Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 118
A nova rainha


Notas iniciais do capítulo

Yooooo, tudo bão? Espero que sim! Este capítulo está bem pequeno, não terá a mesma tensão que teve no anterior, mas está bem legal. Um novo arco se abre. Ele pode parecer bem bobo, mas possui uma grande importância no futuro.
Capa: Hatsune... ?
Boa leitura!



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Seu coração batia rápido, nervoso com sua presença, depois de anos sem ela. Tantas coisas para dizer e nada saía de seus lábios, com medo de ser retrucado. Sorria, era a única coisa que fazia para expressar sua felicidade em vê-lo.

— Bem que você estava por perto o tempo todo. – Comenta Depas, o rosto virado para a vista da janela. Ignorava, como sempre – Não demoraria até mostrar as caras, não é, Gerard?

— Eu me senti na obrigação de te cumprimentar, no mínimo. – Mentira, queria vê-lo desde o início. – Queria saber se estava bem.

— Essa é a desculpa que você usa para se aproximar de mim? Melhore as mentiras, Gerard.

Doía quando era chamado pelo nome, e não por “filho”, como sempre quis.

— Soube que tinha vindo para treinar a Elesis. – Tenta achar uma forma de continuar a conversa. O silêncio era um grande incomodo para ele. – Arthur falou sobre você para ela?

— É, aquele garoto pediu para que ela me encontrasse. Sabe o porquê?

— Sinceramente, não. – Seu sorriso quase vacila ao lembrar de seu amigo. – Ele queria me ajudar, talvez não soubesse da gravidade do problema que daria ao se envolver nisso.

Depas assente. Até hoje, lembra de quando levou Arthur para conhecer seu pai. Ambos estavam cobertos por sangue e machucados, os olhares implorando por ajuda. Depas apenas aceitou pelo o jovem, não por ele. Tinha contado o que tinha feito na guilda, após isso, esperou por um sermão, mas nada veio. Seu pai não gritou ou apoiou, seu silêncio foi sua maior arma contra ele; o que fez ele sair de casa alguns dias depois. Se fosse para continuar o que tinha feito, que fosse sozinho.

Elscud foi mais filho para ele do que Gerard nunca será. Ele sabia disso e forçava um sorriso toda vez que lembrava. Tudo que fazia, mesmo que fosse impressionante, não era elogiado por Depas. Era a obrigação dele ser forte, então por que esperava tanto por um prêmio?

— Me desculpe. – Pede Gerard após notar tudo isso. Abaixa a cabeça, o corpo inclinado em respeito. – O que eu fiz foi um erro, e bem grande. Se eu pudesse mudar o passado, eu faria.

— Mas não tem como, então levante esta cabeça e me ouça. – Diz ríspido. Gerard obedece, finalmente seus olhos se encontrando. – Você fez a besteira de deixar Cazeaje ficar por cima uma vez, agora é a sua vez. Sei que não conseguirá, por isso que treinei Elesis, porque ela está disposta a fazer o que for preciso para acabar com aquela mulher.

— Ela não vai conseguir. – Nega com a cabeça. – O estado dela...

— Será a última jogada dela. – Suas palavras pesam. – Elesis será o end game. Você, tudo que precisa fazer é pegar o que é nosso e contar a verdade para ela. Com esse ombro, você não vai muito longe também. – Acena com a cabeça para a ferida do rapaz.

A dor aumentava pela falta das poções de Arthur. Fazia tudo sozinho dessa vez, tornando sua vida num pesadelo. Às vezes, tinha medo pela solidão que sentia, que consumia sua sanidade todos os dias.

— É por causa das chamas, não é? – Pergunta Gerard. – A única arma que funciona contra Cazeaje.

— Ela roubou o poder de sua mãe. – Diz com frieza. – Está na hora de pagar pelo o que fez. Pode não ser você, mas como Elscud era um familiar para mim, Elesis também é.

— Não trate ela como se fosse a Penélope. Apesar de serem parecidas, não são as mesmas.

Não precisava olhar tanto para saber as intenções de Depas. Elesis era como sua mãe e o rapaz via isso. Desde então, ele não nega a morte dela, vê na ruiva um potencial para tampar este buraco no seu peito.

— As chamas já foram da mãe dela, agora devem ser dela. – Fala Depas. – Elesis é a herdeira das chamas, no final das contas.

— Eu sei, mas pense nos problemas que isso pode causar. Ela não aguentará e Cazeaje saberá disso! – Falava nervoso. – Lass não foi condenado ainda porque ela sabe que ele não é o verdadeiro dono; ela quer a versão original só para si, o que não conseguiu quando era com Penélope.

— É por isso que você deve preparar o terreno para a luta. – Disse ele com aquele olhar calculista. – Mexa com o orgulho de Cazeaje e deixe Elesis terminar com isso.

Gerard sabia como mexer com o orgulho da líder, o que era uma tarefa complicada apenas para ele. Suspira. Tantas coisas e tudo isso sozinho, sem alguém para apoia-lo. Por isso que estava ali, queria o apoio de seu pai, a última pessoa que faria isso.

Recebe um tapa na cabeça. Olha confuso para Depas, ainda com a mão levantada. Para sua surpresa, um sorriso se abre no rosto enrugado dele.

— Me deixe orgulhoso e chute a bunda magra daquela mulher. – Fala Depas com total excitação nas palavras. – O que você fez não é considerado certo, nem errado. Só saberá quando pegar isso e resolver o que fazer. Dê as costas e será apedrejado, vire de frente e será do mesmo jeito, mas ao menos, saberá de onde vem a pedra. – Cruza os braços. – O que vai ser, filho?

Depas nunca gostou de receber ordens, independente de que fosse. O mesmo quando fazia isso. Gerard sempre o obedeceu, nunca o julgou por ser seu pai; tinha respeito e medo. Esse era o motivo de nunca ter gostado dele, por nunca ter ousado, como Elscud e Penélope faziam. Queria fazer de seu filho o maior guerreiro, mas do que adiantava se fosse se transformar num soldado que poderia muito bem ser manipulado por Cazeaje?

