama sua atenção. Ela vem correndo para seu pai, ignorando totalmente Lass ali.

— Papai, cadê o tio Gerard? – Ela pergunta. – Eu não vi ele ainda.

— Tio Gerard está em uma missão. Ele vai demorar para voltar. – Explica Elscud.

— É que ele adoraria ouvir as histórias da Elly.

— Sim, ele adoraria. – Passa a mão nos cabelos da pequena.

A pequena Elesis volta para perto da roda. Por um instante, Lass fica tenso ao ouvir o nome de Gerard, depois aliviado em saber que ele não estava por perto. Pela a animação de Elesis, ela ainda não tinha lembrado sobre o mesmo. Era bom? Talvez sim, talvez não.

— Quem é o tio Gerard? – Queria saber mais sobre ele desse tempo.

— É um amigo de infância meu. Elesis o considera como um tio, e eu como um irmão.

— Então é muito importante para vocês?

— Ele é como um membro da família. – Balança os ombros. – Obviamente ele é especial.

Tanto para ele quanto para Elesis. Cruza os braços, encarando os próprios pés. Queria saber como uma rivalidade tinha se criado entre eles. Gerard matou o pai de Elesis por algum motivo que superava a relação que eles tinham. Volta a olhar Elesis, sua namorada, enquanto pensava.

Lass não respira. A resposta estava na sua frente o tempo todo. Estava incerto, não tinha total certeza sobre isso. Olha Elscud, tendo medo de fazer a pergunta errada.

— Sua filha... – Ele começa. É olhado, o que faz ficar mais nervoso. – não tem medo que ela se machuque estando numa guilda? Futuramente, ela vai se envolver mais com isso.

— Não gosto de admitir, mas eu sei. – Falava sem tirar os olhos da sua pequena filha. – Elesis se tornará uma grande cavaleira vermelha, mas até lá, enquanto ela não pode se defender, farei de tudo para vê-la bem. – Força um sorriso para diminuir a ameaça que acaba soltando sem querer. – Um dia, ela será tão forte quanto a sua namorada.

Lass também sorri, sumindo ao virar o rosto para frente. Se ele soubesse da verdade, não diria isso como um elogio.

— Espero que não. – Sussurra.

— Aliás, - Diz Elscud, sem ter ouvido o que o ninja disse. – creio que não acharam um lugar para ficar à noite.

— Eu nem tinha pensado nisso. – Fala surpreso. Tinha passado o dia inteiro procurando pelo o Saltador que esqueceu esse detalhe.

— Tudo bem. Podem ficar na minha casa o quanto quiserem. – Entende o espanto do ninja. – Bem, eu não vejo problema e vocês estão precisando de um lugar enquanto isso.

— Não queremos incomoda-lo.

— Não será incomodo algum. – Suas palavras são gentis como sua expressão. – E a minha filha vai querer ouvir mais histórias quando chegar em casa.

Elscud era como Elesis, ambos tinham uma bondade que era difícil de explicar. Se importam com os outros acima de tudo, essa era a família da espadachim.

Sorri, agradecido pela a oferta de seu sogro.

Mas apesar de ser algo de família, Gerard possuía a mesma forma de pensar. Não sabia a história do rapaz por completa, porém sentia que ele tinha sacrificado muita coisa para ter visto a pessoa que se importa bem. E essa pessoa é Elesis.

***

— Esses são os seus sabres?! – Pergunta a pequena Elesis com os olhos arregalados. – Que bonito!

Elesis não deixou de mostrar suas espadas para sua “eu” do passado. A pequena abre a boca em surpresa ao ver as lâminas pretas e vermelhas. Até mesmo Elscud, que não tinha visto bem os sabres, elogia com surpresa.

— Devem ter sido caras. – Comenta Elscud. Segurava uma das espadas, sentindo o peso que ela causava. – O material é muito bom, resistente demais para ser tão leve.

— É, eu tô sabendo. – Todos falavam a mesma coisa. – Esses sabres são muito importantes para mim.

Lass a olha sobre o ombro. O ninja estava sentado à mesa de jantar, terminando sua comida enquanto eles estavam no sofá. Tinham voltado para a casa de Elscud, que não parava de insistir que ficassem. Elesis não pensou em negar, aceitou no mesmo instante.

