Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 121
O Saltador


Notas iniciais do capítulo

Olááááhhh, pessoas lindas do meu coração! Enfim, começando mais um arco e o penúltimo! Não sei se ele será grande ou pequeno, mas muitas coisas acontecerão :3 O começo será bem tranqs, então começará ter tretas, principalmente no final.
Sem ficar falando muito, vamos logo à leitura!
Capa: Feita pelo o Paarthurnax :3
Boa Leitura!



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Lass não conseguiu tirar o pensamento de ter que rever Regis. Não tinha suportado na primeira vez, muito menos na próxima. O fato de ele ser seu pai ainda não entrava na sua cabeça, nem mesmo entraria. Mas não tinha muita escolha, tinha a aceitado quando fez aquele pedido a Elizabeth.

O que tinha o obrigado a fazer isso? Cazeaje. Não tinha certeza, mas a hipótese de ela querer criar uma guerra para ter as chamas o preocupava. Se queria tirar aquela mulher do comando precisava ir atrás da pessoa que sabia da história de outro ponto de vista. Gerard nunca contaria sobre a mãe da Elesis ou das chamas, mas o babaca do seu pai sim.

Precisava acha-lo o mais rápido possível.

— É melhor vocês irem logo. – Diz Elesis. Para e se vira para eles. – Jin está precisando descansar.

O ruivo só tinha chegado ali com ajuda de Lass, que usava seu ombro como apoio para o lutador. Não estava com muita energia para andar, mas isso não o impediu de ir até o colégio das garotas para levarem Amy e Elesis em segurança.

— Já estamos indo. – Diz Lass.

— Na verdade, não. – Lothos falo enquanto vinha no final do corredor.

O olhar de Elesis se fecha pela a seriedade ao ver a comandante se aproximar. Lass, mesmo distante, sente a aura da ruiva se intensificar.

— Algum problema, Lothos? – Pergunta o ninja, sabendo que Elesis não falaria.

— Cazeaje está chamando você. – Explica a loira com uma expressão nada agradável. – Disse que é urgente.

— O que ela quer agora? – Quase solta Jin em irritação.

— Eu não sei, mas pediu para que você também fosse. – Olhou para Elesis. A ruiva fica confusa. – Vocês dois, para ser exata.

Elesis cruza os braços, não por ainda estar emburrada, mas por esconder o medo que começa a sentir. O que a líder do Conselho queria com eles dois, logo juntos?

— Preciso levar o Jin para o colégio antes. – Fala Lass.

— Deixe-o aqui. – Pede Elesis. – Arme irá cura-lo enquanto isso.

O ruivo consciente não discorda.

— Alguma ideia sobre o que ela quer? – Pergunta Elesis para Lothos.

A comandante não responde. Olha para trás de Lass e Jin, a pessoa se aproximando com um semblante mais pesado do que sério.

— Eu sei. – Ronan fala. Lass e Elesis ficam surpresos com a presença do rapaz no colégio. – Vou leva-los até lá.

***

Elesis soca a parede com raiva. Ao seu lado, sentado no banco de espera, Lass não expressa o mesmo, apesar de se sentir assim. Ronan havia explicado tudo durante o caminho, sendo quieto demais para o casal.

— Não foi culpa da Arme. – Lass repete o que Ronan tinha falado. Elesis continua a encarar a parede socada, assentindo em seguida. – E também, não sabemos se isso é ruim.

— Se é ruim? – Olha indignada para o rapaz. – Claro que é, Lass! Ela vai fazer de tudo para tornar nossa vida a pior possível.

— Eu sei. – Diz como um suspiro. Joga a cabeça para trás, batendo na parede atrás. – Só não quero entrar em desespero.

Elesis queria poder ter a mesma vontade do rapaz, mas já estava em desespero, o que a deixava irritada. Não sabia como iria reagir quando encontrasse Cazeaje, que tem aquele sorriso que sempre consome a sanidade da ruiva toda vez que olha. Precisava se manter calma, deixar apenas Lass lidar com a situação. Não podia se esquecer como era cabeça quente e poderia fazer alguma besteira por isso; provavelmente, Cazeaje jogaria dessa forma para conseguir o que queria.

— O que fazem aí parados? – Vegas fala com o tom arrastado. Ela para e acena com a cabeça para o corredor, indo na frente. – Dona Cazeaje quer vê-los. Vamos!

Elesis apenas se move quando a mão de Lass toca suas costas. É guiada pelo o rapaz, que fazia de tudo para não demonstrar o nervosismo. Já estava acostumada a ir ao Conselho e se deparar com a líder, mas a situação agora era diferente, não dependendo apenas dela. Soltou um suspiro e deixou que a frieza fosse sua máscara nesse instante.

Entram na sala sem conseguirem olhar diretamente para Cazeaje atrás da mesa. Ela não trabalhava, tinha esperado ambos com toda disponibilidade possível. Param um pouco distantes, separados como se nada houvesse entre eles; eram o que queriam mostrar.

Vegas se vai e o cômodo se torna apertado pela pressão.

— Olá, minhas crianças. – Fala Cazeaje. Como de costume, sorria. – Senti falta de vocês.

— Seja direta, Cazeaje. – Diz Lass, aspiro. – Não temos tempo para você.

— Eu sei que não. Eu já soube sobre vocês. – Olha para cada um com malícia. – Me senti um pouco ofendida por não ter sabido antes.

Elesis encara os próprios pés. Não podia deixar a raiva leva-la, tinha que ignorar o que Cazeaje dizia e deixar apenas Lass falar.

— Não faria diferença. – Diz o ninja. – Era melhor como estava.

— Não seja tão amargo, Isolet. Eu só estou feliz por vê-los juntos. – Como ela conseguia fingir tão bem um sorriso? Lass se perguntava. – Espero que sejam felizes.

— É só isso? Nos chamou para dar parabéns? – O rapaz olha sério. Tinha algo a mais e ele sabia.

— Claro que não! – Diz com uma surpresa falsa. – Aproveitando que estão juntos, queria entregar algo para vocês. Uma missão.

Eles se entreolham, confusos. O ninja não acharia estranho se a missão fosse apenas dirigida a ele, e não a Elesis também.

— Eu também? – A ruiva aponta para si. – Achei que estivesse fora disso.

— E está. – Lass não permitir Cazeaje falar. Encara a líder com indignação. – Elesis não está mais envolvida com o Conselho, e mesmo que estivesse, não está em condições para isso. Acabamos de chegar de uma missão, dê um tempo ao menos para respirarmos.

Elesis não se sente bem quando seu estado de saúde é mencionado, mesmo que superficialmente. Olha o rapaz de relance e continua quieta. Não queria admitir o fato de ter ficado empolgada com outra missão, mas como Lass dizia, não estava envolvida nem com condições.