Agora, vendo as correntes que ele quebrava, para as consequências que não importavam tanto, via em Gerard o guerreiro que ele sempre quis ver. Aquele que não teme em sacrificar algo para conseguir outro.

Com isso em mente, ele sorri. Assente, abaixando a cabeça novamente.

— Pare de fazer isso. É chato! – Fala Depas. No entanto, não acerta um tapa como esperava, um toque gentil cai sobre sua cabeça. Gerard o olha. – Se sua mãe o visse, ela estaria orgulhosa. Não pelo filho que está quase morrendo por dentro, mas pelos motivos que o levou a isso.

— E ela diria para você parar de fumar. – Ri. – Como sempre falou.

Acerta um leve tapa no peito do ruivo. Não consegue conter o sorriso.

— Que isso fique entre nós. Quando visitá-la, não quero que conte a ela. – Até porque, um dos dois partiria primeiro para o outro mundo.

***

A batida na porta o desperta. Move seu corpo para tentar voltar a dormir, o que não acontece quando batem novamente. Abre os olhos e encara o teto por um instante, virando para olhar Elesis ao lado. Ela estava enrolada no lençol como se fosse seu ursinho, como se tivesse medo de larga-lo. Suas bochechas estavam manchadas pelas lágrimas que foram derramadas na noite passada. Ainda queria saber exatamente o que aconteceu, o porquê de ela ter falado do irmão, que não tinha.

— Lass, é melhor você levantar! Eu não vou sair daqui até que você me veja! – Gritava Jin do outro lado da porta.

Bufa com a persistência do rapaz. Levanta quando sente Elesis se mover para acordar, por causa do barulho que o ruivo causava. Ao abrir a porta, joga sua mão contra a boca de Jin e o empurra enquanto saía do quarto. Fechou a porta com cuidado, sem querer acordar a espadachim.

— O que foi? – Rosna.

Acerta um tapa na mão de Lass, sua boca sendo livre.

— Adivinha quem nos mandou uma carta, pedindo por nosso ajuda? – Pergunta animado.

— Hã? – Com o sono da manhã, o ninja nem pretendia se esforçar para saber.

Jin mostra a carta aberta, seu sorriso de lado.

— O pai da princesa Elizabeth!

***

— Ela vai se casar e nós temos que ser os guarda-costas enquanto isso? – Pergunta Lass, mais como uma resposta. – Logo a gente?

Sentados nos degraus da escada, para conversarem longe do quarto, continuam a discussão sobre a carta. Jin tinha a pego horas atrás, contando somente agora ao ninja. No começo, não sabia do que se tratava, mas quando Lass questiona, percebe as intenções da chamada deles.

— O rei disse que foi a Elizabeth quem exigiu isso. – Explica o ruivo. – Ela deve gostar da gente.

— Gostando ou não, vamos ganhar alguma coisa por isso? – Pergunta, sua voz arrastada pelo sono.

— A quantia está para ser discutida, se formos. – Isso não anima tanto o ninja. – Vamos, Lass! Estou precisando de uma grana, e será bom fazer uma missão para descontrair.

— Tenho que ver com Grandiel se posso ir. – Suspira. – Não tenho problema com essa Elizabeth, mas com outra pessoa.

O ruivo não compreende. Aponta em direção ao quarto, onde Elesis dormia. Ele solta um “ah” em entendimento. Havia diversos motivos para a ruiva ficar longe de missões, principalmente desta em especial. Ainda lembravam da aparência de Elizabeth, tão parecida com a espadachim.

— É só falar pra ela ficar. – Sugere Jin.

— Um cachorro obedeceria, ela não. As pernas da Elesis estão piorando, não quero que ela se esforce mais. – Na noite anterior, a ruiva não conseguia andar, precisou de sua ajuda o tempo todo.

— Teimosa, como sempre. – Ri brevemente.

Com a ida de Depas, a situação não pioraria tanto, não haveria mais treinos para ela fazer. Porém, mesmo o rapaz não estando mais presente, incomodava saber quem ele realmente era.

— O que vocês estão fazendo aqui?

São assustados quando a ruiva surge no topo da escada. Coçava o olho pelo sono que ainda sentia, seu cabelo bagunçado não podendo negar isso. Antes que respondessem, percebem o pijama que a mesma usava. Sua camisa com um unicórnio como estampa era aceitável, menos a samba canção, que obviamente, era do ninja.

— Por que ela está com a sua cueca? – Sussurra Jin para ele.

— Eu também quero saber. – O que era verdade.

— Então, o que fazem aqui? – Volta a perguntar. – Ouvi suas vozes lá do quarto. – Aponta com o polegar.

Enquanto Jin inventava uma desculpa, Lass questiona o que ela disse. A distância de seu quarto para as escadas era grande, nem mesmo ele podendo ouvir, apesar dos sentidos aguçados. Como isso era possível?

Para o questionamento quando o olhar da ruiva cai sobre ele. Não tinha ouvido a conversa que estavam tendo, olhando para Jin em ajuda.

— Estava falando da missão que fomos chamados, apenas nós. – Diz o lutador, o sorriso forçado. – Lembra?

— Ah, sim. É algo importante, então não podemos levar alguém para ajudar. – Concorda com seu amigo.

— Entendi. – Elesis não se altera. O olhar cansado mostrava seu desanimo para isso. – Tomem cuidado quando forem.

Não conseguem evitar de se entreolharem, assustados. Pela primeira vez, Elesis não mostra interesse em uma missão ou desafio, ela simplesmente age como se não gostasse.

Sem mais palavras, a espadachim volta para o quarto. Observam ela entrar no cômodo e se fechar nele.

— O que aconteceu com ela? É por causa daquele cara que foi embora? – Pergunta Jin.

— Sim e não. É algo só dela, bem pessoal. – Olha para Jin, sem querer o ofender. – Não tente se intrometer nisso, Elesis não quer que as pessoas saibam sobre ela. Entende?

— Um pouco de espaço, entendi. – Assente. – Não iria forçar mesmo, mas tudo bem, não vou falar isso com ela.

Lass agradece com um sorriso. Fica de pé, jogando os braços para o alto em preguiça.

— Irei falar com Grandiel sobre a missão. Eu te aviso quando ter a resposta.