— Fico impressionado em achar alguém que saiba usar. – Dizia Elscud, devolvendo o sabre. – É difícil usar as duas espadas ao mesmo tempo. Sabe, exigi muita coordenação motora do usuário, sem falar da força.

— Na verdade, eu treinei muito até chegar nisso. – Fingi o cansaço, mesmo que fosse sentido no fundo da alma. – Eu tive que quebrar um braço para poder aprender. – Abre um sorriso com tranquilidade.

Elscud quase riu, até perceber que não era uma piada e ela falava sério. A pequena Elesis por não saber a dor de quebrar algo, fica fascinada pela a bravura que a espadachim demonstrava. De longe, Lass revira os olhos por lembrar do incomodo que Elesis sentia enquanto usou o gesso.

— Você me lembra um certo alguém agindo desse jeito. – Fala Elscud. – Faz o que for preciso para ficar forte.

— Sério? Quem? – Lass não move o corpo ao ouvir a curiosidade da espadachim.

Por impulso, arrasta a cadeira para trás, o barulho da madeira arrastando no piso os assustando. Lass se coloca de lado na cadeira, apoiando o braço no encosto.

— Elly, você já chegou a contar a história do nosso amigo Jin? Aquela que ele colocou um vestido? – Fala de repente, um sorriso falso se abrindo para mostrar naturalidade.

— Ah, é mesmo! Eu não cheguei a contar a vocês! – A espadachim volta a ficar agitada. – Temos um amigo chamada Jin que sempre vai nas missões com a gente. Teve uma que ele usou um vestido, e foi assim...

Discreto, Lass abaixa o rosto e solta a respiração que prendia. Não podia deixar Elesis lembrar de Gerard, não agora. Mesmo distante, era arriscado para o rapaz ter uma pessoa vingativa atrás dele. Até encontrarem o Saltador, o ruivo não deveria ser mencionado a ela.

Apoia o rosto sobre o encosto da cadeira, ouvindo Elesis contar as histórias dela. A pequena ruiva não parava de se fascinar com suas futuras histórias, já Elscud, não mostrava desinteresse de sua parte. Ele se sentia à vontade com a espadachim, pelo visto, gostava da presença dela; infelizmente, não sabia o porquê.

De repente, começa a se sentir triste vendo essa cena. Elesis era feliz apenas com seu pai, o mesmo para o antigo Gerard, antes de toda tragédia. Essa seria sua verdadeira vida após alguns anos, contando ao seu pai algumas histórias.

Totalmente ao contrário de Lass. Ele se arrepende em pensar onde estaria agora, afundando o rosto em meio ao braço apoiado no encosto. Tinha inveja de Elesis. Ela tinha um pai que a amava, pessoas que se importavam com ela, uma guilda com todos a notando. O que ele tinha? Não gostava de pensar. E se continuasse, ficaria fragilizado mentalmente e as chamas o queimariam sem querer.

Elesis continua a contar história, porém segue com o olhar Lass sair de casa. O rapaz tinha ficado quieto de repente, o que a preocupa.

Tudo que queria no momento era um pouco de silêncio e o vento gelado da noite. Tinha subido o telhado da casa, ficando sentado sobre as telhas com as pernas encolhidas. Ficou assim por alguns minutos, no silêncio que acaba com os xingamentos de Elesis. Ela demora a subir, suas pernas não colaborando tanto. O rapaz ficou observando, sem se mexer para ajuda-la.

— Nunca achei que fosse tão difícil subir o telhado da minha casa. – Comenta sem ar. Senta-se ao lado do ninja, seus cabelos loiros voando com a brisa. – Geralmente é mais fácil subir pela janela do meu quarto, não da porta de entrada.

Lass a olha em silêncio. Elesis suspira, jogando a cabeça para trás para sentir o vento.

— Algo te incomoda. – Ela fala. – O que foi?

— Seu pai é legal. – Fala o ninja. – Diferente do meu, que é um cretino.

— Você nunca fala dele, sempre evita. – Olha Lass, vendo uma certa tristeza. – É apenas ele que está te incomodando?

Joga os ombros.

— Vou fazer uma pergunta. Onde você está nesse instante? – Seu tom humorado some com a pergunta. – Não você, mas o seu “eu” desse tempo.

Era isso, percebe ao ver o incomodo surgir na face do ninja. Ele afasta o rosto dos joelhos, tomando um pouco de ar.