Cazeaje a olha, um frio vindo junto com sua atenção. Elesis desvia o rosto para o lado. A líder procurava alguma coisa nela, então fazia o máximo para continuar escondido, sendo o que fosse.

— Na verdade, ela continua servindo o Conselho. – Menciona Cazeaje. – A única coisa que ela não faz mais é servir como o seu freio, Isolet. Se as chamas despertarem, não é trabalho dela para-lo. Entendeu?

Isso o irrita. Cazeaje conseguia burlar as regras, tornando qualquer uma a favor dela. Elesis não reage da mesma forma, mas fica surpresa. A líder logo sorrir as expressões.

— Achei que não servisse mais. – Fala Elesis. Continuava em choque. – E também, as missões são apenas para o Lass fazer, por que eu também estou envolvida? Não faz sentido.

— Porque essa missão não é apenas para uma pessoa fazer. – Ergue os dois dedos. – E sim, duas. É uma missão especial.

Lass balança a cabeça.

— Se é duas pessoas, eu levo outra. Elesis não está em condições para isso. – Continua a debater. Não podia deixar a líder dominar o próprio jogo, precisava dar a volta. – Eu posso levar o Ronan.

Cazeaje ri graciosamente. Lass fecha o punho, derrotado.

— Não é assim que funciona. – Explicava a líder. – Eu mando, vocês fazem. Simples.

— E se eu recusar? – Pergunta Elesis. – Eu tenho essa opção, certo?

— Claro que pode negar. – Cai contra o apoia da cadeira com os braços esticados. – Mas não ache que ficará por isso.

O olhar que devia ser direcionado a Elesis é virado para Lass. O rapaz sabia o que ela queria dizer. Uma ameaça. No mesmo dia em que assinou o contrato houve esse olhar, além do aviso da mesma. Ela estava por cima e adorava mostrar para o ninja o gosto da submissão.

— Eu faço. – Elesis diz como um desabafo. Lass olha surpreso. Ela dá de ombros. – Eu faço a missão.

— Elesis. – O ninja a chama como um aviso.

— Estou cansada, ok? – Diz olhando tanto o ninja quanto a líder, tão satisfeita pela a resposta. – Se quer jogar a gente em uma cilada, tudo bem! – Bate com a mão na mesa. Aponta em ameaça para Cazeaje. – Mas não ache que na volta serei tão boazinha como estou sendo agora. Ainda não me esqueci sobre a viagem até o castelo de gelo.

Elesis pretende ir embora. Cazeaje a para na porta com seu tom calmo, e misterioso.

— Tenho certeza que você adorará essa missão, minha querida Elesis. – Dizia a líder. – Então já adianto um “de nada”.

Elesis encara a mulher inventar as palavras bonitas, então vai embora com passos pesados. Lass não a segue, entende que o aviso da líder também servirá a ele. Olha Cazeaje e espera o debocha no tom da mesma, mas nada do tipo sai.

— Pare de esconder o jogo. – Pede Lass, frio. – Eu já entendi tudo.

— Você entendeu mesmo? Porque eu nem falei sobre o que se trata. – Dizia calma. – Por que acha que estou planejando algo ruim? Sou uma pessoa boa. – Disse num tom inocente.

Lass ri em escárnio. Sua mão fica apoiada no cabo da katana.

— O que quer com a Elesis?

— Quer que eu fale mesmo? Só quero que ela conserte algo para mim. – Deu de ombros. – Será um presente para ela, eu garanto.

Lass não aguenta mais ficar no mesmo cômodo que a líder. Vai até a porta e, antes de sair, ouve a mesma sussurrar com certo prazer.

— Mas não para você.

***

A febre de Jin tinha diminuído, seu estado melhorado em poucas horas. No momento, ele dormia profundamente, pela primeira vez desde que saiu da missão. Essa é a única notícia que faz Elesis sorrir naquele dia. Estava sentada perto da cama onde o ruivo dormia, vendo se estava mesmo bem.

— Eu sinto muito, Elesis. – Arme volta a repetir. A maga estava encostada na parede ao fundo, quieta demais. – Eu não quis contar.

— Eu já disse que não tem problema. – Fala Elesis, sem parecer irritada. Não culpava a maga, apenas Cazeaje. – Só fale se o Jin está bem ou não.

A espadachim não queria tocar no assunto, como via. Optou em não persistir.

— Eu usei minha magia de cura nas costas dele depois que a enfermaria limpou. Estava infeccionado, por isso da febre. – Dizia Arme. – A cura foi apenas para fechar a ferida, mas creio que uma cicatriz fique no lugar.

— Vai ser uma cicatriz grande? – Olha preocupada para a maga.

— Não, será difícil de notar.

Elesis sorri ao virar o rosto para frente. Arme olha atenta para a felicidade da ruiva.

— Isso é bom. Amy não gosta muito de cicatrizes. – Menciona a espadachim.

— O que a Amy tem a ver com isso? – Pergunta confusa.

Elesis se recosta no apoia da cadeira e fica balançando enquanto um sorriso bobo marcava seu rosto. Arme se aproxima, mais à vontade com a ruiva.

— Sabe, eu acho que o cupido está visitando esses dois. – Aponta para Jin com malícia.

Arme entende a felicidade de amiga. Sorri e concorda com a mesma. Olha para o ruivo dorminhoco e percebe como seria bonito com a Amy. Nunca conversou com o mesmo, mas não era tão difícil de perceber a paixão que sentia pela a rosada.

— É bom saber disso. – Comenta Arme. – Acho que é por isso que a Amy esteve aqui mais cedo.

— Ela esteve? – Fica mais animada.

— Ela queria saber se o Jin estava bem. Eu disse que sim e ela foi embora. – Olha de um lado para o outro pensativa. – Acho que minha presença não a deixou confortável.

— Eu imagino. – Durante toda a viagem, Amy ficou ao lado do ruivo para mantê-lo acordado, para que a febre não o levasse. Jin não pôde retribuir o agradecimento. Ainda.

De repente, Elesis se sente mal enquanto o olhava. Jin sempre esteve ao seu lado e levava seus machucados, seus fardos. O ruivo nunca reclamou, ao contrário, não importava o problema que ela e Lass enfrentavam, lá estaria o lutador para ajuda-los. O que ganhava com isso? Era isso que Elesis gostaria de saber. Sacrificar o corpo e mente por eles valia a pena?

Para Elesis, não. Era isso que queria, a partir desse instante, manter o ruivo longe de seus problemas; o mesmo para os de Lass. Principalmente com Cazeaje planejando algo para eles, que poderia muito bem atingir o ruivo.

— Quando ele estiver melhor, me avise. – Fala Elesis. Levanta da cadeira, indo para a saída. – Vou pedir ao Lass para leva-lo de volta ao colégio. Não é muito bom deixar um rapaz com várias garotas por aí. – Sorri nas últimas palavras.