— Certo. – Diz Jin com total animação.

***

Aproveitando que já estava de pé, foi direto a Grandiel para resolver o assunto. Por sorte, o rapaz já tinha acordado, o que não era problema para ficar de pé logo cedo, diferente de um certo professor. Esperava ter uma conversa complicada, mas Grandiel foi compreensivo e o permitiu ir na missão. Havia dito que seria bom para colocar as chamas em prática, contanto que não colocasse a vida de alguém em perigo. Lass não viu necessidade para concordar.

Avisou a Jin antes que fosse para seu quarto, arrumar sua mochila para partir. Na carta estava bem claro que deveria ser o mais rápido possível a ida deles para o reino. Sentia arrependimento durante o caminho. Deixaria Elesis naquele estado, sem poder leva-la com ele, pois pioraria. Queria ao menos fazer algo que a deixasse bem.

Entra no quarto e se depara com a mesma de pé enquanto arrumava uma mochila. Pelos cabelos molhados, ela tinha tomado um banho, que provavelmente foi longo o bastante para desperta-la.

— O que está fazendo, Elesis? – Questiona, confuso.

— Depas se foi, não há mais necessidade de eu ficar aqui. A qualquer momento, Lothos vem me tirar daqui, então... – Fala enquanto continuava a guardar as roupas. – Já vou indo.

— Poderia ter avisado antes. – Fica mais intrigado com o jeito quieto da ruiva. Algo ainda a incomodava. – O que houve, Elesis? Ontem, para ser exato.

Ela solta um suspiro e para de mexer nas roupas. Suas mãos se dirigem para seu rosto, assim por um instante para tomar forçar para falar. Passa a mão em seus cabelos molhados e olha para o ninja.

— Depas me contou algumas coisas. – Pretendia mentir sobre as chamas, não falaria sobre o aparecimento delas. – E acho que sei porque Lothos, Grandiel e Astaroth não querem nos ver juntos.

Esperava ver uma reação de surpresa do rapaz, mas ele continua com a mesma expressão.

— Minha mãe era a dona das chamas antes de você, Lass. – Isso o deixa como esperava. Ele tenta falar, engasgado nas próprias palavras. – O que explica o porquê de eu também ser.

— Ele disse para você?

— É. Ele também contou sobre a história que é o principal motivo de não quererem a gente juntos. – Dizia num tom baixo, quase sumindo pelas tristezas que ainda persistiam em ficar. Precisava ser forte, por isso continuou. – Depas apenas não treinava Gerard e meu pai, mas minha mãe também. Ele a via como uma filha, por isso se importava tanto.

— E o que aconteceu?

— Minha mãe perdeu o controle das chamas por causa do meu pai. Pensou que ele tivesse morrido. – Esfrega o braço. As memórias voltam como se fizessem parte dela. – As chamas não dominaram o corpo dela, além disso, apenas o poder. Era tanto que ela mesma se queimava... Inclusive... – Para de falar. Tinha abraçado seu corpo, quase caindo no chão por fraqueza.

Lass segura seu braço. Ele queria lembra-la que continuava ali, e que se fosse cair, seria erguida novamente.

— Eu teria um irmão mais velho. – Diz Elesis. – Mas as chamas o queimaram.

Lass entende a exaustão que a ruiva sentia desde ontem. Saber que teria um familiar, mas que havia morrido pelas chamas, era complicado.

— Eu sinto muito, Elesis. – Ele fala, solene. – Eu queria poder fazer algo.

— Não tem problema. Ele não deve ter sentido dor, aliás. – Era o que esperava, o mínimo. – Só que, o que me incomoda é saber sobre Gerard.

— O que tem? – Sente a mudança de humor da espadachim repentinamente.

Lembrar da cena era um nojo para ela, insuportável. Não podia aceitar, queria acreditar que era uma grande mentira e que tudo foi apenas um pesadelo. Mas quando abria os olhos, via a realidade e não poderia simplesmente negar.

— Gerard amava minha mãe. – As palavras machucam quando saem. Crava suas unhas contra a pele. – Ele...

— Amava? – Olha confuso. – Como assim?

— Do mesmo jeito que você me ama, - Olha com seriedade. – ele também a amava.

Lentamente, pela expressão da ruiva, entende o que ela queria dizer. Como um flash de memórias, tudo faz sentido para ele. A cicatriz, a relação com a data da mãe de Elesis, a estranha atitude de mentir quando perguntava sobre ela para ele. Tudo era respondido por uma simples palavra: Amor.

Se Lass quisesse saber do resto, teria que primeiro entender o relacionamento que Gerard tinha com Penélope, então assim teria sua resposta.

— Por isso que ele matou meu pai. – Diz Elesis de repente. – Todos da guilda. Deve ter sido por ela.

— Elesis, não diga o que não sabe. – Tinha certeza que aquele motivo estava errado.

— Como quer que eu julgue? É o único motivo que eu vejo para ele ter feito isso. – Dizia indignada.

Segura os ombros da mesma com força.

— Acalme-se, Elesis! Pense um pouco antes, só uma vez na vida. Ficar irritada por isso não ajudará de nada. – Ao terminar de falar, solta os ombros da ruiva. – Não quero defender Gerard, mas o fato de ele gostar da sua mãe não prova nada.

Pelo o estado que estava, não teve muita motivação para retrucar. Tudo parecia muito claro e confuso ao mesmo tempo, como Lass tinha dito, precisava de um momento para pensar sobre.

Volta a arrumar sua mochila.

— Vou usar esse tempo para isso então. – Conclui. – Tentarei tirar algo da Lothos enquanto isso.

— Irei para essa missão com o Jin, mas voltarei o mais rápido o possível. – Garante.

— Sei cuidar de mim mesma.

— Não nesse estado. – A olha da cabeça aos pés. Ela estava destruída, piorando com o gesso que ainda usava. – Precisa de ajuda para ir até lá?

Nega com a cabeça.

— Não precisa. – Fecha a mochila e se senta na cama. – No momento, eu só quero um pouco de silêncio para terminar de ingerir as notícias.