— Sinceramente, eu não sei. – Diz Lass. – Ou nas ruas passando fome ou no circo com as costas cobertas por sangue. Do mesmo jeito, não estou numa situação muito boa, não acha?

Lass fingia não se importar, ter superado tudo que passou nas ruas e no circo. Ele continuava a ser aquele garoto frágil que viu naquele dia, choroso pelo o desespero que o corrompia. Negando ou não, ele mesmo sabia que tinha medo de volta a tudo como era antes.

— O que você fazia para se sentir bem? – Pergunta Elesis. – Falar com as chamas está fora de questão.

Lass pensa. Fazia tempo que tentava se lembrar desses pequenos detalhes, mas que faziam grande diferença quando precisava.

— Eu cantava. – Sente a surpresa da espadachim. – Bem mal, mas cantava.

— Sério? Eu quero ouvir. – Fica mais próxima.

— Eu não vou cantar para você. – Fala envergonhado. – E eu já disse que canto mal.

— E daí? Vai, canta!

— Não.

Elesis persisti, tentando de qualquer jeito ouvir a canção do rapaz. Acaba sendo perda de tempo quando percebe. Suspira, ficando emburrada.

— E também, - Lass volta a falar, chamando sua atenção. – quando eu ficava do lado de fora, ou até mesmo antes de ir para o circo, eu olhava o céu.

— Olhava para o céu? – Sua cabeça cai de lado.

Sorrindo, Lass assente. Encara o céu sobre eles, sem nuvens e coberto por estrelas. Elesis faz o mesmo. Durante esse tempo, ela não pisca por estar hipnotizada pelo o brilho que as estrelas carregavam. Era bonito e sempre esteve ali, mas nunca parou para olha-lo.

— Então eu esticava a mão o mais alto que podia. – Continua Lass. Ele ergue com a palma aberta, conseguindo ver pelas frestas entres os dedos. Espera Elesis fazer o mesmo, que ria sem graça. – Consegue alcançar?

— É bem longe se você não percebeu. – Debocha. Lass ainda espera por uma resposta séria. Ela suspira, mas sem tirar o sorriso do rosto. – Não, eu não consigo.

— Então nesse momento, eu percebia quão pequenos eram meus problemas sob o céu. Mesmo que eu tentasse alcança-lo nas pontas dos pés, eu nunca seria capaz de me igualar a ele. – Quando volta o olhar para Elesis, espera que ela continue com o sorriso de antes. Mas na verdade, tinha sumido por uma face pensativa, calada com os olhos brilhando por causa das estrelas. – Depois disso, eu me perguntava: Seus problemas são tão grandes para alcançar as estrelas? Se sim, como que é a vista daí de cima?

Elesis sente as palavras fazerem sentido quando se coloca no lugar. Mesmo com Cazeaje, Gerard e as chamas, nada disso seria tão grande o bastante. No fundo, eram apenas problemas, e que podiam ser consertados.

Lentamente seus dedos se fecham e sua mão abaixa. O peso sobre seus ombros sumia aos poucos, apenas a brisa gelada restando. O frio que bate contra seus olhos os deixam sensíveis, os longos cílios loiros ficando molhando com as lágrimas que se acumulavam. Não chorava, mas queria. Não de tristeza, mas de felicidade. Não conseguia compreender o calor no seu peito, que não vinha das chamas ou berserk; era algo além disso.

Suas mãos trêmulas caem sobre o peito. As batidas do coração eram rápidas, fortes que faziam ela ficar nervosa. Não compreendia. Sem saber, olha Lass ao seu lado. Ele continuava com a mão esticada, um sorriso de lado que o tornava mais belo.

Queria poder dizer como se sentia, aquelas palavras que o ninja tanto queria ouvir.

Mas o que faz é segura-lo pelo ombro e puxar. O beijo que dá é um selamento das próprias palavras, calando a si própria. Não entendeu por que fez isso, foi um impulso repentino. O que aconteceria se não tivesse feito isso? Bem no fundo, ela tinha medo de saber.

A mão de Lass se abaixa, apoiando no ombro da espadachim. Ela se afasta, usando seu ombro para apoiar a testa. Elesis fica assim por um longo tempo, quieta, próxima ao seu corpo para se aquecer. Não pergunta o que ela tanto pensava, existia momentos em que preferia o completo silêncio entre eles. Sem a frieza e a irritação deles, apenas... nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Review?
* Então, como acham que tudo isso vai terminar?