— Farei isso.

Elesis parti sem se despedir, logo estaria de volta, era o que significava.

***

— Parabéns! Vocês têm apenas um trabalho, que não é deixar Cazeaje saber, e falham nisso. – Dizia Astaroth com todo sarcasmo que podia ter.

Lass sabia que não seria uma boa ideia contar para Grandiel e Astaroth por esse motivo, sentindo-se arrependido no momento. Encarava o teto para não olhar o professor furioso com ele. Tinha deitado no sofá e pelo o cansaço da missão, não levantaria tão cedo.

— Eu sabia que isso não daria certo. – Menciona Grandiel na sua mesa.

— Já não estava dando, agora só... – Astaroth não acha uma palavra que expressava o que queria. – Precisamos dar um jeito.

Lass não coloca fé nas palavras do professor. Cazeaje sabia e não tinha como dar um jeito nisso, pois ela faria de tudo para manipula-los da forma que queria. A missão que ela tinha achado era por algum propósito, não perdendo tempo, já colocava seu plano em ação.

— Vou ter que ir com a Elesis para essa missão. – Diz Lass ao se sentar. Finalmente olha as expressões sérias. – Se eu não for, ela só vai dar outra pior.

— Pode até ser. – Fala Grandiel. – Mas não sabemos a gravidade da situação que está enfrentando agora.

— E nem irei descobrir se não for. – Entende o nervosismo nos olhos de Astaroth. – Eu sei! Vai ser um risco a correr.

— O problema não é você, idiota! – Rebate o professor. – Será que não percebeu quem é o alvo? É a Elesis e Cazeaje não mudará tão cedo até conseguir o que quer.

Uma pequena parte do ninja sabia disso, ao mesmo tempo, fingia ser mentira. A ameaça da líder não saía de sua cabeça, fazendo que as noites sejam apenas de pesadelos por ela. O medo que sentia não era mais de perder o controle das chamas, mas Elesis.

— Falem com o Adel. – Diz o ninja. Não entendem o propósito do pedido. – Adel é o único que posso confiar, então ele vai acreditar no que eu disser. Caso alguma coisa aconteça comigo ou a Elesis, peçam para ele fazer algo.

— Não é tão simples quanto parece. – Disse Grandiel. Tira os óculos para limpar com um paninho. – Acusar outro Conselho seria necessário de outros em apoio. Apenas Adel não será o bastante.

Lass fica de pé e balança os ombros.

— Então consigam apoio dos outros Conselhos. – Diz com olhar óbvio. – Eles não gostam da Cazeaje, portanto, deem um motivo para que eles fiquem contra de uma vez.

— Sabe que isso pode causar sérios problemas nos reinos, inclusive no nosso, certo? – Astaroth espera por uma resposta sensata.

— Tipo uma guerra?

Astaroth pensa aterrorizado, esse sendo apenas um detalhe dos problemas que poderiam causar. Afirma com a cabeça.

— Que seja então. – Fala sem importância. – Cazeaje também quer provocar uma por minha causa, que eu cause uma para ela então.

Sem uma resposta dos dois, Lass se despede com um sorriso calmo e vai embora. Não importava o que acontecesse, queria derrubar Cazeaje e faria de tudo por isso. Uma guerra? Ele ri com os próprios pensamentos.

— Você é mesmo um cretino, Lass Isolet. – Debocha as chamas.

***

— Que lindo! – Lire e Arme falam juntas.

Elesis não fica surpresa com a reação das amigas ao verem o vestido de casamento que tinha trazido. Elizabeth era uma garota arrogante, o fato de ter dado o vestido para ela foi por não querer mais; a ruiva tinha usado, a rainha não queria usar a mesma coisa que ela. Isso fez a espadachim furiosa, apenas aceitando trazer o vestido por Lass.

— Onde você conseguiu isso, Elesis? – Pergunta a elfa. Desliza os dedos pelo o macio tecido da saia. Era tão longo que cobria elas duas. – Parece ser bem caro e você não tem cara de querer comprar vestido.

— A tal rainha Elizabeth me deu. – Fala Elesis. Já tinha contado a história completa, então não poupava detalhes. – Não queria recusar, até porque a Amy me mataria depois.

— Se bem que ela estava usando um vestido muito bonito hoje de tarde. – Menciona Arme. – É da rainha também.

— Era. Amy roubou. – Não era de se surpreender, para nenhuma delas. – Vamos fingir que ninguém sabe de nada.

Elas riem juntas.

— E o que você pretende fazer com ele? – Lire pergunta curiosa. – Usa-lo é a última opção, prevejo.

Elesis afirma sem pensar duas vezes. Queria dá para uma delas, mas algo a impedia disso. Gostava do visual e do conforto que ele causava, tinha até se acostumado com o peso das camadas de tecido.

— Acho que vou entregar a Mari.

— Quê? – Gritam, assustando a ruiva. – Ficou louca?!

— Calma, deixa eu falar. – Diz nervosa. – Mari sabe costurar, ela pode dar um jeito nisso. Eu não quero deixar esse vestido de lado, quero achar um jeito de usar.

— E você acha que entregando para a Mari resolverá tudo? – A elfa continua indignada. – Ela vai colocar mísseis no vestido, no mínimo.

— Seria divertido.

— Elesis!

A ruiva não consegue conter o riso. Suas amigas a encaram, aos poucos, rindo junto com ela. Levando na brincadeira, Lire e Arme começam a discutir sobre os equipamentos que Mari colocaria na roupa. Elesis sorri com as ideias.

Mas ele se desmancha. Não ouve as vozes à sua volta, encara suas mãos sobre seu colo. Tinha se esquecido da última vez que esteve com suas amigas em um momento assim, calmo e descontraído. Fazia tempo. No outro dia, partiria com Lass para a missão de Cazeaje e não saberia quando voltaria, e se voltaria. Tudo estava diferente, o passado não poderia ser mais vivido no presente.

Olha suas amigas em silêncio. Quando poderia ver essa mesma cena novamente? Pensa que Cazeaje planejava algo para ela era como cortar todas suas esperanças fora. Estava com medo, mas não admitia. Talvez fosse imaginação sua, mas sentia que nada seria como antes. As dores sentidas nas pernas eram um lembrete disso.

— Elesis?

Sentia falta dos velhos tempos. Das risadas, das brigas e confusões que arrumava. Queria poder voltar a ser aquela criança de antes. Não aguentava mais as responsabilidades, as mentiras.

Elesis só queria seu momento de paz.

— Por que está chorando? – Pergunta Arme, preocupada.

Pisca. As lágrimas descem quente. O som volta, percebendo a atenção das duas sobre ela. Chorava, apenas sentindo quando a maga pergunta. Toca suas bochechas molhadas, os punhos se fechando quando as lágrimas caem sobre eles.