Um tempo só para ela, sem ninguém ao lado para tornar sua mente mais confusa. Lass entende e a deixa, um pouco incerto disso.

***

Viu o ninja partir, mas sem se despedir antes. O mesmo para Jin. Eles não foram muito claros com os detalhes da missão que fariam, pareciam evitar de falar muito. Não se importava, de toda forma. Tinha terminado de arrumar sua mochila e já se preparava para partir, parando ao sentir suas pernas doerem com o cansaço do dia anterior.

Sua expressão se contorce. Não foi por dor, mas pela memória de antes. As chamas, sua mãe e Gerard, tudo tão junto que a fazia ficar enjoada.

— Está tudo bem, Elesis?

Apoiada na parede do corredor, olha sobre o ombro. Ronan se aproximava.

— É só minhas pernas. – Responde. – É normal isso acontecer.

— Não estaria se esforçando demais? – Pergunta preocupado. Olha para os membros enfaixados da mesma. – E carregar peso não ajuda muito, sabe.

— Eu sei. Só quero chegar no colégio das garotas o mais rápido possível.

— Então deixa eu te ajudar. – Tira a mochila de suas costas, sem tempo de protestar. – Não tenho nada para fazer agora, posso te levar até lá.

— Não precisa, Ronan.

— Vamos. – Estica a mão. – Não posso deixar uma amiga sozinha, não acha?

Mesmo após tudo, ele continuava a se importar com ela. O rapaz era gentil demais para o que ganhava em troca. Ele não merecia sofrer tanto, ter uma tia como Cazeaje e ter sido traído pela pessoa que mais confiava no mundo. Sempre foi assim, e não mudará tão cedo. Como sempre dizia, Ronan seria um ótimo rei para seu reino.

Sem querer dispensá-lo, segura sua mão com firmeza.

***

Tomava cuidado enquanto descia as escadas. Qualquer deslize e teria uma grande e dolorosa queda. Tateava com o pé para ter certeza que havia um degrau à frente para tomar cuidado. Se não fosse pelas latas de tinta que carregava e cobria sua visão, não teria este problema.

Quando não há mais degraus, Arme solta um suspiro. Não tinha caído dessa vez.

— Arme?

Joga sua cabeça de lado, vendo Elesis à frente.

— Ah, oi, Elesis! Quanto tempo! – Diz empolgada. – Veio fazer uma visita ou o quê?

— Vim para ficar por um tempo. – Estranha a falta de vida na voz da ruiva. Ela parecia cansada com o estado físico que se encontrava. – O que está fazendo com as tintas?

— Lothos pediu para retocar a pintura de um dos salões. Eu gosto de pintar, então vai ser divertido.

— Precisa de ajuda? – A voz mais grava pergunta.

Não vem de Elesis. Joga a cabeça para o outro lado, enfim, vendo Ronan ao lado da ruiva. A maga se assusta, nervosa ao perceber o rapaz ali. Sem querer, deixa uma lata cair, infelizmente, em seu pé. Ela grita de dor, dando leves pulinhos.

— Tudo bem? – Pergunta Elesis.

— Tudo bem, tudo bem. – Ri sem jeito. Olha para Ronan, então para sua amiga. – Só fiquei surpresa com ele ali.

— Desculpa, não queria assustar. – Diz o rapaz. – Só achei pesado para você carregar sozinha. – Pega a lata que tinha caído.

— Ah, não tem problema. – Desvia o olhar, caindo sobre Elesis. Não sabia o que fazer, pedia ajuda à ruiva.

Elesis sabe o motivo de todo nervosismo da maga. Deu de ombros e pegou sua mochila com Ronan, saindo do lugar.

— Arme adoraria sua ajuda. – Diz enquanto se afastava. – Ronan é um bom pintor, Arme. Aceite a ajuda dele.

Olha desesperada para a espadachim enquanto a deixava para trás. Correria atrás da amiga, mas o peso em seus braços não permite. Quando se vira para frente, o mesmo peso some quando Ronan pega as latas.

Arme fica o olhando, sem saber o que dizer.

— Então, para onde eu levo isso? – Ele pergunta após o profundo silêncio. – Não posso prever.

Quando percebe, a maga solta uma risada sem jeito, colocando uma parte do cabelo atrás da orelha.

— Po-Por aqui. – Aponta e sai na frente. – Obrigada pela ajuda.

— Não tem problema. – Diz ele com um sorriso tão gentil que quase fez a maga tropeçar nos próprios pés. – Cuidado por onde anda. – Ri.

— É-É. – Ri também. Vira o rosto para frente, totalmente tomado pelo vermelho.

***

— Foi uma boa ideia ter comprado lanche antes de pegar o trem. – Menciona Jin, tomando seu milk-shake de chocolate. – Nesse reino, não tem nenhuma lanchonete que seja boa.

— É um reino, não a cidade de Calnat, cheia das coisas modernas. – Retruca Lass.

Já tinha chegado na cidade, o que não era tão longe, levando apenas poucas horas para chegar no local. O maior caminho era a pé, pegando uma trilha isolada que não parecia ter fim. O ninja ainda se perguntava como que um reino tão importante pode ficar isolado desse jeito? Achava que fazia parte do Conselho de Canaban, mas apesar de se localizar perto, não fazia. O que considerava bom, já que ficavam longes das mãos de Cazeaje.

— O que será que a senhorita Elizabeth quer dessa vez? – Questiona Jin, com um certo deboche pelo o jeito que chama a princesa. Lembra que ela exigia ser chamada com respeito. – Guardas outra vez? Porque eu já aviso, não irei colocar outro vestido! – Diz nervoso.

— Provavelmente algo do tipo, que seja valioso. Se fosse para escoltar, ela usaria o exercito que tem. – Menciona pensativo. – São um dos melhores, até mesmo Cazeaje fica para trás comparado a eles.

— Possuem ótimos guerreiros, mas não sabem usar. – Suspira. – Alguém deveria ajeitar essa bagunça.

— Concordo.

Param de frente ao grande portão de entrada. Esperando por eles, o mordomo da casa abre para eles e pedem que para que entrem. Conheciam o homem da última vez que estiveram ali, não havia questão para desconfiarem.

São guiados até o interior do castelo, o lugar mais decorado do que se lembravam. Esperam no salão principal, sem comida dessa vez.

— Só eu que não tenho um bom pressentimento sobre isso. – Pergunta Jin. – Eu chego aqui e lembro do beijo que damos.

 - Não fale isso com tanta naturalidade. – Rosna irritado.

Antes que batesse no ruivo, o barulho de salto o chama a atenção. Ficam posicionados de frente à escada, preparados para qualquer ordem com desprezo que viesse.

Elizabeth aparece no topo da escada com o vestido mais chamativo que pudesse usar. Seus cabelos azulados não estavam mais longos, agora cortas na altura dos ombros. Ela fita ambos, então Lass por um longo tempo.

— Princesa Elizabeth, é uma honra está aqui. – Menciona Jin. Apoia a mão no peito e faz uma rápida reverência. – Nós...

— Princesa? – Interrompe. Ela olha furiosa pela forma que é chamada.

— Mas você não é? – Olha confuso.

A jovem se movimenta num piscar, tirando seu salto e arremessando contra Jin. É acertado na testa, um pequeno corte se formando no local. Lass olha assustado, afastando-se alguns passos para o lado.

— É rainha Elizabeth, para você. – Diz com autoridade. Apoia as mãos na cintura. – Não sou mais uma mera princesa, idiotas!

***

Não se importou quando alguém entrou na sala, mas com o barulho de algo caindo. Ergue o rosto e vê Elesis na entrada, a mochila caída no chão.

— Elesis, que surpresa. – Diz Lothos. – Achei que fosse ficar mais um tempo no colégio.

A ruiva com a feição fechada não respondeu. Andou até a mesa da comandante e com ambas as mãos, jogou tudo que tinha sobre para fora num movimento de raiva. Lothos a encara com seriedade, ficando de pé para encará-la.

— O que pensa que está fazendo?! – Grita ela.

— Eu que pergunto, Lothos! Mas que droga! – Grita de volta a ruiva. – Até quando ficará escondendo as coisas de mim?

— Do que você está falando? – Pergunta impaciente.

— Das suas mentiras! – Bate com a mão na mesa, a dor atingindo sua palma. Aponta no meio da face da loira. – Quando pretendia contar sobre minha mãe? Ou até sobre o meu irmão? Hein, conte!

A raiva some do corpo da comandante quando percebe o que tanto incomodava a espadachim. Percebe em seus olhos além de irritação, era a dor de ser traída novamente.

— Como você descobriu isso?

— Eu descobri. Ponto! – Fecha os punhos. – Como que você teve a coragem de esconder sobre minha própria mãe? Eu devia saber!

— É complicado, Elesis. – Não queria ferir a ruiva, tentava ser gentil nas palavras. Sabia como ela se sentia. – Não poderia simplesmente falar para você.

— Por que não? – Segura a si própria para não avançar na comandante. Estava indignada, mas ainda tinha uma pequena parte dentro dela que a deixava sã. – Apenas falasse! Já basta esconder sobre as chamas, agora sobre a antiga dona? O que vai ser o próximo? Não sou humana, é isso?

— Nunca tocamos no assunto de sua mãe, justamente para evitar que alguém saiba! – Eleva a voz. – Se Cazeaje descobrir, ela saberá que você é a atual dona das chamas!

— Isso não impedia de me contar! Não sou idiota de deixar Cazeaje descobrir!

— Você deixaria, sim. – Diz com pesar.

— Como eu faria isso?! – Joga as mãos sobre a mesa em apoio, o rosto inclinado para perto da comandante. Encara enquanto esperava por outra desculpa.

— Você é explosiva demais, Elesis. Cazeaje é manipuladora, faria você dizer mesmo sem precisar. – Continua antes que ela debatesse. – Escondemos tudo o máximo que possível. Se Cazeaje descobrir algo, tudo que fizemos será em vão. Então, por favor, não fique questionando tudo, Elesis. É para o seu bem, e o do Lass também.

As mãos da ruiva arrastam para fora da mesa. Tudo era por ela, mas não era assim que via. Encara Lothos com total indignação, sem precisar falar para mostrar como se sentia. Outra vez, era tratada como uma criança, irresponsável que não conseguiria segurar um sequer segredo como aquele.

— “Obrigada, Lothos.” – Fala Elesis. – É isso que devo dizer? Que você quer ouvir? Bem, até eu ser tratada desse jeito, não haverá agradecimento.

— Elesis, por favor, entenda. – Pede enquanto a ruiva se afastava.

— Eu entendi. – Pega a mochila, encarando a comandante. – Se eu quiser descobrir alguma coisa, não será de vocês.

Sai da sala antes que ouvisse outra mentira de Lothos. Não sabia onde levaria tudo isso, mas até que não descobrisse tudo, ignoraria. Lothos, Grandiel e Astaroth, todos brincando com ela e Lass como se fossem marionetes. Precisava descobrir sozinha, isso é, se existia alguém que pretendia contar tudo a ela sem se importar com seu estado, eram elas.

As malditas chamas azuis.

***

Termina de enrolar o curativo na testa de Jin e afasta para ter certeza que estava tudo em ordem.

— Está melhor? – Pergunta Pan.

— Eu estaria melhor se não tivesse um corte na minha testa. – Desabafa.

O lutador é acertado por um tapa nas costas. Ele se contorce em dor, olhando para Lass, sentado ao seu lado. Logo à frente deles, Elizabeth sentava no longo sofá decorado. Suas pernas cruzadas não paravam de balançar em irritação, bufando quando os olhares caem sobre ela.

— Liz pede desculpa pelo o que fez. – Menciona Pan. Da última vez que a viram, ela era menor, agora, parecia mais responsável como braço direito da Rainha. – Ela está num dia cheio, então está impaciente.

— Não tem problema. – Diz Jin, a mão sobre o curativo. – Então, por que fomos chamados aqui?

— Na verdade, - Lass se intromete. – onde está seu pai? Por que você é rainha e tá com todas as responsabilidades dele?