— Eu amo vocês. – Diz Elesis. Levantou o rosto com um sorriso fraco, mas sincero. – Eu só quero que saibam disso.

— Por que está tão sentimental? – Lire fica assustada. Era raro ver a ruiva chorar, principalmente na frente delas.

Elesis levanta e vai até elas. Abraça com toda força e carinho que tinha. Elas continuam sem entender. Não explicaria o porquê de fazer aquilo, queria apenas aproveitar seu pequeno momento com elas e guardar na sua memória.

O silêncio causado valeu por milhões de palavras.

***

Seu braço continuava a doer mesmo após ter se recuperado. Encosta com a ponta do dedo e traça uma linha imaginário sobre a pele, sentindo a sensibilidade sob a carne, bem no osso. Deveria ter tirado o gesso cedo demais, um erro que cometeu. Suspira. Não adiantava reclamar, tudo que podia fazer era tomar suas vitaminas para que deixasse seu corpo mais resistente.

Lass finalmente chega. O ninja para no começo da escada onde estava sentada, na entrada do colégio. Esteve o esperando por alguns minutos, o que não considerava um atraso.

— Pensei que estivesse dormindo. – Comenta o rapaz decepcionado. – Está mesmo querendo ir para essa missão.

— Não tenho escolha. – Responde Elesis. Sem muito ânimo sua voz saía preguiçosa. – Se Cazeaje me quer no jogo dela, tudo bem.

— Não está bem! – Rebate. – Deveria inventar uma desculpa para não ir.

Elesis solta uma risada seca, em seguida fica de pé.

— Não vai dar. – Desce os degraus. – Eu não estou com vontade para discutir, tá bom? Vamos logo pra esse lugar.

Elesis não estava sendo teimosa, percebe Lass a vendo ir na frente. Só corajosa demais. Depas tinha ido embora e deixado uma grande sombra sobre a ruiva, que a fazia agir sem pensar duas vezes. Como ele, estava cansada de seguir as regras, queria fazer as próprias e joga-las todas na cara da líder de Canaban.

— Cuida dela!

Lass olha para cima, na direção da voz. Lire estava apoiada na janela com seu semblante fechado para o ninja.

— Estou falando sério. – Continua a elfa. – Elesis está precisando de apoio. No momento, você é o único que pode dar isso para ela, então... Cuida dela.

— Não precisa falar, sabe disso. – Lass fala com um sorriso pequeno. Lire revira os olhos. – Ela vai ficar bem.

— É bom mesmo. – Diz como uma ameaça. – Senão, serei a primeira a te dar um soco na cara.

Lass nunca temeu às ameaças da elfa, sempre ignorou de todo jeito. Deu as costas e foi embora. Porém dessa vez a ameaça da loira possui um grande peso sobre ele, não por parecer sério demais, mas por Lass temer que isso aconteça mesmo.

Se algo acontecesse com Elesis e não conseguisse impedir, ele permitiria Lire dar um soco nele.

***

Fecha seus olhos com mais força. Cazeaje não saía da sua cabeça, ocupava sua mente a todo instante. Elesis queria cochilar, esquecer para onde estava indo, mas não conseguia. Seu corpo suava frio com o medo de algo acontecer a qualquer momento, a ameaça da líder sendo válida o tempo todo.

Não devia estar ali, pensava. Estava entrando no jogo de Cazeaje do jeito que ela queria. Tinha que descobrir o mais rápido possível como tudo isso funcionava, senão, perderia e não seria apenas uma derrota que teria uma revanche mais tarde; estava falando da sua vida.

— Sobre o que é a missão? – Finalmente pergunta. Abre os olhos e espera uma resposta do ninja. – Por favor, diga que não é sério.

Lass olha para a ruiva com a cabeça deitada sobre o seu colo. A jovem tinha encolhido as pernas sobre o banco para conseguir caber junto com ele. Antes de falar, olha a paisagem pela a janela.

— Precisamos pegar alguém, resumindo. – Percebe que isso não é o suficiente. – É um certo cara que parece ter uma magia de teletransporte, vive passeando por vários lugares e roubando algumas coisas.

— Certo, onde está a pegadinha? – Balança as pernas enfaixadas, batendo os joelhos. – Não pode ser tão simples assim?

— Aparentemente, é simples. O problema é saber quem é esse cara. Tudo que temos é a aparência e um apelido: Saltador.

— Ele se teletransporta, então deve ser complicado de pega-lo. – Nota Elesis. Para de mexer as pernas. – Vamos ter que apelar, então.

Lass assente.

— Em último caso, usarei as chamas. – Elesis não discorda, mas Lass se sente incomodado com a própria ideia. Então murmura outra vez: - Último caso.

— Não vai precisar. – Quando a olha, todos os dentes da ruiva estão à mostra com o largo sorriso. – Estarei lá para te ajudar com as minhas... – Ergue os quatro dedos, balançando na frente do ninja. – Quatro chamas! Exatamente, quatro.

Ela ri com a cara emburrada que o rapaz expressa. Sabia que ele não gostava de saber disso, por isso de provocar. Só agia assim porque tinha medo que as chamas azuis fossem parar sem querer, ou não, na ruiva.

— Não se esforce muito. – Pede Lass. – Não se esqueça que está numa missão da Cazeaje.

— Tá, tá. – Rapidamente, Elesis perdia o medo de estar em uma missão dela. – Se eu ficar pensando assim, não irei fazer muita coisa. Não acha?

— Pode ser. – Fingi concordar. – Só tente não se machucar, principalmente nas pernas. Por favor. – As últimas palavras saem em imploração.

— Você fala como se eu gostasse de me machucar.

— Bem, você não tenta evitar.

Elesis abre a boca e fecha. Não acha argumentos para rebater, ficando calada com seu próprio orgulho. Só se irritou quando viu um sorriso vitorioso no rosto de Lass. Acerta um tapa no peito do rapaz, que não consegue conter o riso.

***

A maçã vermelha que tinha comprado parecia com seus cabelos. Deu uma mordida e deixou o doce da fruta passar por toda sua boca. Enquanto isso, Lass estava dentro de uma loja tentando achar algumas informações sobre o Saltador. Tinham chegado a pouco tempo na cidade, que era grande demais para eles procurarem juntos.

O ninja sai da loja e acena em negação. Elesis entende e vai em direção oposta. Procuraria em outro canto, talvez tivesse sorte.

— O que dona Cazeaje planeja fazer com esse cara? – Pensava Elesis. – O poder dele não é contra as leis do Conselho, então o que seria? Um figurão perigoso?

Dá outra mordida. Lembra de Gerard sem que quisesse. O homem mais procurado de Ernas, provavelmente em Elyos e Hades também. O ruivo roubou magias e cometeu milhares de crimes que nem mesmo Elesis conseguiria contar. É claro o que Cazeaje quer com ele, mas com esse não.