— Da última vez que estiveram aqui, eu iria ser coroado como rainha, esqueceu? – Novamente, seu tom de nojo irritando a ambos. Ela não havia mudado. – Mas se passou um ano e papai morreu do coração. A última coisa que ele fez foi tomar sua bebida favorita. – Suspira. Pelo o que parecia, ela fingia a tristeza. – Então, eu fiquei no lugar dele.

— Ela está sabendo cuidar do reino? – Faz a pergunta diretamente a Pan. Elizabeth mexe os pés em nervosismo.

— Liz não está sozinha quando se trata de contratos e reuniões fora do reino. – Defende a amiga. – Ela tem se esforçado bastante.

Um pouco aliviado, o ninja aceita a resposta. Toda vez que olhava para a garota, via total irresponsabilidade, como via em Elesis. Porém, Elizabeth era pior, mimada e sem a sabedoria da ruiva.

— Se está sabendo lidar com tudo, por que nos chamou? – Volta a questionar.

A jovem fica de pé rapidamente. Ela junta as mãos e abre um sorriso sem jeito.

— Irei me casar. – Ela fala, o olhar caindo sobre Lass. Espera ver alguma reação, mas nada sai do rapaz.

— Ah, obrigado por nos convidar. – Fala Jin. – Nunca fui chamado para um casamento.

— Vocês não são convidados! – Perde a pose ao gritar com o ruivo. Percebe o ninja ali, voltando ao normal. – Eu chamei vocês aqui para serem meus guardas reais antes e durante a festa.

— Por que exatamente nós? – Estranha Lass.

— Ultimamente, o reino está sofrendo ataques de Serdin. – Explica Pan. – Apenas dobrará durante o preparo para o casamento. Achamos que vocês sejam a melhor opção para protege-la.

— Espere um segundo. – Pede Lass. Olha confuso para Pan, pelo o que ela tinha dito. – Serdin? Por que eles estão atacando? Não há ataques entre Canaban e Serdin faz muito tempo.

— Foi o que eu pensei. – Fala Elizabeth. Joga os cabelos para o lado, voltando a se sentar e cruzar as pernas. – Mas tem alguns cretinos que esquecem disso e permanecem atacando. Mas pouco importa! – Força o sorriso doce, que parece real ao se virar para Lass. - Então, aceitam minha proposta? No final, podem pedir o que quiserem como recompensa, dinheiro não é problema.

Jin não pensa duas vezes antes de concordar. No entanto, Lass não fala, sua expressão pensativa mostrava o motivo disso. Tentava entender por que Serdin atacava Canaban, mesmo após o contrato de paz que assinaram. Atacar o reino de Elizabeth era quebrar este contrato de uma certa forma, como uma provocação de mau gosto.

— Quanto tempo teremos que ficar? – Pergunta Lass.

— Até o final da semana. Quando o casamento terminar, vocês poderão ir embora. – Explica a jovem.

— E quando iremos conhecer o novo rei? Acho que é necessário. – Diz Jin.

— Amanhã de tarde. Não se preocupem com ele, o único trabalho de vocês é me proteger. – Fala com seriedade.

Tinham momentos que esqueciam de Elizabeth, confundindo com Elesis. As duas eram difíceis de lidar, porém a nova rainha tinha seu jeito em particular para irrita-los.

Sem muita vontade, assentem para satisfazê-la.

— Ótimo. – Ela fica de pé. – Pan irá entregar minha agenda para vocês. Não tolero atraso de nenhum dos dois. – Fala autoritária.

— Não iremos. – Fala Lass, como se fosse óbvio. Estica a mão para a jovem. – Tem minha palavra.

Pan abre um pequeno sorriso ao ver a reação da amiga. Elizabeth quase deu as costas quando Lass começou a falar, mas ao ver a mão esticada do mesmo, ela ficou presa no lugar. Escondendo o nervosismo, segura firmemente a mão do ninja e sacode.

— Vejo vocês mais tarde. – Fala num tom alto. Solta Lass e sai da sala antes que demonstrasse sua vergonha.

Pan levanta do lugar. Já estava para ir atrás da amiga, mas para na frente de ambos, sorrindo.

— Por favor, cuidem dela. – Pede a morena. – Tudo que Liz menos quer agora é se sentir desprotegida.

— Sabemos como ela se sente. – Menciona Lass. O medo que via em Elizabeth era parecido com o de Elesis. – Nada de errado irá acontecer com ela.

Sabia que estava falando uma grande mentira para si próprio. Quando entrou no reino, sentiu algo de errado, um clima mais pesado que o habitual. Com a notícia dos ataques de Serdin em Canaban, tornou tudo pior.

O que viria em seguida?

***

— Aqui está a agenda de vocês. – Após horas, Pan entrega a lista para a dupla.

Lass pega a pasta e olha rapidamente, analisando tudo que possível.

— Iremos ficar separados? – Questiona ao ver algo de diferente na agenda. – Como assim Jin ficará nos portões oeste enquanto eu fico com a prince... Rainha. – Esquece por um instante sobre o título de Elizabeth. Felizmente ela não estava ali para dar um sermão.

— Agora a noite, Liz irá na cidade para assinar alguns contratos com o Conselho de Serdin. Ela achou que não seria necessário levar vocês dois, então pediu para Jin ficar como segurança do reino enquanto isso. – Explica Pan. – Mas ele não ficará sozinho, terá alguns guardas com ele.

— Está dizendo que eu serei um capitão da guarda? – O ruivo olha com grande animação. A morena diz que sim. – Então eu vou mandar neles?

— Basicamente. – Ela ri com a atitude do mesmo. – Amanhã, você trocará de turno, juntando-se ao Lass para proteger a Liz. Além disso, a chegada do noivo também deverá ser protegida.

— É muita coisa para fazer. Deveria ter chamado alguns mercenários para isso. – Suspira Lass.

A guilda do ninja era formada justamente para isso, lembrava. Se soubesse que seria assim antes, teria chamado algumas pessoas para ajudá-lo. Porém, ficava chateado ao lembrar de Elesis, no estado que ela estava e sozinha no momento. Seria de grande a ajuda da ruiva, menos para ela.

— O que os idiotas estão fazendo aí parados? – A voz aguda de Elizabeth é um tormento para eles. Ela descia as escadas com outro longo vestidos. Passou por eles e acertou um tapa em Jin, o mais próximo. – Não quero me atrasar, vamos logo.

Olham a jovem seguir na frente. Perguntavam-se como ela mantinha aquela pose num salto tão alto como aquele que usava. A atenção cai sobre Pan, que ri sem jeito.

— Jin, você vem comigo. Lass, é melhor ir logo atrás da Liz, senão ela vai gritar de novo.

Com um longo suspiro, ele afirma e se despede do ruivo. Não demonstra pressa quando anda vagarosamente na direção de Elizabeth, que o olha com irritação. Poderia ter o sentimento que quisesse por ele, mas nunca mostraria isso, apenas a raiva para esconder.

***

Revira os olhos e estica a mão. Elizabeth obrigou a fazer isso com o olhar, segurando sua mão para sair da carruagem como uma dama. Poderia parecer apenas para alimentar o orgulho dela, porém, o que queria era ter contato com o ninja.

Quando se despediu de Lass naquele dia, não conseguiu segurar o choro pela a falta que ele causava. Não queria admitir que aquilo era amor, achava que poderia ser qualquer outra coisa, menos isso. Mas com os passar dos dias, percebeu que estava apaixonada, mas precisava superar. Lass amava outra e nunca retribuiria seus sentimentos, o melhor que podia fazer para não se machucar era tentar achar alguém que ficasse no seu lugar. Isso até se encontrar com o príncipe Gareth. Ele é gentil, carinhoso e faz se sentir segura quando está por perto. Ele é perfeito nos olhos da jovem.

Isso até ver Lass novamente. O rapaz estava totalmente diferente após esses anos. Era quase impossível não pensar no mesmo durante os momentos em que estavam juntos.

— Você fica aqui, me esperando. – Manda antes de entrar. – Voltarei rápido após a reunião. Não demorarei.

Lass olha para a simples mansão que Elizabeth entraria. Fica desconfiado pela a estrutura. Pan havia dito que seria algo sobre o Conselho, provavelmente de Serdin por causa dos ataques. E era justamente isso que o incomoda. Conhecia Adel o suficiente para saber que ele não alugaria um lugar simples como aquele para uma reunião, o mesmo valendo para seus subordinados.

— Tem certeza que não me quer lá? – Pergunta. – Pode ser perigoso.

— Ah, é claro. – Debocha. Como isso o irrita. – Ficarei bem, é só uma reunião.

A jovem se vai antes que ele continuasse. Ficou parado à espera dela, não gostando nada de parecer um cachorro naquela situação. Esse tempo sozinho o faz se perguntar sobre o que Elizabeth estaria fazendo ali, além de ter uma reunião com o Conselho. Ela é inexperiente, nunca a chamariam para tomar alguma atitude, no mínimo, seria um representante.

Seu bolso treme. Era o celular tocando. Grandiel não tinha dado outro para ele, mas a amiga de Elesis, a Mari, conseguiu um aparelho. A garota era de Calnat, conseguia fazer um aparelho desse com os olhos fechados.

— Ainda está acordada? – Pergunta com um sorriso bobo ao atender.

— Não consigo dormir. – Diz Elesis do outro lado. Sua voz continuava como de manhã, quieta. – Achei que estivesse com o mesmo problema.

— Queria poder dizer o mesmo. Estou trabalhando ainda, vou demorar para dormir – Suspira. Só agora percebe o frio que fazia do lado de fora ao ver a fumaça sair de sua boca. – Vai ser um pouco difícil sem você do meu lado.

— Pare de falar bobagens. – Ela diz brincalhona. – Já disse, você tem o Jin.

Consegue ler a expressão que o ninja faz, soltando uma leve risada. Lass abre um sorriso sem jeito, feliz por causado essa emoção na ruiva. Ela estava melhorando, isso que importava.

— Você não tem o mesmo calor que ele. – Deu de ombros. – Queria muito que estivesse aqui.

— Também. Minhas pernas estão melhorando. – Uma grande pausa. – Já estou me acostumando com a ideia da minha mãe ter sido a dona das chamas e sobre Gerard. Conversei hoje com a Lothos, mas acabou sendo uma discussão sem resultado. Sinto como se o mundo estivesse conspirando contra mim.

É nesse instante que deveria abraça-la, dizer que não precisava ficar assim. Mas percebe que estava longe e suas palavras não teriam o mesmo efeito.

— Quando eu voltar, faço você esquecer de tudo. Espero só mais um pouco, ok? – Fala Lass com um tom carinhoso.

Elesis ri, um pouco mais espontâneo desta vez.

— Se eu dissesse para você vim aqui, agora, você viria? – Pergunta com um tom provocador.

— Me teste. – Diz no mesmo tom. – Mas se eu chegar aí, quero algo além de um beijo.

— Dois beijos?

— Você me entendeu. Então, aceita?

— Desculpa, Lass, mas estou começando a ficar com sono. Terei que desligar.

— Ah, logo agora? Fique mais um pouco. – Sorri. – Gosto de ouvir sua voz. – Totalmente o oposto de Elizabeth, que o irritava toda vez que ouvia.

Elesis solta outra risada, um bocejo em seguida. O rapaz entende o cansaço da ruiva.

— Eu te amo. – Fala Lass, sentindo o constrangimento da ruiva do outro lado. – Só quero que saiba disso.

A voz de Elesis some quando o barulho vindo ao fundo estoura seus tímpanos. O calor bate contra suas costas e o arremessa até o outro lado da rua. Bate contra o chão, quebrando alguns dedos da mão na queda. O aparelho se parte ao mesmo tempo, sabendo que a chamada é desligada após isso.

Abre os olhos com grande esforço. Uma parte de seu rosto queimava, enquanto outra parte de seu corpo também. Fica de joelhos no chão, olhando sem entender para a mansão em chamas. O barulho que tinha ouvido, que era a causa de seus ouvidos sangrarem agora, foi uma explosão. Tudo que ouvia agora era um agudo som, que não pararia se colocasse as mãos sobre.

Fica de pé quando seu corpo começa a regenerar, entendendo o que acontecia.

— Elizabeth! – Grita ao atravessar a rua.