Para de andar. No meio da multidão à sua frente, bem distante, ver a criatura que se destacava por sua roupa. Parado, olhava diretamente para ela. O gato preto.

— Ei. – Elesis o chama com um murmuro.

Fazia tempo desde que o viu pela a última, que nem ao menos se lembrava. O mesmo para o gato branco, que parecia tão distante depois do que disse para ele.

Prepara para ir até ele e para. O gato some no meio da multidão, o que é uma surpresa para uma criatura chamativa como ele sumir assim. Elesis olha para os lados à sua procura. Não tem sucesso, ficando decepcionada.

— Alguma coisa? – Lass pergunta ao se aproximar.

Assusta-se com o rapaz. Age naturalmente e nega, voltando a morder sua maçã.

— Isso vai ser bem difícil. – Diz Elesis com a boca cheia. – Ele já deve ter ido embora da cidade.

— Pode até ser, mas dizem que ele aparece muito aqui. Deve ser seu refúgio. – Fala pensativo. – A qualquer momento, ele deve aparecer.

— E como vamos saber que é ele? Não sabemos como ele se parece exatamente.

— Teremos que seguir nossas intuições. – Suspira. Esse era o único modo que pensava.

***

Jin fica surpreso ao ver Ronan entrar na enfermaria. O ruivo tinha acordado a pouco tempo e demorado para perceber que estava no colégio de Elesis. Suas últimas lembranças eram de ter entrado no colégio com ajuda do Lass e desmaiado, depois apenas lembrava vagamente de acordar e voltar a dormir.

— Já estar melhor? – Pergunta Ronan. Entra no quarto sem provocar muito barulho. – Soube que estava machucado.

— Estou bem. – Diz quando não sente mais o frio que a febre causava. – Quer dizer, agora eu estou.

— Bom saber. Lass pediu para que eu te levasse de volta para o colégio quando estivesse melhor. Ele até faria isso, mas está em uma missão agora.

— Missão? – Jin olha surpreso. – Eu dormi tanto tempo assim?

— Ah, não. – Ronan ri com o desespero do rapaz, que se acalma ao ouvir a explicação. – Foi uma missão urgente do Conselho. – Seu sorriso some. – Elesis também foi chamada.

Jin entende seu incomodo. O ruivo olha para o tempo do lado de fora da janela e fica preocupado com o casal. Mal chegaram de uma missão e já foram chamados para outra. Não se sente bem sabendo que Elesis está junto, com suas pernas incuráveis.

— Por que assim tão de repente? – Questiona. – É mesmo importante.

— Não. – Puxa uma cadeira para perto da cama onde o ruivo estava sentado, ficando mais próximo dele. – Olha, o que falarei agora deve ficar só entre nós.

— Entendido. – Fica um pouco tenso com a seriedade repentina de Ronan.

— Sinto que já tenha conhecido a líder do Conselho, a Cazeaje. – Jin confirma. – Então já sabe as intenções dela com o Lass.

— As chamas, é claro. – Lamenta.

— Exato. Por isso dessa missão. Pode ser imaginação minha, mas Cazeaje está começando o seu jogo e pretende usar Elesis como uma das peças. Ela quer atingir o Lass da pior maneira.

Jin se assusta com o fato de ver a ruiva ferida por causa disso. Cazeaje era assustadora, mas não sabia que era até esse ponto.

— Então eles estão correndo perigo? – Pergunta preocupado.

— Não se saberem o que estão fazendo. O que eu quero te dizer é outra coisa.

— O que então?

— Quero derrubar os planos da minha tia. – Diz com simplicidade. – Lass e Elesis também querem cooperar, até mesmo a Arme. Quero saber se você também quer?

Referir Cazeaje como um familiar torna a situação pesada. Ronan não se importa com esse detalhe tão crucial, o estado de seus amigos é mais importante. Mas não era apenas por isso que iria contra o Conselho, existia algo maior que ele não havia contado.

— Se for para proteger a Elesis e o Lass, estou dentro. – Fala determinado. – Não importa se é o Conselho ou sei lá quem, vou fazer isso.

Ronan sorri pela a atitude do ruivo.

— Ótimo! Porque hoje à noite iremos no Conselho roubar um certo documento.

Jin solta uma risada seca, que no fundo, escondia o desespero do mesmo; e arrependimento.

***

A missão começava a se tornar difícil. Tinham passado o dia inteiro procurando pelo o Saltador e não acharam nada sobre ele na cidade. Cansados, tiveram que se alojar num quarto de aluguel e passar a noite por lá.

— Eu não sei o que estamos fazendo de errado. – Comenta Lass com a cabeça para trás, encarando o teto.

A lanchonete onde estavam era bem movimentada. Precisavam do lanche da manhã, portanto, aquele lugar foi escolhido. Elesis não parava de se mexer pela fome, já que não tinha comido nada a noite passada.

— Quando terminarmos de comer, vamos voltar a procurar. – Diz Elesis. Não estava com muito ânimo pelo o sono que ainda sentia. – Agora eu tô morrendo de fome!

Lass a olha sem acreditar. A ruiva estava mais preocupada com a fome do que a missão que Cazeaje tinha planejado para ela, em especial. Queria saber se ela ainda lembrava que a qualquer momento algo de ruim poderia acontecer.

— Quer saber, vou pegar nosso lanche. Enquanto isso, toma o meu café para acordar de vez. – Empurra a xícara para a ruiva. – Daqui a pouco você dorme na mesa. De novo.

Fuzila o rapaz com os olhos, que vai embora antes de ouvir os insultos de Elesis. A ruiva encara a xícara de café e puxa para perto. Pegou com cuidado e deu um pequeno gole, sentindo o gosto amargo da bebida. Faz uma careta.

— Amargo como ele. – Murmura.

Coloca a xícara sobre a mesa e procura o açúcar. Estica sua mão até o pote, sendo impedida quando alguém pega primeiro, abrindo e coloca os cubos de açúcar na sua xícara.

— Valeu. – Elesis agradece enquanto mexia a bebida. Quando toma, a amargura foi substituída pelo o doce do açúcar. – Estava precisan...

Para de fala ao olhar a pessoa sentada à sua frente. A única coisa em que se segurava era a pequena colher que usava para mexer o café. Achou que era uma alucinação sua, até a pessoa colocar o pote de açúcar sobre a mesa e senti-la dá uma pequena tremida. Era real, apesar de ninguém reagir como ela reagia.

Gerard pega um cubo de açúcar e joga na boca. A expressão do rapaz suaviza, como se ele não fosse o homem mais procurado de Ernas. Cruza as pernas educadamente enquanto olhava a ruiva em choque do outro lado.

— Gerard. – Elesis murmura. Os segundos passam de forma lenta, então assim a ficha cai. Seus punhos se fecham sobre a mesa, a pequena colher sendo amassada por sua ira. – Gerard. – Rosna.

Ele estica a palma da mão. Elesis com a expressão fechada olha confusa. Abaixa a mão e pega outro cubo de açúcar.

— Seja mais esperta, Elesis. – Dizia Gerard de boca cheia. Não havia preocupação em seu rosto. – Está em público, então se me atacar você será vista como a vilã daqui. Além de ter vários soldados do lado de fora, o que seria problemático para você. – A olha de relance. – Na sua situação atual, é claro. – Disse com um sorriso.

— O que faz aqui? – Sua voz rasgava a garganta pela irritação. Sentia o sangue começar a ferver pelo berserk, seus olhos ficarem vermelhos. – Seu...

— Ah, por favor, pare com isso. – Olhava com tédio. – Não vim para arrumar confusão.

— Então não deveria ter vindo. – Preparava para ficar de pé.

— Acha mesmo que isso vai dar certo? – Percebe as intenções da ruiva. Ela continua sentada. – Eu já disse, você será a única a sair daqui como errada. E também, - Estica os braços. – ninguém me ver, apenas você. Tirando o fato de você não conseguir encostar um dedo em mim.

— Quer apostar? – Inclina o corpo em ameaça.

Gerard não estava com arma, muito menos sua espada que tinha mais de 10 quilos. Para ele, derrotar Elesis seria rápido e fácil. Mas não era por esse motivo que estava ali.

— Vou melhorar minha explicação. – Sua voz ganha um tom sério. Aponta com a cabeça para o lado, na direção da mesa com uma família. – Se tentar algo, eu parto aquelas pessoas ao meio e toda a culpa cairá sobre você. E não duvide de mim, sabe que eu faço.

Ele faria, sabia Elesis. Exala o ar quente do seu corpo para ficar mais calma. Não podia agir com seus instintos, mesmo que fosse Gerard ali, perto o bastante para ser morto. Recosta na cadeira, sem conseguir tirar a expressão irritada.

— Digo o mesmo, Gerard. – Fala Elesis. – Não duvide de mim.

Seu cabelo ganha um tom escuro por causa das chamas roxas. Não fazia de propósito, era automático. Mas o berserk sim, o que não chamava tanta atenção quanto as chamas sobre seus ombros.

Gerard solta uma risada em deboche.

— Claro. – Ele diz. Elesis diminui as chamas quanto sente algo tocar sua canela. Era a ponta do pé de Gerard. – Mas seria uma pena se eu “sem querer” deslizasse meu pé contra suas pernas.

O frio que percorre seu corpo a impede de falar algo. Cruza os braços, calada como Gerard queria. O ruivo sorri pela a atitude, ficando mais à vontade.

— Vim para ter uma conversa com você. – Ele explica enquanto voltava a mexer nos cubos de açúcar. – Então me escute em vez de pensar em como me matar.

— O que você quer? Sabe que não adiantará me convencer como fez com o Arthur. – Não percebe o incomodo do ruivo ao ouvir o nome do amigo. – O que, é claro, está na minha lista de “motivos que tenho para odiar o Gerard”.

— Não pedi para que ele fizesse isso. Mas isso não vem em questão, e sim outra coisa. – Olha a ruiva. – Vai embora.

— O quê?

— Está cometendo um grande erro em fazer a missão da Cazeaje. Vai embora agora antes que piore. – Pedia Gerard. – Estou mandando.

A seriedade de Elesis se quebra após ouvir tudo que o ruivo disse. Ela gargalha, o que chama a atenção para ela por um momento. Seca as lágrimas, sem conseguir acreditar em Gerard.

— Você está mandando, é claro. Irei obedecer, não se preocupe. – Debocha, então ficando séria novamente. – Não seja ridículo, Gerard. Você que precisa ir embora!

— Cala a boca. – Diz seco. Elesis olha ofendida, a raiva voltando a dominar. – Estou falando isso porque é importante. Cazeaje está planejando te atingir, e vai conseguir se você continuar aqui. Dê meia volta e vá embora.

— Como se isso valesse saindo de você.

— Caramba, pense pelo menos uma vez. Se acha que pode escapar da cilada da Cazeaje, bem, está muito errada. Ela é esperta e sabe como te usar.

Ela sabia que estava sendo usada como uma marionete e se machucaria após isso, mas vindo de Gerard, isso parecia um pequeno detalhe. Odiava o ruivo, mais ainda ao se lembrar de Depas. A lembrança ainda estava presa à sua mente como se tivesse acontecido ontem.

Solta a pequena colher amassada, colocando seus punhos fechados sob a mesa. Precisava controlar a raiva.

— Eu te odeio. – As palavras em ódio são sinceras. – Então me dê um motivo para que eu acredite em você.

Ele tinha, mas não falaria; soariam tão falsas naquele instante para a ruiva. Precisa pensar em algo antes da volta de Lass. Não teria problemas com o ninja, mas por estar perto de Elesis.

Quando pretende falar, Elesis o interrompe.

— Por que se importa comigo? – Ela pergunta sem demonstrar emoção. – Ah, você também se importava com a minha mãe. – Gerard não esconde a surpresa. – E olha no que aconteceu. Sem falar do meu pai, que você fingiu se importar com ele para mata-lo depois.

Pela primeira vez, a pesada armadura de Gerard cai diante Elesis. Ela não se importa em ver o ruivo ferido por suas palavras, queria apenas jogar as verdades na cara do mesmo.

— Eu me importo com eles. – Fala Gerard. Olha firme para a ruiva. – Mas não pude salva-los do destino. É por isso que me importo com você, porque é a única que restou para que eu mudar seu destino.

— Então pegue sua preocupação e saia daqui. – Fria como um gelo. – Porque o único perigo da minha vida é você e Cazeaje.

Gerard nega.

— É apenas a Cazeaje.

— Não. – É a vez da espadachim negar. – Primeiro, irei fazê-lo sofrer e te matar em seguida. Depois, farei o mesmo com Cazeaje. Bem justo, não acha?

Machucava a indelicadeza da ruiva. Ela nunca o escutaria, e quando acontecesse seria tarde demais. Não gostava da distância que fazia entre eles, do ódio que alimentava nela. Nada disso era para ter sido desse jeito.

Era tudo culpa de Cazeaje. Do jeito que Elesis o odiava, ele odiava a líder. As mentiras e ilusões que contou a ele era o que alimentava sua fúria.

— Se sair viva dessa missão, nos encontraremos novamente. – Fala Gerard. Muda de assunto para que a dor não seja maior. – Nosso último encontro, ruivinha. – Sorri.

— Voltarei viva. – Fala ofendida. – Então farei você pagar por tudo que fez.