Para bruscamente, seus olhos voando para os telhados. Enxerga uma sombra pula pelos prédios com grande velocidade. Sem pensar duas vezes, corre atrás da criatura.

***

Jin sai de seu posto quando Pan volta para chama-lo. Já estava na hora de Elizabeth e Lass terem voltado, mas nenhum sinal dos dois enquanto isso. Esperam juntos, apreensivos pela demora da dupla.

— Lass? – Diz Jin surpreso.

Correm quando veem o ninja surgir na entrada. Não sabem como reagirem ao ver o estado do rapaz, as roupas rasgadas com manchas de queimaduras e sua pele na mesma situação, suja. As feridas da explosão já tinham se curado, felizmente.

— O que aconteceu? Onde está Elizabeth?! – Pergunta Pan, desesperada.

— Foi tudo planejado. – Menciona Lass. – Levarem a Elizabeth. Não há restos dela no local da explosão.

— Explosão? – Jin olha assustado. – Explica isso melhor.

O ninja aponta para o próprio ouvido, sujo pelo o sangue seco que escorria.

— Não consigo te ouvir. Mas explicando, houve uma explosão onde estávamos. Era apenas uma distração para levarem Elizabeth. – Coça o ouvido. Aquele barulho agudo persistia. – Tentei seguir a pessoa, mas ela conseguiu ser mais rápida.

Pan tampa a boca com as mãos. A notícia é um choque para ela.

— Não conte a ninguém, só irá piorar a situação. – Recomenda Lass. – Vamos pensar e amanhã agimos. Pan, dê um jeito de ninguém perceber a falta da Elizabeth essa noite. Eu e o Jin tentaremos resolver isso.

Nervosa, concorda com o plano. Sem pânico, precisava se lembrar. Correu em direção ao castelo para colocar tudo em ordem rapidamente. Acreditaria em Jin e Lass para resolverem isso.

Quando ficam sozinhos, Lass quase desaba no chão. Jin o seguraria, mas impede a ajuda do ruivo. Seu corpo treme pelo cansaço causado pelas feridas curadas, o poder das chamas fazendo isso em troca. Não sabia se aguentaria ficar de pé a noite toda, mas a responsabilidade que carregava em trazer Elizabeth de volta pesava mais que tudo.

— Vamos. – Fala como um suspiro.

***

Não sabia mais o que fazer. Passou a noite inteira tentando achar algum traço de Elizabeth, mas nada conseguiram. Quando voltaram, cochilaram por poucas horas e acordaram já correndo atrás da mesma novamente.

Deixou Jin com Pan, para que discutissem como enganariam a falta que Elizabeth causava. Antes, tinha pego o celular do ruivo para se comunicar, já que tinha perdido o seu na noite anterior.

— Lass? – A voz de Ronan é insuportável, mas tolerável na situação que estava. Felizmente, sua audição havia voltado. – Por que me liga do aparelho do Jin?

— Serei bem breve e espero que contribua. – Diz com pressa e seriedade. – Estou num dos reinos de Canaban, localizado no leste. Deve conhecer, certo?

— Ah, sim! Conheço. Por quê?

— Como sabe, esse reino são um dos importantes que compõe Canaban. Se houver algum ataque, será um grande erro do inimigo. – Ronan concorda. – Pois bem, aparentemente, Serdin está atacando esse reino ultimamente. Ontem mesmo, tinha uma reunião com a rainha daqui com o pessoal do Conselho de Serdin, mas que na verdade, era uma armadilha para pegá-la.

— Mas e o contrato assinado? Não era para haver ataques, muito menos de Serdin. – Falava Ronan intrigado. – Isso pode provocar uma guerra.

— É isso que eu estou falando. Mas sinto que há mais coisa do que parecer ter.

— Como assim?

— Você faz parte do Conselho, deve saber de algo. Sinto que isso é coisa da sua tia. – Quase cospe ao menciona Cazeaje. – Adel nunca seria capaz disso. Portanto, quero que investigue isso.

— Colocar as pessoas umas contra as outra é bem a cara da minha tia. – Percebe. – Posso investigar isso, mas não prometo muito.

— Tudo bem. Mantenha-me informado.

— Certo. Até.

Lass desliga rapidamente, com medo de alguém ter visto o plano conspiratório dele contra Cazeaje. Estava sozinho, saindo do lugar atrás de Jin.

Para seu caminho pelo jardim quando vê uma multidão à frente. Deu alguns passos a mais e notou os vestidos das empregadas compondo aquela roda de pessoas.

— Senhorita Elizabeth, você precisa se trocar! Não pode ser vista desse jeito. – Dizia uma das serviçais. – Por favor, venha conosco.

Os olhos do ninja se arregalam ao ouvir o nome da jovem. Correria para vê-la, mas seu corpo congela antes mesmo disso. Não quer acreditar, sendo forçado no final.

— Me solta!

Consegue sair da roda de empregadas, cambaleando para fora. Seu olhar rapidamente encontra Lass, que parecia morto onde estava. Abre um sorriso por ter o encontrado.

— Finalmente, Lass! – Grita Elesis. – Essas mulheres ficam me chamando de rainha. É bem irritante, sabe.

Era uma alucinação, queria poder acreditar. Ao fundo, Jin pensava o mesmo, tenso pelo o aparecimento da ruiva naquele lugar. Se existia uma coisa que não gostaria de acontecer neste instante, era Elesis.

Porém, tudo parece piorar, ou não, ao sentir um aperto em seu braço. Olha para a pessoa que o segura, com um sorriso tão doce que o cora rapidamente. Não sabe como reagir, sua boca aberta por sua mente confusa.

— Oi, Jin. – Diz Amy com toda carisma que tinha.


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Notas finais do capítulo

* Sim, Amy e Elesis apareceram, juntas! Acho que vocês sabem o motivo da Elesis estar aí, mas a Amy... Então, lembra que eu disse que haveria mais casais.... Está na hora de forma.
* Arme e Ronan :3
* Cazeaje vai mostrar suas cartas, vamos ver do que a líder é capaz muahaha
* E esse momento fofis entre Gerard e Depas. Que família bonita kkkkkk



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