Gerard solta uma risada abafada. Pega um cubo de açúcar e ergue na frente da ruiva.

— Isso é o que você acha de mim. – Falava do cubo. – Com forma e imudável, perfeito apenas para você. Mas será isso que eu farei quando nos encontrarmos. – Amassa o cubo bruscamente. Elesis encara em silêncio. – E isso vai ser o que Cazeaje fará em seguida. – Derrama o farelo do cubo no café morno de Elesis. – Destruirá e não restará mais nada.

— Onde quer chegar com isso?

Limpa a mão com breves batidas. A cadeira arrasta quando levanta, Elesis ainda esperando por uma resposta.

— Torça para ao menos beber o café depois. – Diz Gerard antes de ir.

Elesis se enganava em achar que após sua morte nada mudaria, apenas para ela. Cazeaje continuaria viva e não teria alguém como ele para segurá-la. A líder só não fez seus próximos passos no jogo porque sabia que Gerard conseguiria virar a jogada a favor dele. Ela era a rainha e ele o rei no tabuleiro, Elesis e Lass eram apenas peças menores.

— Gerard.

Vira-se ao ouvir Elesis chamar. Seus olhos se fecham quando vê a xícara de café voar contra sua face. Ela quebra na sua bochecha, o café queimando um pouco sua pele. Abre os olhos, sem expressar o que sentia para a ruiva.

— Nesse caso, fique com o café então. – Fala Elesis.

As pessoas olham assustadas para a dupla. Voltam a conversar quando o ruivo vai embora sem dizer uma única palavra. Elesis assiste o rapaz sair do lugar e sumir em meio à multidão do lado de fora. Após isso, solta um suspiro pesado, voltando à cadeira.

Leva mais alguns minutos para que Lass volte. Ele se senta onde Gerard estava antes, colocando o lanche de Elesis. A ruiva não se altera com a comida à frente, tinha perdido o apetite.

— Tomou o café todo? – Pergunta Lass quando não acha a xícara sobre a mesa. Uma funcionária já tinha limpado o café derramado antes da sua chegada.

— É. – Fala sem animação. Afasta o prato com o rosto para o lado. – Estou sem fome.

Lass estranha seu comportamento rapidamente.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa.

— Só lembrando de algumas coisas. – Não contaria a Lass sobre o aparecimento de Gerard, até porque não queria envolver o rapaz nos seus problemas pessoais. – E Cazeaje não ajuda muito.

— Ainda acho que você deveria voltar.

Isso irrita a espadachim, porém ela não expressa isso. Já tinha decidido em enfrentar a missão de Cazeaje, não importando se isso causaria sua morte. Estava cansada de Gerard, principalmente da líder.

Como ele havia dito, se voltasse viva da missão, o que aconteceria, seria seu último encontro. Já estava na hora de dizer adeus de uma vez para Gerard.

***

— Eu sabia que você pediria minha ajuda. – Fala as chamas com o seu grande ego.

O vento bate contra os cabelos pálidos de Lass, fazendo os fios voarem contra seu rosto. Ajeitou com a mão e continuou a olhar a vista à sua volta. A cidade parecia pequena sobre o telhado do prédio que tinha escalado. No entanto, mesmo dali, não conseguia achar o Saltador.

— Você pode senti-lo, então faça. – Lass repete o que tinha falado para as chamas. – Não é uma tarefa difícil.

— Não quando se tem uma recompensa. – Provocam o ninja. — Qual é, só tô zoando! Mas seria interessante.

— Você fala como se eu pudesse te pagar. – Cruza os braços, impaciente. – Vai, faz logo isso!

As chamas resmungam, ficando em silêncio por um tempo. Lass apenas sabia que estavam procurando por sentir seu corpo esquentar. Era como uma máquina e as chamas eram o processador mais rápido que existia, porém seu corpo muitas vezes não suportava a intensidade de seu processamento. Ele ri com a comparação.

— Certo, achei algo. – Comenta as chamas. Lass fica atento. — Mana demais em comparação ao pessoal daqui, e tem uma coisa de diferente que eu não sei o que é. De qualquer jeito, parece ser o cara que procuram.

— Espero. – Apostava nisso, apesar de vim das chamas. – Onde ele está?

— Fora da cidade, indo em direção à floresta nesse instante.

Lass fica em alerta. O Saltador planejava fugir deles, talvez tivesse visto ele ou Elesis. Precisava se mover rápido, assim pulando do telhado para se encontrar com a ruiva.

Pousa no chão, procurando Elesis. Encontra a espadachim à frente, correndo até ela, enquanto isso, esquecendo completamente sobre as chamas.

— Ele está indo para a floresta. – Avisa Lass sem perder o ritmo. Elesis o segue sem entender o que acontecia. – Precisamos nos apressar!

— Floresta? Não sabia que tinha uma por perto.

— Não importa agora. – Preferia não falar sobre a ajuda das chamas no momento. Acelera os passos. – Só vamos pega-lo.

Desviava das multidões que surgiam a cada esquina que pegavam. Lass queria seguir sobre os telhados, sem pessoas para atrapalha-lo, porém havia Elesis com suas pernas. A ruiva não demonstrava cansaço por elas, mas se continuasse nesse ritmo se cansaria rapidamente.

Felizmente, conseguem sair da cidade e seguirem a longa trilha para a floresta. Entram e se assustam com a quantidade de árvores tinham à sua volta.

— Onde agora? – Lass murmura para as chamas.

— Siga em frente, ele não está tão longe.

Lass segue o caminho, Elesis logo atrás. Sente o ritmo da ruiva diminuir, mas fazendo de tudo para não mostrar as dores que começavam a aparecer.

— Tem certeza que ele está aqui? – Pergunta Elesis sem o ar necessário para falar. Para de repente. Lass faz um sinal com a mão, parado como se evitasse de fazer qualquer som.

Aproxima-se do rapaz. Ele aponta para o jovem logo à frente. Estatura média, magro, bronzeado, cabelo moicano, fios da cor de caramelo, longos e bagunçados. Era o Saltador.

Lass ergue três dedos, enquanto sua outra mão pousava sobre a katana. Abaixa os dedos na contagem, avançando quando seu punho está completamente fechado. Elesis faz o mesmo.

Lass era silencioso, mas não a ruiva. O Saltador se vira a tempo de ver o ninja avançar, então sumindo antes de ser atingido. Lass olha irritado para os lados, não demorando para vê-lo alguns metros adiante, correndo.

— Acerte ele de qualquer jeito! – Falava Lass. – Com dor, não conseguirá usar o teletransporte!

— Deixa comigo. – Diz Elesis.

O berserk enche suas veias. Quando corre, a terra sobre com seus pesados passos. Salta e cai no caminho do rapaz, que para assustado e recua. Elesis pega um sabre e avança para atingi-lo.

Apenas os troncos das árvores são cortados. Ele some outra vez, sendo a ruiva a irritada agora. Vira-se e vê o rapaz fugindo novamente.

— Atrás dele! – Grita Lass ao passar por ela.

O ninja é mais rápido para alcançar o Saltador e tentar acerta-lo, o que falha diversas vezes. Ele previa seus movimentos, não precisando olhar para trás para saber que vinha um ataque de Lass. Elesis apenas seguia para tentar achar uma brecha.

Aperta firme o cabo do sabre.

— Se não tem uma brecha, faça uma!

Avança com as chamas douradas. No caminho, faz um corte que causa uma forte ventania. Lass é atingido, juntamente com o Saltador que parecia distraído demais com o ninja para ter visto o ataque da mesma. Ele cai no chão sem ter conseguido escapar do vento. Os segundos que demora para levantar é o bastante para Lass avançar com um chute nas costelas. O rapaz cai de lado com um grito.

— Boa. – Elogia Lass com o aproximar de Elesis.

— Nem tente fugir! – Grita a espadachim furiosa. Aproxima-se em passos largos.

Elesis para quando o rapaz levanta a mão com um dispositivo. Ele abre um sorriso com sangue para ela e aperta o botão. A jovem pisca os olhos e ele some, estando bem à frente enquanto fugia. Ela não entende como o Saltador tinha se recuperado em tão pouco tempo para continuar a correr no mesmo ritmo de antes.

— Você de um lado, eu do outro. – Disse Lass impaciente.

Correm em direções opostas, mas indo para o mesmo destino. O Saltador continua a correr sem ter percebido o plano da dupla. Deu alguns passos a mais e Lass surge à sua esquerda. Ele some e o ninja passa direto.

— Maldito! – Grita irritado.

Adiante, Elesis tenta fazer o mesmo e falha com as chamas douradas. Era como se seus passos fossem lentos demais.

— Já chega! – Lass perde a paciência.

Elesis olha surpresa quando a mão do rapaz levanta com uma pequena quantidade de chamas azuis. Não o impede, mas gostaria de ter feito. Lass arremessa e deixa as chamas explodirem ao passarem ao lado do Saltador.

Ele não conseguiu evitar o impacto contra a arvore ao lado. A dor que sentia deveria ser grande.

— Ele vai fazer de novo. – Nota Elesis ao ver o dispositivo na mão do mesmo. Começa a correr. – Ele vai se recuperar!

Ainda não entendiam como funcionava a magia ou o dispositivo do Saltador. Ele aparecia em diversos lugares, mas toda vez que fazia isso, parecia antecipado demais. Era confuso como se recuperava dos ataques após se teletransportar. Algo estava errado sobre ele, o que aparentava ser.

Cazeaje tinha dito que sua magia era uma coisa, mas somente agora lembravam como ela poderia manipula-los com esta pequena informação. Bem, era tarde mais. Elesis e Lass avançavam contra o rapaz, cada um segurando uma parte de seu corpo para impedir que o dispositivo seja apertado.

Eles não conseguem evitar. Seus corpos se distorcem quando sentem sumirem do lugar junto com o Saltador.

***

Elesis voa contra o chão, bate e volta a voar até cair novamente. Dessa vez, está mais molhado, uma poça sob seu corpo. Sua mente rodopiava, demorando para diminuir. Esforça-se para abrir os olhos e perceber a pouca iluminação. Começava a sentir frio com a chuva que caía sobre ela, tão forte que a afundava naquele chão.

Desperta bruscamente. Fica ajoelhada pela a dor que sente nas palmas e joelhos. Ao ser arremessada no chão, acabou ralando profundamente os locais com dores. O sangue escorria entre seus dedos com a palma em carne viva.

— Lass! – Lembra do ninja.

Quando olha em volta, percebe que não estava mais na floresta e que era noite. Tinha parado no meio de uma cidade. Logo localiza o ninja distante, tendo sido arremessado com mais brutalidade que ela.

Mas não foi até ele. Ficou de pé com dificuldade, a chuva piorando isso. O Saltador estava bem à frente, também enfraquecido.

— Não pense em fugir! – Grita Elesis.

Anda até ele. O rapaz fica de pé rapidamente, recuperando-se em segundos. Elesis ignora esse detalhe e continua seu caminho. O Saltador sorri em prazer ao ver a espadachim naquele estado. Ele ergue uma mão e acena, com a outra, aperta o dispositivo e some outra vez.

Elesis para. Não sabia onde estava e como sair dali. Sua única escolha foi se virar para Lass e ir até o mesmo. Com seus passos barulhentos nas poças, o rapaz desperta lentamente. Ele se senta antes de Elesis se aproximar.

— Ele fugiu. – Diz decepcionada. – E não faço ideia de onde estamos.

— Nem eu. – Fala Lass. – Por que está de noite?

Elesis dá de ombros. Não importava, apenas queria sair dali. Deu um passo adiante e caiu sentada pelas dores nos joelhos. Não conseguia ver o sangue, mas sabia que era muito.

— Ei, vocês! – Uma voz distante o chamam. – Precisam de ajuda?

De repente, a chuva para de cair em Elesis. Na escuridão da noite, ele enxerga um par de sapatos parar à sua frente. Levanta o rosto e percebe um guarda-chuva sobre ela, a protegendo de ser molhada.

Com a pouca iluminação da rua, consegue enxergar aos poucos a pessoa que oferecia ajuda. Sua visão se acostuma com a pouca luz, porém sua mente demora a compreender que aquilo é real. Seu corpo não se move, o frio da chuva a congelou ali.

Todas as noites que passou acordar foi por momentos assim que imaginava. Era infantil e tolo, mas agora de frente, era cruel. Seu coração se fecha pela a dor da saudade. A água que cai de seus olhos pode vim da chuva ou das lágrimas de felicidade.

Distante, sem ter visto a expressão da ruiva ou da pessoa sob o guarda-chuva, Lass compreende o poder do Saltador. Toda vez que era atingido, ele sumia e voltava, com um adiantamento de segundos. Seria impossível se curar em tão pouco tempo, a não ser que o tempo voltasse antes que fosse atingido e o jogasse em outro local.

— Você está machucada? – O homem sob o guarda-chuva pergunta outra vez. Ele estica a mão.

O tal Saltador não era um teletransportador, mas um Saltador do tempo.

— Consegue me ouvir? – Elscud olha confusa para a expressão chorosa que se abre na espadachim.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Elesis e Elscud, cara a cara. E aí?! Eles estão no passado, o que pode acontecer..
* Alguém já sacou o plano da Cazeaje? Acho um pouco difícil.
* Ronan, Jin e Arme contra o Conselho, que coisa linda que vai ser!!!
* Sem falar do encontro do Gerard com Elesis... Vish, muita treta!



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